CHAPTER 18. girl's night
18. NOITE DAS GAROTAS
Na semana seguinte os estudantes do District High só falavam sobre uma coisa: o show de talentos que iria acontecer em poucos dias.
Jason ainda estava em Palo Alto para um seminário da faculdade. Asher, eu e ele saíamos sempre que possível.
Depois da "química" — que, provavelmente, só existiu na minha cabeça — com Andrew, eu e ele não havíamos mais conversado.
Vince e eu estávamos nos preparando para nossa apresentação. Ele tentava investir toda vez que havia um ensaio, mas minha cabeça estava muito longe pra qualquer coisa acontecer.
Minha mãe desistiu dos encontros pelo Tinder. Nenhum cara prendia sua atenção, preferia ficar em casa assistindo algum filme clássico ao invés de gastar seus produtos caríssimos com alguém que não demonstrasse interesse por seus assuntos.
Aos poucos, Piper Snacks ia perdendo seus clientes para a recém inaugurada lanchonete na rua de cima. Rob não estava conseguindo manter todos os funcionários e aos poucos ele fazia algo diferente para tentar chamar a atenção do público. Essa noite era a vez do karaokê.
Eu estava me preparando para bater meu ponto e ir embora quando o sininho tocou avisando sobre a entrada de algum cliente. Morgan, Cassie, Lola e Margot entraram na lanchonete — mas não estavam animadas como o de costume.
— Quem morreu? — Brinquei ao me aproximar, ajeitando a alça da mochila em meu ombro.
— A minha felicidade. — Lola murmurou, sentando numa mesa próxima à janela, fazendo bico.
— O que aconteceu?
— Eu e Morgan vamos para Nova Iorque. — Olhei para Cassie esperando que ela desmentisse, mas a dona dos cabelos loiros apenas abaixou a cabeça.
— O que? Mas já?! Ainda faltam cinco meses para a nossa formatura! — Reclamei, sentando-me ao lado de Lola. — Quer dizer, estou muito feliz por vocês, mas isso não teve nem aviso prévio.
Ano passado Cassie e Morgan se inscreveram num acampamento de moda em Nova Iorque. Elas gostaram, se interessaram e, desde então, compartilham o mesmo sonho de voltar e fazer faculdade na região metropolitana. Mas isso só depois da formatura. E as inscrições para as faculdades ainda não estavam abertas.
— Vamos fazer um curso de moda básica antes de ir para a faculdade. Mas para isso acontecer precisamos fazer o ensino médio lá. — Morgan esclareceu e eu suspirei, dando de ombros. — Vamos depois do show de talentos.
Me levantei e abracei as duas. Éramos amigas há muito tempo, sempre grudadas e fazendo tudo juntas. Seria difícil essa "separação" tão repentina.
— Estamos muito orgulhosas de vocês duas. Merecem isso. — Margot sorriu carinhosa, demonstrando muito apoio.
— Posso ficar com o seu armário, Morgan? — Lola questionou e a morena riu, secando as lágrimas e abraçando Lola de lado. — Acho que isso é um sim.
— Vamos fazer uma noite de meninas então. Para comemorar essa nova fase!
As garotas se animaram e assentiram. Nos esmagamos no Civic de Lola para poder comprar as besteiras no mercadinho próximo de minha casa. Entrar no mercado foi como uma cena do filme que Kristen Bell atuou ao lado de Mila Kunis e Kathryn Hahn: doido, barulhento e extravagante. Antes que o guarda nos pegasse, corremos de volta para o carro e Lola, literalmente, saiu cantando pneu pelas ruas de Palo Alto.
Era meia noite quando Margot roncava ao meu lado. Ela realmente era parecida com os carros que desmontava. O barulho do seu ronco e o barulho de um motor eram extremamente... Idênticos.
— Vamos falar mal de quem hoje? —Morgan questionou entediada, assim que os créditos do filme começaram a subir.
— Ariel não nos contou mais nada sobre o que aconteceu com ela e com o Hawk gostosão. — Cassie sorriu esperançosa, esperando que eu contasse tudo o que havia acontecido desde o beijo no baile de máscaras.
— E queremos todos os detalhes. Os detalhes mais sórdidos possíveis!
Não tinha como dar detalhes sórdidos porque não haviam detalhes sórdidos. O que era uma pena.
Durante toda a contação de história, Cassie, Morgan e Lola me interrompiam para dar gritinhos histéricos de animação — e o mais interessante era que Margot não fazia nem questão de se mexer. Seu sono era extremamente pesado.
— Ele quer muito ficar com você!
Cassie era romântica, iludida e melosa. Talvez eu fosse como ela, mas não ao ponto de pensar que meu melhor amigo de infância — que é comprometido — teria interesse em mim.
Ou talvez eu fosse.
— Ou talvez ele só está sendo educado, simpático e fiel. Garotos também podem ser carinhosos.
Morgan já era mais realista. Uma parte de mim concordava com ela, mas em momentos eu queria que Cassie estivesse certa.
— Eu tenho uma possibilidade ainda mais coerente: ele só está com tesão acumulado e isso não vai levar ninguém pra frente. Andrew tem uma namorada linda e sabe que seria ridículo jogar tudo isso por uma aventura com alguém do ensino médio.
Lola era dura às vezes. Ela gostava muito da ideia de dormir com alguém e não precisar conhecer a família. Bom, era algo que nós duas tínhamos em comum, mas eu não transava com tanta frequência quanto ela.
No final da conversa eu já havia quebrado a cara umas quinze vezes. Cada uma tinha um ponto interessante de se ouvir, me deixando muito mais confusa. O melhor seria me afastar ou enganar meus sentimentos com outra pessoa. Era rude e eu sabia bem disso.
Na manhã seguinte nos olhamos na espelho e estávamos completamente descabeladas.
Margot, além de descabelada, estava com maquiagem de palhaço que decidimos fazer às quatro da manhã, assistindo It: A coisa. Não havia ficado tão parecido no momento, mas quando Margot acordou ela parecia um cosplay. Um cosplay judiado e pobre, mas parecia.
— Bom dia, querida. — Sorri ao ver minha mãe sentada na bancada, tomando seu vinho favorito. Lancei um olhar crítico assim que notei sua bebedeira e ela deu se ombros, deixando claro que não se importava com as minhas contradições. — Não adianta me olhar com essa cara.
— Você é viciada em vinho.
— E que bom que eu tenho dinheiro para comprar um dos melhores, não é? — Sorriu orgulhosa, sem tirar os olhos da revista.
Na capa havia uma mulher segurando um batom nude. Eu conhecia ele de algum lugar.
No dia que eu descobri sobre a separação dos meus pais Margot havia achado um batom igual no carro de Jeremih. Aurora não usava batom e eu não gostava de batons com cores neutras.
— Mãe, no dia que você me contou sobre a separação de Jeremih eu usei o carro dele. — Esperei que ela me entregasse toda sua atenção. — Margot achou o mesmo batom que está aí na capa, no carro dele.
— E daí?
— Nenhuma de nós duas usamos batom desse tipo. — Olhei séria para ela. Aurora largou a revista e suspirou, tomando mais um gole da taça. — Tem algo que você esqueceu de me contar?
— Jeremih provavelmente estava me traindo, querida. — Esclareceu, como se aquilo fosse um grande nada. — Talvez ele já soubesse do teste de DNA e decidiu "surtar" quando eu comecei a desconfiar das suas puladas de cerca.
— Ele foi inteligente.
— Mas não o suficiente para esconder a mulher que dormia. — Deu de ombros. Aquilo não atingia minha mãe e eu tinha muito orgulhoso por isso. — Não que eu esteja querendo julgar, mas a amante era muito areia pro caminhãozinho dele.
— Você sabe quem ela é?
— Lembro vagamente de Jeremih ter sido chamado quando ocorreu um incêndio em sua casa. Não tenho certeza se ele estava me traindo, mas caso estivesse, não tenho dúvidas que era ela a amante. — Mamãe falou com tanta convicção que parte de mim queria investiga-lo. Modéstia parte, eu era uma ótima detetive. — Mas deixe isso pra lá, querida. Isso não tem mais a ver conosco.
Poderia não ter mais a ver, mas a minha curiosidade estava falando muito mais alto.
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