[CAPÍTULO 11]
Já era de manhã quando Jimin retornou para casa, sentindo-se sonolento e com os ossos doloridos. Suas pernas ainda estavam pesadas, como se ele tivesse ficado ajoelhado por horas, e cada músculo de seu corpo doía intensamente. No entanto, a dor que estava sentindo era gostosa, não incômoda.
Jungkook o deixou na esquina de seu quarteirão e partiu soltando fumaça pela descarga. Antes de apertar o acelerador, ele reforçou a sua satisfação pela noite passada e se despediu de Jimin com uma mordida no pescoço, o que provocou uma descarga de arrepios no rapaz.
A sensação ainda estava velejando pelo corpo de Jimin quando ele alcançou a porta de sua casa, que foi fechada assim que entrou totalmente. Ele pendurou o casaco no cabide e se jogou no sofá. Deitado, no entanto, Jimin permitiu que suas lembranças fizessem uma lenta retrospecção. O primeiro pensamento revelou as mãos de Jungkook na sua bunda e os lábios no seu pescoço, o segundo foi mais ousado e o fez lembrar do modo como Jungkook o penetrava.
Por um momento, Jimin se perguntou se Jungkook também estava pensando na noite passada, mesmo que ele estivesse pilotando na estrada agora. Apesar de não estar na pele de Jungkook, Jimin imaginava que as respostas eram semelhantes às suas.
Quando o último pensamento surgiu, Jimin mordeu o lábio com força e fechou os olhos, revivendo a sensação de ter o pau de Jungkook dentro da sua boca. Ele poderia repetir a noite passada pelo resto da vida, mas neste momento as lembranças eram tudo o que ele tinha para se conformar.
A lembrança de estar debaixo do chuveiro. A lembrança de engolir água enquanto Jungkook prensava seu corpo contra o box. A lembrança de sentir a língua de seu motoqueiro sugando sua pele. A lembrança...
— Jimin? — Namjoon o chamou, sua voz parecia próxima, o que assustou o seu amigo.
Jimin sentou-se rapidamente e olhou para longe na tentativa de localizá-lo. Suas sobrancelhas ficaram enrugadas quando seus olhos o encontraram parado no topo da escada, como se tivesse acabado de sair do banho. Namjoon estava usando um dos seus suéteres, o que serviu para deixar o rapaz ainda mais confuso.
— O que você está fazendo aqui? — Jimin perguntou, consciente de que o seu rosto certamente estava pálido pela surpresa.
— Te esperando.
Namjoon deu um sorriso torto na direção dele e desceu os degraus calmamente. Jimin não desviou o olhar dele um segundo sequer, ainda chocado pela sua súbita aparição. Óbvio que ele não estava incomodado com a presença de Namjoon, mas desconcertado por saber que ele entrou na sua casa sem a sua permissão, ou melhor dizendo, como ele entrou.
— Como você entrou aqui? Eu deixei a porta trancada. — Jimin decidiu pontuar.
— Não estava tão trancada assim. Eu bati na porta e ela simplesmente abriu. — Namjoon disse, roubando um espaço no sofá ao lado de Jimin. — Por onde você andou? Eu te esperei a noite toda.
A respiração de Jimin falhou por um instante, sem ter ideia do que falar. Ele não soube dizer se a sua reação foi por causa da pergunta em si ou por saber que Namjoon passou a noite em sua casa o esperando.
— Por que não me ligou já que estava me esperando? — Jimin se arriscou a perguntar.
— Verdade... Pensei em te ligar, mas não queria estragar a surpresa.
Ele sorriu um pouco, mas Jimin continuou confuso diante de sua explicação.
— Surpresa? — Namjoon confirmou. — Que surpresa?
— Eu tinha preparado um jantar para nós dois, mas você não apareceu, então comi tudo e fui dormir. — Jimin olhou boquiaberto para ele, não sabendo como responder a isso. — Me desculpe por não ter avisado antes, eu aproveitei que você não estava em casa para preparar o jantar. Pensei que minha companhia pudesse te confortar já que você está sozinho a maior parte do tempo.
Depois de entender o que Namjoon foi fazer em sua casa, Jimin suspirou e sorriu para ele, optando por ignorar a estranha explicação sobre a porta já estar aberta antes de ele chegar. Em seguida, disse:
— Você deveria ter me avisado que vinha...
— Na verdade, eu vim com o propósito de conversar com você e não de preparar um jantar. Acontece que eu encontrei a geladeira cheia e pensei em te fazer essa surpresa, mas no fim das contas não deu muito certo.
— O que você queria conversar comigo?
Os olhos de Namjoon caíram instantaneamente para o próprio colo, em seguida voltaram-se para Jimin.
— Eu estou preocupado com você. — sua voz saiu magoada, mas constante. — Já faz um tempo que você não aparece na empresa, não dá sinais de vida e nem comparece nas reuniões. Seu tio está furioso com a sua ausência. Ele está dizendo para todo mundo que o herdeiro é irresponsável e não merece assumir o lugar do pai.
Jimin suspirou e disse:
— Dane-se. — o rosto de Namjoon se contorceu em surpresa. — Eu não quero substituir o meu pai, então não ligo se o desgraçado do meu tio está aprontando algo para me tirar da empresa. Eu estou farto de tudo isso!
— Você quer mesmo abandonar o seu lugar por direito?
Estranhamente, Jimin pensou ter visto o vislumbre de um sentimento de felicidade nos olhos de seu amigo, o que não coincidia com a pergunta que lhe fora feita.
— Não estou abandonando, só estou cansado de tantas obrigações. Quero tirar um tempo para mim.
— Por que está dizendo essas coisas agora?
A mente de Jimin registrou o tom sugestivo por trás daquela pergunta, deixando-o ainda mais confuso, sem entender os motivos.
— Eu só quero um tempo para mim. — Jimin reforçou enquanto olhava no fundo dos olhos dele. — Tudo naquele lugar me faz lembrar dos meus pais, por isso quero um tempo para aprender a conviver sem eles.
O rosto de Namjoon ficou aquecido com a vergonha, pois, na sua cabeça, não havia motivos para desconfiar que Jimin estava evitando ficar perto dele. Apesar de temer por essa possibilidade, ele sabia que Jimin só estava tentando superar o choque de perder os pais, por isso preferia ficar sozinho.
— Onde você passou a noite? — Namjoon perguntou depois de inalar uma longa respiração.
Jimin lutou para não gaguejar enquanto pensava em algo para dizer. Não podia simplesmente contar que estava transando em uma boate porque Namjoon o olharia de forma esquisita, ainda mais estando certo de que Jimin até então se encontrava afastado da empresa devido ao seu estado deprimente.
— Eu saí para esfriar a cabeça. — ele mentiu.
— Seu carro está na garagem...
— Eu fui a pé.
— E aonde você dormiu?
— Namjoon, chega de tantas perguntas, ok? — ele se levantou, desesperado para fugir do assunto. — Vou comer alguma coisa, quer se juntar a mim?
Seu amigo continuou em silêncio, parecendo não saber o que dizer. A julgar pela forma como Namjoon o encarava, Jimin supôs que ele não engoliu a sua história, mesmo que não tenha dado muitos detalhes.
— Eu senti sua falta. — de repente Namjoon disparou, arrancando vincos da testa de seu amigo. — Sempre que você fica sem me ligar eu fico com saudades.
As rugas na testa de Jimin ficaram mais acentuadas quando ele viu Namjoon se erguer do sofá e ficar em pé na sua frente. Temendo ser pego de surpresa por alguma ação inesperada, Jimin decidiu perguntar antes.
— O que está fazendo?
— Quero poder olhar melhor nos seus olhos.
— Namjoon... — ele realmente parecia confuso com aquelas respostas prontas. — Não sei do que você está falando, mas espero que não seja o que estou pensando.
Namjoon pestanejou em seguida, como se a sua alma tivesse voltado ao corpo em questão de segundos e o feito cair na realidade.
— E-Eu disse isso porque me preocupo com você, Jimin. — justificou. — Somos amigos, não somos? Fiz uma promessa a mim mesmo de que cuidaria de você depois do que aconteceu.
— Obrigado por isso. — embora estivesse de fato agradecido, Jimin não pôde afastar a confusão de seu rosto. — Agradeço pela sua preocupação, mas eu estou bem. Sério, as coisas estão melhorando, só preciso de um pouco mais de tempo.
— Você está certo — ele concordou, mas sua expressão não. — Eu não queria parecer chato, só não estou acostumado a ficar sem você. Digo, sem te ver na empresa como todo mundo.
— Eu vou voltar, mas não por agora. Espero que o pessoal entenda.
— Com certeza eles te entendem.
Jimin percebeu que após interromper a fala de Namjoon minutos atrás toda emoção foi drenada do rosto dele em questão de segundos, deixando-o cabisbaixo. Ele não soube dizer o que o deixou assim, mas estava quase certo de que tinha a ver com a sua reação depois de ouvir o que ele disse.
— Você não disse que ia comer? — Namjoon perguntou, atraindo a atenção de Jimin, que, ao pensar nisso, sentiu o estômago doer.
— Sim.
Jimin fez o seu caminho até a cozinha e foi seguido por Namjoon instantes depois. Ele podia sentir os olhos de seu amigo pesando sobre as suas costas, certamente inquieto para descobrir onde ele esteve a noite toda. Óbvio que Jimin não contaria, por isso decidiu desenrolar outro assunto na tentativa de distraí-lo.
— Você disse que a porta estava aberta quando chegou? — ele perguntou a Namjoon, olhando-o de relance por cima do ombro enquanto pegava uma xícara no armário.
— Sim.
— E não achou isso estranho?
— Pensei que você estivesse no seu quarto e esquecido de trancar. — ele explicou calmamente, fazendo as sobrancelhas de Jimin enrugarem.
— Mas eu não estava... — Jimin se virou de frente para ele, encontrando os olhos sérios de seu amigo. — Por que não desconfiou que alguém invadiu a minha casa?
Quando Namjoon ficou em silêncio, Jimin começou a se preocupar.
— Namjoon...
— Ok, eu pedi uma cópia da sua chave para a Seungwan.
— O quê!? Por que fez isso!? — seu amigo coçou a cabeça e desviou o olhar instantaneamente. — Você não ia me contar?
— Claro que sim! — Jimin parecia incrédulo. — Eu fiz isso porque fiquei com medo de você fazer uma besteira. Você está agindo estranho desde o dia em que saiu da minha casa e isso vem me preocupando.
— Agindo estranho? — Jimin repetiu com uma nota de dúvida. — Não tem nada de estranho em mim, eu estou ótimo! Você está fazendo isso só porque eu quero ficar sozinho. Não existe nada de errado em querer ficar só, Namjoon.
— Tudo bem, talvez eu esteja vendo coisas onde não tem, mas não me culpe por pensar na sua segurança. — Jimin se calou diante de suas palavras. — Você está se arriscando demais passando a noite fora. O assassino ainda está solto e ele pode querer ir atrás de você, se esqueceu disso?
Jimin sentiu-se endurecer por dentro.
— O único que está agindo estranho aqui é você. — ele desconversou. — Pedir uma cópia da minha chave para a Seungwan!? Onde você estava com a cabeça!? Se preocupar com a minha segurança é uma coisa, invadir a minha privacidade é outra. Eu gosto de você, Namjoon, mas não admito que chegue a esse ponto.
— Jimin...
— Eu saí da sua casa justamente para te dar privacidade e você vem até a minha sem me comunicar, dorme aqui, come da minha comida e usa as minhas roupas como se fôssemos um casal!
Após cuspir todos os seus pensamentos, Jimin se arrependeu amargamente do que disse. Namjoon ficou claramente chateado ao ouvir suas palavras, que por sinal também fizeram Jimin sentir uma forte dor no coração, embora ele não tivesse a intenção de machucá-lo.
A sua crescente irritação se dava pelo fato de Namjoon ter agido por trás de suas costas e feito coisas sem Jimin saber. Tarde demais, ele percebeu o olhar entristecido no rosto de Namjoon e isso o quebrou, fazendo-o repensar sobre a sua própria atitude.
— Me desculpe... Eu não queria dizer essas coisas. — lamentou-se, mas Namjoon não disse nada, portanto ele prosseguiu. — Você pode vir aqui sempre que quiser, não ligue para o que eu disse. Eu só estou um pouco cansado, não dormi praticamente nada esta noite.
— Eu já entendi tudo. — Jimin demorou alguns segundos para entender ao que ele se referia. — Não vou mais me intrometer na sua vida, Jimin, nem mesmo para saber como você está. Talvez você já tenha encontrado a sua companhia perfeita.
A princípio, Jimin ficou chocantemente confuso, em seguida essa confusão deu lugar à mágoa. A julgar pela fala de Namjoon, Jimin supôs que ele sabia sobre os seus encontros com Jungkook, o que certamente chegou a desencadear um sentimento de traição em seu amigo.
Antes que pudesse confirmar sua teoria, o toque de um celular ecoou pelo cômodo. Jimin rapidamente percebeu que era o seu quando o seu bolso começou a vibrar. Ele pegou o aparelho às pressas, resmungando mentalmente por saber que alguém o estava ligando justo naquela hora.
Ao ler o nome de Seokjin na tela, ele sentiu um forte aperto no peito antes de finalmente atender a chamada. Sua voz pareceu trêmula, mas ele conseguiu dizer:
— Alô?
— Park, aqui é o detetive Seokjin. Tem um minuto?
Jimin olhou para Namjoon instantaneamente, apenas para ter certeza de que ele não estava mais prestando atenção nele. Seu amigo tinha desviado o olhar para outra direção, não querendo interromper a conversa deles.
— Sim, eu tenho, pode falar. — Jimin assegurou.
— Quero que venha sozinho até o local do crime. Tem uma coisa aqui que quero te mostrar.
— Que coisa?
— Não posso falar por telefone, preciso que veja com seus próprios olhos.
Jimin fez um ruído com os lábios quando se imaginou indo até a sua antiga casa onde um episódio terrível aconteceu, cujos fragmentos ainda continuavam vivos em sua cabeça. Ele estava dolorido da cabeça aos pés, suas pálpebras estavam pesadas de sono e seu cérebro parecia incapaz de raciocinar coerentemente.
Neste momento, Jimin só desejava estar debaixo dos cobertores sem hora para acordar. Sua vida seria perfeita se não tivesse tantos compromissos a fazer.
Além disso, Jimin percebeu que tinha ficado estranhamente descontente com a informação de Seokjin. Ele não esperava receber essa notícia tão de repente, talvez porque não estava preparado para as futuras respostas.
De qualquer modo, ele considerou melhor concordar com os termos de Seokjin.
— Tudo bem, já estou indo aí.
Com a sua confirmação, Seokjin se despediu e encerrou a ligação. Jimin afastou o celular da orelha lentamente enquanto processava o que deveria fazer a seguir. Dizer a Namjoon que tinha de sair poderia soar como uma péssima desculpa para mandá-lo embora, mas esta era a verdade.
Qualquer abordagem que usasse não diminuiria a carranca no rosto de seu amigo, muito pelo contrário, asseguraria ainda mais a ideia de que Jimin queria afastá-lo, o que não era verdade. Jimin gostaria muito de conversar com ele e dar uma trégua nos desentendimentos, mas não podia deixar Seokjin plantado o esperando.
— Era o detetive Seokjin. — Jimin informou mesmo sem ele perguntar. — Parece que ele encontrou algo no local do crime e quer me mostrar. Podemos terminar nossa conversa mais tarde?
Namjoon apenas o encarou e disse:
— Ok.
Instantes depois, Namjoon voltou para a sala de estar e recolheu os seus pertences que haviam sido deixados na mesinha de centro na noite passada. Jimin foi atrás dele mesmo sabendo que ele estava magoado demais para falar.
— Namjoon — ele o chamou, mas seu amigo não deu ouvidos. — Sei que eu fui errado por dizer aquelas coisas, não era minha intenção, simplesmente escapuliu. Por favor, vamos conversar depois.
— Não posso, vou estar ocupado. — ele respondeu sem olhá-lo nos olhos e enquanto fechava os botões do casaco. — Ah, não se preocupe com a sua blusa, vou te devolver ainda hoje. A minha ficou encharcada pela chuva de ontem, então peguei uma no seu armário.
— Eu-
— Te vejo depois, Jimin. Tchau.
Sem muitas delongas, Namjoon deu as costas para ele e partiu com um bater de porta, sem ao menos olhar para trás. Jimin continuou imóvel, sentindo-se culpado pela forma como ele saiu. Ele podia parecer calmo por fora, mas na sua mente passava cada palavra que ele havia falado para Namjoon momentos antes.
No silêncio repentino que se seguiu, Jimin varreu todos os seus pensamentos para longe e se dirigiu ao quarto para trocar de roupa. Ele já havia tomado banho antes de ir para casa, mas optou por tomar outro com o seu próprio sabonete.
Minutos depois, ele tomou um copo de leite e pegou uma maçã da fruteira para comer durante o trajeto. Jimin vestiu uma blusa de gola alta para esconder as marcas roxas que Jungkook deixou impressas em seu pescoço, em seguida caminhou em direção ao carro.
Apesar de estar malditamente cansado, Jimin se sentia renovado por trocar de roupa e alimentar o seu estômago. Ele gostaria de ter tido tempo para dormir um pouco, mas Seokjin não podia esperá-lo.
Durante o percurso até a sua antiga casa, Jimin permitiu-se pensar em algumas coisas, entre elas a sua curiosidade por conhecer a casa de Jungkook. Ele não era o tipo de cara que dava detalhes sobre a sua vida particular e isso de certa forma atraiu a atenção de Jimin.
A falta de informação sobre Jungkook estava arrancando um intenso desejo de Jimin, que até o momento ele nem sabia que era capaz de sentir. O desconhecido muitas vezes pode parecer perigoso, mas também possui o seu lado fascinante.
Jimin não esqueceu um minuto sequer do jeito erótico como Jungkook dizia seu nome, do olhar decididamente íntimo em seu rosto sempre que ele o encarava por cima, gemendo baixinho uma e outra vez. Ele lembrou-se de tudo novamente, de todas as palavras sujas, dos seus toques, da sua força... Tudo.
Vinte minutos depois Jimin entrou em um quarteirão luxuoso com muitas casas deslumbrantes, sentindo-se, de repente, muito nostálgico. Uma em particular estava cercada por faixas amarelas e placas de proibição. Havia um carro de grande porte estacionado no local e uma pessoa próxima a ele. Em segundos, Jimin reconheceu a silhueta de Seokjin.
Ele estacionou o carro a alguns metros de distância e desligou o motor. Ao olhar para a sua residência, algo muito pesado espremeu o seu peito, fazendo-o engolir em seco. Jimin não sabia se conseguiria entrar no local caso Seokjin o pedisse, por isso tentou formular uma desculpa de antemão.
Tomando coragem para sair do carro, Jimin finalmente removeu o cinto de segurança e deslizou para fora, sentindo o cheiro melancólico de sua antiga rua. Ele não podia negar que sentia falta de morar ali, mesmo sabendo que aquele lugar alimentava o seu trauma.
Ignorando as pontadas de incômodo cada vez que se aproximava de seu destino, Jimin pigarreou para chamar a atenção de Seokjin e disse:
— Olá, detetive Seokjin, já estou aqui. — ele disse formalmente e sem coragem de olhar para os lados.
O oficial da polícia se virou de frente para ele e o cumprimentou com um aperto de mão. Jimin gostaria de perguntar logo o que ele encontrou, mas sua garganta travou de repente, fazendo-o fracassar na tentativa.
— Me desculpe por te ligar tão de repente, eu precisava te mostrar uma coisa. — explicou Seokjin um momento depois e então olhou em direção a residência. — Mas para isso é preciso que entremos na sua casa. Se sente confortável para fazer isso?
Jimin sabia perfeitamente a resposta, mas o seu ego não o autorizou a dizer a verdade, pois não queria parecer fraco. Além do mais, ele tinha de encarar a realidade como ela era, mesmo não se sentindo pronto.
— Sim, está tudo bem, podemos entrar. — ele aceitou por fim.
Seokjin acenou com a cabeça para assegurar sua decisão e foi em direção a casa, passando, primeiramente, por debaixo das faixas amarelas. Jimin, às suas costas, conteve um suspiro e o seguiu, sentindo o coração bater mais forte à medida que se aproximava do portão principal.
Os dedos de Seokjin encontraram a maçaneta, que se abriu facilmente, revelando o jardim em ruínas. Jimin olhou ao redor e sentiu uma horrível sensação de desconforto, principalmente por ver o jardim que ele tanto amava desgastado e com inúmeras flores mortas, como se nunca tivessem sido podadas.
O lugar parecia abandonado há décadas. A piscina estava suja com folhas secas, a varanda tinha sido tomada por uma nuvem de poeira, tornando impossível de ver o assoalho, e boa parte das janelas foram cobertas por faixas de sinalização.
Seokjin o chamou para dentro da casa, fazendo-o respirar fundo antes de mover os pés na mesma direção que ele. Jimin não podia prever o que sentiria quando olhasse para o interior de sua casa e lembrasse do que aconteceu.
O estômago de Jimin apertou no momento em que ele passou pela entrada, esperando encontrar os seus pais caídos no chão e sujos de sangue. Porém, não foi isso que aconteceu. Tudo o que ele viu foram os móveis situados no mesmo lugar, placas numéricas em pontos específicos e nem uma gota de sangue no chão.
Por mais que o seu coração tenha ficado aliviado, o sentimento de pânico permaneceu em seu peito. Mesmo que tentasse parecer forte, as memórias ainda estavam lá, fazendo-o lembrar do pior momento de sua vida.
— Jimin? — Seokjin o chamou. — Está tudo bem?
Ele o encarou à distância, desistindo completamente de falhar com a verdade. Portanto, respondeu:
— Estar aqui me machuca. — suas palavras soaram sinceras. — Eu consigo ver os meus pais mortos nesta sala, consigo ouvir os gritos deles, como se tudo estivesse acontecendo de novo.
— Me desculpe te fazer passar por isso, mas você precisava vir.
— Por quê? O que você quer tanto me mostrar?
— Está no andar de cima. Pode me acompanhar?
A informação deixou Jimin confuso por um instante, mas ele fez que sim e não hesitou em segui-lo. O rapaz não conseguia imaginar o que poderia estar no andar de cima que interessava a Seokjin ao ponto de ele o chamar para mostrar.
Subindo as escadas, Jimin começou a lembrar de quando desceu os degraus às pressas depois de ouvir os tiros. No dia chegou a pensar que era um sonho, pois tinha adormecido em cima dos papéis de negócios, mas em segundos percebeu que tudo era real.
Voltando ao momento atual, Jimin percebeu que Seokjin o estava levando para o seu quarto, o que certamente o deixou ainda mais confuso. Quando o detetive abriu a porta do cômodo e deslizou para dentro, Jimin parou subitamente, olhando em torno do lugar.
— Por que estamos no meu quarto? — ele perguntou.
Sem respondê-lo, Seokjin abriu a primeira gaveta da cômoda e pegou um estranho objeto entre as coisas de Jimin. Pela naturalidade como ele o fez, o rapaz supôs que ele já sabia onde a peça se encontrava, o que significava que antes de Jimin chegar Seokjin tinha feito uma varredura em tudo.
— Reconhece este objeto? — o detetive perguntou, levantando a peça ao nível do rosto para enfatizar sua pergunta.
Jimin finalmente entrou no quarto, sentindo uma corrente de gelo seco percorrendo suas pernas assim que moveu os pés, e então analisou o que Seokjin tinha nas mãos. Antes que pudesse dizer algo, o detetive falou primeiro.
— Isto é um silenciador de armas e estava entre as suas coisas.
— Não pode ser, eu não tenho armas.
— Mas o seu pai tinha uma. — Jimin enrugou a testa enquanto tentava decifrar as insinuações por trás das palavras dele. — Os seus vizinhos disseram que não ouviram o barulho dos tiros, já você afirmou que a porta estava aberta quando o assassino saiu, ou seja, não foi necessário usar o código de segurança. Então, isso me faz pensar que o sujeito usou este silenciador.
— Faz todo sentido, mas por que isso me importa? Se os vizinhos ouviram ou não isso não muda o que aconteceu.
— Verdade... Acontece que o silenciador estava guardado nas suas coisas. O que acha disso?
Claramente, Seokjin estava fazendo um jogo de enigmas para descobrir algo de seu interesse, Jimin só esperava que ele não estivesse tentando fazê-lo passar por um suspeito.
— Tenho certeza de que alguém colocou aí. — ele disse por fim.
— O local está sendo vigiado por policiais desde o dia do homicídio, ou seja, ninguém consegue entrar sem ser visto. — Seokjin informou. — Isso me faz pensar que, após cometer o crime, o sujeito teria de subir até o seu quarto, esconder o silenciador nas suas coisas e então fugir pela porta da frente, o que daria a ele um grande contratempo, pois você estava no seu quarto o tempo inteiro e o teria visto, certo?
— Onde quer chegar?
— Talvez você esteja mentindo para mim, Park, e talvez seja o dono deste silenciador. — Jimin ficou boquiaberto depois de ouvir aquela acusação. — Eu estou tentando não pensar nisso porque somos próximos, mas já que estamos sozinhos aqui, seja honesto comigo e diga o que você estava fazendo naquela noite.
— Eu já disse! Eu estava revisando os documentos da empresa, será que é tão difícil de entender?
— E como este silenciador veio parar nas suas coisas?
— Óbvio que alguém colocou! Estão tentando me incriminar!
— Quem?
— Não sei.
— Jimin... — ele suspirou. — Para que o assassino conseguisse colocar isto na sua gaveta, ele teria de voltar à cena do crime, mas sabemos que isso não aconteceu porque em poucos minutos a sua casa foi isolada pela polícia.
— Quem garante que ele não voltou? Se ele conseguiu armar tudo isso, pode ter pensado também em me incriminar.
— Pela fotografia do crime, o assassino não sabia que você estava em casa, então não teria como ele pensar em implantar isso nas suas coisas sem um planejamento prévio.
Jimin estava muito chocado para pensar direito. Ele não podia acreditar que Seokjin estava tentando fazê-lo parecer um suspeito depois de vê-lo em desespero pelo ocorrido. Tudo bem que isso não declara inocência, mas Seokjin era um amigo próximo da família e deveria saber mais do que ninguém que Jimin nunca tomaria essa atitude.
— Você me conhece há muito tempo, deveria saber que eu odeio a ideia de ser o herdeiro de tudo. Acha que eu mataria os meus próprios pais para ter de passar pelo que estou passando agora? Eu nunca quis estar no lugar do meu pai e com a morte dele eu estou sendo praticamente forçado a isso.
Depois de Jimin jogar tudo para fora, houve um instantâneo silêncio. Seokjin estava sendo cauteloso desde o início em respeito a amizade deles, mas Jimin podia imaginar o que ele estava pensando agora.
Como se não bastasse lidar com o fardo de administrar a empresa, agora tinha de aguentar acusações sem fundamentos, isso porque ele era a única testemunha. Uma injustiça! Pensou.
— Eu não matei os meus pais, mas se você não quer acreditar em mim só porque encontrou isso nas minhas coisas não é problema meu. — Jimin desabafou. — A polícia disse que o assassino implantou falsas provas para distrair todo mundo, e ao invés de cogitar isso, você me trouxe até aqui para me acusar.
— Estou apenas analisando minhas opções.
— Você está praticamente me acusando, Seokjin! — ele refutou. — Saiba que se eu tivesse cometido o crime, a primeira coisa que eu faria seria fugir e não chamar a polícia.
— Jimin, eu poderia simplesmente ter pegado essa prova e analisado sem você saber, mas eu estou te comunicando porque preciso entender todas as inconsistências. — desta vez ele não falou como um oficial da polícia. — O ângulo em que a arma foi disparada pelo assassino não condiz com a posição que você nos deu. Este silenciador estava na sua gaveta, o que significa que alguém o colocou lá após cometer o crime. Mas, então, eu me pergunto: como você não viu nada já que estava no quarto o tempo inteiro?
Silêncio.
— Você disse que desceu as escadas e encontrou um sujeito parado próximo do piano, mas de acordo com o relatório investigativo o tiro foi disparado da escada, o que sugere que o assassino estava no andar de cima. — Seokjin explicou calmamente. — Não faz sentido ele ter entrado pela porta de serviço, ido até a escada, atirado nos seus pais e ficado próximo do piano esperando você descer. O que ele ganharia com isso, afinal? Contratempo?
— Seokjin, será que é tão difícil de entender que ele quer me incriminar? — ele refutou, deixando-o mudo. — Tudo isso faz parte do plano dele. Quem quer que seja essa pessoa, ele não me matou porque me queria como suspeito para livrar a pele dele.
Jimin ainda não sabia quem era, mas ele suspeitava de uma única pessoa: seu tio. Dongyul tinha um desejo compulsivo por ser o sucessor do irmão, mas isso nunca se tornaria possível se Park Chungho não estivesse fora de seu caminho. Portanto, nada mais prático do que contratar um assassino de aluguel para executar o serviço e derramar toda a culpa nas costas de Jimin, fazendo-o parecer o único suspeito.
Todas essas ideias passaram pela cabeça de Jimin quando ele finalmente se deu conta de que tudo parecia estar conspirando contra ele. Se alguém queria prejudicá-lo, Jimin sabia exatamente seu nome, status e endereço.
— Dongyul — Jimin disse, deixando Seokjin estranhamente intrigado. — Ele quer me ver fora da empresa a todo custo. Se alguém foi capaz de pagar para matar os meus pais essa pessoa é ele.
— Esta é uma acusação muito séria...
— Não importa, apenas investigue. Eu tenho certeza que ele está metido.
Seokjin não disse nada desta vez, mas sua fisionomia expressou um leve interesse. Ele poderia simplesmente cogitar que haviam dois silenciadores: aquele que fora implantado na gaveta de Jimin e o outro que fora usado pelo assassino na hora do crime. No entanto, Seokjin preferiu não verbalizar o seu pensamento, pois algo disse a ele que o criminoso escondeu coisas a mais pela casa.
Se estiver certo, eles correm o risco de estarem caindo em uma armadilha, principalmente se estiverem próximos de uma escuta. Diante desse pensamento, Seokjin se arrependeu amargamente de o ter levado até ali para mostrar o objeto que encontrou, pois o assassino podia estar ouvindo agora mesmo.
Depois de cair a sua ficha, portanto, ele disse:
— Vamos conversar na delegacia, aqui não é um bom lugar.
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Oii meus amores, como vocês estão? Eu demorei muito pra atualizar este capítulo pq surgiu tantos compromissos que eu achei que demoraria muito mais pra postar.
Mas enfim... Aqui estou eu! O cap ficou bem curtinho pra fazer jus ao shortfic na descrição haha. Espero que tenham gostado da atualização <3
Deixei muitas pistas pelo caminho, então prestem muita atenção. Como estamos na reta final de killer, a partir de agora muitas coisas vão surgir... respostas... novas pistas... sentimentos... decepções.... FOCO!
Enfim, se cuidem direitinho e bebam bastante água! Beijinhos <3
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