[CAPÍTULO 15]

Jimin estava, há exatos vinte minutos, encarando a parede de concreto de sua cela, sem desviar para os lados. Nela, as marcas de seus punhos estavam evidentes, revelando os seus momentos de fúria quando se percebeu em uma cadeia.

Ele ainda estava tentando assimilar tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, inclusive as palavras do psiquiatra sobre existir duas "versões" suas. Embora tenha demorado para acreditar, com o tempo, Jimin desistiu de rejeitar essa descoberta e passou a admitir que, de fato, existia outra personalidade dentro de seu ser.

Determinado a se comunicar com a outra identidade, Jimin tentou acessá-la de diversas formas, mas suas tentativas foram um fracasso. Quanto mais forçava, mais cansado sentia-se. Após todos os seus testes falharem, ele chegou à conclusão de que não existia uma forma correta de o fazer e que a sua outra identidade estava adormecida naquele momento.

Nos últimos dias, Jimin tem pensado nas intenções da outra personalidade e nos motivos que levaram-na a cometer o assassinato. Mesmo sem ter todas as respostas, ele presumiu que a principal razão de tudo aquilo ter acontecido tinha relação com a sua infância. Se lhe perguntassem o que ele estava sentindo agora, provavelmente as únicas palavras que saíram de sua boca seriam: raiva e medo.

Ele sentia raiva por ter sido influenciado a vida toda pelos pais, inclusive pela própria personalidade que, até um tempo atrás, ele não fazia ideia de que existia. E também sentia-se com medo por não saber até que ponto estaria no comando de sua consciência, visto que a qualquer momento ela poderia ser "invadida" pela outra identidade.

Todas essas questões estavam deixando-o com dor de cabeça, embora ele suspeitasse que a insônia também estava atuando nesse processo. Desde o dia em que descobriu a verdade sobre o assassinato de seus pais, Jimin não conseguiu pregar os olhos nem mesmo para tirar um cochilo.

Sua cabeça girava, girava e girava. Seus olhos, cansados e deprimidos, ainda encaravam as marcas na parede como se pudessem apagá-las. De repente, alguém bateu na grade de sua cela, finalmente despertando-o e fazendo-o desviar o olhar lentamente na direção do som. Seokjin estava parado e em silêncio, parecendo pensativo antes de dirigir a palavra ao rapaz.

— Você tem visita — o detetive informou.

Jimin não se empolgou com a notícia nem demonstrou qualquer tipo de emoção. Ele apenas olhou para Seokjin e, sem dizer nada, voltou a encarar a parede à sua frente. Naquele momento, o detetive se perguntou se estava diante de outra personalidade, visto que Jimin não costumava ficar em silêncio por tanto tempo.

— Você precisa de um advogado, Park — Seokjin pontuou. — Além da sua confissão, nós temos outras provas contra você. Mesmo que isso não te salve da prisão, ao menos seu advogado poderá convencer o juiz a reduzir a sua pena ou a oferecer uma instituição psiquiátrica.

— Eu cansei de lutar contra isso — ele disse sem emoção na voz. — Eu já estou condenado a viver neste lugar de um jeito ou de outro.

Suas palavras arrancaram um suspiro dos lábios do policial que se perguntou mentalmente se deveria contar-lhe quem era a pessoa que o esperava. Talvez a informação o empolgasse ou, na pior das hipóteses, o machucasse. Após tomar uma decisão, Seokjin disse:

— Ele está aqui. — Os olhos do prisioneiro foram de encontro aos seus. — Jungkook está aqui.

Os olhos de Jimin ficaram imóveis, como se não pudessem acreditar naquelas palavras. Por um longo tempo, ele sonhou em encontrá-lo de novo, mas agora não sabia se estava pronto para concretizar os seus desejos. Jimin temia que Jungkook não o reconhecesse mais como aquele menino de antigamente.

— Eu não o contratei — Jimin pontuou.

— Mas eu o chamei e ele está te esperando. — Houve uma breve pausa. — Você quer me acompanhar ou prefere ficar sentado nesta cela olhando para as paredes?

A resposta estava na ponta da língua, mas Jimin se recusou a dizê-la. Ele não tinha certeza se encontrar Jungkook era uma boa alternativa, visto que, nas últimas semanas, ele havia criado uma imagem irreal para preencher o vazio interior.

Por mais bobo que pareça, Jimin tinha medo de se apegar emocionalmente ao Jungkook de sua infância e colocá-lo em um lugar que não o pertencia só para se sentir bem. Ele seria condenado pelo assassinato dos pais, pensou, enquanto Jungkook seguiria vivendo sua vida.

Apesar de tudo, Jimin não podia ignorar a vontade de vê-lo depois de tanto tempo, pois, mais tarde, ele se arrependeria de não tê-lo feito. Então, após tomar uma decisão, Jimin se levantou da cama e se aproximou da grade, fazendo Seokjin entender a sua escolha.

O policial solicitou as mãos de Jimin entre as barras de ferro. O rapaz fez o que lhe foi requerido, sentindo o gelo das algemas em torno de seus pulsos. Um momento depois, Seokjin abriu o cadeado e empurrou a grade da cela, permitindo que Jimin passasse.

Ele foi conduzido até o compartimento vizinho à ala das celas, onde uma dupla de guardas vigiavam os poucos prisioneiros que ali ficavam. Jimin recebeu o olhar de um deles, mas o contato visual não durou muito, pois o homem voltou a ignorá-lo.

A princípio, Jimin se sentiu mal ao saber que ficaria preso, e a cada minuto implorava mentalmente para que Namjoon ou outro amigo da família aparecesse para lhe tirar daquele lugar, mas agora o sentimento que ele tinha era outro.

No fundo, Jimin estava feliz por não ter recebido nenhuma visita de seus amigos, nem mesmo uma ligação para saber se ele precisava de algo. Talvez eles tenham ficado desacreditados, pensou Jimin, ou até mesmo assustados. A segunda opção, no entanto, parecia ser a mais apropriada para o contexto atual.

Um instante depois, Seokjin abriu a porta de uma cabine e gesticulou a cabeça, fazendo Jimin entender a sua mensagem. Ciente de quem lhe esperava lá dentro, seu coração começou a responder a essa expectativa, mas não o bastante para lhe paralisar.

Ao passar pela porta, a primeira coisa que Jimin enxergou foi um corpo parado próximo à parede enquanto falava ao telefone. Os olhos do homem caíram sobre Jimin lentamente, fazendo-o engolir a saliva com dificuldade. Ele disse algo inaudível para a pessoa do outro lado da linha antes de desligar o celular.

Quando Jimin recebeu toda a atenção dele, os músculos de seu corpo enrijeceram. Ele não soube o que dizer a princípio, então escolheu ficar em silêncio, apenas admirando-o em sua mente.

— Você terá o tempo que precisar com ele, Jeon — informou Seokjin, dando a Jimin a certeza de quem era aquele homem.

Desde o começo, Jimin sabia que Jungkook estava lhe esperando, mas ao vê-lo em carne e osso pela primeira vez, não imaginou que ele fosse tão diferente de sua fantasia. O Jungkook que ele criou tinha uma postura selvagem, bandida e provocadora, enquanto esse parecia ser mais sério, calculista e encantador.

Os traços eram um pouco semelhantes, mas o comportamento diferia um do outro. Tendo consciência disso agora, Jimin supôs que conseguiria diferenciar um Jungkook do outro só pelas características do rosto: o advogado em sua frente não tinha cicatrizes.

— Pode tirar as algemas dele? — Jungkook pediu ao policial, que o encarou em confusão.

— Não posso tirar as algemas, faz parte do protocolo.

Jimin esperou ouvir uma objeção por parte de Jungkook, mas o advogado apenas aceitou os termos do detetive. No entanto, Seokjin acabou repensando sua decisão e voltando atrás. Ele suspirou e andou em direção a Jimin, retirando as algemas de seus pulsos. Ele não estava obedecendo às ordens de Jungkook e sim dando a Jimin um voto de confiança.

Reforçando, o homem disse:

— Estarei esperando aqui fora.

Dito aquilo, Seokjin deu as costas e bateu a porta atrás de Jimin, deixando-o a sós com Jungkook. O advogado, gentilmente, apontou para uma das cadeiras, pedindo-lhe para que sentasse. Jimin, à princípio, não moveu um músculo de seu corpo, mas depois de vê-lo ocupar uma cadeira, seu instinto cedeu.

Ele andou até a cadeira sugerida e arrastou-a lentamente, sentando-se nela em seguida. Suas mãos estavam caídas sobre o colo, mas seus olhos continuavam fixos em Jungkook. O advogado colocou uma maleta sobre a mesa de metal, mas Jimin nem se atreveu a encará-la, parecendo enfeitiçado.

— Eu li o seu relatório, Park. — Jungkook comunicou, agindo formalmente.

— Me chame de Jimin. — Seu pedido arrancou vincos da testa do advogado. — Eu prefiro que me chame assim.

Houve um minuto de silêncio.

— Tudo bem — ele concordou. — Eu li o seu relatório, Jimin. Posso te representar se desejar. Seokjin está convicto de que eu posso ser um ótimo advogado para você.

— E o que você dirá? Que eu não sou um assassino? — ele sorriu, mas sem um pingo de humor. — Todos já conhecem a minha história.

— Você foi influenciado pela sua personalidade secundária e nós podemos provar isto — ele explicou calmamente. — Você não tem antecedentes criminais, o que corrobora para a sua inocência.

— Inocência? — Ele cruzou os braços sobre a mesa. — Eu matei duas pessoas, Jungkook, não há nada de inocente nisso.

— Foram as únicas pessoas que você machucou, que, por sinal, são pessoas que te machucaram primeiro. — Jimin se calou diante de sua resposta. — Podemos provar que o seu comportamento foi dominado pela outra personalidade na hora do crime. Basta você querer para que eu comece a trabalhar nisso.

— Você... Você não está nem um pouco assustado com essa ideia? — ele conseguiu verbalizar a pergunta, apesar de ter sentido uns tremores na voz. — Não está assustado por saber que o seu amigo de infância matou duas pessoas?

— Eu já lidei com casos piores.

— Eu não estava envolvido em nenhum deles.

Jungkook não disse nada por um momento, mas o seu silêncio não durou mais que cinco segundos.

— Não quero misturar as coisas. — A sua resposta fez Jimin ter a sensação de que dez punhais afiados tinham atravessado as suas entranhas. — Estou aqui para defendê-lo porque acredito na sua inocência ou, melhor dizendo, em uma parte dela.

— Acha mesmo que as autoridades vão permitir que você me represente? — Ele fez uma pausa observadora. — Nós temos uma ligação afetiva, eu te fantasiei para satisfazer um desejo que, até então, eu nem sabia que ainda existia. Por mais que eu queira aceitar, não posso fingir que não estou sentindo meu coração acelerar só por te ver na minha frente agora.

Jungkook o avaliou lentamente e soltou um suspiro baixinho. Algo em seu gesto disse a Jimin que ele não queria entrar nesse assunto para não machucá-lo.

— Eu estou ciente dos riscos e quero continuar, mas se isso te incomoda de alguma forma, posso sugerir um ótimo advogado criminalista para você, mas saiba que nada nem ninguém pode me proibir de representá-lo. — Jimin apertou as mãos, mas seu gesto passou despercebido pelo advogado. — Se me quiser como seu advogado, terá que separar a nossa antiga relação da atual. Se houver qualquer transferência durante o julgamento, isso irá interferir no processo.

Por um momento, Jimin priorizou o silêncio. Ele não tinha certeza se conseguiria conter os seus impulsos, visto que não era o único que estava no controle da própria consciência, mas se olhasse para esse fator, ele corria sérios riscos de perder o contato com Jungkook. Não vendo outra escolha, ele concordou com um balanço de cabeça.

— Tudo bem, eu concordo com os seus termos — ele declarou.

O advogado pareceu satisfeito com a sua resposta. Ele pegou uma brochura, um gravador e uma caneta de dentro da maleta, posicionando-os na sua frente. Jimin continuou admirando-o em silêncio, sem intenção de desviar o olhar dele. Parecia loucura, mas, apesar do tempo que se passou, o Jungkook que estava na sua frente era quase idêntico ao que sua mente fantasiou.

— Jimin, eu gostaria que você me contasse sobre a noite do crime. — O advogado solicitou gentilmente. — Por favor, não omita absolutamente nada. Eu preciso saber de todos os detalhes que se lembra.

— Não consigo me lembrar de muitas coisas, apenas do que aconteceu antes e depois do crime.

— Prossiga.

— Eu estava trabalhando no meu quarto quando ouvi os meus pais brigando na sala. Não lembro o porquê de eles estarem discutindo, mas o bate-boca me deixou irritado porque eu não conseguia prestar atenção no que estava fazendo. — Enquanto ele relatava, Jungkook anotava algumas coisas no caderno. — Comecei a sentir uma dor de cabeça aguda e então não sei mais o que aconteceu. Só lembro de me deparar com os corpos caídos no chão, sem vida.

— Você não relatou isso para a polícia, relatou?

— Que os meus pais estavam brigando nesse dia, não — respondeu. — Eu estava desesperado, a única coisa que eu queria era salvar a vida deles. Quando olhei para os corpos, fiquei apreensivo sem saber o que fazer. Liguei para a ambulância às pressas, mas eles já estavam mortos.

— No seu relatório consta que você viu um homem na sua casa. Esse homem é o mesmo da sua fantasia?

— Sim. — Ele fez uma pausa e respirou. — Depois daquele dia, eu comecei a vê-lo com mais frequência. Ele tinha a sua aparência e parecia saber tudo sobre mim. Quando descobri que se tratava de uma fantasia materializada, fiquei aliviado e, ao mesmo tempo, decepcionado.

— Decepcionado?

— Eu queria que ele fosse você.

Apesar de lutar para não dar a Jungkook aquela resposta, Jimin preferiu ser sincero com os seus sentimentos. O rapaz perdeu as palavras por um momento, mas logo as recuperou.

— Você acredita que a dor de cabeça que sentiu faz parte do processo de transição de identidade? — O advogado interrogou, sendo cuidadoso ao retomar o assunto principal.

— Acho que só o Dr. Hyunsu pode lhe responder isso.

— Bom, se você não consegue se lembrar do momento exato do crime, significa que talvez a outra identidade assumiu a sua consciência naquele momento. — Ele fez uma rápida observação. — Eu vou conversar com o Dr. Hyunsu para entender melhor a sua condição. Ele pode ser uma peça crucial para o seu julgamento.

— Ele disse que conversou com o meu outro eu, inclusive me mostrou uma gravação dessa conversa.

— Há quanto tempo isso está acontecendo?

— Não faço ideia de quando ele começou a existir — respondeu. — Eu só percebi que tinha algo de errado quando nós estávamos no mesmo lugar e apenas eu o enxergava.

— Em quais momentos ele se manifestava?

— Quando eu estava sozinho. — Sua voz falhou brevemente. — É como se a minha mente não quisesse que eu me sentisse sozinho, então ela o projetava.

— O que vocês faziam quando estavam juntos?

Por um momento, Jimin teve dificuldade para respondê-lo.

— Ele parecia me entender por completo. Era uma ótima companhia. — Para a surpresa de Jimin, o advogado não parecia assombrado com o seu relato. — Eu ficava me perguntando o porquê de termos muitas coisas em comum. Agora eu sei a resposta.

— Até então você não sabia que se tratava de uma outra identidade sua, correto?

— Sim.

— Como você se sentiu quando soube disso?

— Enganado e com medo. — Jungkook anotou a resposta dele. — Eu não sei quando ele pode se manifestar. Tenho medo de que ele consiga me dominar por completo.

— Isso significa que você não tem o controle total sobre as suas ações. Podemos utilizar este fato para provar que você foi induzido, durante um estado de transição mental, a cometer o crime.

Jimin suspirou, desanimado.

— Eu não quero parecer pessimista, mas não consigo me ver saindo dessa situação. Independentemente do que você faça, eu serei preso.

— Confie em mim, eu vou te tirar dessa — Jungkook disse enquanto olhava-o no olho. — Se não for concebido uma instituição psiquiátrica, irei recorrer à uma redução de pena com tratamentos psicológicos adequados.

— E se não der certo?

— Eu usarei todas as minhas táticas para que dê certo — assegurou. — Mas para isso acontecer, você terá de me contar tudo o que sabe.

Apesar das palavras de incentivo, Jimin não estava totalmente convencido de que o júri lhe concederia uma instituição psiquiátrica, porém tinha de se apoiar em um fio de esperança para não sofrer com antecedência. Jungkook parecia ser a sua única, e melhor, opção.

— Do que precisa? — Jimin perguntou, buscando se certificar do que Jungkook procurava para fortalecer o caso.

— Precisamos provar ao juiz que você estava em um estado insano durante o homicídio. O Dr. Hyunsu pode comprovar essa tese com um diagnóstico, mas isso provavelmente levará algumas semanas.

— Semanas?!

— Não sabemos quanto tempo pode levar a realização do diagnóstico. O Dr. Hyunsu fez apenas uma única sessão com você e levantou a hipótese diagnóstica com base no seu comportamento distinto, então ele terá de fazer uma avaliação mais profunda para confirmar o diagnóstico — esclareceu. — Bom, isso foi o que ele me disse horas antes desta conversa. Tudo o que sei é que é possível comprovar que você foi dominado por uma segunda personalidade na hora do homicídio.

— Então eu tenho chances de me livrar?

— Definitivamente, sim.

— Mesmo que eu seja diagnosticado, como o júri saberá que não fui eu quem matei os meus pais e sim o meu outro eu?

— Você relata ter sofrido uma ruptura de memória no intervalo entre a dor de cabeça e o momento em que encontrou os corpos. Você, por exemplo, não se lembra de ter levantado da cadeira, aberto a porta e caminhado até a sala. Então, eu sugiro que continue reforçando essa ruptura para que o júri entenda que você não estava no controle de suas ações.

— Então eu só preciso dizer que não me lembro do que aconteceu?

— Sim. — Ele fez uma pequena pausa. — A menos que queira se assumir culpado. Eu respeitarei sua decisão, mas não acho que esse caminho seja o mais sábio. Você não tinha consciência do que estava fazendo, então podemos inverter o jogo e provar que uma série de acontecimentos influenciaram o surgimento da segunda personalidade, mas para isso acontecer você precisa me dar as cartas.

Jimin passou as mãos pelo cabelo, consciente de que precisava seguir as instruções de Jungkook para conseguir se safar de punições mais severas. Ele sabia que o processo não seria fácil, até porque o seu advogado era alguém do seu passado, mas ele estava disposto a lutar contra isso.

— Eu posso te perguntar uma coisa? — Jimin disse.

— Claro.

— Quais são as chances de eu ser considerado culpado mesmo tendo um transtorno dissociativo?

Era evidente que Jimin estava inclinado a acreditar que seria condenado de um jeito ou de outro. Jungkook conseguia ver o medo através do olhar dele e o quão assustado ele estava por dentro.

— Eu não posso te dar uma certeza agora, mas posso garantir que farei o possível para que você não seja condenado à morte. Assassinato é um crime imperdoável no nosso país, mas, sabendo que você não executou o crime de forma racional, eles podem te oferecer um tratamento psiquiátrico. A acusação irá tentar persuadir o júri usando muitos casos de transtornos dissociativos de identidade para provar que nem todos cometem assassinatos, mas eu estarei preparado para te defender.

— E se não me oferecerem um tratamento?

— Vamos trabalhar com o que temos em mãos agora — respondeu. — Será necessário ouvir as duas versões da história para que eu consiga fortalecer a sua defesa.

— As duas versões?

— A versão da sua outra identidade, Jimin. — O rapaz engoliu uma densa camada de saliva ao ouvi-lo pronunciar aquilo. — Eu preciso conversar com ela também para entender o que aconteceu.

— E-eu não sei como... atraí-la.

— Em algum momento você saberá.

Naquele momento, Jimin pensou em dizer a ele que não se sentia tranquilo com aquela ideia, mas suas mãos estavam atadas, visto que o contato com a outra personalidade era fundamental para Jungkook. Então só lhe restava concordar.

No entanto, não foi esse pensamento que ficou em sua cabeça nos próximos minutos. Jimin desejou dizer a Jungkook que, independentemente do resultado, ele gostaria de tê-lo por perto, apesar de terem passado muitos anos longe um do outro e, provavelmente, encontrado novos amores. Por um segundo, Jimin se perguntou se Jungkook estava solteiro, mas, por motivos óbvios, não conseguiu verbalizar a dúvida.

Ele não queria assustá-lo nem mesmo fazê-lo pensar que poderia arruinar a defesa de Jungkook por ainda nutrir um sentimento amoroso por ele. Por isso, mesmo contra a sua vontade, Jimin decidiu manter aquela informação apenas para si mesmo.

— Acho que o que tenho em mãos até o momento é suficiente para construir a sua defesa — explicou Jungkook, expulsando-o dos pensamentos. — Vou conversar com as minhas fontes e começar a montar a sua defesa ainda hoje. Provavelmente entrarei em contato com você esta semana.

Sem dizer nada, Jimin apenas balançou a cabeça em confirmação, mas sua mente estava torcendo para que ele não se levantasse da cadeira. No entanto, quando seus olhos observaram-no guardando os materiais na maleta, Jimin teve certeza de que Jungkook estava se preparando para encerrar a entrevista.

— Quando vou te ver de novo? — Jimin perguntou subitamente.

— Ainda esta semana.

— Não, quero saber quando vou voltar a te ver de novo, mas não como meu advogado.

Jungkook ficou em silêncio por um curto momento. Jimin estava certo de que tinha deixado-o surpreso com a pergunta, mesmo que a intenção fosse despertar outro sentimento nele. O advogado esfregou os dedos no cabelo e sorriu. Uma estranha sensação de conforto invadiu o peito de Jimin após observar aquele gesto, aparentemente, simples.

— Podemos combinar de beber juntos quando você for liberado — sugeriu Jungkook.

— Isso pode demorar anos...

— Ou não... — Jimin espremeu as sobrancelhas. — Se vencermos esse caso, vamos ter o que comemorar.

— Eu espero que seja logo.

Com um suspiro, Jungkook se ergueu da cadeira, sendo acompanhado pelos olhos de Jimin, que não se desgrudaram dele um segundo sequer.

— Vou chamar o Seokjin para que ele te leve de volta. — O estômago de Jimin azedou com aquelas palavras.

Embora quisesse dizer que não gostaria de ir, Jimin se manteve quieto enquanto Jungkook caminhava em direção à porta. O som da sua respiração fez com que ele percebesse que estava muito nervoso, talvez pelo que estava prestes a confessar a Jungkook em seguida.

— Jungkook — O advogado parou a dois centímetros da maçaneta e virou-se para ele. — Eu gostaria de ficar com você um pouco mais. — Silêncio. — Eu me sinto bem olhando pra você e sabendo que não é uma imaginação. Por mais que você não saiba, eu desejei que as minhas experiências com o outro Jungkook tivessem acontecido de verdade. E agora tenho você aqui comigo.

— Jimin, estou aqui para representá-lo, e por mais que eu queira te dizer uma coisa agora, não o farei porque pode interferir no processo.

De repente, Jimin encontrou o olhar dele, esperançoso.

— Por favor, diga.

— Não posso. — Sua voz não cedeu em nenhum momento. — Quando encerrarmos este caso, você saberá. Mas, enquanto isso, vamos manter a nossa relação unicamente profissional.

— Não é tão fácil quanto parece.

— Eu sei que não é fácil. — Jimin sentiu-se estremecer. — Mas será necessário, caso contrário, os seus desejos serão projetados em mim, e isso pode atrapalhar a nossa relação. Eu não posso tomar esse caso para mim em hipótese alguma.

— É recíproco? — Jungkook contorceu as sobrancelhas diante da pergunta. — Os seus sentimentos por mim são recíprocos?

— Não devem existir sentimentos nesta causa. Você me compreende?

— Por que você simplesmente não responde?

— Porque, a depender da minha resposta, independente de qual seja, interferirá no processo. — Jimin apertou os dentes, mas não desviou o olhar. — Quero deixar claro que o que eu sinto por você ou o que você sente por mim não vem ao caso. Agora preciso que diga se está de acordo com os meus termos, caso contrário, não vou poder te representar nesta causa.

Após a sua deixa, Jimin não soube que resposta dar a ele. Para ser honesto, ele não estava se importando com o julgamento, e sim com os sentimentos de Jungkook. Muitos poderiam chamá-lo de estúpido por pensar assim, mas, na sua mente, aquela preocupação fazia sentido.

Ele esperou tanto tempo para vê-lo de novo e agora ele parecia tão indiferente, tão amargo, tão estranho... Jimin entendia que Jungkook estava agindo profissionalmente, mas, por um momento, desejou que ele deixasse essa postura de lado.

— Tudo bem, eu não vou tocar no assunto até o caso encerrar — assegurou Jimin.

— Obrigado. — Ele fez uma pausa criteriosa e abriu a porta da sala para falar com o policial que os vigiava. — Chame o detetive Seokjin, por favor.

Em alguns minutos, Seokjin apareceu na porta juntamente com o policial que o chamou e olhou para a dupla de forma cautelosa, observando-os em silêncio. Jungkook sinalizou o término da entrevista e, sem esperar por uma ordem, Jimin ergueu-se da cadeira e esticou os braços para que Seokjin o levasse de volta à cela.

Ainda intrigado, o detetive caminhou em direção a ele e algemou-o. Sem dizer nada, Jimin foi conduzido para fora da sala e levado para o corredor das celas, mas, antes, o seu olhar cruzou com o de Jungkook. O advogado foi o primeiro a desviar o olhar, fazendo Seokjin pescar a tensão entre eles.

Durante o percurso até a cela, Jimin não disse uma palavra, assim como Seokjin, que se manteve quieto desde a sua aparição na sala. Embora não tenha verbalizado nada, nem mesmo para saber o que eles tinham decidido, o detetive continuou a olhar para o prisioneiro de um jeito pensativo, tentando decifrá-lo.

No entanto, Jimin estava tão inexpressivo que se tornava difícil traduzir suas emoções.

Seokjin empurrou a grade depois de abrir o pesado cadeado, permitindo que ele andasse, sem resistência, para dentro do compartimento. Jimin deslizou para perto da cama e sentou-se nela enquanto o detetive trancava a cela, sem tirar os olhos dele. Percebendo que o silêncio de Jimin estava esquisito, Seokjin perguntou:

— Está tudo bem com você, Park?

Jimin não virou a cabeça para olhá-lo, nem desviou o olhar do chão. Naquele momento, Seokjin começou a imaginar que ele estava sendo dominado pela outra identidade, mas a sua fala seguinte provou a Seokjin que ele estava enganado.

— Ele não sente mais nada por mim.

O detetive apertou as sobrancelhas.

— Se acha que ele vai corresponder aos seus sentimentos nesta situação, desista. — Os olhos de Jimin, finalmente, foram de encontro aos seus. — Jungkook está aqui como seu advogado, não como seu ex-namorado.

— Por que o escolheu?

— O quê?

— Por que você o escolheu para ser o meu advogado? — Silêncio. — Você poderia ter sugerido outros nomes, mas escolheu justo aquele que representa a minha fantasia. Por quê?

A expressão de Seokjin mudou subitamente. Ele pareceu não gostar nem um pouco daquela observação.

— O que está insinuando, Park? — perguntou.

De repente, Jimin se levantou e agarrou as barras de ferro com as mãos, espremendo-as com os dedos. Em reflexo, Seokjin recuou dois passos na tentativa de se manter longe do alcance dele. O rosto de Jimin endureceu diante da reação dele.

— Algo me diz que isso faz parte do seu jogo, Seokjin. — Aquelas palavras azedaram o estômago do detetive. — Você sabia que eu não pensaria duas vezes para ver o Jungkook, por isso sugeriu o nome dele. E agora sabe que o processo pode ser interferido por causa da minha ligação com ele.

— Está blefando! — Ele ergueu o dedo em sinal de advertência. — Se voltar a me insultar dessa forma, você sofrerá as consequências.

Jimin soltou uma curta gargalhada.

— Eu estou começando a entender tudo. — Seu sorriso morreu bruscamente. — Trazer o Jungkook aqui faz parte do seu plano, já que eu e ele tivemos um passado e, querendo ou não, isso pode arruinar o caso porque ele pode tomar esta causa para ele mesmo.

Você é quem está fazendo o Jeon tomar esta causa para ele mesmo quando o coloca contra parede para retribuir seus sentimentos. — Jimin arregalou os olhos diante de sua resposta. — Jungkook está aqui para representá-lo. Eu o sugeri porque ele tem um nome de peso e não porque fez parte do seu passado. Se quer ganhar esta causa, deixe de projetar os seus desejos nele e comece a olhá-lo como o seu representante.

— E-eu...

— Eu nem deveria estar conversando com você sobre isso porque a minha função aqui é outra — ele disse. — Se o meu superior souber que fui eu quem sugeriu o nome do Jungkook, eu vou ser chutado para fora desse cargo. Estou fazendo isso pela nossa amizade. E, sim, é muita ironia da minha parte pedir para você não transferir suas questões amorosas para o Jungkook enquanto eu estou fazendo isso agora em nome da nossa amizade.

Após a sua fala, Jimin perdeu completamente as palavras. Ele não soube dizer se estava se sentindo culpado por acusá-lo de querer vê-lo preso, ou magoado por estar colocando Jungkook contra a parede. Na verdade, ele chegou à conclusão de que ambos sentimentos estavam se misturando em seu peito.

Se existia alguém capaz de arruinar o julgamento, esse alguém era ele mesmo. Consciente disso, Jimin se afastou da grade e deslizou para trás, ainda injetado pelas palavras de Seokjin. Ele apoiou as mãos na lateral da pia e parou de frente para um pequeno espelho enquanto respirava fundo.

Às suas costas, Seokjin ainda o encarava como se esperasse que ele dissesse alguma coisa, mas nada aconteceu nos próximos minutos. De repente, os olhos de Jimin foram de encontro ao próprio reflexo e ali, então, o detetive pôde perceber a mudança radical em seu olhar. O prisioneiro o encarou através do espelho e sorriu, um sorriso diabólico e traiçoeiro.

— Eu quero falar com o meu advogado. — Jimin disse, mas seu tom de voz estava diferente, tudo nele tinha ficado subitamente diferente.

— Você acabou de conversar com ele.

O sorriso no rosto de Jimin aumentou, mas desta vez havia um resquício a mais de maldade.

— Não, eu ainda não falei com ele. — Seokjin engoliu, tomando consciência do que estava acontecendo ali. — Quero contar a minha versão da história. Ele vai gostar de saber de todos os detalhes e do que me motivou a isso.

— Eu não estou falando com o Jimin, estou?

— Quem se importa com a versão do Jimin se fui eu quem os matei? — Sua cabeça virou de frente para o detetive, que deslizou a mão para o revólver na cintura instintivamente. — Eu sou o protagonista dessa história e tenho todas as respostas que ele precisa.

Após vê-lo fazer uma pequena pausa, Seokjin perguntou:

— O que você pretende fazer?

Jimin sorriu.

— Estou curioso para conhecer o meu contratante. Ele vai gostar de saber que eu executei o serviço com sucesso. — Sua resposta arrancou vincos da testa do detetive. — E então, vai chamá-lo ou não?

Pela primeira vez, Seokjin sentiu medo de estar perto de Jimin.

CONTINUA...

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