CHAPTER 3. you grew up, chili
3. VOCÊ CRESCEU, PIMENTINHA
— Não vejo a hora do baile de máscaras chegar! — Margot confessou entusiasmada. — Imagina? Chegar toda deslumbrante num vestido digno de Cinderela.
Cassie e Margot começaram a tagarelar sobre o baile, mas a minha cabeça estava em outro lugar. Quando eu cheguei em casa e vi minha mãe dormindo no sofá como se estivesse esperando por mim, meu coração se partiu. Mas no momento em que eu lembrei que ela mentiu por 17 anos sobre a minha real origem, apenas subi as escadas e tomei meu banho antes de vir para a escola.
— O que você acha, Ari? — Ouvi a voz de Cassie e obriguei-me a sair de meus próprios devaneios.
— Hm?
— Que mundo você está? Ficou quieta a manhã inteira, isso é bem estranho. — A loira murmurou e eu dei de ombros, suspirando. — Eu e a Margot estávamos falando que esse ano, talvez, eles vão fazer algo totalmente novo na hora do baile de máscaras. Na formatura tem o rei e a rainha, no baile vai ter algo inovador.
— O que vocês acham que é? — Questionei e Cassie sorriu esperançosa.
— Eu ouvi na sala de professores que eles vão desligar as luzes e vamos ter que nos movimentar sem enxergar nada. Quando uma música tocar, vamos beijar alguém e só vamos descobrir ao ligar as luzes. Quem quiser tirar a máscara, pode tirar. Quem não quiser, apenas continua com ela. — Contou num sussurro, como se fosse algo extremamente confidencial.
— Mas e se alguém não quiser participar?
— Daí fica sentando, né. — Respondeu óbvia. — Bom, minhas lindas, estou indo para casa.
— Me dá uma carona? — Margot perguntou e ela assentiu. As duas se despediram de mim e foram em direção ao estacionamento, me deixando sozinha no vestiário.
Hoje teve ensaio das líderes de torcida. Precisava tomar um banho e ir rapidamente para o trabalho, se chegasse mais uma vez atrasada eu poderia ser demitida e eu não queria que isso acontecesse de jeito nenhum. Desde que estava no oitavo ano eu guardava dinheiro para a minha faculdade. Os cinco dólares que eu recebia da minha mãe, já guardava no meu porquinho. Não queria morar no campus, então eu guardava para, pelo menos, conseguir alugar um cantinho para mim. Minha intenção mesmo era comprar um apartamento junto com Margot e isso daria certo se ela não fosse tão consumista como é.
— Oi, quer companhia? — Levei a mão para meu peito ao ouvir uma voz masculina perto de mim, completamente assustada com a presença inesperada.
— Asher! — O repreendi, fazendo com que o moreno sorrisse de lado. — Que susto, garoto. Está fazendo o que aqui ainda?
— Detenção. Sabe como é... brigas e tudo mais. — Murmurou e eu ri, dando de ombros. — Como está as coisas com a sua mãe?
— Não conversei com ela ainda. — Asher e Liz eram os únicos que sabiam sobre a história da minha paternidade. Foi ele que me acordou nessa manhã e fez o nosso café. Disse que eu não poderia discutir de barriga vazia, caso eu encontrasse minha mãe acordada. — Não estou pronta pra isso.
— É... — Suspirou, olhando para o céu. — Mas você vai ter que conversar com ela em algum momento.
O olhei e assenti, permanecendo em silêncio. Senti seu braço dar a volta em meu pescoço e sorri abafado ao vê-lo me observando. Deitei minha cabeça em seu ombro e continuamos a caminhar, em direção ao meu trabalho.
— Você fica até que horas aqui? — Questionou, ao chegarmos na porta da lanchonete.
— Oito e meia. Quando faço hora extra eu saio uma hora depois. — Expliquei. — Quer entrar e tomar uma xícara de café?
— Se não for muito incomodo. — Respondeu e eu ri, abrindo a porta para o mesmo.
Fui em direção ao banheiro para me trocar e coloquei a mochila nos armários dos funcionários. Quando voltei para o salão, Asher já havia sido atendido e bebericava um refrigerante.
Ao perceber que não havia muito movimento, fui ao encontro do garoto, sentando-me ao seu lado.
— O que o Vince está fazendo aqui? — Indagou e eu olhei na direção do garoto negro, que conversava algum assunto aleatório com Joan. Não havia percebido a sua presença antes de Asher citar seu nome.
— Ele começou a trabalhar aqui ontem. Por quê?
— Ele? Trabalhar? Esse cara tem tudo do bom e do melhor. Já viu o carro dele? É um Porsche Cayenne Coupé, querida. É feio, mas é caro. — Contou, fazendo-me lembrar da carona de ontem. Margot iria surtar se entrasse num carro desses. — Ganhou quando fez dezesseis anos. Um dia ele bateu num poste e no outro já estava novinho em folha. Você sabe quanto custa o conserto?
— Não.
— Nem eu, mas barato não deve ser. — Disse, se jogando no encosto da cadeira e cruzando as pernas. — O que esses jogadores não fazem por um rabo de saia.
— Não entendi. — Franzi a sobrancelha, mas antes que ele pudesse me responder, Joan chamou-me avisando que o cliente que havia chegado era meu. — Depois você vai me explicar direitinho, mocinho.
— Sim, senhora.
Ao atender mais 12 clientes depois do primeiro que havia chegado, finalmente tive descanso. Havia se passado apenas duas horas de trabalho, mas parecia que um caminhão passou por cima de mim enquanto eu anotava algum pedido.
— Ei, nem conversamos hoje. — Vince segurou meu braço com delicadeza, antes que eu pudesse voltar para a mesa de Asher. — Você ficou o tempo inteiro com aquele garoto.
— É...
— Desculpe, estou dando a entender que quero que me dê satisfações. — Sorriu envergonhado. — Só gosto de conversar com você mesmo.
— Não, tudo bem. Mas é que ele está me ajudando com algumas coisas, é importante. — Tentei fugir. Ele assentiu e se virou, indo atender algum cliente. Senti uma pontada de dó em meu coração e suspirei, voltando até Asher. — Você vai ficar por mais quanto tempo?
— Vou te levar pra casa, garota. Sou um cavalheiro, me respeita. — Resmungou e eu ri, concordando. — Mas como eu estava falando antes de você sair: tá na cara que ele está na sua, Ariel. Principalmente quando você está com o uniforme das líderes de torcida.
— O que você quer dizer com isso?
— Olha, com todo respeito, mas você fica a maior gostosa com aquele uniforme. E você também não é feia, chama atenção dos garotos. Principalmente do time. — Deu de ombros e eu revirei os olhos, bufando. — Você que pediu pra eu te explicar, nem vem.
— Eu nem falei nada.
— Mas pensou.
Depois de um turno cansativo e movimentado, fui liberada. Asher já estava esperando, do lado de fora da lanchonete, eu limpar as mesas e ajudar a organizar o ambiente para facilitar o trabalho do pessoal da noite.
— É uma lanchonete 24 horas? — Questionou e eu assenti. — Que legal. Nunca tinha vindo aqui.
— É bem aconchegante e a comida é maravilhosa. Adoro esse lugar, principalmente uma atendente que vive de batom vermelho. — Me gabei e ele gargalhou alto, balançando a cabeça. — Dizem que ela é muito bonita.
— Não vi. Ela trabalhou hoje? — Perguntou e eu semicerrei os olhos, dando um tapinha em seu braço. — Tô brincando.
— Eu sei que está.
— Não estou mais, então.
Sorri e continuamos a caminhar pelas calçadas de Palo Alto. Havia várias pessoas na rua, caminhando, correndo, observando o mar ou namorando. Algumas vezes eu e Asher parávamos para ver o quão a praia ficava bonita de noite. As luzes da praça iluminava-me algumas partes da areia e dava para ver um pouco das pessoas que se desafiaram a entrar no mar.
— Asher! — Ouvi uma voz masculina e desviei meu olhar do chão. O mesmo homem que eu havia atendido ontem na lanchonete, vinha em nossa direção. — Eu te mandei várias mensagens, cara!
— Meu celular descarregou. — Defendeu-se. — O que você quer?
— Ver onde você estava. — Olhou para mim. — Oi, você é atendente daquela lanchonete, né? Não sei quem fez o meu pedido, mas ficou incrível.
— Ela também é filha da Tia Aurora, incompetente. — Asher bufou e o homem mais alto me olhou surpreso, dando um sorriso mínimo.
— Você cresceu, Pimentinha.
Era como se todas as lembranças invadissem minha mente. Andrew Hawk estava em minha frente, mais alto, bonito e forte do que nunca. Memórias de nossas brincadeiras no quintal de sua casa ou vezes que ele era feito de babá para mim quando nossas mães saíam me fizeram sorrir.
— Oi Andrew.
— Oi pimentinha. — Sorriu de lado, me fazendo rir nasalado.
— Perdi o que? — Asher murmurou confuso e totalmente perdido.
— Vem. Eu levo vocês pra casa. Meu carro está aqui perto.
Assentimos e seguimos Andrew até seu carro. Ele estava estacionado próximo às passarelas. Sentei-me no banco traseiro enquanto Asher sentava-se no banco do caroneiro. Quando o Hawk mais velho ligou carro, uma música baixinha invadiu o ambiente. Sem perceber, eu já estava cantarolando fraco enquanto o moreno dirigia até minha casa.
— Está entregue. — Disse, olhando para retrovisor.
— Obrigada. Até mais.
— Tenha bons sonhos, pimentinha.
Assim que eu saí do carro, pude ouvir murmúrios de reclamação vindo de Asher. Antes que eu pudesse escutar mais alguma coisa, Andrew deu a partida assim que me viu entrando dentro de residência.
A casa estava escura, a única luz vinha do jardim. Conseguia ouvir uma música relativamente alta vindo do mesmo lugar e assim que fui me aproximando, pude ver uma garrafa de vinho vazia em cima da pia. A porta de vidro estava entreaberta, dando passagem para o vento gelado entrar.
— Mãe? — A chamei. Ela levantou-se da espreguiçadeira e colocou a taça de vinho no chão. — Você está bêbada?
— Desde quando eu fico bêbada com vinho? — Sorriu carinhosa. — Você está bem?
— Vamos conversar? — Murmurei e ela assentiu, trazendo os objetos para dentro da casa.
Sentei-me de frente para ela na ilha e esperei que ela se arrumasse. Suspirei e entrelacei as mãos, sem saber por onde começar.
— Ele já sabia que eu não era filha dele? — Disparei.
— Sabia. Quer dizer, não tínhamos certeza. Ele falava que o importante era você ser filha do coração e nenhum teste de DNA contrariaria isso. — Contou. — Eu fui muito egoísta em não contar pra você sobre sua própria vida e...
— Mãe. — a chamei e ela me olhou rapidamente. — Você fez o que achou que seria melhor pra mim e pra nossa família. Está tudo bem. — Aurora sorriu e logo seus olhos se encheram de lágrimas. Comigo não foi diferente. — Eu fiquei brava por você ter escondido isso de mim, mas papai foi embora por conta própria e não foi sua culpa. Se ele achasse mesmo que ser filha do coração bastava, ele não teria me deixado sem dar apenas um adeus.
— Você é a melhor versão de mim. — Sussurrou, levantando-se e me dando um abraço caloroso.
Senti meus músculos relaxarem e todos os meus pensamentos de raive irem embora. Apoiei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos, vendo quão boa era aquela sensação.
— Você tem contato com o meu pai biológico? — Indaguei, secando as lágrimas ao sair do abraço.
— Não. Acho que ele voltou para a Inglaterra algum tempo depois que eu descobri a gravidez. Ele não fazia nem ideia que poderia ser pai. — Disse. — Éramos grandes amigos.
— Você lembra o nome dele?
— Raymond Scorpio. Era o homem mais inteligente e festeiro da faculdade. — Sorriu, parecendo lembrar-se dos momentos. — Lembro do nosso primeiro beijo.
— Você amava o papai? Quer dizer... o Jeremih. — Perguntei e ela suspirou, colocando mais vinho em sua taça. — Acho que lá vem história, né?
— Liz me apresentou ele quando eu ainda estava na faculdade. Jeremih era melhor amigo de Trey, pai do Asher. Não sei se você se lembra dele. — Começou. Lembro-me vagamente de seu enterro. Foi algo que eu não compreendi bem. Andrew ficou trancado dentro no quarto por várias semanas e quase não comia. — Só que eu estava apaixonada pelo Raymond. Não queria admitir, mas estava. Liz fazia de tudo para eu esquecer ele e focar em outros garotos. Mas, eu só tinha olhos por ele. Acabei namorando com o seu pai e aprendi a amar ele, mas Raymond nunca saiu da minha mente. Um dia seu pai pediu um tempo, eu não aceitei e fui beber. Eu e Raymond transamos e você nasceu. Fim da história.
— E meu pa... Jeremih sabia disso e mesmo assim... fugiu?
— Talvez ele mentisse para si mesmo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top