Capítulo 05

Haenim, Reino da Luz. Floresta Sombria, Território Neutro, 24-02-971.

Paralisado com o vislumbre daquela dama, esqueceu-se por um momento o que havia ido fazer na floresta, trocando o peso entre os pés, completamente hipnotizado pela beleza daquela mulher misteriosa.

— Posso saber de onde és? — Jo Han questionou, tomando a postura de volta após pigarrear e se desvencilhar do transe que sua mente o colocou.

— O que mais um celestial estaria fazendo na capital? — redarguiu se aproximando. — Fujo das malditas raposas do sul.

— Posso perguntar seu nome? — arqueou uma sobrancelha e ela olhou para Hyunggwanshi.

— Não seria mais adequado um hwarang falar primeiro o seu nome? — inquiriu incisiva, e, ao ouvir tais palavras, Jo Han sentiu um doce cheiro, vagueando seu olhar para as camélias que floresciam fora de época. O infinito verão estava acabando, o inverno se aproximava.

— Tae Jo Han. — respondeu acenando para ela, pedindo que ela fizesse o mesmo.

— Youn Ha — concluiu entre um sorriso e outro.

— Não tem nome de família? Uma sem nome?

— Nem todos os pais vivem o suficiente para contar para suas crias de onde elas vieram — a bela moça rapidamente puxou três dardos da cintura, lançando-os para a escuridão da floresta. — Seu jantar voltou.

Jo Han olhou para onde o javali se retorcia, grunhindo grotescamente, quando ouviu um regougar de uma raposa, voltando o seu olhar para a dama de cabelos negros, dando passos cuidadosos.

Exibindo um sorriso de lado e embriagado pelo cheiro das camélias, deixou que Youn Ha se aproximasse e, juntos, apanharam a caça, seguindo para a casa de Hyun Seung.

Os preparativos para a festa do mais tardar se apressavam. Todos eufóricos com a primeira vitória contra os Vulpinos do Oeste, aqueles que obedeciam aos anciãos de Kodaeshi mais que um cão obedece a seu dono. Naquele dia, o sangue dos inimigos sujou a terra, mas deixou um doce gosto da vitória na boca daqueles guerreiros.

Jogando o javali em frente à porta dos fundos da casa de Hyun Seung, Jo Han se esgueirou para o lado, revelando a linda dama que observava animada.

— Desistiu de Min Ju? — foi curto e grosso, fazendo Jo Han se curvar com um sorriso melancólico, pondo a mão no peito.

— Direto demais, amigo. Assim você fere o coração de um guerreiro — brincou em tom de seriedade. — Youn Ha. Me ajudou a abater nosso jantar.

De imediato, Hyun Seung soltou uma alta gargalhada após analisar os dotes da garota, se aproximando da orelha do samurai.

— Acho que a história está muito mal contada — sussurrou num tom traquina. — Você que foi caçado.

— Fale besteiras o quanto quiser, mas não azare minha vida amorosa — devolveu em mesmo tom, se desvencilhando dos braços do amigo, que ainda o olhava suspeitosamente.

— Ficou triste porque Min Ju começou a namorar? — soltou com voz melosa. — O coração do norte está descongelando e o pobre hwarang não sabe lidar com isso... pobrezinho.

— Está brincando? — rosnou entre dentes.

— Youn Ha! — Hyun Seung gritou, chamando a atenção da bela dama vestida no lindo hanbok. — Será nossa convidada?

Com um encantador sorriso, ela assentiu com a cabeça e se aproximou de Jo Han, segurando-lhe a mão e fazendo um carinho nos dedos frios.

— Seria um prazer — redarguiu quase cantarolando, numa clara felicidade inexplicada.

— Maldito extremo sortudo — Hyun Seung resmungou para si e entrou dentro de casa, arrastando o grande javali. — Entre e espere na sala, senhorita. O cozinheiro e o caçador hoje são o mesmo celestial.

Jo Han sorriu, orgulhoso dos seus dotes culinários.

Na pequena sala de Hyun Seung, estava Min Ju, Ryo Su e Yeon Ju brincando de cartas, enquanto Hong Joo, que trocava olhares com o dono da casa de tempos em tempos, conversava futilidades com Hyun Ah. Logo a linda Youn Ha se juntou ao grupo, sentando-se ao lado de Min Ju, pedindo para jogar junto.

Recebendo um lindo sorriso da garota de cabelos brancos em resposta, viu o olhar de Jo Han pairar sobre o sorriso inocente da celestial da luz.

Se repreendendo por estar desejando uma mulher comprometida, o nortenho soltou a capa dos ombros para não as sujar, enquanto fitava furtivamente o sorriso de Min Ju; pedido naqueles traços delicados.

A garota que viu no coração dele. A garota que flertava com o homem de médios cabelos ruivos, presos num rabo de cavalo.

Youn Ha sorriu para Jo Han, que terminava de secar as mãos e sorriu de volta, vestindo uma proteção para suas roupas brancas.

Em poucos minutos, com suas ótimas habilidades com as mãos, Jo Han temperou todo o javali e chamou por Yeon Ju e Ryo Su, que iriam assar o bicho. Com o forno pronto, estava uma euforia para ver as chamas em ação.

Envolvidos por uma forte aura vermelha, ambos incendiaram a pequena câmara de barro, que ardeu em chamas e, num único minuto, o cheiro da carne assada forrava seus narizes. Com os acompanhamentos previamente cozidos pelo hwarang, a mesa estava posta e sorrisos ecoavam, comentando a vitória.

Abocanhando um generoso pedaço da coxa do javali, Jo Han observava calado sua amada, quando Youn Ha sentou-se ao seu lado, olhando na mesma direção que ela.

— O coração de um guerreiro às vezes é tão transparente... — alfinetou, fazendo Jo Han sorrir melancolicamente de canto.

— Um guerreiro que não teve a decência de lutar pela sua amada não tem honra para assumir seus sentimentos — pôs o prato ao lado, levando sua mão envolvida por um tekko de seda, que cobria o dorso da sua mão e era amarrado a ela por uma tira que a envolvia, até os cabelos.

— Não acho que um homem vistoso como o senhor deveria sofrer assim por um amor não correspondido — insinuou num tom convidativo, olhando para ele profundamente com seus olhos afiados, em meio a um sorriso travesso.

Ele sorriu. Ela se levantou, entrando na conversa de Hong Joo e se afastou.

Observando de longe, Ryo Su se aproximou do amigo, que voltara à sua refeição e pigarreou, chamando a atenção para si.

— Sei que está magoado, mas não acho uma boa ideia — foi direta, fazendo Jo Han ficar confuso. — Essa mulher. Algo nela está me deixando incomodada. Min Ju falou o mesmo.

— Não sei do que estão falando. Eu apenas estou compartilhando minha caça com aquela que me ajudou a captura-la — mentiu, mordendo a macia carne.

— Você não me engana, Jo Han. Não a mim — estreitou os olhos, puxou um fio dos longos cabelos dele e os afagou. Tão macios quanto os pelos de uma raposa do norte. — Seu olhar para ela...

— Min Ju não tem que interferir nisso — interrompeu ríspido, se levantando.

— Ela está sendo cuidadosa com um amigo. Não seja assim. Antes de ser uma pretendente, vocês são amigos — Ryo Su o acompanhou até a cozinha.

— Ryo Su, — chamou firmemente, pondo os restos ao balcão — já está mais que na hora de deixar Min Ju ir. E eu vou deixar. Só preciso de um empurrãozinho.

— Seu empurrãozinho tem que cair do céu dessa forma? — quando ela afirmou tais palavras, ele a empurrou contra a parede, ficando a alguns centímetros dos lábios da guerreira.

— E então. Vai ser meu empurrãozinho?

— Não vamos complicar as coisas — facilmente saindo do ataque dele, deu de costas e seguiu de volta para a sala. — Não é a escolha certa e você sabe disso. Mas saiba que se fizer besteira... — hesitou — esqueça.

Ele inclinou a cabeça para o lado, desviando o olhar para o chão e crispando os lábios. Ele precisava fazer o que tinha que ser feito, mesmo que fosse perigoso.

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Após ser enxotado da casa por se oferecer a arrumar a bagunça, Hyun Seung o mandou embora por já ter feito o suficiente por aquela noite, então, se espreguiçando, olhou para os lábios da moça que estava plantada ao seu lado.

Ela o olhava assim como quando o encontrou na floresta. Ele era sua caça. Uma caça que não deixaria escapar de forma alguma.

Se aproximando a passos lentos, Youn Ha segurou a mão dele que, mais uma vez, sentiu o cheiro das camélias.

— Pode me apresentar a orgulhosa capital fluorescente dos celestiais? — sugeriu em um sugestivo tom sensual, pondo a mão no ombro do hwarang, que curvou a cabeça para o lado, um pouco confuso.

— Com prazer — respondeu de imediato, tentando encobrir sua confusão. — Hyunggwanshi se prepara para um longo inverno...

Passeando pelas praças da cidade, desfrutaram dos artistas de rua com suas canções antigas de amor, andaram à meia luz das tochas, sorriam e contavam histórias, iniciando um bom clima entre os dois.

Quando a noite começou a esfriar e a lua estava alta no céu, Jo Han parou na frente da porta da sua casa, após insistir que a levaria até seus aposentos, mas foi veementemente negado. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, como a tímida e triste despedida que tentava estender, a mulher levou suas mãos ao pescoço do celestial, que rapidamente parou, deixando um pequeno sorriso escapar dos lábios.

O calor dela era assustador. Era como o próprio sol. Mantendo-se alerta, ele a encarou e ela deixou suas mãos escorregarem para o peitoral do homem, sentindo o forte coração bater.

Ela sorriu, ele encarou mais uma vez. Levando suas mãos até a cintura da mulher, ela se aproximou, levantou sua outra mão até a nuca do guerreiro, que, após um último momento de hesitação, lembrando as palavras de Ryo Su, cedeu àquela que ardia em calor, esquecendo-se do que planejou durante toda a noite. Por maior o perigo, se permitiu usufruir de um pouco de contato, apenas o suficiente para que seu coração esquecesse Min Ju.

Sem deixar que o ardente beijo cessasse, as mãos de Jo Han vaguearam à fechadura da porta, a abrindo abruptamente e colocando a bela dama nos seus braços, envolvido e embriagado pelas camélias. Sem prestar atenção na fechadura, deixando a porta entreaberta, levou a dama aos seus aposentos, deitando o corpo delicado à cama e retirando a capa que envolvia seus braços.

Derrubando toda a armadura e o equipamento de luta ao lado da cama, passou a perna para o outro lado, sentando levemente nas pernas na garota, que parecia querer mais.

Após um silencioso pedido de licença, Jo Han levou suas mãos as curvas da mulher, que soltou um manhoso gemido com o toque dele, soltando a faixa que segurava o hanbok fechado, revelando os fartos seios ao seu deleite.

Se curvando para beijar o corpo da mulher que estava entregue aos seus braços, seguiu até a curva do ombro dela, quando, repentinamente, sentiu algo pujante no seu peito, seguido da sensação de falta de ar.

"Droga" pensou ele enquanto algo viscoso escorria por suas poucas roupas e sentiu a imensa vontade de gritar, quando, subitamente, um fino dardo atingiu sua garganta.

Jogando o corpo do guerreiro ao chão, a linda dama se pôs de sentada, deliciando-se do sangue que lhe pintava os seios.

— Ah... esperei mil anos por isso — ralhou em claro delírio, sentindo o gosto do frio sangue do celestial do Norte. A voz beirava a insanidade do prazer.

Tossindo com as forças que lhe restaram, Jo Han a observava, menos surpreso que ela teria imaginado, engasgando em sua respiração agonizante, sentindo seu peito arder com o ataque das garras que rasgaram sua pele profundamente, expondo o início das suas costelas.

Mostrando suas nove caudas majestosas, a mulher se levantou e foi sua vez de sentar sobre o busto do celestial, retirando a agulha para ouvir os gritos de dor da sua bela presa enquanto devorava suas entranhas.

— Maldita Kumiho — ele murmurou no momento que teve sua voz de volta.

— Está menos surpreso que eu imaginei que estaria — a voz aguda escapou dos lábios em um sorriso sádico pintados de sangue. — Tolo guerreiro, tão desesperado que deixou-se cair pela lábia de uma kumiho, sendo levar pelos desejos carnais... — Ao proferir tais palavras, foi sua vez se deitar-se sobre o corpo do seu parceiro, lambendo com sua asquerosa língua o sangue que lhe escorria do pescoço.

— "Pode me apresentar a orgulhosa capital fluorescente dos celestiais?" — sussurrou junto ao ouvido da kumiho, repetindo suas próprias palavras, sendo envolvido por uma aura azul esbranquiçada. — Seu comportamento... ah, as camélias e regougados foram um bom aviso... estava procurando por uma presa, e veja, que oportuno momento em que apareceu.

No momento em que Jo Han proferiu tais palavras dolorosas, pôs sua mão na barriga daquela que o tragava e, antes que pudesse ter alguma reação, a caçadora sentiu uma dor aguda a atingir, junto ao frio da explosão do majestoso gelo que empalou o busto da fera.

— Um celestial do Sul nunca chamaria Hyunggwanshi de capital fluorescente. Capital dos vagalumes para eles — enunciou entre respirações pesadas, fazendo a mulher o encarar assustada.

— Você sabia...

— Maior perigo não há que deixar uma kumiho faminta nas noites de cheias... — após uma tosse forte, a mulher avançou, mordendo-lhe o ombro. — Pena que atacou antes de podermos desfrutar de algo mais intenso...

Mais um golpe furioso de Jo Han. O suficiente para a jogar para o lado, longe para que não rastejasse até sua presa.

— Maldito seja celestial do Norte — rosnou alto em e meio a regougados afoitos.

O sangue de ambos vertia incansavelmente. O olhar de Jo Han perdia o foco a cada minuto, pedindo desculpas por ter se deixado levar, por ter hesitado, por não ter sido cauteloso como Ryo Su o alertou.

— Seus mil anos viraram lixo agora, maldita kumiho — gracejou com um sorriso doloroso. — Morra no infinito gelo.

Vendo o que ele planejava ao sentir seu corpo esfriar, ela esgueirou grotescamente até o corpo e, num golpe súbito, selou os lábios com os de Jo Han uma última vez. Ele sentiu o gosto do doce sangue dela descendo por sua garganta.

Sentiu-se imundo.

Era como um maldito infernal, alimentando-se da energia de outro ser. O sangue fervia dentro de si. Seus ferimentos ardiam e as lágrimas de desgosto lhe escapavam dos olhos.

Com o fim do fático beijo, ela sorriu, vendo os olhos desesperados dele como os de uma raposa, com a fina pupila dilatada em ódio.

— Seja marcado como o homem de devorou uma kumiho. Eu o amaldiçoo. Sua descendência terá o meu sangue e ceifará a vida dos seus aliados — anunciou, ficando gélida como o próprio gelo enquanto as caudas se alongavam pelas costas do celestial deitado. — Ame intensamente sabendo que nunca poderá ser correspondido.

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— A pequena casa de um solteiro realmente não tem muitas coisas, eung? — Ryo Su questionou à Hyun Seung após terminarem de arrumar a bagunça que sobrara da festa. — O que acha que Jo Han está fazendo?

— Com Youn Ha? — Hyun Seung sugeriu com uma face traquina, sendo golpeado por um soco logo em seguida.

— Vamos na casa dele. Isso não está me cheirando nada bem. — Ela falou num tom definitivo, fazendo Hyun Seung não ter escolha a não ser aceitar.

Andando pelas ruas mais ao sul da praça central, vaguearam até uma parte afastada e pararam ao encontrar a pequena casa de tijolos de Jo Han com a porta escorada. Ouviram uma respiração ofegante vinda de dentro e imediatamente Hyun Seung deu de ombros, já virando as costas e passando por Ryo Su, que o segurou pelo ombro, apontando para o chão ao lado da porta onde um brilhante escarlate arroxeado cintilava. Arroxeado demais para pequenos ferimentos.

Abrindo a porta abruptamente, olharam ao redor e viram a mão estirada de Jo Han ensanguentada, caída ao lado da porta. O som da respiração pesada e ofegante ficou mais alta e, quando alcançaram o cômodo, Ryo Su suprimiu um grito.

O peito mutilado de Jo Han jorrava o sangue arroxeado dos celestiais. O sangue repleto da energia espiritual. A marca de que a sua morte se aproximava. Hyun Seung olhou para o lado do corpo do amigo, encontrando a bela moça com poucas roupas, ensanguentada, congelada.

Ouvindo os ruídos, Jo Han abriu os olhos, fazendo Ryo Su quase enlouquecer.

— Você está vivo?! — esbravejou em meio ao desespero. — O que diabos aconteceu com seus olhos?

— Kumiho... — a voz fraquejou e ela segurou a mão dele, vendo que ele não conseguia focalizar. — Me mate... antes que eu me funda com ela... por favor...

— O que você está falando seu idiota? — Ryo Su, vendo o sangue lentamente parar de verter e ele tossir, entendeu o que ele estava falando, mas os seus murmúrios soaram sôfregos.

— Kumiho... — repetiu — eu...

Vagueando os olhos para baixo, Ryo Su seguiu o olhar dele, arregalando seus pequenos olhos ao ver as caudas.

— Jo Han... morreu essa noite... — lamentou, abaixando o olhar para seu peito e apertando a mão que segurava a sua. — Não quero me tornar um ser estranho, me mate, Ryo Su... eu imploro...

— Não vou lhe matar, seu idiota! — bradou, puxando Hyun Seung, que rapidamente o colocou nos braços num solavanco.

Quase gritou, sentindo o peito arder, e tentou se debater para sair dos braços do seu Hyung, mas foi em vão, não tinha forças.

— O que estão fazendo... um celestial agiu como um infernal e tomou o sangue de outro ser. Me mate antes que Palk o faça... — pediu mais uma vez, ficando extremamente mole nos braços do amigo.

— Deixe que Palk decida seu futuro depois que você viver. Me desculpa parceiro, mas sua noite hoje não será confortável — Hyun Seung deitou-o na cama, fechou todas as janelas e sumiu do campo de vista deles, ao caminho para achar a única curandeira, mesmo que aprendiz, que conheciam.

— Você sabia, não é? — Ryo Su perguntou, vendo o ferimento lentamente se fechar. — Você não seria enganado por uma kumiho.

— Eu tive algumas dicas... mas um momento. Eu hesitei por um momento... — admitiu. — Ela me pegou de jeito. Queria que tivesse sido no bom sentido.

— Como pode brincar nesse momento, eung? — apanhando a capa suja de sangue do chão, começou a pressionar o ferimento dele para que o sangue não escapasse mais.

Jo Han estava tentando ao máximo não gritar. O sangue da kumiho que agora corria nas suas veias lhe queimava como um veneno. Aguentou até que seu olhar tornou ao mais profundo vermelho e suas presas salientaram. Ele urrou com a dor excruciante.

Um doloroso berro escapava-lhe os lábios todas as vezes que Min Ju pressionava o ferimento tentando purificar o sangue já corrompido, enquanto os dois outros o seguravam para não atacar aquela que tentava o curar.

Dominado pela louca selvageria, o celestial gritava com a dor, tentando, a cada momento de consciência, enquanto sentia sua carne restaurar lentamente.

Ao amanhecer, Jo Han tombou a cabeça nos travesseiros, tendo todo o ferimento fechado e ganhando uma grande cicatriz. O ferimento que foi recuperado pela maldição da kumiho.

Estavam exaustos.

Caindo ao redor do corpo do amigo, ouviram o choro daquele guerreiro de olhos vermelhos e afiados como os da defunta congelada ao canto.

— Vocês deveriam ter me matado, seus idiotas! — gritou entre lágrimas, mordendo-se acidentalmente com as longas presas. — Como acham que estou agora? Uma kumiho?

— Não vai morrer coisa nenhuma — Min Ju sussurrou entre suspiros cansados. — O que aconteceu? Porque diabos você estava com uma cratera no peito?!

Após explicar o ocorrido, Jo Han ficou olhando para o teto, melancólico pelas palavras de maldição da maldita raposa.

— O quanto sobrou? — inquiriu, implorando por uma resposta. — O quando de mim sobrou?

— Consegui purificar o seu sangue o máximo que pude — Min Ju admitiu com amargor. — Você ainda é você.

— Um celestial com um ferimento como o meu deveria ser pó de estrela agora e não estar contando acontecimentos — ironizou ácido, esperando uma resposta clara.

— Foi o choque da mudança. O veneno do sangue da kumiho que sobrou no seu corpo não é o suficiente para lhe curar dessa forma novamente — exemplificou cautelosamente. — Me perdoe, Jo Han. Mas não consigo parar a transformação.

— Me tornei um meio raposa... — lamuriou pondo a cabeça entre as mãos.

— Pare de brincar com isso... Palk logo deve lhe convocar — Ryo Su rebateu em tom apreensivo.

— Um ser das sombras como uma kumiho nos domínios do deus da luz... isso não vai repercutir. Seria uma vergonha para Palk — Hyun Seung anunciou e Jo Han concordou com a cabeça. — Tivemos sorte que você a encontrou e não um celestial despreparado.

— Como vão esconder meus olhos e minha sede por sangue? — Jo Han arqueou uma sobrancelha, fazendo calar todos os outros ali. — Esperavam que isso não acontecesse? Sou uma fera agora. Deuses... deveriam ter me matado...

Assim como Ryo Su havia dito, a guarda de Palk seguiu o doce aroma do sangue da kumiho e encontrou o celestial que havia a devorado, exibindo vergonhosamente suas caudas e olhos vermelhos.

Com os pulsos presos, amordaçado e vendado, arrastaram o corpo do general até o calabouço, para que se completasse a transformação e desse o mínimo de estabilidade ao seu corpo para ter uma audiência com Palk.

E, enquanto era levado, Ryo Su olhou com uma expressão neutra, tentando esconder sua fúria, para o cadáver de Youn Ha, fazendo-o arder em chamas, sucumbir enquanto o gelo do nortenho derretia.

Nos dias seguintes, o corpo de Jo Han viveu da dor insuportável ao pleno delírio, implorando, todas as vezes que gritava de dor, que o matassem. Mesmo o pouco que sobrara da purificação de Min Ju foi o suficiente para que a transformação continuasse.

Sem que fosse atendido, os celestiais, amigos daquele que sofria, fecharam seus corações para os pedidos desesperados do general, deixando-o gritar até que simplesmente parasse, delirando com a bela donzela da morte. Implorando que ela o levasse, enquanto seu corpo tremia, se debatia nas pedras do chão, mas a dor não passava.

E, uma semana após o ocorrido, o corpo fétido de Jo Han estava magro e ferido, jogado ao chão, ainda vendado com as mãos amarradas para trás, ouviu o som da cela se abrir, levantando abruptamente, na esperança de que a sua morte havia chegado, as correntes o puxaram, o derrubando ao chão mais uma vez, até que foi abordado por mãos delicadas e quentes. O primeiro sentimento de conforto desde sua "morte".

— Ryo Su... — clamou, encostando a testa no ombro dela quando sentiu o ardor da água atingir seus ferimentos. — Hoje é o dia? Diga que isso vai acabar...

— Isso não vai acabar — retorquiu rispidamente, retirando a venda dos olhos dele e encarando o escarlate brilhante. — O alto escalão fez como Hyun Seung falou. Quando sua transformação base terminar, vai para o norte — a voz dela vacilou, denunciando sua tristeza, e os olhos dele marejaram.

— Palk o espera! — um guarda anunciou e Ryo Su terminou de limpar o sangue seco das feridas dele, voltando a lhe vestir com suas finas e majestosas roupas, já não mais estampando o branco imaculado e sim um hanbok negro.

— Filho do norte... — a voz do deus invadiu a audição de Jo Han quando foi posto ajoelhado, mais uma vez vendado. — Pelo crime de tomar o sangue de uma outra criatura, sua sentença seria um exílio — foi firme e rápido. Não queria ter que lidar com isso por tanto tempo.

— Uma kumiho nas terras do sol! — um guarda gritou, revoltado pela injustiça. — Jo Han protegeu seu povo como jurou proteger! — continuou até que o guerreiro do norte conheceu a voz. Um dos seus colegas do Norte, filho do mesmo clã, Ahn Ik Tae. — Agora ele agoura pela dor dos erros da proteção dos deuses!

— Ya¹! — Jo Han gritou, censurando-o. — Os erros de um celestial nunca poderão ser acobertados pelas suas responsabilidades. Eu aceito minha punição com a cabeça erguida, senhor.

Curvando-se até que sua testa se encontrasse com o chão, Palk pigarreou, ouvindo outros mais murmurarem.

— Suas responsabilidades foram nobres, Tae Jo Han — a voz, agora mais doce, de Palk fez todos calarem. — Vá para a sua terra como um general. Proteja a sua terra e retorne triunfante. Seus próximos dias serão agonizantes, mas eu te dou minha benção. És um celestial. És meu filho.

Mordendo o lábio inferior, Jo Han gritou aceitando seu veredicto. Tinha até sua transformação se completar para deixar Hyunggwanshi. Sua longa passagem entre o céu e o inferno tinha apenas começado.

Ya: interjeição informal usada para chamar, repreender, saudar e afins, que significa "ei".

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