CHAPTER 1. great day
1. ÓTIMO DIA
O dia já havia começado em grande estilo.
Ao invés de acordar com o celular despertando, como uma pessoa normal, sou desperta caindo da cadeira, já que na noite anterior eu estava tão cansada de fazer trabalhos que acabei adormecendo em minha escrivaninha. O universo, não contente com isso, fez com que eu me atrasasse para a aula.
— Obrigada por me acordar! — Murmurei, abrindo a geladeira rapidamente e pegando qualquer coisa que fosse fácil de comer enquanto eu caminhava.
— Não tenho cara de despertador. Você tem que aprender a dar conta das suas próprias responsabilidades. — Mamãe piscou, colocando a sua xícara de café na pia e me dando um beijo no topo da cabeça. — Aconselho a se apressar. Sua aula começou faz quinze minutos.
— Posso usar o carro do papai? — Questionei e ela deu de ombros, querendo dizer que ela não estava nem aí.
Sorri animada e peguei as chaves no porta-chaves. Joguei a mochila no banco do passageiro e dei a ré, quase dando com a traseira na caixa de correio. Olho para a janela e sorrio amarela ao ver minha mãe me observando de longe, com os olhos semicerrados.
Chego rapidamente na escola, agradecendo que as portas ainda não estavam fechadas. Corro para o meu armário e pego o material da próxima aula. Quando chego na sala, me enfio no meio dos alunos que estavam entrando e sento-me no meu lugar habitual.
— Pensava que você não iria vir. — Margot sussurrou para mim e eu dei de ombros, me ajeitando na cadeira. — Aquele garoto do primeiro ano brigou novamente. Asher. Já até gravei o nome dele.
— Brigou com quem dessa vez?
— Ian Golding. Aquele fortão do time de basquete. Apanhou feio, tadinho. — Fez careta. — A gente pensa que o Asher não vai mais arranjar encrenca, mas ele sempre procura por mais.
— Mas é ele que anima a escola. Se não fosse por ele não teria nenhuma briga.
— Ótimo ponto.
O professor de literatura nem fez questão de olhar para os alunos e já pegou o seu canetão para anotar as coisas no quadro. Bufei e abri o caderno, revirando os olhos ao perceber que eram mais atividades - como sempre, diga-se de passagem.
— Quer ir numa festa sábado? — Margot sussurrou pra mim. — Casa do Scooter.
— Quem é Scooter?
— James Scooter. O repetente pela décima vez. — Lembrou-me e eu assenti como se uma caixinha que ele estava se abriu, em minha mente.
— Pode ser. Vou ver como está a minha agenda. — Falei e ela riu, concordado.
Eu e Margot nos conhecemos no primeiro ano do ensino médio. Obviamente, não foi amor à primeira vista. Eu derrubei todo o meu suco de melancia em suas anotações e ela não gostou nenhum pouco disso. Claro que não foi por querer, mas ela não queria nem saber. Queria porque queria se vingar e acabou se vingando. Contou sobre a minha colinha na prova de trigonometria e eu acabei parando na detenção. Obvio que eu a levei junto, dizendo que tinha sido Margot quem desenhou um pênis em seu rosto enquanto o professor tirava um cochilo na biblioteca. É claro que não havia sido ela. Na verdade, foi um dos meus amigos que eu queria proteger — e que hoje eu nem tenho mais contato —, ou seja, havia matado dois coelhos numa cajadada só.
Quando a aula de literatura acabou, fui para a educação física. Era a única aula que eu não tinha com Margot, o que era uma tristeza, pois ela era um desastre nos esportes e sempre deixava as aulas ainda mais cômicas. Eu não entendia como ela conseguia ser capitã das líderes de torcida. Na verdade, eu não entendia nem como ela tinha fôlego pra dar um pulo. Não que eu fosse a pessoa mais atlética do mundo, mas pelo menos eu tinha fôlego para acompanhar as danças que ela criava.
— Vocês vão na festa do James? - Lola, uma das líderes de torcida, questionou ao se juntar na rodinha.
— Não sei. As festas deles sempre saem do controle. — Murmurei e as meninas concordaram, fazendo careta. — Da última vez aquele garoto do segundo ano quase ficou em coma.
— É, mas ele é super sem noção. Esse garoto aí é o primo da Cassie e vocês sabem que a família dela não bate muito bem da cabeça. — Morgan brincou e Cassie deu uma cotovelada na amiga, fazendo com quem nós ríssemos.
— Aí galerinha da rodinha, podem participar da aula se vocês quiserem. — O professor murmurou e nós sorrimos cúmplices.
Acabamos indo fazer a formação do vôlei, com duas equipes esperando para entrar. Depois de três rodadas, minha equipe venceu e meu espírito competitivo vibrou de felicidade. Direcionei-me até o vestiário e tirei a minha roupa, indo para debaixo do chuveiro.
— Quer uma água, Ariel? — Cassie perguntou e eu neguei, confusa. — É porque do jeito que o Vince te secou hoje.... pensava que tinha desidratado.
— Quando que você vai dar uma chance pra ele? — Morgan questionou interessada.
Vince Shaw é o atleta mais cobiçado de District High. Educado, alto, forte, atlético, bonito e charmoso são algumas de suas várias qualidades que as garotas costumam acentuar ao vê-lo fazendo um touchdown.
Vinte e eu já conversamos algumas vezes. Dividimos a mesa de laboratório quando Margot teve que faltar por um mês, no segundo ano. Depois disso, só conversávamos quando Margot estava por perto ou quando ele vinha puxar assunto na hora de algum jogo.
— Não sei, acho que ele não faz muito o meu tipo.
— Amiga, tendo um prepúcio já vai fazer o seu tipo. — Lola retrucou. — Além do mais, ele só quer uma transa. E eu tô sabendo que tem teia de aranha nos seus grandes lábios.
— Você fala demais, garota. — Murmurei e as garotas riram, voltando a limpar.
Coloquei o short de cintura alta e a t-shirt, e calcei o tênis. Ajeitei meu cabelo e peguei minha mochila, me despedindo das meninas e indo em direção ao refeitório, onde Margot já me esperava em nossa mesa. Na verdade, em alguns minutos as garotas iam chegar e sentar conosco.
— Olha lá, hora da diversão.
Margot seguiu seu olhar até o lugar que eu apontava e sorriu ao ver Ian chegando no refeitório. Junto com ele estava seus amigos do time de basquete. Na direção contrária, Asher carregava sua bandeja de comida. Sua boca e sobrancelha estavam com um curativo e o olho inchado o dedurava que havia acabado de entrar numa briga. Além do mais, sua mão também estava com alguns hematomas. Todo mundo sabia que Asher Hawk era um garoto problemático e explosivo, sempre metido em confusão e, na maioria das vezes, com pessoas bem maiores que ele.
Ian carregava um sorriso vitorioso, mas dava para notar que a expressão debochada de Asher o deixava incomodado. O garoto nunca se deixava abalar por nenhuma briga, ele sempre queria mais não vencia por ser mais forte, ele vencia por saber que em qualquer momento poderia tirar alguém do sério com a sua audácia e sarcasmo.
— Asher Hawk é o típico badboy que eu transava até não dar mais. — Margot murmurou, o encarando.
— Ele tem quinze anos, garota. — Ri com a sua prevenção e ela deu de ombros.
— Opa, quem é o badboy solteiro que vocês estão falando? — Lola sorriu, chegando junto com as meninas. Margot apontou para Asher e as três garotas seguiram o seu olhar, encarando-o assim como nós duas estávamos fazendo.
A tensão estava evidente ali. Quando Asher passou por Ian, todos pararam para encara-los. O jogador de basquete já não tinha mais o sorriso estampado eu seus lábios, mas Asher continuava caminhando com a sua postura de desdém. Esse garoto era a diversão da District High e eu sabia que eu sentiria falta das intrigas que ele causava toda semana.
— Esse pirralho é um pedacinho de mau caminho. — Lola sorriu maliciosa, olhando para a bunda de Asher.
— Meu Deus, vocês parecem duas pedófilos. — Murmurei, fazendo careta. — Ele acabou de sair do ensino fundamental.
— O moleque tem até cheiro de leite ainda. — Foi a vez de Cassie falar, fazendo com que eu concordasse.
Quando o sinal bateu, voltamos para a sala. O professor estava demorando excessivamente para chegar. Margot ficava batucando na mesa, nervosa por sua chegada e isso não me incomodava, mas incomodava as pessoas que estavam a sua volta.
— Pessoal, o professor de Filosofia acabou tendo um contratempo agora pela manhã e não deixou nenhuma atividade pra vocês. — Ouvi a voz da secretária, na porta da sala. — Ou seja, liberados mais cedo.
Margot olhou para mim com cara de poucos amigos e bufou, pegando a sua mochila. Sorri para ela e ela continuou com uma expressão fechada.
— Se eu soubesse que ia ter duas aulas vagas eu teria ido embora no almoço. — Lamuriou, me fazendo rir com o seu drama. — Você está de carro?
— Peguei do meu pai hoje. — Sorri, animada. — Quer carona?
— Nesse Volkswagen Amarok 2018 4x4, motor v6? — Margot era uma amante de carros. Sempre estava enfiada embaixo de um capô, analisando se o carburador precisava de mais água ou era preciso desmontar o carro só para ser a diversão do momento. — Como eu poderia recusar?
— Eu ia falar: nesse carro preto, de quatro rodas, aqui na nossa frente. — Falei e ela riu, entrando no carro.
Dei a ré enquanto Margot conectava seu celular no sim e dirigi devagar pela estrada de Palo Alto. O dia estava muito ensolarado e as ondas muito bonitas para não serem apreciadas.
Eu gostava de momentos assim com Margot. Depois de um jogo, sempre pegávamos o carro do seu pai e dirigíamos pela costa, até chegar no nosso canto predileto da cidade. O último pedido. Esse, obviamente, não era o nome do lugar. Na verdade, nem sabíamos o nome verdadeiro, mas gostávamos de estender o tapete e olhar as estrelas cadentes. Era lindo, até o momento que começou a ser perigoso.
— Que batom lindo! — Ouvi a voz de Margot se sobressair ao som da música. — É da Aurora?
Olhei para o lado e analisei o batom nude nas mãos de Margot. Não era nenhum tipo de cor que eu usaria.
— Minha mãe não usa batom. E eu nunca trocaria meu batom vermelho por... isso aí. — Respondi. -—E não costumamos viajar com o carro do papai.
— Algo está cheirando mal. — Margot fez careta, deixando o batom de lado.
Assim que deixei Margot na porta de sua casa, direcionei-me até a minha. Eu estava feliz por ter tempo antes de ir trabalhar. Poderia tomar um banho relaxada e não ir correndo da escola até a lanchonete, como eu sempre fazia.
Peguei o batom e a mochila e caminhei em direção à minha casa. Quando eu entrei, avistei rapidamente mamãe e tia Liz, melhor amiga da minha mãe, sentadas uma em cada poltrona. As duas olhavam para um ponto fixo, ambas com expressões sérias e cansadas.
— Mãe? — Ela me olhou alerta. Seus olhos estavam avermelhados, dedurando-a sobre seu choro recente. — Por que você está chorando?
Ela levantou-se e veio em minha direção, envolvendo-me num abraço caloroso. Olhei sem entender para tia Liz e a loira continuava com sua expressão séria, mas seu olhar era tristonho e desanimado.
— Seu pai e eu vamos nos separar, querida. — Disse simples e amarga, algo que ela não era.
A olhei sem reação. Mamãe continuava a fungar, mas dessa vez abraçada em Liz. Eu sabia que meus pais estavam brigando constantemente, mas eu pensava que isso era apenas uma fase que, todo casamento de mais de uma década, passa.
— O que? Por que? — Minha mente estava com um bilhão de perguntas para fazer, mas eu sabia que mamãe não estava pronta para conversar sobre isso agora.
— O casamento acabou se desgastando muito, Ari. Seu pai trabalha demais e mal vê a família. Isso não é bom pra ninguém. Foi decisão dos dois. — Tia Liz explicou, suspirando.
— Então por que ela está chorando?
— Não é porque não existe mais amor que um casamento construído por dois jovens na flor da idade vai ser esquecido. É complicado. — Disse. Mamãe já não estava mais chorando, porém ela estava quieta e ela quase nunca ficava quieta. Seu silêncio acabava sendo perturbador.
— Eu vou lá pra cima.
Peguei minha mochila perto da porta e subi as escadas. Quando entrei em meu quarto, um álbum de fotos estava em cima da cama. Me aproximei e joguei a mochila num canto próximo. Peguei uma das fotografias e sorri nasalado ao ver uma foto do meu nascimento, no colo de mamãe que ainda estava na maca do hospital. As outras fotos estavam todas rasgadas. Rasgadas na parte em que meu pai aparecia.
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