[CAPÍTULO 09]
Jimin nunca se sentiu tão inquietante como agora. Por algum motivo, saber que estava prestes a encontrar o novo detetive naquela manhã não o confortou muito. Ele deveria estar tranquilo quanto a isso, pois Seokjin era visto por muitos como um membro da sua família.
No entanto, a sensação de tranquilidade passou longe do que ele de fato estava sentindo agora.
Levou apenas alguns minutos para Jimin sair do carro e atravessar a rua que levava para a delegacia. Havia uma faixa de luz ainda acesa na fachada principal. Jimin entrou no prédio com um espesso receio, ouvindo um coro de murmúrio vindo de um grupo de policiais. A movimentação não era muita, mas ele, no entanto, continuou se sentindo nervoso.
Um policial fardado estava mexendo no celular dentro de uma cabine. Jimin se aproximou dele enquanto mantinha o olhar atento em seu rosto, esperando ser retribuído. Com sucesso, o policial moveu os olhos na direção dele, depois guardou o aparelho no bolso traseiro da calça.
– Bom dia. – Jimin o cumprimentou. – O detetive Seokjin está?
– Está. – disse. – Quem gostaria?
– Park Jimin. Ele sabe quem sou. Foi ele, aliás, quem me pediu para vir hoje.
– Espere um momento.
O policial fisgou o telefone sobre a mesa e discou alguns dígitos. Nesse intervalo de tempo, Jimin pôde sentir os olhares nada sutis sobre ele, examinando-o, mas ele não retornou a atenção. Tudo o que esperava era encontrar Seokjin, passar as informações necessárias e então dar o fora dali.
– Ele disse que você pode entrar. – o policial informou. – Fica no corredor à esquerda.
Jimin balançou a cabeça em agradecimento e então seguiu na direção que lhe foi instruída. Ele virou o corredor à esquerda, onde se deparou com uma porta semiaberta. Impresso nela, havia um molde de identificação com o nome de Seokjin. Sabendo que era ali, ele bateu um par de vezes na porta antes de empurrá-la, apenas para avisar sobre a sua chegada.
Seokjin estava sentado atrás de uma mesa, havia um painel de investigação na parede ao lado e um conjunto de pastas sobre a mesa. Ele usava um longo casaco cinza e seu cabelo estava puxado para trás. Assim que Jimin colocou o corpo para dentro da sala, ele levantou o olhar em sua direção.
– Olá, Jimin. Entre.
Ele fechou a porta antes de entrar totalmente e virar-se para Seokjin. A partir do pouco que sabia sobre ele, Jimin supôs que a expressão em seu rosto não era nada amigável, pelo menos naquele momento. Quem estava na sua frente era um oficial da polícia, não um amigo da família.
– Por favor, Jimin, sente-se. – ele o convidou com um suave gesto.
Após se acomodar na cadeira que lhe foi oferecida, Jimin perguntou:
– O que o senhor gostaria de falar comigo?
– Antes de tudo, eu gostaria de dizer que sinto muito pela tragédia que aconteceu aos seus pais. Não posso fingir que esse caso não se tornou um desafio para mim. Trabalhar em um caso que envolve amigos próximos é uma tarefa delicada, mas estou disposto a lidar com isso, e acredito que você também.
Jimin balançou a cabeça em um sim, mas não disse nada em acréscimo. Mesmo em silêncio, Seokjin pescou o lampejo de uma mágoa no fundo de seus olhos.
– O detetive Chul me transferiu esse caso ontem, então hoje eu comecei a ler as informações que ele já havia recolhido. – disse Seokjin. – Mas, até o momento, não há nada que possa nos ajudar a encontrar o suspeito. Por isso quero que relate mais uma vez tudo o que viu naquela noite, incluindo os detalhes do assassino.
– Eu já dei todos os detalhes à polícia. Está tudo anotado aí.
– Para fortalecer o seu testemunho, preciso que conte novamente. – Jimin suspirou. – A memória é uma arma poderosa, então você está sujeito a esquecer algum elemento e no outro dia lembrar. Tenho em mente que o detetive Chul não lhe fez as perguntas corretas.
Depois de um minuto de silêncio, Jimin pensou em retrospectiva e lembrou-se do que aconteceu naquela noite. Todos os detalhes vívidos retornaram à sua cabeça.
– Eu estava no meu quarto quando ouvi os tiros. – ele começou. – Meus pais estavam caídos em uma poça de sangue quando desci as escadas. O cara estava parado próximo do piano. Ele usava roupas pretas, tinha uma máscara estranha no rosto e devia ter 1,78 de altura. Assim que ele me viu, deu as costas e saiu.
– Em nenhum momento ele fez menção de atirar em você?
– Não.
– Como pode ter certeza da altura dele?
– Não tenho. Supus esse tamanho porque ele parecia ser um pouco maior que eu.
No instante seguinte, Seokjin abriu um documento e o analisou. Jimin imaginou que ele estava averiguando o relatório com o seu primeiro relato na tentativa de encontrar algum detalhe importante que possivelmente passou despercebido.
– Você disse que o sujeito saiu pela porta da frente, correto? – Jimin confirmou com um aceno de cabeça. – Mas de acordo com o documento do imóvel, a porta é codificada para ser destrancada apenas com o código de segurança, que por sinal é a digital de vocês.
– Sim, isso é verdade.
– Então a porta estava aberta quando o sujeito cometeu o crime?
– Não me lembro disso.
– É importante que se lembre, pois esse detalhe faz toda diferença. – Jimin ficou em silêncio. – As paredes são a prova de som, então isso explicaria o porquê de os vizinhos não terem ouvido o barulho dos tiros. Mas se a porta estava fechada, o assassino precisaria da sua digital para abri-la.
– Eu ainda não entendi onde você quer chegar. Por que isso importa? É só uma porcaria de porta.
– Eu vou ser um pouco mais específico. – ele disse. – Os seus vizinhos relataram que não ouviram nada. Para que isso ocorresse, a porta deveria estar fechada para que o som não se propagasse. No entanto, você disse que ele deu as costas e saiu, o que me convém dizer que a porta já estava aberta. Então, a minha pergunta é: por que ninguém ouviu nada?
Jimin ficou confuso a princípio, mas logo entendeu onde ele queria chegar com aquela informação. Para ser honesto, ele não conseguiu prestar atenção na porta, pois tinha ficado com os pensamentos a mil. Sua única e exclusiva preocupação naquela hora era salvar os seus pais. Se o assassino tinha intenção de fugir ou não, já não era problema seu.
– Acho que estava aberta. – Jimin supôs, não com muita certeza. – Eu não prestei atenção nesse detalhe.
– Você conseguiu perceber se ele usava luvas?
– Sim. Eram pretas.
– Em qual posição ele estava quando você o encontrou?
– Ele estava próximo do piano, virado de frente para mim.
– De acordo com a cena do crime, os tiros foram disparados da escada. – ele recolheu umas fotografias do envelope. – Você ouviu algum barulho no andar de cima?
– Não. Lá tem sensores de presença. É impossível ele ter desativado os sensores sem passar pela janela, porque o aparelho fica na sala do meu pai, perto do cofre. E se ele passasse, obviamente o alarme iria disparar.
– Então isso significa que ele já estava dentro da casa. – Jimin fez que sim. – A única dúvida é como ele entrou. Nós pesquisamos por sinais de arrombamento, mas não encontramos nada. Ou esse sujeito é perfeccionista demais, ou a nossa observação está equivocada.
– Não é possível que ninguém tenha visto nada.
– Infelizmente, tudo o que temos é o seu relato. Por isso é tão importante que se lembre dos mínimos detalhes.
– Acontece, Seokjin, que eu não consigo me lembrar de tudo. Eu estava assustado na hora. Tudo o que fiz foi correr para pedir ajuda quando ele me deu as costas. Juro que não dei a mínima se ele estava fugindo ou não.
Sem perder um segundo, Seokjin deslizou outra foto para perto dele, dessa vez era de uma arma.
– O legista encontrou duas balas calibre 38 no corpo de seus pais, geralmente usadas nesse tipo de arma. Ela lhe parece familiar?
Jimin ficou arrepiado da cabeça aos pés. Em apenas uma fração de segundos, ele reconheceu a pistola. Seokjin não tirou os olhos dele, sabendo que poderia ler a sua expressão diante da fotografia.
– Meu pai tem uma arma parecida. – ele disse, encarando-o. – Ele costumava deixar dentro do cofre que fica no escritório dele.
– Você percebeu se seu pai a pegou naquela noite? – Jimin negou com um balançar de cabeça. – Então o assassino sabia a senha do cofre?
– É impossível. Ninguém além do meu pai tinha acesso a senha.
– Sinceramente, eu estou começando a cogitar que o seu pai não guardava os segredos da família. – Seokjin opinou. – O assassino conseguiu entrar na casa sem ser visto, descobriu que havia uma arma no cofre e sabia a senha para desbloquear. Tudo gira em torno de um possível membro da família, ou alguém muito próximo a ele.
– Dongyul. – disse Jimin de repente. – Ele era muito próximo do meu pai e estava por dentro de tudo. Não duvido que ele tenha descoberto essas informações.
– Vou solicitar uma entrevista com ele. – falou. – Assim como também vou interrogar Kim Namjoon.
Naquele momento, uma faísca de surpresa aterrissou nos olhos de Jimin. Em menos de um segundo, ele esboçou sua oposição.
– Por que o Namjoon? Ele é de confiança. Nunca faria nada para prejudicar o meu pai.
– Não posso interrogar apenas aqueles que demonstram suspeita. O Namjoon se tornou um aliado poderoso nos negócios da empresa, então eu gostaria de conhecer suas intenções. Além do mais, não custa nada confirmar os álibis. – aproveitando-se de sua confusão, Seokjin prosseguiu. – Devo lhe adiantar que não será apenas o Namjoon. Pretendo interrogar todos os funcionários daquela empresa. Onde eles estavam na hora do homicídio, quem eram os álibis e a relação que tinham com o Sr. e Sra. Park.
Jimin ficou em silêncio. Não podia sentir-se ofendido com a conduta de Seokjin, até porque ele estava atrás da mesma coisa que Jimin. Mesmo sabendo que Seokjin e Namjoon foram namorados no passado, Jimin tinha consciência que Seokjin não se deixava abalar por decepções amorosas. Por isso tinha certeza que a abordagem dele era unicamente técnica, nada pessoal.
– Bem, isso é tudo. – finalizou Seokjin enquanto recolhia as fotografias da mesa. – Quando eu tiver novas informações, entro em contato com você.
– Ok, obrigado. – ele sorriu em gratidão.
Com um ligeiro movimento, Jimin levantou-se da cadeira, mas parou assim que se lembrou de algo. Seokjin o encarou por baixo.
– Seokjin, tem problema se eu conversar com pessoas desconhecidas? – o detetive pareceu confuso com sua pergunta. – O detetive Chul disse que eu devia tomar cuidado porque o assassino pode estar atrás de mim.
– Bem, se ele estiver atrás de você, com certeza deve ser com outras intenções. – por algum motivo, Jimin se sentiu aliviado por ouvir aquelas palavras. – Ele teve a chance de te matar e não o fez. Mas, de qualquer forma, é melhor se prevenir. Não estou dizendo que você deve se afastar de todas as pessoas que não conhece, mas saiba até que ponto você deve deixar que elas interfiram em sua vida. Cuide-se para não falar demais.
– É, eu sei disso. – Jimin garantiu. – Obrigado por isso. Estou feliz que você tenha sido o escolhido para o caso.
– Me sinto da mesma forma. – ele sorriu. – Se depender de mim, esse cara vai ver o sol nascer quadrado o mais rápido possível.
Seokjin sempre demonstrou confiança em seu serviço, não era à toa que seu nome ocupava o primeiro lugar no ranking de melhor perito de Seoul. Jimin estava seguro que o caso começaria a ter resultados a partir de agora, cada dia o levando para mais perto da verdade.
– Bem, eu vou aguardar sua ligação. – disse Jimin em despedida.
– Eu vou levá-lo até a porta.
– Não se preocupe com isso. – ele negou quando Seokjin ameaçou levantar. – Eu sei o caminho.
– Tem certeza?
– Absoluta. Eu te ligo mais tarde, está bem? – Seokjin confirmou com um chacoalhar de cabeça.
Com isso, ele deu as costas para Seokjin e deslocou-se para fora da sala. Jimin estava se sentindo mais aliviado por saber que não tinha perigo estender a sua aventura com Jungkook um pouco mais, assim como não o estaria colocando em risco. Na verdade, Seokjin não disse em claras palavras que ele estava seguro, mas o conselho dele serviu para alavancar o seu interesse em prosseguir com os encontros.
▸▸◂◂
– Está arrumado assim porque vai sair com sua presa? – desdenhou Taehyung, parado na porta do quarto de Jungkook.
Seu irmão estava terminando de abotoar a calça quando o encarou à distância, quase como se estivesse a ponto de arremessar o abajur na cabeça dele. Taehyung estava com um ombro apoiado no batente enquanto sorria maliciosamente. Nada do que Jungkook dissesse o faria parar de sorrir daquele jeito.
– Já conversamos sobre isso. – Jungkook argumentou. – Vamos jantar e pronto. Você não precisa saber nada além disso.
– Desculpe estragar o seu jantar, mas se não me falha a memória, o nosso tio está querendo te matar. – ele relembrou. – Quer mesmo continuar perdendo tempo com esse cara ao invés de ir atrás de quem te contratou? Você precisa cobrar o seu dinheiro.
– Relaxa. – ele manteve a linha de defesa. – O nosso encontro já está marcado. Amanhã às 08:00.
– Você sabe o que eu penso sobre a sua aproximação do Jimin, não sabe?
– Claro, você sempre faz questão de me lembrar. – seu tom inclinou-se próximo de sarcasmo. – Mas não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.
Taehyung bufou.
– Caramba, você não cansa de ser cabeça dura. – ele disse em uma voz cheia de frieza. – É tão difícil me escutar pelo menos uma vez na vida?
Sem dizer nada, Jungkook deslizou para perto dele e deu um par de tapinhas na sua bochecha direita. Seu gesto fez com que os cantos da boca de Taehyung se apertassem.
– Eu agradeço o seu apoio, mas é hora de agir. – disse Jungkook, vendo o seu irmão franzir a testa. – Não me olhe assim, irmãozinho. Estou apenas fazendo as tarefas de casa.
– Você está se colocando em perigo. É diferente. – corrigiu.
– É necessário. – disse secamente. – Sem ele, não vou chegar aonde quero.
Taehyung bufou, indignado, mas dessa vez não rebateu. Ele apenas continuou o encarando, sem qualquer vontade de insistir no assunto. Jungkook sabia sobre as situações de risco, o que às vezes assustava Taehyung, pois ele estava certo que o seu irmão se deleitava dessa sensação.
– Tudo bem, chega de dar broncas. – Taehyung disse, levantando as mãos em rendição. – Agora me diz, o que você foi fazer na casa dele ontem?
– Colocar meu plano em ação.
Taehyung ficou brevemente pensativo, então disse:
– A escuta? – Jungkook sorriu em confirmação. – Como você fez isso sem ele perceber?
– Implantei na parte interna do relógio. Ele não vai desconfiar de nada.
A expressão de Taehyung se contorceu em surpresa. Ele gostaria de dizer a Jungkook que ele tinha cometido um erro, mas não podia negar que a sua ideia foi assustadoramente boa. Diante disso, Taehyung esboçou um sorriso fascinante.
– Diz aí, o que você descobriu? – ele perguntou a Jungkook.
Se divertindo com a sua curiosidade, Jungkook apenas deu a volta por ele e saiu do quarto, indo em direção a cozinha. Taehyung o seguiu logo depois, ainda resmungando em seu pé de ouvido.
– Qual é, não vai me contar o que descobriu? – insistiu. – Você não colocou aquela escuta à toa. Desembucha.
– Ele esteve com o novo detetive hoje. – Taehyung ficou quieto após o que ele disse. Jungkook abriu a geladeira e pescou uma latinha de cerveja. – Ainda não encontraram provas contra mim, mas tudo indica que esse detetive está bolando um plano.
– Que tipo de plano?
– Não sei ainda, talvez ele queira me atrair para uma emboscada. – Taehyung ficou pensativo. – Quando eu quero jogar verde, não vou direto ao ponto, prefiro começar pelas beiradas. É isso que ele deve estar fazendo.
– Ok, mas ele não tem provas ainda.
– Por enquanto, não. – falou. – Mas isso não significa que ele não possa criar falsas provas. A polícia é esperta. Se ela não alcança o suspeito, então o atrai até ela.
– Como você vai saber que não está indo para uma emboscada?
Jungkook suspirou.
– É por isso que eu coloquei a escuta. O que eles conversam em particular tem mais verdade do que é dito ao público na televisão. – Taehyung concordou. – E, diante do que ouvi hoje, tenho certeza que o Jimin não desconfia de nada.
Enquanto Taehyung refletia sobre aquilo, Jungkook rompia o lacre da lata para então tomar a sua cerveja. Ele bebeu tudo em menos de dez segundos, em seguida jogou a lata vazia na lixeira. Com tudo nos conformes, ele fisgou a chave da moto e o capacete, em seguida se dirigiu a porta.
– Ei! – Taehyung o chamou e então o viu se virar. – Eu estou duro, cara. Tem como me descolar um dinheiro?
– O que você fez com todo aquele dinheiro que eu te dei semana passada?
Jungkook ficou indignado quando Taehyung coçou a nuca, pois ele sabia exatamente qual seria a sua resposta a seguir.
– Essas garotas cobram caro. – ele argumentou.
– Então evite gastar com elas. – Jungkook rebateu. – Não vou ficar bancando você e suas fantasias. Trate de controlar o seu pau.
Em silêncio, Taehyung apenas concordou, quase risonhamente. Ainda indignado, Jungkook enfiou a mão no bolso e trouxe a sua carteira. Os olhos de seu irmão brilharam quando o viu pegar um pequeno bolo de dinheiro e em seguida esticar em sua direção. Taehyung pegou as notas da mão dele cheio de entusiasmo.
– Você é o melhor irmão que existe. – Taehyung o elogiou, mas Jungkook não levou a sério, apenas revirou os olhos.
– Não vá se acostumando, seu folgado.
Taehyung riu, mas isso não tirou o seu irmão do sério. Jungkook somente deu as costas para ele e conduziu-se até a sua moto na calçada. Enquanto Jungkook montava na moto, Taehyung estava na entrada da porta contando o dinheiro que recebeu.
– Veja só quem está aqui. – disse uma voz na penumbra da noite.
Através do espelho retrovisor, Jungkook enxergou a silhueta de Yoongi. Ele estava usando apenas uma jaqueta vermelha, permitindo mostrar os rastros da tatuagem de dragão. Entre os seus lábios havia um cigarro recém aceso. Jungkook revirou os olhos mentalmente para a sua aparição, mas por fora se manteve inexpressivo.
– Algo está me cheirando mal. Será que o meu coleguinha está aprontando? – Yoongi o provocou conforme se aproximava por trás.
– Eu sei que você está louco para se ajoelhar na minha frente, mas vai ter que entrar na fila. – Jungkook rebateu com ironia.
Sem nada a acrescentar, ele girou a chave na ignição e o brilho do farol arremessou seu feixe de luz para o caminho adiante. Antes de acelerar o motor, um corpo se lançou na frente do guidão, bloqueando a sua passagem.
– Está indo atrás de Park Jimin? – perguntou Yoongi, fazendo uma crescente fúria nascer em Jungkook. – Eu não sabia que você era tão próximo de pessoas da alta sociedade.
– Vai se foder.
Yoongi gargalhou antes de falar:
– Eu disse a você que a partir de agora eu vou ser a sua sombra. Não interessa onde você esteja, uma hora ou outra eu acho um bom motivo pra acabar com sua participação no torneio. Então, é melhor dormir com um olho aberto.
Jungkook olhou para Taehyung ligeiramente, o vendo com um olhar assombrado no rosto. Mesmo que ele tivesse ignorado aquela ameaça, algo em seu interior pareceu incendiar de raiva. Jungkook não gostou de ser intimidado, especialmente por Yoongi. Seu ego não o permitia ser confrontado por ele, ainda mais tendo em vista que Yoongi era um adversário sem sucesso.
No entanto, nesse momento, ele não quis dar a Yoongi o sabor da vitória, por isso desdenhou de sua suposição com um sorrisinho malicioso. Se demonstrasse raiva ou quaisquer emoções semelhantes, com certeza o instinto competitivo de Yoongi saberia que ele tinha ficado irritado com a menção daquele nome.
Para ser honesto, Jungkook gostaria de saber como ele ficou sabendo sobre Jimin, mas a resposta parecia mais óbvia do que ele pensava. Jimin esteve presente na festa de boas-vindas e também o visitou na grade do torneio para aceitar o seu convite, então era esperado que muitos olhos observadores estivessem à espreita.
Sem dizer nada, Jungkook apertou o acelerador e despachou a moto para a estrada adiante, fazendo Yoongi pular para fora de seu caminho. Ele resmungou um xingamento às suas costas, mas Jungkook ignorou a sua queixa e em seguida soltou fumaça pela descarga por pura implicância.
▸▸◂◂
Jimin nunca imaginou estar sentado na garupa de uma moto. Ele se ofereceu para ir com o seu carro, mas Jungkook insistiu em levá-lo com a sua moto. Achando aquela proposta interessante, Jimin acabou aceitando o convite.
Eles estavam indo agora para um restaurante próximo do bairro onde Jimin morava, quase que na beira da estrada. Jungkook não gostava de estar em lugares com o tráfego agitado, por isso elegeu um restaurante não muito distante, mas que fosse pacato.
Jungkook estacionou a moto em uma área isolada e desligou o motor. Jimin se deu conta que estava muito próximo dele quando a sensação de adrenalina começou a reduzir. Ele deu um pulo para fora da moto e arrumou alguns fios de cabelo que bagunçaram durante o percurso. Jungkook fez o mesmo logo depois e apoiou o capacete no guidão.
Olhando acima, Jimin enxergou uma placa na fachada do restaurante com o nome do estabelecimento. Pelo forte cheiro de comida, ele deduziu que o cardápio lhe daria água na boca. Não havia almoçado justamente para aproveitar o jantar. Após um momento de análise, ele viu Jungkook o chamando com um gesto de mão, então logo o seguiu.
– Por que escolheu esse lugar? – Jimin perguntou, realmente curioso.
– Eu gosto de ficar aqui. É quieto. – ele disse. – Sei que não chega perto dos restaurantes requintados que você deve estar acostumado a frequentar, mas a comida é muito boa.
– Acredite ou não, eu odeio sofisticação. – Jimin acrescentou, sem parecer ofendido com a observação dele.
Um minuto depois, eles entraram no restaurante. Jungkook segurou a porta aberta para ele. Não havia tantas pessoas presentes, mas aquelas que estavam acomodadas em suas mesas não notaram a presença deles. Jungkook caminhou em direção a uma mesa que ficava próxima da janela e arrastou uma cadeira para Jimin, que demonstrou surpresa pela sua atitude.
– Que cavalheiro. – ele o elogiou com um sorriso deslumbrante e em seguida sentou-se.
Jungkook deu uma risadinha com o seu comentário antes de se sentar de frente para ele. Havia apenas um cardápio na mesa, então Jungkook roubou o cardápio da mesa vizinha, a qual estava vazia, e entregou para Jimin. Mesmo que aquela atitude fosse vista de forma errônea por outras pessoas, Jimin achou graça.
– Peça o que quiser. É por minha conta. – Jungkook disse.
– Acho mais justo dividirmos os gastos.
– Apenas peça, Park. – ele sorriu, deixando um canto da boca mais elevado. – Eu cuido do resto.
Jimin o encarou nos olhos, sem qualquer intenção de se desviar dele. Naquele momento, Jimin se lembrou dos beijos que trocaram no sofá de sua casa. Jungkook era tão quente, predador e fascinante que ele chegava a duvidar de sua existência. Por um fiasco, eles não acabaram no quarto.
– Boa noite, rapazes. O que vão pedir? – uma garçonete perguntou assim que alcançou a mesa deles.
Jimin passou o olho no menu e pesquisou suas opções. Ele requisitou o seu pedido e devolveu o cardápio à mesa enquanto esperava Jungkook decidir entre um prato bem encorpado com molho picante ou uma comida mais vegana. Após escolher uma das opções, a garçonete anotou os pedidos e então se retirou às pressas.
Se vendo sozinho com ele, Jimin pensou em elogiar o seu visual, mas não quis parecer que estava dando mole nos primeiros segundos do encontro. Eles tinham a noite inteira para trocarem flertes, então nada mais justo do que começar aproveitando o jantar.
– Você costuma vir sempre nesse restaurante? – Jimin perguntou.
– Só quando tenho um tempo livre.
– Hmm, então você trabalha? De quê? – Jungkook demorou-se em silêncio por pelo menos três segundos.
– O torneio ocupa meu tempo. Tenho que estar lá todos os dias.
– Isso é quase como estar em um trabalho. – Jungkook riu e concordou com um balançar de cabeça. – Você parece ser alguém que tem a liberdade que sempre quis ter. Sem obrigações, sem regras, sem destino...
– Você me vê assim?
– Primeiras impressões. – ele argumentou, sorrindo. – Com o tempo a gente aprende se elas estão corretas ou não.
Jungkook estava começando a se entreter com as observações dele. Nem todas eram verdadeiras, mas ele gostaria de fazê-lo pensar que sim.
– E você, como me vê? – Jimin disparou, cruzando os braços sobre a mesa.
– Algo me diz que você é o oposto de mim. – ele sugeriu com uma dose de fascínio. – Você é regido por regras, obrigações e um destino que lhe foi dado. Você gostaria de viver do seu jeito um pouco mais.
Jimin ficou encarando-o, realmente surpreso pela sua resposta. Naquele momento, ele se sentiu como um livro aberto. Aquela suposição o deixou momentaneamente travado, pois Jungkook havia acertado em cheio.
– Você é um bom observador. – Jimin comentou com um sorriso simpático.
– Meu irmão costuma dizer que eu tenho um dom para isso.
– Eu gostaria de conhecer os seus dons. Não tem nenhum problema, tem?
– Parece que temos algo em comum, pois eu também quero conhecer os seus.
Antes que Jimin pudesse acrescentar em cima de seu comentário, a garçonete retornou com os pedidos. Ela colocou os pratos e duas garrafas de cerveja próximos a eles. Após uma pequena reverência, a moça partiu. Foi Jungkook quem pegou a garrafa recém-aberta e serviu.
– Não se assuste, cerveja no jantar é maravilhoso. – Jungkook mencionou depois de vê-lo tão concentrado na garrafa.
Sentindo-se flagrado, Jimin pigarreou e, em sua defesa, disse:
– Eu nunca experimentei cerveja no jantar. Estou curioso.
– Fico feliz em saber que eu serei o primeiro a te mostrar isso. – Jimin se permitiu abrir um leve sorriso, especialmente quando ele lhe entregou a taça com o líquido ainda espumando na superfície.
– Você falou sobre o seu irmão. – Jimin disse, tomando um pequeno gole de sua cerveja. – Ele mora com você?
– Sim.
– E os seus pais?
Jungkook demorou cerca de dois segundos para respondê-lo.
– Nós nos tornamos adultos muito cedo. – ele contou. – O nosso pai morreu quando ainda éramos adolescentes. Não conhecemos nossa mãe. Tivemos que mergulhar no mundo sem rumo. Eu me tornei quem sou hoje por causa daquilo que não tive.
Jimin parou de mastigar o seu gimbap na mesma hora. Ele tentou não parecer tocado pelo que ouviu, mas algo naquela história se assemelhava à sua. Jungkook também havia perdido o pai, mas diferente de Jimin, ele não teve que lidar com os compromissos futuros. Pelo menos foi isso que Jimin pensou.
Mas, na perspectiva de Jungkook, eles tinham muita coisa em comum, inclusive o compromisso parental. Jungkook estava cumprindo com o legado deixado por seu pai, portanto a liberdade que Jimin supôs que ele tinha na verdade não existe.
– Eu entendo o que você sente. – disse Jimin de repente. – Meu pai me deu uma tarefa difícil e eu nem sei se tenho disposição para seguir adiante com o projeto dele.
– O que você gostaria de fazer?
Jimin parou para pensar por um segundo, mas a resposta já estava na ponta da língua.
– Eu queria viver sem obrigações. – Jungkook ficou fascinado pela sua resposta, mas se controlou para não demonstrar isso tão bem. – Parece que todos os dias é o mesmo dia. Não sinto que estou vivendo, mas sobrevivendo.
– Quando tenho essa sensação, me arrisco a fazer aquilo que nunca faria em sã consciência. – ele disse como se fosse óbvio demais.
Jimin riu, mas sem humor.
– Acontece que eu não posso fazer todas essas loucuras. Minha mãe costumava dizer que o peso das minhas consequências sempre vai cair no sobrenome da família.
– E você está feliz com a vida que está levando?
– Não.
– Então faça alguma coisa para mudá-la. – ele o aconselhou.
Jimin ficou imóvel brevemente. Jungkook parecia ser tudo aquilo que ele apreciava. Não havia limites, nem barreiras em seu modo de viver. E, honestamente, Jimin concordava com a opinião dele. Não fazer nada é mais frustrante que quebrar a cara ao tentar.
Até o momento, Jungkook não invadiu a sua vida com perguntas desagradáveis, ele queria conduzir a conversa de acordo com o que Jimin estava lhe oferecendo. Se achasse a oportunidade, com certeza faria o seu jogo funcionar.
– Você não estava errado. Beber cerveja no jantar não é tão ruim assim. – Jimin comentou, apenas para mudar o foco da conversa. Percebendo isso, Jungkook sorriu.
– Eu tenho um bom gosto. – ele salientou em um tom de brincadeira.
– Pode apostar que sim. – Jungkook pescou uma insinuação por trás daquelas palavras.
Sorrindo, Jungkook olhou para os lábios dele, mas Jimin o provocou tomando um gole de cerveja pelo gargalo. Jungkook entendeu aquele gesto como um convite para repetir o segundo round. No entanto, o ambiente não era apropriado para isso e ele também queria deixá-lo com mais vontade.
Minutos depois, eles já tinham devorado tudo. Jungkook pediu dois milkshakes para acrescentar a sobremesa. Jimin contou sobre a sua desastrosa queda na frente dos negociantes de seu pai. Jungkook, por outro lado, relatou sobre o dia em que foi fazer as suas tatuagens e encontrou uma mulher pelada sendo tatuada.
A conversa com Jungkook se desenrolou tão naturalmente que na hora Jimin não percebeu que o restaurante estava começando a ficar vazio. Mesmo não o conhecendo muito bem, Jimin sentiu-se confortável na presença dele. Enquanto conversavam e riam, Jimin esqueceu-se de tudo ao seu redor, era como se nada existisse além de eles dois.
– Diz aí, qual foi a maior loucura que você já fez? – Jungkook perguntou após recuperar o fôlego de uma risada.
– Eu viajei com um passaporte falso quando era menor de idade. Meu pai quis me estrangular no dia que descobriu.
– Você chama isso de loucura? – Jungkook perguntou com um sorriso no rosto, vendo Jimin arregalar os olhos para a sua pergunta.
– Óbvio! Eu poderia ter sido preso. – ele refutou em sua defesa. – Agora diz você, qual foi a sua maior loucura?
Jungkook gesticulou o indicador para que ele se aproximasse. Jimin debruçou o tronco sobre a mesa, ficando a centímetros de distância de tocar o rosto de Jungkook. Quem estivesse olhando à distância saberia que eles estavam dividindo um segredo.
– Eu já transei dentro de uma igreja. – confessou.
Jimin esbugalhou os olhos e cobriu a boca na tentativa de abafar uma risada.
– Você o quê?
– Qual é, você nunca fez sexo em lugares inusitados? – ele sorriu de forma sugestiva.
– Não. – disse. – Mas fazer dentro de uma igreja é bizarro.
– Você não tem vontade de se arriscar?
– Está me chamando para fazer sexo dentro de uma igreja?
Jungkook deu a ele um sorriso cafajeste.
– Não, mas eu posso te apresentar outros lugares. – ele estava começando a colocar o seu plano em ação.
Entendendo o jogo dele, Jimin respondeu:
– O que acha de irmos lá pra fora?
Muitos poderiam interpretar aquela pergunta como uma tentativa de se esquivar da proposta, mas Jungkook a enxergou como uma brecha. Em comparação a ele, Jimin era mais recatado, criterioso e comportado. Jungkook, por outro lado, se divertia mais com a indisciplina.
Momentos depois, Jungkook foi o primeiro a se levantar, sendo acompanhado por Jimin instantes depois. Após pagar a comida, eles deslizaram para fora do estabelecimento. Quando uma rajada de vento frio tocou a pele de Jimin, ele soube que já era tarde. Inclusive, ele sugeriu ir para fora apenas para enfatizar a sua vontade de estar sozinho com Jungkook.
Jimin foi rapidamente surpreendido pelas mãos de Jungkook em sua cintura. Ele o empurrou com cuidado na direção de sua moto, fazendo o bumbum de Jimin grudar no tanque robusto. Surpreso e ao mesmo tempo enfeitiçado, Jimin sorriu para a sua atitude, aprovando-a.
Com um suave impulso, Jungkook levantou o queixo dele e colou as suas bocas. Ele o segurou pela nuca enquanto suas línguas se enroscavam uma na outra. Mesmo tendo sido pego de surpresa, Jimin não reduziu o ritmo, nem recuou a cabeça. Instantaneamente, Jimin sentiu sua bunda ser espremida pela mão dele, o fazendo esquentar por dentro como um caldeirão.
Jimin não deu a mínima se alguém estava vendo aquela cena, ele somente permitiu que a adrenalina seguisse seu curso. Aquele não era bem o lugar para se ter privacidade, mas isso não o incomodou nem um pouco.
Finalizando com uma mordida, Jungkook manteve os lábios nos dele, mas não foi além disso.
– Quer mesmo passar a noite comigo? – Jungkook reforçou através de um murmúrio.
Jimin fez uma careta para a sua pergunta, mas aquilo não significava que ele estava cogitando recusar. Na verdade, ele achou que tinha entendido errado.
– Onde você quer ir? – perguntou.
– Eu tenho um lugar em mente. – ele compartilhou, roubando uma rápida mordida. – Mas você não pode saber antes.
Começando a curtir aquela proposta, Jimin disse:
– Eu topo.
▸▸◂◂
Oi meus amores, dessa vez eu demorei um tempão pra atualizar, mas foi por causa da faculdade e outros contratempos que tive tbm.
Gostaria de dizer que o próximo capítulo tem lemon (rsrs) então já podem chutar aí onde vocês acham que vai rolar.
Talvez vocês estejam achando a história chatinha, acelerada ou sem sentido, mas adianto que nesse capítulo em especial eu deixei muitos spoilers no caminho, então prestem atenção em tudo.
Enfim, por hoje é só. Se cuidem direitinho e beijos na bunda! <3
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