8. Obrigação familiar.


ELEONORA
PONTO DE VISTA

6 de novembro de 1976

O vento frio batia nas ruas de Hogsmeade, e Eleonora e Freya andavam lado a lado, ambas bem agasalhadas. As duas estavam em silêncio, mas o ar entre elas estava carregado de tensão não resolvida. O frio parecia incomodar menos do que a preocupação que Eleonora sentia por sua amiga. Freya não estava sendo a mesma desde a briga com Logan, e Eleonora sabia que precisava entender o que estava acontecendo.

Ao entrarem no café da Madame Puddifoot, o ambiente aconchegante as envolveu. O cheiro doce de chá e bolinhos frescos encheu o ar, e Eleonora deu um pequeno suspiro de alívio, como se a atmosfera pudesse aliviar a tensão. Elas se sentaram em uma mesa nos fundos, longe dos outros alunos que estavam ali em clima de romance. Freya parecia distraída, mexendo na borda de seu suéter enquanto olhava para o chão.

Eleonora tentou encontrar o melhor jeito de começar.
Freya... eu sei que você e Logan não estão bem. E eu sei que tem algo a mais nessa história. O que aconteceu realmente?

Freya levantou o olhar, seus olhos claros estavam cansados. Ela hesitou por um momento, antes de soltar um suspiro pesado.
Logan... ele me viu conversando com alguém, e acho que ficou com ciúmes.

Eleonora arqueou as sobrancelhas, intrigada.
Com quem você estava falando?

Com... Régulos Black.
Freya admitiu, a voz carregada de um certo pesar. — Eu não queria que Logan visse, mas ele apareceu bem na hora. E, claro, ele não gostou nada do que viu.

Régulos? — Eleonora franziu a testa.
Por que você estava falando com ele?

Freya desviou o olhar, sua expressão endurecendo por um instante antes de se suavizar.
Logan começou a me questionar, e eu... fui muito grosseira com ele. Disse que ele não tinha o direito de me pedir satisfações. Acho que foi aí que tudo desandou. — Ela suspirou, claramente arrependida, mas ainda havia algo que ela estava segurando.

Eleonora notou o nervosismo da amiga.
Freya, você pode confiar em mim. Eu não vou te julgar, só quero te ajudar. Mas... por que você estava conversando com Régulos? O que está acontecendo?

Freya permaneceu em silêncio por alguns instantes, seus dedos inquietos agora puxavam uma mecha solta de cabelo. Finalmente, ela soltou um soluço suave, baixando a cabeça enquanto lágrimas silenciosas começavam a rolar por suas bochechas.
Nora... eu... eu não sei o que fazer.

Eleonora se inclinou na cadeira, seu coração apertando ao ver Freya tão vulnerável.
Frey, o que foi? O que está acontecendo?

Freya limpou as lágrimas com a manga do casaco e, depois de um momento, começou a falar.
Minha mãe... ela fez um acordo com os pais de Régulos. Eles querem que eu me case com ele. No futuro. Está tudo praticamente arranjado.

Eleonora ficou em choque, sem palavras por um momento.
O quê?

Freya assentiu, as lágrimas voltando a encher seus olhos.
Eles querem que eu me case com ele, Nora. Minha mãe diz que é a nossa 'obrigação familiar', para manter o nosso sangue puro. E, se isso acontecer... eu não terei escolha. Vou acabar sendo forçada a me tornar uma Comensal da Morte.

As palavras de Freya penduraram-se no ar como uma maldição. Eleonora não sabia o que dizer. Ela sabia que Freya vinha de uma família tradicional, mas a ideia de vê-la presa em algo tão sombrio a deixava completamente abalada.

Freya...
Eleonora sussurrou, sua voz cheia de empatia.
Você não precisa fazer isso. Não pode deixar que eles decidam o seu futuro.

Eu sei.. — Freya soluçou.
Mas... o que eu posso fazer? Minha família espera isso de mim. Se eu não aceitar, eu... posso perder tudo. Eles podem me deserdar. Ou pior.

Eleonora estendeu a mão e segurou a de Freya firmemente.
— Você não está sozinha, Freya. Não importa o que aconteça, eu vou estar ao seu lado. Logan também, você sabe disso. Ele só está magoado porque te ama e não entende o que está acontecendo.

Freya assentiu levemente, mas o medo ainda estava presente em seu olhar.
— Eu tenho tanto medo, Nora. E a pior parte é que... eu gosto de Logan. Muito. Mas sei que ele nunca aceitaria o que está acontecendo.

Ele vai entender — Eleonora garantiu.
Nós vamos encontrar uma maneira de resolver isso. Mas, Freya, você precisa ser honesta com ele. Dizer o que está acontecendo de verdade. Só assim vocês podem tentar superar isso juntos.

Freya enxugou as lágrimas, respirando fundo.
Eu sei que você está certa... só preciso encontrar coragem para contar tudo.

E você vai encontrar. Eleonora disse com convicção.
Nós duas vamos.

Enquanto o chá esfriava nas xícaras à sua frente, Freya começou a parecer um pouco mais tranquila, embora o peso de sua situação ainda pairasse sobre elas como uma nuvem. Eleonora sabia que o caminho à frente seria difícil para sua amiga, mas ela estava decidida a estar lá, ajudando-a a cada passo.

[...]


O Salão Principal estava movimentado, com os alunos ocupados terminando suas refeições. A longa mesa da Lufa-Lufa, no entanto, estava envolta em um silêncio pesado. Eleonora, Freya e Logan tinham acabado de jantar, mas nenhum dos três dissera uma palavra desde que se sentaram. O silêncio era desconfortável, e Eleonora podia sentir a tensão no ar, principalmente entre Freya e Logan. Ela sabia que sua amiga ainda estava abalada pela conversa que haviam tido mais cedo, e sabia também que Logan continuava magoado.

De repente, Freya, que estivera olhando fixamente para seu prato vazio, respirou fundo e quebrou o silêncio.
Logan... podemos conversar? Por favor?

Logan levantou o olhar, seus olhos cheios de relutância. Ele parecia hesitar, mas, após alguns segundos, deu um leve aceno de cabeça.
Tudo bem — disse ele, a voz baixa.

Sem trocar mais palavras, os dois se levantaram da mesa e saíram juntos, deixando Eleonora sozinha. Ela os observou enquanto caminhavam para fora do salão, seus corações claramente pesados. Quando finalmente pararam em um canto do corredor, longe do barulho dos outros alunos, Eleonora conseguiu vê-los da mesa onde ainda estava sentada.

De longe, ela observou enquanto Freya começava a falar, sua postura tensa. Logan parecia impassível no início, os braços cruzados, claramente ainda magoado. Eleonora sabia que aquele era um momento importante para eles, e ela se pegou segurando a respiração enquanto tentava interpretar suas expressões à distância.

Freya falava, gesticulando levemente, e, mesmo à distância, Eleonora pôde ver a intensidade no rosto de Logan. No começo, ele parecia indignado com algo que Freya havia dito - sua testa franzida e o olhar incrédulo denunciavam sua reação. Eleonora sabia que Freya provavelmente estava explicando tudo sobre Régulos e o acordo arranjado. A ideia de casamento com um possível Comensal da Morte certamente seria um choque para Logan.

Então, conforme Freya continuava, a expressão de Logan mudou. Ele deixou de lado a raiva e agora parecia mais triste, seus ombros caindo levemente. Eleonora viu quando Freya, com a voz provavelmente trêmula, começou a chorar. Sua amiga levou as mãos ao rosto, incapaz de segurar as lágrimas, e isso pareceu quebrar algo dentro de Logan.

Ele não hesitou por muito mais tempo. Com um gesto suave, ele se aproximou e a envolveu em seus braços. Eleonora viu quando Logan abaixou a cabeça, afagando o cabelo de Freya enquanto ela chorava em seu peito. Era um gesto cheio de carinho, e Eleonora sentiu uma onda de alívio e emoção crescer em seu peito.

O abraço durou alguns instantes antes de Logan se afastar ligeiramente. Ele levantou o rosto de Freya com delicadeza, limpando suas lágrimas com o polegar. Eleonora observou, sem conseguir desviar o olhar, enquanto Logan inclinava-se lentamente para frente, seus lábios encontrando os de Freya em um beijo terno e carregado de emoções. Eleonora ficou de queixo caído, completamente surpresa, mas ao mesmo tempo sentindo uma felicidade genuína por seus amigos.

O beijo foi breve, mas cheio de significado. Quando se separaram, Freya parecia mais calma, e Logan sorria de maneira suave, como se finalmente tivessem encontrado um terreno comum. Os dois trocaram algumas palavras que Eleonora não conseguiu ouvir, antes de se virarem e começarem a caminhar de volta para o Salão Principal.

Ao se aproximarem da mesa da Lufa-Lufa, Logan tinha o braço em volta dos ombros de Freya, e Freya se aconchegava ao lado dele. Eleonora, ainda com um sorriso no rosto, assistia enquanto seus dois amigos voltavam ao seu lugar, claramente reconciliados. Quando se sentaram novamente ao seu lado, a tensão que antes pairava no ar havia desaparecido.

Logan foi o primeiro a quebrar o silêncio.
Então... acho que ainda temos muita coisa para conversar, mas estamos bem agora — disse ele, olhando carinhosamente para Freya.
Desculpe pelo silêncio, Nora.

Tudo bem — respondeu Eleonora, ainda sorrindo. — Eu estou muito feliz por vocês dois. Sério.

Freya, ainda um pouco emocionada, deu um pequeno sorriso.
— Obrigada, Nora. E... obrigada por me escutar mais cedo.

Eleonora balançou a cabeça.
Sempre estarei aqui para vocês. Sabem disso.

Com o clima leve e descontraído, os três começaram a conversar como antes, rindo de piadas e trocando histórias sobre as aulas. O trio parecia completo novamente, e, pela primeira vez em dias, Eleonora sentiu que tudo estava exatamente onde deveria estar. Mesmo com as incertezas que ainda pairavam sobre o futuro de Freya, naquele momento, todos pareciam estar em paz.

[...]

No dia seguinte, Eleonora caminhava pelos corredores de Hogwarts, com os olhos imersos nas páginas de um livro. Ela gostava de momentos assim, onde podia se perder na leitura e escapar das tensões que ainda restavam em sua mente. O clima frio de outono enchia o castelo, e o som de passos apressados dos alunos voltando das aulas ecoava ao seu redor. Ela mal notava o movimento, totalmente focada na história que lia, quando de repente esbarrou em algo - ou alguém.

O impacto a fez dar um passo para trás, quase derrubando o livro que segurava. — Desculpa! — ela exclamou, levantando os olhos rapidamente, apenas para encontrar Remus Lupin à sua frente. O choque a fez corar levemente, e ela não conseguiu evitar um pequeno sorriso ao vê-lo.

Tudo bem — disse Remus, sorrindo de volta, os olhos brilhando com uma leveza que ela não via há algum tempo. — Eu que devia pedir desculpas. Não vi você aí. — Ele parecia genuinamente feliz em vê-la, e, por um momento, ficaram se encarando em um silêncio confortável, até que Remus quebrou a quietude. — Está tudo bem? Como estão as coisas com Logan e Freya?

A pergunta veio carregada de interesse genuíno, e Eleonora pôde ver que ele estava realmente preocupado. Ela sentiu uma onda de gratidão por ele, não apenas pela curiosidade em relação aos amigos, mas por se importar de verdade.

Ah, sim, eles se resolveram ontem — respondeu Eleonora, o sorriso se abrindo em seu rosto. — Foi meio tenso por um tempo, mas agora estão bem. Eu estava preocupada, mas acho que... tudo acabou funcionando. — Ela deu um suspiro aliviado. — Acho que o Logan entendeu a situação de Freya, mesmo sendo bem complicada.

Remus assentiu, seus olhos atentos a cada palavra dela. Enquanto ela falava, ele pareceu se distrair levemente, e antes que Eleonora pudesse perceber, ele ergueu uma das mãos e delicadamente ajeitou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. O gesto foi tão suave e natural que ela se perdeu por um segundo, o coração batendo um pouco mais rápido.

Fico feliz por eles — disse ele, ainda com o sorriso suave nos lábios, enquanto sua mão deslizava suavemente para baixo. — E você? Como está? Com tudo o que aconteceu... você pareceu um pouco abalada esses dias.

Eleonora sentiu suas bochechas aquecerem com o toque e a atenção, mas tentou disfarçar o nervosismo com um pequeno sorriso. — Estou bem... ou quase — ela admitiu, abaixando os olhos por um segundo. — Essas coisas sempre me deixam preocupada, sabe? Eu só quero o melhor para eles... para todos nós.

Remus assentiu de novo, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado enquanto a observava. — Entendo. Você tem um jeito de se preocupar com todos ao seu redor, Nora. Acho que é isso que gosto em você — ele disse suavemente, um tom caloroso em sua voz que fez o coração dela disparar.

Ela piscou, surpresa pelo comentário repentino, e tentou esconder o sorriso tímido que se formava em seus lábios. — Eu... só tento ajudar do jeito que eu posso.. — respondeu, um tanto sem jeito.

Os dois permaneceram em silêncio por mais alguns segundos, as palavras dele ainda ecoando em sua mente. O toque suave, o gesto atencioso, tudo parecia tornar o momento mais especial. Mesmo que não estivessem falando diretamente sobre o que estava acontecendo entre eles, havia algo não dito ali, uma conexão que ambos pareciam reconhecer.

Bem, eu preciso voltar para a biblioteca antes da próxima aula. — disse Eleonora, embora relutante em encerrar o momento.

Remus sorriu de lado, parecendo entender o conflito dela. — Claro, não vou te atrapalhar mais. Mas... nos vemos... em breve?

Eleonora assentiu rapidamente, tentando não demonstrar o quanto aquilo a animava. — Sim, até breve Remus.

Com um último sorriso, Remus deu um passo para o lado, permitindo que ela continuasse seu caminho. Eleonora, ainda meio perdida no toque e nas palavras dele, deu alguns passos antes de se virar para acenar para ele uma última vez. Remus, já de costas para ela, se virou também e deu um aceno rápido, seu sorriso permanecendo até que ele desaparecesse entre os alunos no corredor.

Ela suspirou profundamente, o coração acelerado enquanto voltava sua atenção para o livro, mas, desta vez, suas páginas pareciam mais distantes do que antes. Tudo o que conseguia pensar era no gesto delicado de Remus, e o quanto ele fazia seu mundo parecer mais leve, mesmo em momentos tão simples.

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