5. Perfeito..
ELEONORA
PONTO DE VISTA
31 de outubro de 1976
A semana que se seguiu após a festa foi um tanto desconfortável. Remus, que normalmente era atencioso e gentil, parecia estar me evitando. Sempre que nossos olhares se encontravam no Salão Principal ou nos corredores, ele desviava rapidamente, como se estivesse envergonhado. Eu me perguntava se o beijo tinha sido um erro para ele. Será que eu tinha cruzado algum limite ao revelar que ele havia sido o meu melhor beijo?
Ainda assim, eu não conseguia deixar de observá-lo. Cada movimento seu parecia mais introspectivo do que o normal, e suas olheiras estavam mais profundas. Perguntei-me se isso estava relacionado aos estudos, já que ninguém tinha vida enquanto estudava para os N.O.M.s. Havia algo que o perturbava profundamente, e isso me deixava ainda mais intrigada.
[...]
O dia estava claro e fresco, uma brisa suave passando pelo pátio de Hogwarts. Estudantes de todas as casas espalhavam-se em grupos, conversando e rindo. Eleonora estava sentada com Freya e Logan, descansando entre as aulas enquanto discutiam a pilha de tarefas que ainda precisavam terminar. O sol fazia as pedras do castelo parecerem mais quentes, e Eleonora se inclinava levemente para trás, aproveitando a sensação agradável em seu rosto.
— Eu juro que Slughorn está tentando nos matar — murmurou Freya, esfregando as têmporas com os dedos. — Quantos ensaios sobre poções ele acha que somos capazes de escrever em uma semana?
— Se fosse só ele — respondeu Logan, ajustando os óculos no rosto. — McGonagall também está exigindo demais com as transformações. Acho que ela está ansiosa para nos ver transformando ratos em copos de cristal até o final do ano.
Eleonora soltou um suspiro cansado, enquanto ouvia a conversa, mas sua mente vagava para outros pensamentos. Desde o incidente na festa e o beijo inesperado com Remus Lupin, ela não conseguia evitar pensar nele. A cada vez que o via no corredor, sua cabeça se enchia de perguntas e sua pele esquentava, especialmente quando seus olhares se cruzavam.
E, ugh..
As revisões extras que ela tinha em seu dormitório todos os dias estavam a matando, mas ela não podia evitar, tinha medo de falhar.
— Eleonora? Você está ouvindo? — Freya cutucou-a no ombro, arrancando-a de seus devaneios.
— Ah, desculpa, o que você disse? — perguntou, voltando a focar nos amigos.
— Eu disse que vamos precisar de uma pausa. Talvez uma ida a Hogsmeade no fim de semana. Está precisando espairecer, pelo jeito. — Freya deu um sorrisinho malicioso.
Antes que Eleonora pudesse responder, um burburinho crescente ao redor as interrompeu. Algo estava acontecendo atrás delas, e Eleonora automaticamente virou a cabeça para olhar.
Ela viu os Marotos; James, Sirius e Peter, em uma espécie de tumulto descontraído. Mas o que realmente capturou sua atenção foi o fato de que eles estavam, de forma nada discreta, empurrando Remus em direção a ela.
— Anda logo, Remus! — James ria, enquanto Sirius, com um sorriso provocador, o empurrava com mais força. — Só vai lá e pergunta!
Remus, claramente envergonhado, tentava manter algum controle sobre a situação, mas era evidente que estava sendo jogado contra sua vontade. Ele tropeçou levemente, mas conseguiu se equilibrar e, ao se aproximar de Eleonora, murmurou irritado com seus amigos:
— Quantos anos vocês tem!? Eu sei andar.
Eleonora riu baixo com a cena, incapaz de esconder seu divertimento ao vê-lo. Quando finalmente ficou diante dela, Remus deu uma olhada rápida para seus amigos, que estavam observando de longe com sorrisos satisfeitos. Ele parecia nervoso, passando a mão pelo cabelo antes de finalmente falar:
— Oi, Eleonora. Eu... estava pensando... Se você gostaria de ir a Hogsmeade comigo no próximo fim de semana?
Antes que Eleonora pudesse sequer processar o convite, Freya, ao seu lado, deixou escapar em um tom exageradamente malicioso:
— Como um encontro?
O rubor que subiu no rosto de Eleonora foi imediato, e ela sentiu o calor se espalhar até as pontas dos dedos. Sem pensar, deu uma cotovelada na costela de Freya, fazendo a amiga soltar um "Ai!" baixinho e rir ainda mais. Logan, ao lado delas, observava a cena com um sorrisinho divertido, claramente se divertindo com a situação.
Eleonora tentou disfarçar o sorriso, mas falhou miseravelmente. Seu rosto estava vermelho, e ela não conseguia parar de sorrir.
— Desculpa pela Freya... Ela não sabe se conter — disse, ainda rindo um pouco, mas sentindo as borboletas agitarem-se em seu estômago.
Remus também parecia nervoso, suas orelhas ligeiramente vermelhas. Ele desviou o olhar por um segundo, antes de encarar Eleonora novamente, com um sorriso tímido, mas decidido.
— É, sim, como um encontro... — Ele fez uma pausa, passando a mão pelo cabelo, claramente mais nervoso do que queria admitir. — Mas só se você quiser.
Por um momento, o mundo ao redor de Eleonora pareceu parar. Tudo o que ela conseguia ouvir era o coração batendo rápido dentro do peito e as palavras de Remus ecoando na sua mente. Um encontro com Remus Lupin. De todos os pensamentos que passavam por sua cabeça nas últimas semanas, ela nunca tinha imaginado que ele fosse, de fato, a convidar para sair.
Ela respirou fundo, tentando manter a calma, mas era difícil não parecer absolutamente encantada com a ideia. Seus olhos encontraram os dele, e por um segundo, não havia nervosismo, apenas uma conexão genuína.
— Eu adoraria — respondeu ela, sua voz mais suave do que o esperado, mas firme.
O sorriso que se formou no rosto de Remus foi algo que ela sabia que não esqueceria tão cedo.
[...]
A semana de Eleonora começara de forma intensa, com as aulas extras que havia decidido pegar. Além do currículo padrão, ela se inscrevera em mais horas de estudo para Adivinhação e Runas Antigas, com a intenção de melhorar suas notas e aproveitar ao máximo seu tempo em Hogwarts. Porém, o peso dos deveres e as expectativas de cada matéria estavam começando a mostrar seu impacto.
A sala de Adivinhação, localizada na torre mais alta do castelo, sempre tinha uma atmosfera estranha, meio opressiva, com o incenso forte e as luzes fracas das velas. Eleonora sentava-se perto da janela para tentar evitar o cheiro sufocante, e todas as segundas-feiras à tarde compartilhava essa aula com ninguém menos que Severus Snape.
Snape era um aluno peculiar. Com seu cabelo oleoso caindo no rosto pálido e uma expressão perpetuamente sombria, ele mantinha distância de todos, preferindo suas próprias reflexões ao barulho dos outros alunos. Na maioria das vezes, ele era rude com quem tentava se aproximar ou fazer algum comentário, respondendo com comentários cortantes. Mas, curiosamente, Eleonora percebia que com ela era diferente.
Naquela tarde em particular, Trelawney estava divagando sobre as estrelas e como elas indicavam eventos sombrios no futuro de todos. Eleonora tentava acompanhar, rabiscando suas anotações, quando sentiu Snape se aproximar para pegar algo na mesa. Ao contrário de sua atitude irritada e brusca de sempre, ele se moveu com mais calma, sem lhe dirigir um olhar irritado ou dizer algo depreciativo.
— Você sempre chega cedo para as aulas — comentou Eleonora, sem muita expectativa de resposta.
Snape parou por um segundo, mas não olhou diretamente para ela. Sua voz saiu baixa, quase inexpressiva.
— É mais fácil evitar a multidão.
O comentário era tão direto quanto possível, mas Eleonora percebeu que, embora ele sempre fosse frio, Snape nunca era verdadeiramente hostil com ela. De alguma forma, ele se esforçava para ser minimamente pacífico, ainda que não incentivasse qualquer tipo de conversa prolongada.
— Entendo — respondeu ela, voltando a olhar para suas anotações.
Snape não continuou o diálogo, e a aula prosseguiu sem mais trocas de palavras. Eleonora sempre respeitava aquele espaço; Snape claramente não queria amigos, mas havia uma cortesia velada entre eles, uma trégua implícita que ela não quebraria.
[...]
As semanas em Hogwarts passavam rápido, mas o que sempre permanecia constante eram as cartas que Christian Bastetrix, o pai de Eleonora, enviava religiosamente toda semana. Desde a morte de sua mãe, Christian parecia determinado a se fazer presente, mesmo que suas cartas fossem curtas e, às vezes, excessivamente formais. Ele sempre perguntava como ela estava, mencionava algo sobre sua própria rotina no trabalho e reforçava o quanto sentia sua falta.
Por mais que Eleonora apreciasse as cartas, uma parte dela se sentia incomodada. Ela sabia que o pai estava tentando compensar o vazio que a morte de sua mãe deixara, mas às vezes parecia que ele não sabia como lidar com ela sem a presença da esposa. Ele era carinhoso em suas palavras, mas a distância entre os dois se sentia maior do que nunca.
Naquela noite, ela segurava a carta mais recente do pai em suas mãos, lendo as palavras familiares.
"Minha querida Eleonora,
Espero que esteja tudo bem com seus estudos e que Hogwarts esteja lhe trazendo alegrias. Estou trabalhando em novos projetos aqui e penso em você todos os dias. Se precisar de algo, não hesite em me escrever.
Com amor,
Seu pai, Christian"
Ela suspirou, dobrando a carta cuidadosamente e guardando-a na sua gaveta ao lado da cama. Queria responder, mas não sabia exatamente o que dizer. Suas palavras sempre soavam vazias, como se ambos estivessem se esforçando para manter uma conexão que, por alguma razão, parecia cada vez mais difícil de sustentar.
[...]
O sábado finalmente chegou, e com ele, o tão esperado encontro com Remus. Eleonora passou a manhã inteira se arrumando, tentando ignorar o nervosismo que sentia. Ela optou por usar uma blusa preta de manga comprida e gola alta, juntamente de uma saia vermelha de couro, sua meia calça preta com forro, e claro, sua botinas pretas. A saia realçava suas curvas e o tom de sua pele, e quando se olhou no espelho, sentiu-se confiante e um pouco ansiosa sobre como Remus reagiria.
— Você está incrível — disse Freya, espiando-a de canto enquanto se arrumava ao lado. — Ele vai ficar de queixo caído.
Eleonora riu, tentando disfarçar o nervosismo.
— Não exagere. Não é nada demais. Só um passeio...
Mas, por dentro, sabia que era mais do que isso. Sentia as borboletas no estômago ao pensar em Remus e no quanto a relação entre os dois estava se tornando algo especial, algo que ela mal conseguia entender, mas que a fazia se sentir viva.
Quando finalmente desceu até o pátio para encontrar Remus, ele já estava esperando por ela. Usava roupas simples, mas a elegância despretensiosa era parte do charme que ela tanto admirava nele. Ele olhou para ela enquanto se aproximava, e Eleonora pôde ver que, por um breve momento, ele ficou completamente sem palavras.
Remus piscou algumas vezes, parecendo lutar para encontrar a voz.
— Uau... — foi tudo o que conseguiu dizer inicialmente, o olhar dele varrendo o corpo da garota a sua frente, antes de finalmente encontrar os olhos de Eleonora. — Você está... incrível.
Eleonora corou instantaneamente, tentando não deixar transparecer o quanto aquele elogio significava para ela.
— Obrigada — respondeu, com um sorriso tímido. — Você também está ótimo.
Remus parecia nervoso, o que a fez sentir um pouco mais tranquila. Sabia que ele também estava se esforçando para manter a calma.
— Vamos? — ele perguntou, estendendo a mão para ela.
Eleonora aceitou o gesto, e os dois começaram a caminhar em direção a Hogsmeade. O caminho até a vila estava tranquilo, com poucos alunos ao redor, e conforme o silêncio confortável se instalava entre eles, Eleonora percebeu que estava ansiosa para o que viria.
O caminho até Hogsmeade foi leve, com a brisa suave agitando os cabelos de Eleonora enquanto ela e Remus caminhavam lado a lado, sem pressa, aproveitando o momento. Inicialmente, o silêncio parecia confortável, preenchido pelo som dos passos na trilha de terra e pelo canto distante dos pássaros. Remus olhava ocasionalmente para o chão, como se estivesse refletindo sobre algo, mas seus olhos frequentemente encontravam os de Eleonora, que não conseguia evitar o sorriso tímido sempre que o pegava a observando.
— Então... — Remus quebrou o silêncio primeiro, enfiando as mãos nos bolsos de sua calça jeans. — Como foram suas aulas essa semana? Ouvi dizer que você está se esforçando em várias matérias extras.
Eleonora riu levemente, lembrando-se das longas horas de estudo e das sessões de Adivinhação com Snape.
— Ah, foi bem cansativo. Peguei algumas aulas extras, como Adivinhação. Não é a minha favorita, mas ajuda a aumentar a carga horária. Snape estava lá também, e... bem, ele é sempre ele, não é?
Remus arqueou uma sobrancelha, curioso.
— Snape? Como ele se comporta com você? Ele costuma ser, digamos, não muito amigável com a maioria.
— Estranhamente, ele tenta ser... educado comigo. Quer dizer, ele não é simpático, mas também não é grosseiro. Acho que ele só tenta manter distância de qualquer tipo de interação.
Remus assentiu, parecendo pensar no assunto. Ele tinha suas próprias opiniões sobre Snape, claro, mas achava curioso que o garoto mantivesse uma espécie de trégua com Eleonora.
— Você parece conseguir manter a paz com pessoas complicadas — comentou, sorrindo de canto. — Tenho que aprender esse truque com você.
Eleonora deu de ombros, com um sorriso brincando em seus lábios.
— Eu tento. Acho que faz parte da Lufa-Lufa em mim... paciência, tolerância, essas coisas.
A menção de sua casa pareceu relaxar ainda mais o clima entre eles. Remus sorriu, claramente confortável com o assunto.
— Sempre admirei a Lufa-Lufa. Vocês parecem ser os mais equilibrados da escola. Os Grifinórios... bem, nem sempre somos conhecidos por sermos racionais.
Eleonora riu, sentindo-se mais à vontade à medida que a conversa fluía.
— Mas a sua coragem compensa isso. Digo, vocês sempre estão no meio de grandes aventuras. A vida com James, Sirius e até mesmo o Peter deve ser cheia de histórias para contar.
Remus deu um pequeno sorriso, mais modesto do que ela esperava.
— Tem seus momentos. Mas, às vezes, é bom ter um pouco de equilíbrio, alguém que nos lembre de manter os pés no chão. Acho que... você faz isso por mim.
As palavras simples, mas sinceras, atingiram Eleonora de um jeito inesperado. Ela olhou para ele, e por um momento o silêncio pairou entre os dois, carregado de significado. Logo, o desconforto se dissipou e eles retomaram a conversa sobre temas mais leves.
— Falando em aventuras... — Remus mudou o tom, claramente tentando aliviar o clima, — você tem um prato preferido no Salão Principal? Eu sempre tento não devorar o pudim de caramelo, mas é mais forte que eu.
Eleonora riu, apreciando a forma como ele a fazia se sentir confortável.
— Ah, tenho uma queda pelo frango assado. Sempre parece mais suculento quando estou com fome. E, claro, o torta de abóbora. É simplesmente irresistível.
A conversa continuou, saltando de um assunto a outro, como se eles estivessem apenas tentando preencher o tempo, mas, na verdade, sentindo o quanto gostavam da companhia um do outro. Eleonora percebeu que, com Remus, o tempo parecia desacelerar, como se cada minuto fosse saboreado de forma diferente. Eles falavam sobre a escola, suas notas - ambos reclamando do quão difícil Transfiguração podia ser às vezes -, e sobre os amigos.
Remus, sempre modesto, falava sobre seus amigos com carinho, mas também com um toque de preocupação, como se temesse que as travessuras deles um dia fossem longe demais.
— James e Sirius são... bom, você os conhece. Vivem para provocar Snape e planejar o próximo grande plano mirabolante. Às vezes, sinto que sou o único que tenta segurá-los um pouco — ele riu, mas havia uma leveza melancólica em sua voz. — Mas, ao mesmo tempo, não sei o que faria sem eles e Peter.
Eleonora assentiu, compreendendo. Ela tinha Freya e Logan, e o vínculo que compartilhava com eles era algo que não poderia ser substituído.
— Sei como se sente. Freya e Logan são assim para mim. Logan é tão centrado, sempre o sensato, enquanto Freya... — Ela riu, — bem, Freya é Freya. Audaciosa, imprevisível, e exatamente o tipo de amiga que te faz sair da sua zona de conforto.
Conforme a tarde avançava, eles pararam em frente a uma pequena loja de doces e sentaram-se no banco de madeira do lado de fora. A conversa fluiu sem esforço, e o tempo parecia se esticar de maneira agradável. Eleonora estava surpresa em como se sentia tão à vontade com Remus. Ele ouvia com atenção, seus olhos focados nela, genuinamente interessado em cada detalhe de sua vida.
— E seu pai? — Remus perguntou suavemente, o tom cuidadoso. — Ele te escreve toda semana, não é?
A menção ao pai fez o estômago de Eleonora se apertar levemente. Ela sorriu, mas havia uma sombra de tristeza em seus olhos.
— Sim. Ele tenta... estar presente, sabe? Depois que minha mãe morreu, ele se esforça para manter contato. As cartas são... doces, mas, às vezes, me fazem lembrar de como ele se sente perdido sem ela. Acho que ambos estamos tentando nos encontrar de novo.
Remus ficou em silêncio por um momento, assimilando as palavras. Ele, mais do que ninguém, entendia o que era se sentir deslocado, tentando manter o controle de uma vida que parecia sempre à beira do caos.
— Deve ser difícil... — disse ele, a voz baixa. — Mas você é muito forte, Eleonora. Mais do que percebe.
Eleonora corou levemente com o elogio, mas sentiu-se aquecida por dentro. Remus sempre tinha essa habilidade de falar coisas simples, mas que carregavam tanto peso para ela. Ele a fazia se sentir vista, compreendida.
Conforme o sol começava a se pôr e o céu adquiria um tom alaranjado, o ar ao redor deles parecia mudar. Hogsmeade começava a esvaziar, com a maioria dos alunos retornando ao castelo. Remus e Eleonora, no entanto, pareciam presos no momento, como se o tempo não tivesse importância.
— Foi um bom dia — disse Eleonora, sorrindo para Remus.
— Foi, sim — respondeu ele, olhando para ela de um jeito que fez seu coração acelerar.
Por um breve momento, Remus pareceu hesitar, mas então, algo em sua expressão mudou. Ele se endireitou, tomando coragem, e olhou diretamente nos olhos dela.
— Eleonora... — começou, a voz mais firme do que antes. — Eu... gostaria de fazer isso de forma correta, sabe? Não que não tenha sido certo da primeira vez mas, acho que poderia ser melhor. — Ele sorriu nervosamente, mas seus olhos brilhavam com determinação. — Eu posso te beijar?
Eleonora sentiu o coração disparar. O calor subiu em suas bochechas, e ela não pôde evitar o sorriso que se espalhou por seu rosto. Sem palavras, ela assentiu, os olhos fixos nos dele.
Remus deu um passo à frente, fechando a pequena distância entre eles, e inclinou-se suavemente, suas mãos contornando o rosto da morena, tocando os lábios dela com uma gentileza que fez Eleonora sentir como se o mundo ao seu redor simplesmente desaparecesse enquanto segurava os pulsos do garoto a sua frente. O beijo era calmo, terno, cheio de um carinho sincero que ia além de qualquer palavra que poderiam ter dito durante o dia.
Quando finalmente se separaram, Remus a olhou com um sorriso tímido, mas confiante.
— Isso foi... — Ele parecia sem palavras.
— Perfeito — completou Eleonora, o coração ainda batendo forte.
[...]
Remus e Eleonora voltaram para o castelo de mãos dadas, os dedos entrelaçados de forma natural, como se sempre tivesse sido assim. Caminhavam com um leve sorriso nos rostos, conversando animadamente sobre o dia que passaram juntos. Eleonora sentia o coração aquecido, o sorriso constante, enquanto o vento fresco da noite soprava levemente seus cabelos. A cada passo, era como se o mundo ao redor ficasse mais distante, e apenas a presença de Remus ao seu lado importasse.
Quando os portões de Hogwarts surgiram à vista, Eleonora soltou um suspiro leve de felicidade. Já era quase noite, e o castelo estava silencioso, exceto por algumas risadas e conversas distantes de alunos que já haviam voltado de Hogsmeade.
— Parece que chegamos ao fim da nossa tarde perfeita, — disse Remus, lançando-lhe um olhar suave, mas com uma pitada de tristeza por o momento estar acabando.
— Foi mais do que eu poderia imaginar, — Eleonora respondeu, apertando a mão dele um pouco mais forte antes de olhá-lo nos olhos. — Obrigada, Remus. Por tudo.
Remus sorriu, seu olhar gentil refletindo a mesma gratidão que sentia. Antes que pudesse responder, já estavam no corredor principal do castelo, onde encontraram seus amigos. Freya, Logan, Lily e James estavam ali, em uma conversa agitada, claramente debatendo algo com entusiasmo. Quando os viram chegar, foi impossível não notar o jeito como Freya olhou diretamente para as mãos entrelaçadas de Eleonora e Remus, os olhos brilhando com uma malícia divertida.
— Ora, ora, ora! — exclamou Freya, com um sorriso travesso nos lábios. — O que temos aqui?
Antes que Eleonora pudesse sequer processar o comentário, Freya já estava a puxando pela mão, separando-a de Remus com uma rapidez que a pegou de surpresa.
— Ei, Freya, espera! — Eleonora tentou protestar, rindo, mas a amiga estava determinada.
— Nada de despedidas prolongadas! — Freya provocou, jogando um olhar brincalhão para Remus. — Já tiveram bastante tempo sozinhos. Agora ela é minha!
Remus riu baixo, parecendo um pouco sem jeito, mas igualmente entretido. Eleonora, meio sem graça pela interrupção abrupta, apenas conseguiu acenar de forma tímida para Remus enquanto Freya a arrastava pelo corredor.
— Vejo você amanhã? — Remus gritou para a garota que já estava longe, seu sorriso calmo escondendo o leve rubor que subia em suas bochechas.
— Claro! — Eleonora respondeu rapidamente, o coração batendo acelerado. — Até amanhã, Remus!
Ela lançou um último sorriso enquanto Freya a puxava pelo braço, e logo as duas estavam sumindo pelos corredores.
— Vamos, vamos! Me conta tudo! — Freya praticamente ordenou enquanto subiam as escadas, com um entusiasmo que Eleonora não pôde deixar de rir.
— Tudo? — Eleonora respondeu, tentando soar despreocupada, mas não conseguiu esconder o sorriso bobo em seu rosto. — O que você quer saber?
Freya revirou os olhos dramaticamente.
— Ora, você sabe muito bem o que eu quero saber, Nora! Como foi o encontro? Cada detalhe!
Assim que chegaram ao dormitório, Freya jogou-se na cama de Eleonora, como se estivesse se preparando para ouvir uma história épica, os olhos fixos na amiga. Eleonora riu, sentindo-se mais leve e solta do que se lembrava em muito tempo. Ela se sentou ao lado de Freya, ainda segurando o sorriso.
— Ok, foi... incrível. Quero dizer, foi melhor do que eu poderia imaginar. Conversamos sobre tudo. Escola, família, nossos amigos, comida... até rimos sobre as matérias mais difíceis. O Remus é tão fácil de conversar... Sabe, ele presta atenção em cada coisa que você diz.
Freya sorriu, satisfeita.
— Ah, eu sabia que ele era o tipo de garoto que presta atenção! E então? Como foi o final? Aquele tipo de final que você só vê em histórias românticas?
Eleonora mordeu o lábio, sentindo o calor subir para suas bochechas ao lembrar da última parte do encontro.
— Bom... Ele me beijou.
— O quê? — Freya quase gritou, se levantando da cama. — E você só me conta isso agora!? Como foi? Preciso saber tudo!
Eleonora riu e começou a contar os detalhes finais do encontro, cada sorriso trocado, cada palavra dita e, claro, o beijo. Freya ouvia atentamente, às vezes interrompendo com exclamações de entusiasmo ou comentários maliciosos, mas, no fundo, claramente feliz pela amiga.
— Então quer dizer que foi perfeito? — Freya resumiu, satisfeita com o que ouvira.
— Foi mais do que perfeito, — Eleonora respondeu, suspirando de felicidade. — Acho que estou... começando a gostar dele mais do que eu imaginava.
— Mais do que imaginava? — Freya arqueou uma sobrancelha, sorrindo maliciosamente. — Acho que você sempre soube, Nora. Só estava esperando o momento certo.
Eleonora deu de ombros, incapaz de argumentar contra isso. Talvez Freya estivesse certa. Desde o momento em que conhecera Remus, algo dentro dela havia mudado, algo que ela talvez não tivesse percebido até agora.
— Talvez você esteja certa — admitiu, sorrindo para a amiga. — Mas, seja o que for, estou feliz por isso ter acontecido.
Freya sorriu de volta, satisfeita por ver a amiga tão feliz.
— E, de agora em diante, Remus Lupin não terá paz — brincou Freya, levantando-se da cama e indo em direção à porta. — Eu, Logan e Lily vamos ser seus guardiões amorosos.
Eleonora riu, lançando uma almofada na direção de Freya.
— Ei, não quero assustá-lo!
— Tarde demais! — Freya respondeu, rindo enquanto escapava pela porta. — Agora que sei que ele te beijou, é guerra!
A porta se fechou, e Eleonora ficou ali, sozinha, por um momento. Ela se deitou na cama, ainda sentindo o calor do dia em seu coração. Havia algo em Remus que a fazia se sentir segura, vista e apreciada. Era como se, com ele, ela pudesse ser ela mesma, sem medo de julgamento.
E enquanto olhava para o teto do dormitório, o sorriso nunca desapareceu de seu rosto.
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