Capítulo 10

Haenim, Reino da Luz. Yahaengsongshi, Clã das Sombras, 04-07-978.

— Hyung! — Hyun Shik chamou, fazendo In Su se virar e sorrir. — Vamos brincar, Hyung!

— Do que você quer brincar, Hyun? — indagou curioso, se aproximando do garoto que segurava uma pequena espada de madeira.

— Meu vovô me deu isso! — exibiu sua nova aquisição. — Vamos brincar de guerreiros!

— Opa! O que os mocinhos estão fazendo com uma arma, eung? — Ryo Su, que havia acabado de voltar das compras com In Seok, se aproximou dos garotos, ficando entre eles.

— Queremos ser assim! — Hyun Shik pulou e desferiu um golpe desajeitado no ar, seguido a outro que o fez derrubar a espada. — Legais igual vocês!

Fingindo que não tinha perdido sua arma, ele se esgueirou discretamente e apanhou a espada, arrancando um sorriso da general, que levantou e acenou para Hyun Seung.

— Seu filho herdou seu sangue apressado — ela falou, apontando para os garotos, enquanto In Su a encarava.

— Quer lutar, Hyun? — Hyun Seung questionou, vendo o pequeno ficar em posição de luta.

— Quero!

— Animado demais, eung? — Ryo Su acariciou os cabelos negros do aniversariante, sorrindo. — O que acha, In Su?

— Eu sou maior — hesitou pela clara diferença de tamanho entre eles.

— Não tem problema — Ryo Su soltou um lindo sorriso, indo até Hyun Ah e pedindo-lhe duas espadas de madeira leves.

Ao entregar à ambos suas respectivas "armas", Hyun Seung ficou ao lado do seu filho enquanto Ryo Su sussurrava ao ouvido de In Su. Os pais estavam mais animados que as próprias crianças.

In Su, que já assistiu os treinos de sua mãe milhares de vezes, sabia, em tese o que fazer. Afinal, o que um garoto de três anos lembraria?

Por outro lado, Hyun Shik estava elétrico. O esperado do mais novo herdeiro de uma família de guerreiros.

Após as dicas dos seus respectivos progenitores, deram o sinal e Hyun Shik avançou, mirando na perna de In Su, que prontamente defendeu, brandindo a madeira para baixo e batendo-a com força, repelindo o pobre garoto que caiu sentado na neve.

Fez careta.

— Precisa ser mais rápido, filho — Hyun Seung demonstrou, ficando em posição e sendo imitado pelo menino. — Quando brandir sua espada, deve manter os seus olhos nos olhos do inimigo.

— Se olhar para onde pretende atacar, o seu inimigo saberá onde defender — Ryo Su elucidou, apontando para a perna de In Su, que olhava firmemente para seu oponente.

— O tio Jo Han me falou que temos que ficar concentrados nos movimentos dos inimigos — In Su justificou num tom sério.

— Certamente! — Hyun Seung fez um sinal positivo com o polegar, fazendo o garoto sorrir. — Lutar é mais que mirar uma arma e atacar. Você deve pensar e predizer os passos do inimigo.

— O que é predizer? — Hyun Shik fez uma expressão confusa, relaxando sua postura.

— Adivinhar, meu bem — Min Ju gritou de onde estava segurando uma Min Sun que insistia em querer ir para o meio da batalha.

— Mamãe, brincar — ela deixou escapar, arrancando um sorriso de Min Ju, que a segurou antes que desabasse no aterro três degraus abaixo.

— Meu bem! — Min Ju chamou. — Tem uma garota com fome aqui! Traga logo a comida dela!

Min Sun ficou batendo palminhas enquanto via seus oppas aprendendo a arte da espada, encantada com os sons do exterior, os animais, as espadas se batendo e os arquejos dos dois.

— Quando travar espadas com seu inimigo, é o momento perfeito para uma investida com suas magias. Precisa fazê-lo se afastar — Ryo Su demonstrou com Hyun Seung, fazendo os garotos travarem espadas.

— Eu não posso usar magia, mamãe — In Su falou, pondo força no contato com Hyun Shik, que o olhou profundamente.

— Porque diabos ele não pode usar magia? — Hyun Seung questionou ao ouvido da sua Unnie, obtendo um aceno negativo da cabeça de Ryo Su.

— Magia de cristais... — revelou, nada contente. — Se ele não dosar bem, sabe qual o futuro...

Hyun Shik continuava sério, segurando sua espada com suas duas mãos e fazendo força, quando a coloração dos seus olhos começou a tornar ao preto. Ele soltou um estranho som, semelhante a um rosnado, e cerrou os dentes, ficando com uma expressão raivosa.

— Mamãe... — In Su chamou, assustado. Antes que Ryo Su pudesse identificar o que estava acontecendo, o pequeno Hyun Shik foi envolvido com uma aura negra. — Mamãe, o Hyun Shik está estranho!

O brado de In Su foi disfarçado pelo grito de Hyun Shik, liberando sombras furiosas sobre seu Hyung.

— Hyun Shik! — Hyun Seung gritou, agarrando o filho e fazendo-o se acalmar.

In Su estava sentado no chão, desajeitadamente, envolto em uma cúpula de cristais, olhando, assustado e ofegante, para sua mãe, que o chamava incansavelmente, mas o pequeno não a ouvia.

Ele apenas tremia. Pela aura que sentiu vinda do seu pequeno dongsaeng, que continuava gritando e esperneando nos braços do seu pai.

— Hyun... — In Su chamou baixinho quando a cúpula se desfez. — Hyun Shik!

Sem pensar duas vezes, o pequeno In Su correu até seu amigo, agarrando-o. Com um abraço apertado, ele acariciava os cabelos de Hyun Shik e Hyun Seung os soltou, vendo seu garoto se acalmar.

— Hyun Shik, é o Hyung — chamou, manso. — Pode se acalmar agora. O Hyung está com você, eung?

— Hyung... estou com medo — lágrimas começaram a escorrer dos pequenos olhos de Hyun Shik, que tornavam ao azul, e ele segurou firme nas vestes de In Su, tremendo.

— Não precisa ter medo — In Su sussurrou alto demais, fazendo os seus pais que observavam a linda cena se emocionarem. — O Hyung "tá" com você.

Ficaram sentados sob a neve que começou a cair, até que Hyun Shik parou de tremer e soltou In Su, limpando os olhos.

— Temos que cantar parabéns para você — In Su sorriu, limpando o nariz do mais novo.

— Eung.

Levantando vagarosamente, os dois seguiram para a casa, sentando ao lado de Hyun Ji, brincando como se nada tivesse acontecido.

— O que...? — Hyun Seung questionou, boquiaberto.

— Isso não foi um descontrole das sombras? — Ryo Su redarguiu, tão abismada quanto Hyun Seung.

— In Su... isso foi impressionante — despejou sem conter sua admiração. — Da última vez foi necessária a intervenção de Min Ju.

— Não me pergunte, eu apenas o coloquei no mundo e o ensinei a ser gentil — Ryo Su retrucou, levantando as mãos em defensiva e balançando-as.

_._._._._._._._._._

Haenim, Reino da Luz. Hyunggwangshi, Clã da Luz, 25-08-978.

Fazia mais de um mês que voltaram à capital fluorescente e, desde o ocorrido no aniversário do herdeiro da família Cha, Hyun Shik brincava com sua espada todos os dias quando seu pai o levava consigo para o trabalho, aos treinos onde ele observava metodicamente.

In Su o fazia companhia, anotando as palavras que tinha aprendido nos dias anteriores, aprendendo rapidamente a língua da dinastia.

Observando seus pais comandarem lindamente aquele enorme batalhão de celestiais, os olhos dos garotos brilhavam.

Um pouco distante do Palácio de Palk, na primeira casa à esquerda da praça central, uma garotinha com cabelos brancos espreitava na janela, absolvida pela neve ajuntando-se no chão enquanto caia vagarosamente.

A pequena se encolheu na poltrona que ocupava, exprimindo o frio que a atingia, quando seu pai se aproximou desajeitadamente, enrolando-a com um grosso edredom.

— Não é uma celestial de fogo, filha? — interrogou com uma sobrancelha arqueada quando a pôs em seus braços, sentando na poltrona antes ocupada por ela.

— Papai — grunhiu após um discreto espirro. — Frio.

Apontando para o lado de fora com seu minúsculo dedo, Yeon Ju riu. Estavam sozinhos já que Min Ju estava trabalhando.

A casa estava escura demais para que Yeon Ju conseguisse enxergar mais que um metro à sua frente. Ele levou a mão aos cabelos da filha, dando um sorriso ao fim.

— Quer brincar com o papai, Min Sun? — sendo respondido com um aceno positivo com a cabeça, Yeon Ju se levantou, indo até o quarto dela e pegando os lápis de pigmentos variados.

Após ser posta ao chão, ela correu até as folhas que guardava em uma estante. Animada, jogou-se ao lado do pai e começou a rabiscar, com seus olhos negros brilhando como estrelas no cosmo.

Como a hora já estava avançando, levantou-se e seguiu para a cozinha, começando a preparar o almoço. Sempre se orgulhou de suas habilidades culinárias.

Passados alguns minutos, Min Sun foi até ele e o mostrou um desenho.

— Nossa que lindo! — falou para os rabiscos, não sabendo se não conseguia diferenciar as coisas pela sua baixa visão ou pela habilidade artística da sua filha. — O que é?

— É o oppa.

— O In Su? — Questionou e ela assentiu. — E esse? É o Hyun Shik? — assentiu mais uma vez. — Desenhou seus amiguinhos?

— Desenhei! Essa é a Hyun Ji Unnie. — Pontuou com um lindo sorriso, mostrando seus dentes recém nascidos quando alguém bateu à porta.

Pegando a garota nos braços, foi ao chamado, revelando uma pequena Hyun Ji agarrada à um livro, coberta por uma manta cheia de flocos de neve.

— Bom dia Yeon Ju Ahjushi — ela sorriu. — Mamãe e papai estão ocupados e a Min Ju Ahjuma me mandou vir aqui.

— Claro! — ele deu passagem para a garota que adentrou a casa, retirou a manta e sentou próxima à bagunça de lápis. — Já comeu?

— Não senhor — a incrível polidez para uma criança de pouco mais de três anos era um tanto espantosa.

Min Sun desceu do colo do pai, indo ao chão e jogando-se na garota, que acariciou os cabelos dela.

— Bom dia, Min Sun.

— Unnie! — ela gritou, aconchegando-se nas roupas de Hyun Ji. Adorava o cheiro que ela exalava. Era lavanda.

Em poucos minutos, o almoço foi servido, tirando a atenção de Hyun Ji da sua leitura.

— Mamãe me falou que você não vê bem, Ahjussi — constatou, abocanhando uma colherada de arroz. — É verdade?

— Sim, querida — ele sorriu, tateando e encontrando os pauzinhos. Estava escuro demais.

— Porque? — curiosa, abriu bem os olhos, pronta a ouvir a história.

— O Ahjussi estava numa luta importante — contou, escolhendo as palavras certas para que ela pudesse entender. — Um celestial maldoso me atacou com uma luz forte. Aquilo me deixou cego, mas Min Ju Ahjuma consertou o máximo que pôde quando me conheceu.

— Então o senhor pode ver um pouco? — tomou a sopa. — Quanto?

— O suficiente — retrucou, limpando a boca de Min Sun, que derramou seu mingau por suas vestes. — E você, senhorita, o que está lendo?

— Estou aprendendo as palavras — ela revelou. — É um dicionário.

Yeon Ju conteve o riso. Era a primeira vez em toda a sua vida que viu uma garota lendo um dicionário.

— Porque não ensina à Min Sun algumas palavras? — sugeriu, sendo aceito com um sorriso radiante da pequena.

— Eu adoraria! — terminou sua refeição, sendo seguida pela pequena.

Após sentarem uma ao lado da outra, Yeon Ju ficou às observando, sorrindo com a filha tentando repetir as palavras proferidas por Hyun Ji, que, a cada acerto, acariciava os poucos cabelos de Min Sun. Quando errava, ela repetia e repetia até o momento que a pronuncia se aproximasse.

No mais tardar, após brincarem e estarem todas sujas de pigmento, Yeon Ju encheu a banheira para banhar Min Sun, mas Hyun Ji prontamente pediu para brincarem na água quente.

Permitindo, sob o aviso de gritar se algo acontecer, as duas entraram na água.

Hyun Ji segurava a pequena Min Sun nos braços, enquanto ela fazia alguns sons engraçados, puxando alguns dos fios castanhos da mais velha.

Pegou o frasquinho que Yeon Ju a entregou e derramou parte do líquido nos cabelos de Min Sun. O cheiro de rosas invadiu seus narizes no momento que a espuma se formou.

Min Sun começou a bater palmas e apontar para a neve caindo lá fora, chamando a atenção da sua unnie, que sorriu e continuou o banho. Ela mesma foi a próxima. Após pôr a mistura caseira de Min Ju nas mãos, a colocou na cabeça e abaixou, deixando Min Sun fazer uma tremenda bagunça nos fios.

Min Sun começou a jogar água em Hyun Ji, que devolveu cautelosa, entrando na brincadeira da menina.

Em dois minutos, Yeon Ju entrou no banheiro, retirando a água e colocando mais um pouco para retirarem o que sobrara dos cosméticos no corpo. Ele ajudou sua filha a se enxugar, levando ambas as garotas, enroladas em grandes panos azulados, até o quarto, onde vestiu Min Sun e deixou Hyun Ji se vestir.

Enquanto elas tomavam banho, Hyun Ah foi até a casa, perguntando por sua cria. Yeon Ju apenas respondeu com um pedido para que a pequena da família Baek fizesse companhia a sua garota. Minutos depois, Hyun Ah levou uma muda de roupas.

A hora avançada era denunciada pelos grunhidos dos animais da floresta sombria, que acordavam pela noite.

— Unnie... — Min Sun chamou com a voz arrastada pelo sono após Min Ju beijar ambas e embalar sua garota para dormir.

— Eung? — perguntou.

— Eu acho que a Min Sun está estranha — a pequena declarou após pensar um pouco.

— Por que? — demandou curiosa.

— Ela sente um calor aqui! — apontou para o próprio peito. A forma estranha e fofa que falava em terceira pessoa de si mesma sempre arrancava sorrisos de Hyun Ji.

— Aqui? — tocou o peito da pequena, sentindo o coração dela bater. — Como você se sente?

— Feliz. Quero abraçar a unnie um tanto assim! — abriu os braços, indicando o tamanho da sua vontade, arrastando o "o" de "tanto"

— Isso significa que você gosta da unnie — Hyun Ji a acalentou em seus braços, sendo agarrada pelos bracinhos gordinhos dela.

— Acho que sim! — sorriu, encostando no peito de Hyun Ji. — Min Sun ama a Unnie um tanto assim.



_._._._._._._._._._

Vocabulário:

Dongsaeng (동생): Usado para se dirigir a alguém mais novo. Literalmente "irmão mais novo".

Ahjuma (아줌마): Palavra coreana que significa senhora.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top