[CAPÍTULO 13]

Os olhos de Jimin começaram a se abrir lentamente, como se suas pálpebras estivessem pesadas com chumbo. Ele sentiu uma forte dor no pescoço quando despertou, notando que estava deitado em um chão molhado e, aparentemente, íngreme. Seu corpo doía da cabeça aos pés, fazendo-o ter uma péssima sensação de mal estar.

Ele se esforçou para ficar sentado enquanto tentava, inutilmente, reconhecer o lugar em que se encontrava. Embora sua cabeça estivesse doendo muito, e suas vistas sem foco, Jimin conseguiu identificar o contorno da lápide de seus pais. A sensação que tinha era de que o seu crânio tinha sido espremido por mãos gigantes, capazes de provocar uma dor excruciante no fundo de sua cabeça.

Por um momento, Jimin indagou-se como foi parar no cemitério, ou melhor dizendo, no túmulo de seus pais. Ele se lembrou de estar na sua casa com Seokjin e de se preparar para acompanhá-lo até a delegacia, mas não conseguiu se recordar do que aconteceu depois.

De repente, um novo pensamento emergiu e ele evocou o momento exato em que foi atrás de Jungkook e não o encontrou. Após isto, tudo o que aconteceu depois pareceu ter sido sugado de sua memória, deixando apenas um enorme eco nas suas lembranças. Naquele momento, Jimin não soube dizer se estava com medo ou raiva.

Ele gemeu quando se levantou da grama, sentindo-se desorientado e tonto, então olhou ao redor, vendo inúmeras lápides sujas de poeira e orvalho. Havia uma impressão no lugar em que esteve deitado, indicando que o seu corpo passou muitas horas naquela mesma posição.

Pensar nisto o apavorou por dentro.

Como ele chegou ao ponto de estar em um cemitério e não lembrar de seu percurso até lá? Como era possível esquecer-se de tudo após o seu encontro com Seokjin? Ele nem, sequer, poderia afirmar se esteve ou não na delegacia, pois não se lembrava de nada. Por um momento, chegou a cogitar que estava dentro de um sonho, mas o frio em sua pele era cortante demais para ser fruto só de uma ilusão.

De repente, seus olhos quase foram cegados pela claridade de uma lanterna. Jimin colocou uma mão sobre as vistas para se proteger do feixe de luz que o cercava e rapidamente percebeu que não estava sozinho. Ele foi surpreendido quando uma voz familiar disse:

— Jimin, sou eu!

Ele reconheceu aquela voz como pertencente à Seokjin. Seus olhos tentaram localizá-lo no meio da neblina, mas não foi difícil detectá-lo, pois o brilho da lanterna facilitou a sua busca. Em alguns segundos, o detetive o alcançou, ofegante e preocupado, percebendo que Jimin não moveu um músculo após a sua chegada. O rapaz continuava imóvel e petrificado como uma rocha, parecendo distraído com algo.

— O que está fazendo aqui, Jimin? Por que está neste cemitério? — ele perguntou, ganhando, finalmente, o olhar dele.

— Eu não sei...

Seokjin espremeu as sobrancelhas diante de sua resposta, não gostando nem um pouco de como aquilo soava esquisito.

— Como assim não sabe? Eu estou te procurando há horas.

— Horas?

— Sim. — Jimin sentiu-se endurecer. — Era para nos encontrarmos no carro e irmos para a delegacia, mas você não apareceu. Quando me dei conta de que já tinha se passado uma hora, decidi investigar o que tinha acontecido. Você desapareceu como fumaça e nem sequer me disse que estava vindo para cá. O que aconteceu, Park?

Jimin ficou chocado depois do que ouviu. Como poderia dizer a Seokjin o que aconteceu se nem ele mesmo sabia a resposta? Tudo o que ele se lembrava era de ter ido atrás de Jungkook e de não encontrá-lo. Sua mente estava confusa e cheia de nós, incapaz de fazê-lo raciocinar direito.

No entanto, Jimin tentou organizar seus pensamentos voltando em retrospectiva para entender melhor como tudo começou. Ele se lembrava de ter comprado champanhe e roupas novas para jantar com Jungkook, como também, de ter colocado uma música clássica para tocar enquanto conversavam.

Minutos depois, lembrou-se, Seokjin apareceu dizendo que tinha encontrado evidências sobre o caso, mas não havia dado muitos detalhes sobre o paradeiro. Depois dessa curta conversa, entretanto, Jimin não encontrou Jungkook quando decidiu procurá-lo para explicar o ocorrido.

A partir de então, sua mente não conseguia mais processar o que tinha acontecido depois desse momento e essa falta de memória estava deixando-o assustado.

— Você disse que tinha encontrado uma evidência, não disse? — Jimin perguntou. — Onde ela está? Eu quero vê-la.

Seokjin suspirou.

— Não existem evidências, Jimin. Alguém roubou a única prova que tínhamos.

— Roubou? — ele parecia apavorado. — Como alguém iria roubar a delegacia embaixo dos narizes de vocês? Isto não é possível!

— Sim, é possível, e essa pessoa conseguiu. — Jimin sentiu toda a indignação de Seokjin naquelas palavras. — Você disse que estava sozinho em sua casa. Mentiu para mim, Park?

Jimin tinha a resposta na ponta da língua, mas ele quis evitar as broncas de Seokjin. Só por lembrar daquele cheiro, daquele beijo, daquele corpo e daquela voz, Jimin sentia um intenso calor subir ao longo de sua pele. Ele não queria mencionar Jungkook na conversa, então decidiu sustentar a sua versão passada.

— Sim, eu estava.

Seokjin olhou para ele como se estivesse duvidando de sua sanidade, em seguida disse:

— Não havia ninguém na sua casa e mesmo assim alguém soube da evidência... — ele observou. — Se estávamos sozinhos, quem poderia ter ouvido sobre a prova?

— Você e a sua turma vivem comentando sobre estes casos pelos corredores da delegacia. Se alguém soube dessa maldita prova, aposto que foi no seu ambiente de trabalho.

— Jimin, ninguém, além de nós dois, sabia disso. Você foi a única pessoa a ter acesso a esta informação.

De repente, Jimin sentiu os músculos de seu corpo congelarem. Seokjin não tinha dado toda a história a ele, mas grande parte dela começou a fazer sentido na cabeça do rapaz. Era evidente que nada disto era uma simples coincidência, ainda mais o roubo na delegacia. Na verdade, isto soava como se tudo tivesse sido premeditado.

Quando as peças do quebra-cabeça começaram a se juntar, apenas uma única imagem subiu à superfície de sua cabeça, fazendo-o ter a sensação de que estava engolindo ácido. Portanto, seu pensamento disse:

Jungkook.

Ele mergulhou na sua vida acidentalmente e começou a se acomodar como se soubesse, exatamente, onde estava pisando. Sempre que Jimin tentava conhecer a sua vida pessoal, Jungkook pulava fora de um jeito conveniente. Ele era habilidoso nas conversas, e só agora Jimin pôde entender que esta foi uma abordagem inteligente para fazê-lo confiar nas suas palavras.

Jimin disse a si mesmo que suas observações poderiam estar equivocadas, porém, tarde demais, seu coração começou a bater depressa. A grande possibilidade daquilo ser verdade o feriu por dentro. Ele não queria tomar conclusões precipitadas, mas não podia negar que todos os encontros com Jungkook foram estranhos demais.

A começar pelo seu relógio. Jimin nunca o tirou do braço, exceto para tomar banho, então como teria deixado-o cair no local do torneio sem que percebesse?

Outro ponto bizarro, e que deixou de perturbar Jimin há um tempo, é o fato de Jungkook ter declarado que o conheceu em um clube. Ele não podia negar que essa história era inusitada, embora fizesse sentido em alguns pontos. Mas, parando para pensar, Jimin não duvidava que ele pudesse ter arquitetado tudo isto para se aproximar de si.

— Jimin, está tudo bem? — Seokjin perguntou, sua voz parecia mais calma.

Quando o rapaz o encarou finalmente, percebeu que seus olhos estavam cheios de lágrimas. Mesmo não tendo as respostas que precisava, ele se preparou para as más notícias. Nem sequer tinha certeza do que estava pensando, mas o sentimento de traição espremia seu peito.

Não havia uma resposta ainda, apenas um pânico oco pelas supostas explicações. Jimin queria ouvir o que Jungkook tinha a dizer, queria saber da boca dele se tudo aquilo era uma terrível coincidência ou uma prévia de suas intenções malignas. Jimin nem mesmo sabia se ele estava envolvido no homicídio de seus pais, mas algo em seu interior se arriscou a dizer que sim.

Depois de Seokjin confessar que ninguém além de Jimin sabia sobre a evidência encontrada, uma faísca acendeu a mente e os sentidos adormecidos do rapaz, fazendo-o chegar a conclusões extremas. Àquela altura do campeonato, todas as setas estavam apontadas para Jungkook, pois ele era o único, além de Jimin, que estava na casa quando o detetive deu a notícia.

Aquele pensamento sufocou Jimin e ele desejou estar totalmente errado.

— Onde está o meu carro? — De repente, Jimin se encontrou perguntando a Seokjin.

— Por quê?

— Onde está o meu carro? — Reforçou a pergunta.

— Do outro lado da rua. Por quê?

Sem pensar duas vezes, Jimin acelerou os passos para fora do cemitério, deixando Seokjin em completo embaraço. O detetive o seguiu instantes depois, sabendo que ele não estava em perfeita sanidade para andar por aí sozinho. Bastou Seokjin olhar para o seu semblante para ter certeza de que ele não estava bem.

— Para onde você está indo, Jimin? — ele perguntou enquanto tentava acompanhar seus passos.

— Por favor, não me siga. Me deixe fazer isso sozinho.

— Não vou te deixar sozinho, porque você veio parar em um cemitério e nem sequer se lembra.

Jimin parou de andar e virou-se de frente para o detetive. Sua boca estava trêmula e seus olhos cheios de lágrimas.

— Eu sei o que estou fazendo. Por favor, me deixe fazer isso.

— Fazer o quê?

As palavras ficaram presas na garganta de Jimin, deixando-o em silêncio. Seokjin não o deixaria ir atrás de Jungkook depois do que aconteceu, então já era esperado que ele reagisse a favor de sua proteção.

Até o momento, ninguém sabia sobre os seus encontros com Jungkook, nem mesmo Seokjin, então não podia contar a ele para onde estava indo e com quem pretendia falar, porque, certamente, o detetive iria junto. Depois de todos os momentos que passaram, Jimin queria ficar cara a cara com ele e descobrir, de fato, quem era Jeon Jungkook.

No entanto, o rapaz não queria envolver a polícia até estar certo sobre o que vinha pensando. Se Jungkook fosse quem ele imaginava que era, Jimin não conseguia pensar em como reagiria à verdade.

Diante deste pensamento, Jimin não teve outra escolha senão correr. Em um movimento brusco, ele tentou ajustar os olhos à neblina e procurou pela saída. Seokjin gritou seu nome inúmeras vezes, mas Jimin não deu ouvidos e continuou correndo.

Por um segundo, Jimin pensou que teria de pular o muro, mas, por sorte, o portão do cemitério estava aberto, o que facilitou a sua fuga. Era possível ouvir o barulho de pegadas às suas costas, indicando que Seokjin estava no seu encalço. Sabendo disso, Jimin acelerou os passos e suspirou, mentalmente, quando visualizou o seu carro do outro lado da rua.

Ele alcançou a porta do motorista e se lançou para dentro, não prestando atenção em nada além de colocar a chave na ignição e pisar fundo no acelerador, fazendo o veículo rugir em movimento.

Jimin estava certo de que Seokjin o seguiria, por isso, com um leve impulso, manobrou o carro para dentro de uma rua diferente na tentativa de despistá-lo ou, no mínimo, atrasá-lo. Ele nem mesmo sabia para onde estava dirigindo, apenas seguiu os seus instintos, que estava direcionando-o à sua casa.

Para ser sincero, Jimin não fazia ideia do que encontraria quando abrisse a porta e entrasse na residência, mas estava certo de que suas respostas estavam lá. Ele não sabia onde Jungkook morava, mas algo em seu interior disse que não seria necessário descobrir, pois ele só podia estar em um único lugar: sua casa.

Antes, Jimin tinha pensado que ele desapareceu, agora, no entanto, tinha certeza de que ele nunca saiu de lá. Seus olhos tinham sido tapados por um véu escuro, impedindo-o de ver além; mas agora ele não deixaria que este véu, ou qualquer coisa invisível, tirasse seu foco.

Jimin não permitiria que Jungkook escapasse sem ouvir a verdade.

Depois de longos minutos na estrada, Jimin avaliou a rua à suas costas através do retrovisor externo e percebeu que não havia sinais de Seokjin. Ele suspirou depois de confirmar que a barra estava limpa, então estacionou o carro próximo ao meio-fio e saltou para fora sem poupar tempo.

Quando olhou à distância, Jimin se deu conta de que tinha dirigido para a sua antiga casa, onde havia acontecido o crime. Ele ficou assustado ao perceber que, em vez de ir para a casa em que morava, acabou destinando-se ao local bárbaro do homicídio e nem sequer notou.

Para a sua terrível surpresa, o portão estava aberto e as faixas de sinalização cortadas. Um pressentimento ruim o dominou, fazendo sua garganta engrossar com o bolo de saliva. Mesmo não sabendo quem podia estar atrás daquele portão, Jimin decidiu seguir o caminho até a residência e verificar com seus próprios olhos.

Ao adentrar o local, ele observou os arredores do jardim, não vendo nada além de um escuro típico de casa abandonada. A grama estava repleta de folhas secas e de poeira, tal como a piscina, que já não apresentava mais a beleza cristalina da água. Tudo parecia caótico. Por um momento, Jimin se indagou se aquela era mesmo a sua casa.

Após um instante de análise, o rapaz finalmente caminhou para dentro da casa, sentindo-se nervoso cada vez que se aproximava da porta principal. Passando pela entrada, Jimin foi apunhalado por um sentimento amargo de aflição, deixando-o, momentaneamente, inquieto.

Se continuasse se rendendo a esse sentimento desesperador, Jimin sabia que não sairia do lugar; por isso, decidiu usar toda a sua coragem para andar dois passos à frente e parar no meio da sala, ficando na mesma posição de quando encontrou seus pais mortos.

— Jungkook! — De repente, ele se flagrou gritando para o nada. — Eu sei que você está aqui. Aparece!

Silêncio.

— Aparece aqui e me encara! — ele vociferou novamente, olhando ao redor da sala com a intenção de localizá-lo.

Subitamente, uma sombra emergiu no topo da escada, atraindo o olhar de Jimin. Não dava para ver a sua fisionomia, mas pelo contorno dos músculos e do cabelo rebelde, o rapaz teve certeza de que aquela silhueta pertencia à Jungkook. Ele desceu alguns degraus, podendo, finalmente, dar transparência à sua forma.

Jimin ficou irritado por vê-lo sem camisa e com uma calça despojada, como se tivesse acabado de acordar. Suas tatuagens estavam à mostra e na sua pele havia impressões traçadas de lençóis, o que só confirmava a suposição de Jimin.

— Park — O motoqueiro o cumprimentou em divertimento e, então, abriu os braços. — Seja bem-vindo à minha casa.

Jimin ficou tão chocado que não conseguiu dar uma resposta a ele de imediato.

— Não imaginei que fosse descobrir onde eu moro tão rapidamente. Estou impressionado. — debochou. — A propósito, está afim de terminar o que começamos na sua casa?

— Não seja cínico! — Jimin rebateu, sentindo-se estúpido por seus olhos se encherem de lágrimas. — Foi você, não foi? Você matou os meus pais e agora roubou a evidência da delegacia para que não chegassem até você. Confessa!

Jungkook ficou em silêncio, mas Jimin pôde ver o rápido vislumbre de um sorriso perverso ameaçando se abrir nos lábios dele, como se estivesse se divertindo por dentro. Diante de sua reação, Jimin teve a esperada, porém indesejada, resposta.

— Como você teve coragem de fazer isto? Eu confiei em você! — Sua voz soou grossa e emocionada. — Eu te contei todas as minhas dores e, em resposta, você debocha de mim. Por que fez isso comigo?! Por quê?!

— Nós dois sabemos o motivo, Jimin.

— Não! Não se atreva a me colocar no meio disto. — Suas mãos estavam tremendo quando ele as fechou em punhos. — Você arruinou a minha vida, seu desgraçado! Fingiu ser outra pessoa para se aproximar de mim. Por quê? O que você ganhou com isto?

— Uma noite de sexo. — ele zombou. — Mas, fora isso, eu também alcancei seus inúmeros pontos fracos.

Jimin se amaldiçoou quando suas lágrimas derramaram. Ele estava se odiando por ter dormido com o assassino de seus pais, por ter permitido que ele o tocasse da maneira mais obscena e lhe dissesse coisas pornográficas. Ele estava se sentindo sujo.

— Sabe, Park, você foi muito ingênuo ao confiar em mim. Nunca aprendeu com papai e mamãe que não se deve acreditar em estranhos à primeira vista? — Jungkook desdenhou, descendo outro degrau, sem pressa. — Querendo ou não, já estava na hora de você me conhecer de verdade.

— Por que não me matou também? — ele disparou. — Não diga que fez tudo isto só para brincar com os meus sentimentos! Eu sou uma piada para você, é isso? Tudo o que tivemos não passou de uma simples diversão para você?

— Não achou mesmo que eu estava interessado em você, achou? — Jimin sentiu a garganta amargar de repente. — Eu só não te matei, porque ele me pediu para não te matar. Mas, eu não teria hesitado em apertar o gatilho.

— Você é um monstro! — Jimin berrou. — Quem é ele? Quem foi o desgraçado que te pagou?

— O cara que você abandonou para servir às ordens de seus pais. — confessou. — Aquele que foi deixado para trás por um simples tropeço.

— De quem você está falando?

— Não se lembra mesmo dele, Park? — Silêncio. — Tem certeza de que você não se lembra de seu primeiro amor?

— Primeiro amor?

Jungkook revirou os olhos.

— É, parece que os seus pais fizeram uma lavagem cerebral em você.

Jimin não fazia ideia a quem Jungkook se referia. Na verdade, um leque de lembranças se abriu dentro de sua cabeça, mas todas elas não tinham formas e nem cor. Ele tentou folhear o seu passado, na tentativa de localizar a fonte, mas, para a sua tristeza, não enxergou nada.

As dúvidas que ficaram eram: por que Jungkook estava colocando os seus pais no meio dessa história sem pé nem cabeça? Por que o seu suposto primeiro amor pagaria um assassino de aluguel para matar os seus pais, sendo que Jimin foi o responsável por abandoná-lo?

Se essa história for real, a única alternativa que resta é que essa pessoa negociou um homicídio para afetar as estruturas emocionais de Jimin e nada mais.

Antes que pudesse concluir seus pensamentos, Jimin sentiu um corpo aproximar-se do seu. Jungkook sorriu para ele, diabolicamente, e se atreveu a tocá-lo no rosto, o que serviu para aumentar o ódio do rapaz.

— Eu não queria que você tivesse descoberto dessa forma. Te dei todos os sinais, mas você se negou a enxergá-los.

Jimin sugou uma respiração trêmula e disse:

— Por que está me machucando tanto?

— Um dia você vai se acostumar com a dor da verdade. Ela dói, mas cicatriza.

Jimin não podia acreditar que tinha se atraído por um assassino, ou, melhor dizendo, por aquele assassino. Para ser sincero, ele nem mesmo conseguia definir seus sentimentos por Jungkook agora. Depois de descobrir a verdade, tudo em seu peito tinha virado uma bagunça, embora a dor fosse a mesma para todos os tipos de sentimentos.

Em resposta, Jimin empurrou o corpo do motoqueiro para longe, sem muita força, e caiu de joelhos no chão. O choro que saiu de seu peito foi intenso e doloroso. Ele espalmou as mãos no mesmo local em que seus pais foram achados mortos e chorou, compulsivamente. Jungkook assistiu aquela cena com pura indiferença, achando cômico, ao invés de lamentoso.

— Pai! Mãe! — Jimin gritou, como se eles pudessem ouvi-lo. — Por favor, voltem!

— Não seja estúpido, Park, eles não podem te ouvir.

Diante de seu comentário, Jimin apenas ergueu a cabeça para enfrentá-lo nos olhos, sentindo-se sem combustível para sequer rebater.

— Papai e mamãe estão mortos, assim como os meus. — Jungkook prosseguiu venenosamente.

Jimin continuou a encará-lo com puro ódio. Não deveria se sentir surpreso por ainda ouvi-lo destilar sua perversidade, mas, infelizmente, se sentiu. Por um momento, se perguntou o porquê de Jungkook ainda estar parado na sua frente quando tinha a chance de fugir.

Não havia dúvidas de que ele tinha se aproximado de Jimin para conseguir informações sobre o caso, pensou o rapaz; mas, se ele, realmente, planejava se esconder da polícia, por que não fugiu após recuperar a prova na delegacia? Jimin não sabia da sua identidade até aquele momento, então as chances de Jungkook desaparecer do mapa sem que Jimin pudesse encontrá-lo eram altíssimas, mas ele não o fez.

Por um instante, o rapaz chegou a pensar que tudo aquilo fazia parte dos planos de Jungkook e que ele, certamente, guardava muitas cartas na manga. A presença de Jimin naquela casa, por exemplo, não era uma casualidade.

— Por que ainda está aqui? — ele se atreveu a perguntar, não esperando respostas esclarecedoras. — Por que ainda não fugiu? O que você quer?

— Me divertir com você, Park.

— Você conseguiu isto quando se aproximou de mim por interesse. — ele pausou, levantando-se do chão aos poucos e enxugando as lágrimas do rosto com força. — Se ainda está aqui, é porque quer alguma coisa. Diga de uma vez por todas que está aqui para terminar o serviço.

Silêncio.

— Você me usou, me humilhou, me iludiu... — Sua garganta pesou como chumbo, quando memórias da noite no bar subiram à sua cabeça. — Todos os nossos encontros "acidentais" faziam parte do seu plano. Você me queria por perto para ter acesso a todas as informações do caso e conseguiu. A polícia não te conhece, mas eu conheço.

— Você não pode me denunciar.

Jimin gargalhou, mas sua reação possuía mais raiva do que humor.

— É por isso que ainda está aqui? — ele perguntou. — Acha que eu não tenho coragem de te denunciar? Você fodeu com a minha vida e ainda tem a cara de pau de achar que eu passarei pano para você?

— Eles não vão acreditar em você.

— Como pode ter tanta certeza disso?

Diante do silêncio que se seguiu, Jimin chegou à conclusão de que Jungkook tinha implantado falsas provas em suas coisas, fazendo-o parecer o verdadeiro culpado. Isso explicava os surgimentos misteriosos de objetos estranhos em suas coisas, porque, desde o início, ele tinha um bode expiatório.

Deste modo, o rapaz se sentiu, tremendamente, furioso e, após dar um soco agressivo no peito dele, disse:

— Por que está me torturando ao invés de me matar logo?! — Jimin disparou outro golpe, fazendo o estalo ecoar pelo ambiente. — Não seja covarde! Me mate também!

Jungkook freou a sua terceira tentativa com um movimento brusco e segurou-o pelos pulsos. Jimin não sabia se queria chorar de decepção ou gritar de raiva. Mas, entre esses turbulentos sentimentos, ele estava se sentindo desamparado e perdido. Além de perder os pais para uma tragédia, tinha que lidar com o fato de ter se rendido aos encantos do próprio assassino.

— Eu poderia te matar agora mesmo, mas não te darei esse gostinho. — O motoqueiro disse contra o rosto dele. — Me agradeça por deixá-lo livre.

— Está esperando que eu te agradeça? — ele cuspiu as palavras. — Você não está me dando uma segunda chance porque se importa comigo. Está fazendo isso porque pensa que eu não posso te denunciar. Mas saiba que, se você me deixar vivo, eu conto à polícia tudo o que sei.

— O que dirá a eles, Park? Dirá que transou com o assassino de seus pais? Se descobrirem que você e eu estávamos juntos esse tempo todo, eles vão te acusar de ser meu cúmplice.

O corpo de Jimin ficou tenso, reflexivamente. Ele não tinha certeza se aquilo podia acontecer, mas, por vê-lo tão confiante em sua ameaça, Jimin suspeitou que Jungkook tinha um plano perfeito para fazê-lo parecer cúmplice do crime.

Querendo ou não, esta hipótese o assustou.

Jimin queria aproveitar aquele momento de silêncio para pensar em uma saída, mas a sua mente parecia vazia de pensamentos. Seu estômago começou a doer de repente, mas ele não deu importância e continuou olhando para Jungkook.

Quanto mais olhava-o, mais arrependido se sentia por ter se rendido ao charme dele. Jimin sentiu-se um tolo por ter acreditado em um estranho e por ter derramado lágrimas em seu ombro. Jungkook aproveitou o seu momento de fraqueza para usá-lo e isso doía como um inferno.

Antes que pudesse pensar em algo, Jimin foi distraído pelo motor de um carro que parou em frente a sua casa. Ele esperou que Jungkook corresse após ouvir o portão sendo aberto, mas nada o fez. Em vez disso, o motoqueiro andou até a escada e sentou no terceiro degrau, como se o que viesse a seguir fosse deixá-lo cansado.

Em poucos minutos, a porta foi, brutalmente, aberta, revelando a imagem de Seokjin, que parecia sem fôlego depois de correr até o seu alcance. Jimin olhou para o recém-chegado e percebeu que os olhos dele não foram para Jungkook em nenhum momento.

— O que diabos você está fazendo aqui? — O detetive interpelou.

Logo em seguida, Jimin encarou o motoqueiro, vendo-o com um sorriso divertido nos lábios, igualmente esperando que o rapaz dissesse algo. Jimin sabia que Jungkook estava convicto de que ele não o acusaria, mas, se estivesse na sua pele, não estaria tão confiante assim.

Ainda enfrentando-o nos olhos, Jimin disse para Seokjin:

— Você queria saber quem matou os meus pais, não queria? — Mesmo estando de costas para o detetive, Jimin imaginou que as sobrancelhas dele ficaram franzidas. De repente, seu dedo apontou na direção de Jungkook em um gesto acusatório. — Foi ele quem matou os meus pais! Ele é o culpado!

Tudo caiu em um completo silêncio após as suas palavras incriminadoras. Enquanto Jungkook sorria ardilosamente, Seokjin permanecia quieto como um espectro. Jimin esperou ver o detetive tirar as algemas do bolso e colocá-las nos pulsos de Jungkook, mas, em vez disso, ele disse:

— De quem você está falando, Jimin? Não tem ninguém aqui.

Depois de ouvir aquilo, Jimin arregalou os olhos e voltou-se para Seokjin, que aparentava estar, tremendamente, confuso. O rapaz olhou de Seokjin para Jungkook, repetindo o mesmo movimento duas vezes seguidas, como se quisesse ter certeza de que não estava alucinando.

— Como assim não tem ninguém aqui?! — Jimin perguntou, assustado. — Você não está vendo ele?! Ele está na nossa frente, Seokjin, bem naquela escada!

Os olhos do detetive viajaram para a direção indicada, mas não encontraram ninguém. Enquanto isso, Jimin olhava no mesmo sentido que ele, podendo observar Jungkook, perfeitamente. Seu cérebro deu um nó e, de repente, ele se flagrou com medo de estar delirando.

— Não tem ninguém aqui além de nós dois, Jimin. — Seokjin assegurou mais uma vez.

— Mas ele está aqui... — Jimin sussurrou para si mesmo, sentindo medo de sua própria sanidade. — Eu não estou louco, ele está aqui!

Seokjin suspirou e disse:

— Vou te levar para a delegacia. Vamos.

— Não! — Jimin recusou. — Não sou eu que devo ir para a delegacia. É ele!

— Você não está bem, Jimin. Ouça o que está dizendo. Não tem ninguém aqui além de nós dois e você insiste em dizer que sim. Vamos para a delegacia agora ou eu terei que te algemar à força.

— Tem certeza de que não está vendo ninguém nesta sala?

— Tenho.

Jimin estava começando a achar que tinha ficado louco. Ele tentou acreditar nas palavras de Seokjin e aceitar que Jungkook era fruto de sua cabeça, mas ainda era cedo para tornar tudo isso uma verdade absoluta.

Como isto era possível? Jimin o beijou, ouviu sua voz, sentiu seu toque, seu perfume... Todos estes detalhes o faziam lembrar de momentos específicos, onde o contato físico estava presente. Então, novamente, se perguntou: como era possível sentir o toque palpável de um "fantasma"?

Jimin sabia que era absurdo pensar que um fantasma ou um ser imaginário poderia vir à vida, mas, diante de tudo o que estava passando agora, ele não descartou essa possibilidade bizarra. Jungkook ainda estava na sua frente, em carne e osso; mas, por algum motivo místico, Seokjin não podia vê-lo da mesma forma que ele.

Por um momento, ele teve medo de todos os seus momentos com Jungkook terem sido frutos de sua imaginação, mesmo que a possibilidade fosse mínima. Jimin desejou perguntar a Jungkook o que tudo aquilo significava e o porquê de Seokjin não conseguir vê-lo, mas ele não encontrou uma forma segura de como o fazer sem parecer que estava falando sozinho, na perspectiva do detetive.

Foi então que ele virou a cabeça para a escada, onde o motoqueiro estava minutos atrás, mas, desta vez, não o encontrou. Novamente, Jungkook tinha desaparecido como fumaça, deixando-o ainda mais perturbado.

Assustado por não vê-lo mais, Jimin andou até a escada e o procurou, olhando para todos os cantos da sala na esperança de localizá-lo. Seokjin olhou para ele, confuso, e então decidiu não esperá-lo mais. Jimin parecia desequilibrado enquanto procurava por algo, até então, desconhecido para o detetive.

— Ele estava aqui! Ele estava aqui! — Jimin gritou várias vezes seguidas. — Eu o vi! Você precisa acreditar em mim, Seokjin!

Não vendo outra opção, a não ser contê-lo, Seokjin pegou as algemas do bolso e as envolveu nos pulsos de Jimin, que demonstrou pavor ao sentir as argolas geladas. Ele tentou se soltar, sem sucesso, então o detetive o segurou com mais firmeza pelos braços.

— O que está fazendo?! — O rapaz perguntou, desesperado. — Por que está me prendendo?!

— Estou te segurando para que não faça uma besteira. — respondeu. — Vamos para a delegacia. Agora!

Sentindo-se traído pela atitude de Seokjin e perturbado por não conseguir vislumbrar o assassino, Jimin não conseguiu reagir em defensiva, apenas deixou-se ser levado para fora da casa e colocado no carro, sem qualquer resistência.

Ele parecia em transe enquanto tentava processar tudo o que estava acontecendo ao seu redor. Sentiu-se tão angustiado com a possibilidade de Jungkook não ser real, que chegou ao ponto de pensar que outros momentos também foram fruto de sua imaginação.

Agora, no entanto, ele estava com medo de não conseguir identificar o que era real ou não.

▸▸◂◂

Olá, meus amores, como vocês estão? Eu demorei um pouquinho pra atualizar por causa de algumas demandas pessoais e, provavelmente, vou atrasar um pouco mais para a próxima att.

Falando sobre o capítulo de hoje, muitos suspeitaram que o jungkook não existia, mas já adianto que esse não é o único ponto. Existe algo muito maior por trás dessa "inexistência" e vocês saberão no próximo capítulo.

Espero que tenham gostado da atualização e não esqueçam de comentar o que estão achando, eu realmente estou curiosa para saber quais são as expectativas de vocês.

Beijinhos e até a próxima!! <3



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