CHAPTER 13. heavy weight

13. PESO PESADO

🥊 DREW

Quando meu pai faleceu eu sabia muito bem que as coisas não seriam as mesmas, mas eu não fazia ideia que tudo em minha vida mudaria. Minhas notas na escola despencaram e eu passei do aluno prodígio para um ser humano desmotivado e inútil. Amadureci rápido demais, pois em minha cabeça eu tinha a obrigação de ser uma figura "paterna" para Asher, mas minha mãe odiava em saber que eu carregava um peso tão grande como esse.

Ela tentou arranjar vários namorados, mas nenhum cobria a falta que meu pai fazia. E, ao invés de me aproximar de Ariel, eu me distanciei. Minha mãe se tornou uma mulher frustrada e meu irmão tornou-se o encrenqueiro que é hoje.

As coisas melhoram quando eu fui para a faculdade. Às vezes penso que Liz saiu de sua bolha quando me viu saindo de casa. Provavelmente ela pensou que eu queria fugir e talvez minha mãe tivesse razão.

Quando eu tranquei a faculdade e abracei a luta, minha vida melhorou ainda mais. Eu me sinto mais perto do meu pai e tenho a sensação que isso me faz ainda mais parecido com ele. É claro que a saudade nunca foi embora, mas acho que já me acostumei com a sua ausência.

— Foco, Hawk! — Ray gritou assim que eu recebi um soco de direita vindo de Zach. — Parece uma menininha lutando.

— Isso foi bem machista, treinador! — Zach bradou, tentando acertar um chute em minha costela. — Que tal você falar que ela parece o Austin lutando?

A conversa estava me tirando ainda mais a concentração, principalmente quando Zach sabia que eu me desconcentrava rapidamente e fazia isso de propósito. Desferi um Cross em Zach e ele cambaleou para trás, se apoiando nos elásticos do ringue.

— Tudo bem, deu por enquanto. — Ray finalizou e nós assentimos, dando um soquinho para encerrar a luta.

Tirei as luvas e joguei em minha mochila, jogando um pouco de água em meu rosto. Minha respiração estava ofegante e minha camiseta encharcada com o suor. Ray costumava pegar muito mais pesado quando estamos há poucos dias de uma disputa.

— Venha aqui, Andrew. — Olhei para Ray e ele me encarava sério, com os braços cruzados.

Treinador Ray sempre foi um homem extremamente sério. Raramente alguém conseguia distinguir suas emoções ou vê-lo saindo. Eu era mais alto, mas Ray tinha músculos ainda mais definidos. Ele havia estudado com meu pai em Stanford, antes de voltar para Inglaterra e fazer sucesso como lutador. Há dez anos Ray se aposentou e abriu uma academia para jovens lutadores, assim como eu.

— Sim, treinador?

— Quer ver com quem você irá lutar? - Questionou e eu o olhei receoso, pensando seriamente em sair correndo.

— Tenho outra alternativa?

— Você sempre tem, garoto. Mas talvez não será uma boa ideia chegar e se surpreender com o que te espera, mas claro. Você que sabe. — O sotaque inglês me deixava ainda mais amedrontado de responder qualquer coisa que ele não gostasse.

Suspirei e o segui até sua sala. Ray abriu o notebook e colocou sua senha. Apenas os treinadores tinham acesso aos detalhes da luta.

A foto do homem que apareceu na tela me assustou. Olhei para Ray e ele carregava um semblante relaxado, sem muitas expressões, como se aquilo não fosse nada demais.

— Dois metros. Noventa e seis quilos. É meio desnutrido para a estatura dele. — Ray informou. — Ele já mandou muita gente para o hospital.

— Ele é peso pesado. — O olhei.

— E você é meio-pesado e infelizmente o mais pesado da categoria. Te colocaram para lutar com ele. — Deu de ombros. — Não ficando em coma já está de bom tamanho.

— Como é? — Ray sorriu, piscou e me deu tapinhas no braço, deixando-me sozinho e apavorado em sua sala.

Assim que saí, Zach conversava com Austin perto dos sacos de pancada. Me joguei no tatame cansado e suspirei, olhando para cima e ignorando os olhares curiosos de Zach e Austin.

— Vou lutar com um peso pesado. — Falei antes que um dos dois perguntasse. Austin gargalhou e Zach olhou-me, tão assustado quanto eu.

— Quanto?

— Noventa e seis quilos e já mandou muita gente para o hospital. — Lamuriei e Austin gargalhou mais uma vez, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. — Para de rir, Austin. Você é um péssimo amigo.

— O garoto tem dois metros, Andrew. Noventa e seis quilos é bem pouco para ele. — Disse, ajudando-me a levantar.

— Como conhece ele?

— Lutei com o irmão dele e fui parar no hospital. — Respondeu e logo o meu sorriso desapareceu, voltando para o chão assim como as minhas expectativas. — Tô brincando, cara. Assisti algumas lutas dele com o Ray.

— Vocês são péssimos amigos. — Murmurei, indo até o banheiro e recebendo um dedo do meio em troca.

Tirei minha roupa e tomei um banho rapidamente, só para tirar o suor antes de buscar Diana na faculdade. Assim que vesti uma bermuda, um moletom e calcei tênis, ajeitei minhas coisas no armário e fui direto para o carro, tentando não ser visto por Zach.

As músicas da playlist de Diana tocavam e eu revirava os olhos com cada palavra que saía da boca do cantor. A música era melosa e bem mentirosa. O amor não era aquilo. Pelo menos, não para mim.

Conectei meu celular e não demorou para que Where The Wood At começasse a tocar. Junto com a batida, meu dedo se chocava contra o volante e minha cabeça mexia para lá e para cá. O trânsito de Palo Alto estava irritávelmente devagar e obstruído por conta de um acidente que os curiosos insistiam passar devagar para se meter na vida — ou morte — dos outros.

A música para e a chamada de Diana aparece no visor do som. O sermão pelo meu atraso que provavelmente vou ouvir me faz bufar.

— Já estou a caminho, Di. — Falei antes que Diana pudesse resmungar qualquer coisa.

Como é bom ouvir sua voz! — Franzi a sobrancelha com o tom de alívio da garota.

— Você ouviu ela hoje de manhã.

Você está bem? Machucado? — Agora sua voz já carregava um tom de preocupação, me deixando ainda mais curioso.

— Por que eu não estaria, Di? — Questionei e ela suspirou mais uma vez, aliviada. — O que está acontecendo?

Aconteceu um acidente perto da academia com o mesmo carro que o seu. Me desesperei. Liguei até para a sua mãe, você não estava atendendo. — Explicou como uma metralhadora, me fazendo entender poucas palavras. — Tudo bem, vou dizer que está tudo okay.

— Acabei de passar agora pelo acidente. — Comentei, percebendo poucos segundos depois o que Diana realmente havia falado. — Espera aí, você ligou para a minha mãe?

Sim. Mas está tudo bem, ela não perguntou nada sobre onde você havia ido. — Certificou-me. — Estou te esperando, te amo.

— Eu também.

Desliguei a chamada e a música voltou tocar. Não demorou para que eu chegasse na faculdade e Diana se despedisse das amigas projetos de Barbies. Não que eu não gostasse delas, apenas preferia ficar o mais longe possível.

— Não sei o que seria de mim se algo acontecesse com você. — Choramingou, depositando um beijo carinhoso em meus lábios. — Se você morrer eu te trago de volta para te matar!

— Você sabe que vaso ruim não quebra. — Brinquei e ela riu nasalado. — Almoçar em algum restaurante ou prefere ir pra casa e pedir algo lá?

— Vamos almoçar em casa. — Disse e eu assenti, pegando um caminho contrário.

Assim que chegamos no prédio, cumprimentamos o porteiro e subimos até o nosso apartamento. Diana jogou sua bolsa no sofá e eu peguei o telefone, pedindo comida japonesa. Comida preferida de Diana em qualquer horário do dia.

— Precisamos conversar. — Meu coração acelerou. Pensei em todas as besteiras que eu havia feito ao longo de nosso relacionamento. Não foram muitas e nada que pudesse me prejudicar, mas sempre me dava um frio na barriga. É como se eu voltasse no tempo e ouvisse isso da minha mãe. — Não vou poder ir na sua luta.

— O que? Por quê?

— Terei que viajar para São Francisco. Mas juro que ligarei para o Zach por vídeo! — Disse, sentando em meu colo. — Projeto da faculdade, e como eu sou a melhor aluna de psicologia... Bom, você entendeu, né? Eles precisam da loirinha aqui.

— Tudo bem. Vai ser até bom você não ver a surra que eu vou ganhar. — Resmunguei e ela revirou os olhos, depositando um beijo em meu pescoço.

— Você é o melhor lutador do mundo, Andy. Pelo menos, para mim você é. — Sorriu orgulhosa

— Ser o melhor lutador do mundo para você não vai me dar um cinturão, Di.

Diana deu de ombros e ajeitou-se em meu colo, colocando as pernas em volta da minha cintura. Olhou-me sério, me deixando perdido no mar azul de seus olhos.

— Eu te amo, tá bom? — Sussurrou e eu assento sorrindo, iniciando um beijo e sentindo o gosto do seu amor por mim.

— Ajeita a postura e movimente-se junto com sua perna quando for chutar. Se ficar parado pode perder o equilíbrio e cair no tatame. Isso vai te fazer perder pontos. E muitos. — Ensinei e a garota de catorze anos assentiu, dando outro chute no saco de pancadas. — Está bom, mas pode melhorar. Toma uma água, em sete minutos voltamos.

A garota assentiu e saiu cansada. Zach parou ao meu lado e cruzou os braços, observando as outras crianças espalhadas pela academia.

— Você soube do acidente aqui perto?

— Soube. Minha namorada ligou desesperada. O que aconteceu? — Questionei.

— Pai de uma das crianças. Estava vindo falar com o Ray, um carro pegou ele em cheio. Está lutando pela vida no hospital. — Suspirou triste. — A vida é tão curta, cara.

— Acidentes de carro são os piores. — Murmurei. Zach olhou-me chateado.

— Desculpa cara, esqueci que o seu pai faleceu assim. — Tentou se desculpar e eu dei de ombros, fingindo que aquilo não importava. — Esqueci completamente.

— Relaxa, irmão. — Dei um tapinha em seu ombro, indo auxiliar um adolescente no ringue.

No fim da tarde, eu já estava cansado e louco para dormir. O dia estava sendo cansativo, mas eu precisava me alimentar e por esse motivo decidi parar no meio do caminho para comprar algo na lanchonete em que Ariel trabalhava.

Assim que eu entrei, um sininho anunciou a minha chegada. Caminhei até o balcão e esperei alguma das garçonetes ficarem disponíveis, olhando algo do cardápio.

— Olá, boa noite. — Virei-me e o mesmo cara que estava na casa de Ariel na noite retrasada me olhava, segurando um bloquinho.

— Acho que estamos nos encontrando demais. — Brinquei e ele continuou sério, fazendo eu respirar fundo e erguer as sobrancelhas. — Tudo bem, então...

— O que deseja? — Perguntou mais uma vez.

— Andrew! Oi. — Ao ouvir a voz de Ariel, a olhei e sorri, depositando um beijo em sua bochecha. — Pode deixar que eu atendo ele, Vince.

O garoto assentiu e saiu, ficando do outro lado do balcão. Meu olhar voltou para Ariel e percebi o quão bonita ela estava naquela noite.

— O que vai querer hoje, Drew? — Sua voz era cheia de energia, mas seu olhar estava cansado.

— Um refrigerante e hambúrguer número cinco, e um suco de morango e hambúrguer número três. — Respondi, olhando para o cardápio e me certificando se estava dizendo certo. — O suco e o hambúrguer número três são para a viagem.

— Tudo bem, algo mais? — Questionou e eu neguei. Ela sorriu e saiu, entregando o meu pedido para a cozinha.

Sentei-me em uma das mesas vazias e esperei que meu pedido ficasse pronto. Depois de mim, não havia chegado nenhum outro cliente, então os atendentes estavam descansando em algum canto.

Ariel e o tal Vince conversavam animadamente no balcão, me deixando curioso para saber no que tanto riam. A expressão de Ariel era de alguém que estava confortável, e Vince parecia que atacaria a morena em qualquer momento. Ele carregava uma pose de macho alfa e Ariel parecia gostar de sua postura.

Me tirando dos meus devaneios, outra garçonete trouxe meu pedido. A frustração de não falar mais uma vez com Ariel veio em minha mente, mas o incômodo em atrapalhar sua conversa fez com que eu me mantivesse quieto.


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