[CAPÍTULO 08]

Uma forte tempestade estava caindo do lado de fora, o suficiente para causar uma inundação. Era possível ouvir os respingos da chuva correndo sobre o telhado da casa. Jimin estava na sala, em silêncio, enquanto refazia o esboço do planejamento estratégico em seu notebook. Ele passou a tarde inteira organizando os recursos específicos, buscando melhorar o sistema de gestão da empresa.

Após assumir o cargo de seu pai, Jimin estava certo que adotar um sistema de gestão mais eficaz poderia desenvolver resultados positivos às ações da empresa, assim Dongyul não teria o que requerer. Enquanto ele agisse como um líder responsável, seu tio não conseguiria convencer os outros afiliados a concordar com sua ideia doentia de tomar o cargo que, por direito, é de Jimin.

Com um suave movimento, Jimin fisgou sua xícara no meio daquela papelada toda, mas ela estava vazia, sem uma gota de café. Ele suspirou, pesquisando suas opções. Tomar café o ajudava a ficar acordado, mas ele não pareceu animado quando calculou a distância até a cozinha.

A passagem estava escura, exceto pelo feixe de luz do notebook. O fogo escaldante da clareira também estava empurrando um brilho alaranjado para a penumbra das passagens. Talvez fosse sinistro ficar em uma casa turva pela ausência de luz, mas Jimin gostava de estar na escuridão, pelo menos para refletir.

Aliás, havia uma viatura ao lado de sua casa, fazendo uma varredura pelo local a cada dez minutos. Apesar do violento temporal, os guardas pareciam atentos a qualquer movimento suspeito.

Jimin estava prestes a se levantar quando foi impedido pelo som da campainha. Ele olhou na direção da porta, incerto. Por um momento, não soube especular quem estava no meio de uma tempestade violenta batendo em sua porta. Talvez fosse o guarda que estava patrulhando naquela noite ou Namjoon. De qualquer modo, ele considerou melhor abrir.

Quando alcançou a porta, ele ficou dividido entre confusão e uma preocupação inquietante. Engolindo em seco, Jimin pousou a mão na maçaneta e a puxou. Imediatamente, ele enterrou um soluço de surpresa no fundo de sua garganta quando se deparou com a imagem de Jungkook.

– Jungkook?

Ele estava encharcado da cabeça aos pés. As gotas da chuva que escorriam de seu cabelo estavam pingando no final de seu queixo. Algumas mechas escuras ficaram grudadas na testa. Jimin tentou frear uma onda de fascínio, sem sucesso, e então pestanejou.

– Não vai me convidar para entrar? – Jungkook perguntou, sorrindo.

Jimin não tinha intenção de bater a porta na cara dele, mas não podia negar que foi subitamente preenchido por um pressentimento esquisito. Jungkook estava na porta de sua casa sem qualquer aviso prévio, e pior, no meio de uma tempestade. Quem é louco de sair no meio de um grande temporal para fazer uma visita? Jimin pensou.

– O que está fazendo aqui a essa hora? – ele tentou soar o mais natural possível.

– Desculpe o incômodo. Eu vim te entregar isto. – Jungkook abriu a mão, revelando os contornos de um relógio de pulso. – Você perdeu hoje cedo quando nos encontramos.

De repente, Jimin soltou o ar pela boca. Ele pegou o seu relógio de volta, sorrindo em agradecimento. A peça estava ensopada com a água da chuva e meio quente, certamente por causa da temperatura da mão de Jungkook. Jimin desconfiou que ele tinha segurado o relógio firmemente para não correr o risco de o molhar, o que acabou não dando muito certo.

– Veio aqui apenas para me entregar um relógio?

– Pensei que fosse precisar. – respondeu.

Após um barulho estrondoso de um trovão, Jimin se deu conta que Jungkook ainda estava debaixo da chuva.

– Por favor, entre.

Desse modo, ele abriu espaço para que Jungkook entrasse. Com apenas um passo largo, Jungkook mergulhou para dentro, deixando algumas impressões de lama com os seus sapatos. Antes de fechar a porta totalmente, Jimin checou se a viatura ainda estava do outro lado da calçada. O guarda no volante estava fumando enquanto olhava na direção de sua casa.

Jimin cutucou a porta e ela deslizou fechada. Virando-se, Jimin observou Jungkook retirando o casaco molhado dos ombros. Havia algo extremamente perturbador em estar perto dele, mas também sufocantemente fascinante. Ele não se moveu por um instante, depois pigarrou.

– Eu vou buscar uma toalha para você. – disse.

Jungkook olhou para ele através dos cílios. Seu rosto estava parcialmente enegrecido pela sombra da casa. Um forte relâmpago riscou o céu, enviando um súbito clarão através da janela, o suficiente para tornar mais perceptível a expressão de Jungkook. Ali, portanto, Jimin pescou o vislumbre de um sorriso pequeno nos lábios dele.

– Obrigado.

Sem dizer nada, Jimin se moveu para a lavanderia, onde escavou uma toalha na primeira gaveta. Quando retornou, Jungkook ainda estava parado no mesmo lugar, parecendo escrutinar cada objeto espalhado ao redor da sala.

– Aqui. – Jimin entregou a toalha em suas mãos, captando um sorriso discreto em gratidão. – Não ligue para a bagunça. Eu estava um pouco atarefado antes de você chegar.

– Estou atrapalhando?

– Não. – ele disse ligeiramente, não muito certo se aquilo era verdade ou não. – Eu já estava terminando de qualquer modo.

Jungkook lhe deu uma olhada meticulosa e então sorriu. Com a toalha em mãos, ele esfregou o rosto, depois os cabelos. Enquanto isso, os olhos de Jimin se moviam sobre ele, de cima para baixo, como se pudesse ver o que havia por trás de sua camisa. Esse pensamento durou um tempo, o suficiente para ele se perguntar se a barriga de Jungkook era definida tanto quanto os seus braços eram.

Sua indiscreta observação foi interrompida quando Jungkook ergueu a toalha de volta para ele, lhe devolvendo. Jimin a recolheu de suas mãos tão brevemente quanto podia.

– Você aceita uma bebida? Água? Vinho? Café? – Jimin ofereceu gentilmente.

– Não, obrigado. Eu estou ótimo.

Outro relâmpago riscou o céu escuro e logo em seguida um trovão estrondou o chão sob os pés deles. Jimin se perguntou brevemente se o guarda noturno viu Jungkook entrando na casa, uma vez que ele ainda não havia batido na porta para verificar se estava tudo bem por lá.

– Bem, eu tenho que ir agora. – disse Jungkook. – Foi muita gentileza sua ceder uma toalha para mim, mas não quero te atrapalhar.

– Espere.

Jimin não soube dizer quando ele próprio pensou naquela palavra, sua garganta apenas verbalizou automaticamente. Jungkook o olhou de um jeito que o fez se sentir invulgar. De fato, sua expressão havia ficado incerta, como Jimin esperou ver.

– O que acha de ficar mais um pouco? – Jimin perguntou, tentando parecer natural.

– Não quero te atrapalhar. Você está muito ocupado com as coisas do trabalho.

De repente, Jimin desceu a tela do notebook e o desconectou da energia. Jungkook não fingiu parecer surpreso quando o observou fazer aquilo, ele apenas o encarou com fascínio.

– Acho que não estou mais. – acrescentou Jimin.

– Oh, eu não imaginei que você quisesse tanto ficar comigo. – ele comentou entre risos.

Embora tenha sido um comentário brincalhão, Jungkook quis arrancar alguma coisa útil dele. Jimin não disse nada por um momento, apenas sorriu um tiquinho e sentou-se no sofá. Ele convidou Jungkook, através de um suave gesto, para fazer o mesmo. Após um minuto, ele finalmente sentou ao seu lado.

– Há quanto tempo está morando aqui? – perguntou Jungkook, sem parecer invasivo.

– Poucos dias. – disse. – Eu morava com os meus pais antes de vir para cá.

– Eu também morei com os meus pais durante um tempo, depois comprei uma casa para mim e meu irmão.

Jimin o encarou. Ele não tinha certeza, mas, ao contrário do que pensou, Jungkook não parecia inclinado a arrancar respostas sobre os seus pais, talvez porque já soubesse o que aconteceu, ou porque pretendia manter a intromissão de lado. Jimin, sem saber por que, sentiu-se estranhamente aliviado.

– Você tem um irmão? – perguntou.

– Sou o mais velho, mas ele age como se fosse o primogênito. – Jimin abriu um sorriso sem perceber. – Ele é incrível. Talvez um dia você o conheça.

– Eu espero que sim.

– Você não tem irmãos?

– Filho único. – por alguma razão, esse lembrete não agradou Jimin, mas ele disfarçou bem. – Meus pais quiseram ter apenas um herdeiro. A parte ruim é que eu carrego todas as responsabilidades.

– Parece que tudo tem seu lado desvantajoso.

Jungkook conhecia seu próprio jogo. Se ele fosse selvagem e estúpido, Jimin não confiaria nele, mas se usasse a gentileza e o bom humor elevado a seu favor, talvez conseguisse um ponto extra com ele.

Muitos poderiam se perguntar o porquê de ele se arriscar tanto ficando próximo de uma testemunha ocular. A resposta, no entanto, estava mais óbvia do que deveria. Honestamente, Jungkook gostaria de se afastar de Jimin, mas simplesmente não podia. Ele não tinha certeza da razão, nem mesmo agora, apenas pressentia.

Com o seu tio na cola, ao invés de fugir para longe, Jungkook optou por mudar as instruções de seu próprio jogo.

– Posso te falar uma coisa? – Jimin perguntou, ganhando o olhar dele em seguida. Jungkook balançou a cabeça em um sim. – Quando você esbarrou comigo próximo do Tavolo, confesso que me senti afetado por um momento. Talvez seja apenas gratidão por você ter salvo a minha vida, mas eu sinto que está para além disso.

Ele fez uma pausa, especialmente quando Jungkook se virou de frente para ele, mostrando-se interessado. Jimin havia deitado a bochecha na mão, apenas para servir de apoio. Ele não queria parecer louco por assumir aquilo, mas não podia negar que estava curioso para descobrir se Jungkook também nutria o mesmo interesse.

– Está tentando dizer que sente alguma coisa por mim? – perguntou Jungkook.

– Não tem nada a ver com sentimentos, mas com desejo. – confessou.

Jungkook ficou em silêncio. Tudo o que Jimin conseguia pensar era que ele, muito provavelmente, o estava vendo como um louco. Qual é, ele não podia lançar aquela maldita atração física para escanteio só porque estava sob o programa de custódia protetora. Se fosse o próximo alvo do assassino, pensou Jimin, pelo menos teria aproveitado como gostaria.

– Parece loucura, mas eu também sinto algo parecido. Um forte desejo por você. – Jungkook disparou, deslizando para perto dele. O tecido de sua calça raspou sobre o couro do sofá.

Jimin segurou a respiração. Era estranho pensar que momentos atrás ele estava tremendamente desconfiado sobre a história de Jungkook e que agora eles estavam em um bate-papo sobre atração.

– Com quantos caras você já ficou? – Jimin perguntou.

– Muitos. Mas nesse momento eu estou de olho em apenas um.

Jimin observou aqueles brilhantes olhos escuros na sua frente, enxergando neles uma partícula de seu interesse pessoal. Um misterioso sorriso surgiu nos lábios de Jungkook. Para Jimin, aquilo era apenas um vislumbre de sua sedução. Para Jungkook, um gesto triunfante, especialmente por ver que suas palavras acertaram em cheio.

– Eu tenho uma proposta para você, Park. – disse Jungkook, sua voz estava mais baixa.

– Fale.

Depois, tudo ficou em silêncio, exceto pelo ronco da tempestade. Jungkook sorriu. Um sorriso rápido para o lado, como se não pudesse evitar. Em seguida, ele arrastou uma mão para os cabelos de Jimin e tocou sua nuca. Jimin apenas olhou para ele, não condenando seu gesto.

– Me deixe te beijar.

O único calor vinha de um fogo aceso na lareira, mas Jimin sentiu sua temperatura corporal subir alguns graus. Sem dizer nada, Jimin apenas deslizou em seu assento, mastigando o lábio em expectativa. Percebendo seu discreto movimento, Jungkook umedeceu os lábios antes de finalmente colocar a boca sobre a dele.

No momento seguinte, Jungkook o puxou para o seu colo. Seus lábios se abriram sob os dele, permitindo o choque de suas línguas. Jimin sentiu o sabor da cerveja e da água da chuva em sua boca. A pele dele estava fria pela brisa, mas não gelada demais ao ponto de incomodá-lo.

Jungkook escorregou as mãos para o quadril dele ao mesmo tempo que Jimin deslocou os dedos em torno de seu pescoço, puxando os pequenos fios de seu cabelo entre as dobras. Jungkook sorriu durante o beijo, sentindo-se atiçado, então o pegou pela cintura e o empurrou de costas contra as almofadas.

Jimin sentiu seu coração pulsando mais selvagemente quando o corpo de Jungkook deslizou sobre o seu, ficando entre as suas pernas. Jimin estava usando jeans, então ele descartou a ideia de enrolar seus tornozelos em torno das costas de Jungkook, pois o tecido era muito grosso para isso.

– Você não me disse que beija tão bem. – Jungkook sussurrou, arrancando um sorriso de Jimin.

– Você não me deu tempo para isso.

Sorrindo, Jungkook o puxou novamente contra ele, sugando os seus lábios entre os dentes. Os beijos se tornaram mais agressivos agora, como se ambos estivessem cheios de urgência. Jimin gemeu quando Jungkook deslocou os beijos para a sua garganta. Ele fechou os olhos instantaneamente, arqueando o pescoço para mais acesso.

Jimin gostaria de admitir que aquilo era um erro, mas essa lógica se partiu em mil pedaços quando Jungkook enterrou a língua dentro de sua boca muito lentamente. Suas mãos agarraram a bainha da camisa de Jungkook, ameaçando arrancá-la do corpo, mas não foi necessário, pois Jungkook puxou a própria camisa para fora.

Quando ele se encontrou despido da cintura para cima, Jimin avaliou aquelas tatuagens, os músculos proeminentes e a marca da cueca saindo para fora do cós da calça. Jungkook entreteu-se com aquele olhar curioso para o seu corpo. Era como estar em uma exibição.

Após um momento de análise, Jimin correu suas mãos para as dele e o puxou para baixo. Assim que eles voltaram a se beijar, Jungkook teve a ligeira sensação que estava pisando em um território perigoso. Ficar com Jimin estava fora de cogitação até uns dias atrás, agora, no entanto, ele não fez questão de pensar sobre os seus planos.

Honestamente, Jungkook mal conseguia se lembrar de como chegou a esse ponto. Ele ficou preso no momento, confinado na sensação esmagadora de poder beijar os lábios de Jimin. Eram carnudos, macios e quentes. Quando Taehyung o perguntasse, aliás, ele não precisaria contar esse detalhe.

Ignorando esses pensamentos, Jungkook deslizou o dedo para o interior da blusa de Jimin e apertou sua pele desnuda. Se Jimin tinha planos de fingir que não estava gostando, com certeza ele havia desistido. Ele apertou os músculos dos ombros de Jungkook, se perdendo na intensidade do beijo, em seguida mordeu a boca dele em provocação.

– Jimin – ele sussurrou contra os seus lábios, recuando a cabeça em busca de seus olhos. – Você está muito tenso.

Jimin o encarou em confusão. Suas bochechas estavam coradas e seu cabelo despenteado. O fôlego, também, se encontrava acelerado.

– Por que acha isso?

– Seu corpo está rígido. – Jimin sentiu-se estremecer com a observação dele. – Está preocupado com alguma coisa? Não me diga que você é comprometido e está com medo de seu namorado nos pegar no flagra.

Jimin suspirou profundamente e revirou os olhos, sorrindo.

– E se eu tiver um namorado, isso importa?

As mãos de Jungkook acolheram o rosto dele antes de roubar um beijo, devagar, enquanto olhava no fundo de seus olhos.

– Eu diria que ele é um perdedor, pois eu estou pegando o namorado dele enquanto ele anda por aí. – Jungkook acrescentou em divertimento.

A verdade era que Jimin não queria mencionar que estava sendo vigiado pelo guarda noturno, muito menos contar a Jungkook sobre a sua trágica história. Se ele descobrisse que um assassino de aluguel estava atrás dele, muito provavelmente aquilo o faria correr para longe. E, nesse momento, Jimin gostaria de prosseguir com os beijos.

– Você topa ir para o meu quarto? – Jimin disparou a pergunta.

Jungkook sorriu.

– Nunca transou em uma sala? – Jimin riu.

– Já. Mas eu prefiro uma cama.

Jungkook apenas o encarou por um momento, parecendo enfeitiçado pelo convite. Ele se sentiu incapaz de se desvencilhar daqueles olhos sedutores. Assim como Jimin, que também não parava de saborear os seus traços, nem mesmo aquela boca delineada pela sua saliva.

Quando Jungkook fez menção de tomar os lábios dele, alguém tocou a campainha, o fazendo recuar a cabeça rapidamente. Todos os pensamentos eróticos de antes haviam sido arremessados para longe e tudo o que ele fez foi sair de cima de Jimin, que também se pôs sentado no mesmo instante.

– Você está esperando alguém? – perguntou Jungkook, recebendo um balançar de cabeça para os lados.

– Não. Ninguém.

Jimin olhou para a porta, sentindo um pequeno calafrio na nuca. Ele não conseguia pensar em quem poderia estar atrás daquela porta. A princípio pensou que fosse o vigilante, mas se ele quisesse intervir, certamente teria sido bem na hora que Jungkook apareceu.

– Acho melhor você se esconder na cozinha. – sugeriu Jimin, recompondo-se.

Jungkook olhou para ele, nem assustado, nem surpreso. Ele apenas pegou a sua camisa do chão e a colocou no corpo. Depois de concordar com um aceno, Jungkook se deslocou para a cozinha. Jimin arrumou o seu cabelo e o tecido amassado da roupa antes de ir atender a porta.

A campainha ecoou outra vez, fazendo o estômago de Jimin se revirar. Ele colocou o ouvido contra a porta enquanto respirava pelos lábios. Tudo o que conseguia ouvir era o barulho constante da chuva.

Jimin, aqui é o detetive Chul. – a voz do outro lado disse.

Recuando, Jimin destrancou a porta rapidamente e abriu-a. Ele deu um olhar confuso para o detetive, que estava com a roupa toda encharcada. Por um momento, Jimin supôs que ele estava ali para lhe passar alguma informação importante sobre o caso, afinal essa parecia ser a única explicação para a sua súbita aparição.

– Detetive – ele disse, sentindo uma estranha agitação de preocupação no peito. – O que está fazendo aqui?

– Desculpe-me, eu precisava falar com você.

– Entre, por favor.

O detetive Chul não estava com cara de quem havia ido até lá para falar sobre o paradeiro do caso, Jimin observou, o que não fazia muito sentido. Quando ele mergulhou para dentro, Jimin fechou a porta às suas costas. Aquele intervalo de tempo não suavizou a preocupação de Jimin tanto quanto ele esperava.

– É sobre o caso? – ele perguntou com uma partícula de dúvida.

– Você está sozinho?

Aquela simples pergunta levantou os pelos do corpo de Jimin, que tentou agir de forma natural diante dela. Ele olhou instantaneamente para a entrada da cozinha, tão instantaneamente que seu gesto poderia ter sido confundido com uma piscadela.

– Estou. – assegurou.

O detetive pareceu convencido de sua resposta. Ele apenas arrancou o chapéu ensopado da cabeça e esfregou o rosto. Jimin não estava gostando nada de seu comportamento pouco característico.

– Eu estou aqui para falar com você. – o homem disse, então parou. – Tecnicamente tem a ver com o caso.

– O senhor está me assustando. – respondeu Jimin. – Encontrou alguma coisa? Está com medo de me contar quem é o suspeito?

– Não, nada disso. – ele quase se atrapalhou com as próprias palavras. – Eu poderia ter te ligado para contar isso, mas mudei de ideia e decidi falar com você pessoalmente.

– Então diga.

O detetive Chul suspirou, como se estivesse ganhando tempo para selecionar as palavras certas.

– Eu vou sair do caso por um tempo indeterminado. – Jimin se espantou. – Os relatórios e as evidências já foram transferidos para o meu substituto. A partir de amanhã ele assumirá o caso.

– Espere. Por que isso agora? – ele perguntou, sem parecer zangado. – Você vai deixar o caso sem mais nem menos?

– Existe uma razão para isso.

– Qual?

Ele realmente havia ficado frustrado com aquela decisão. Mesmo não sabendo o porquê, Jimin estava certo que o detetive Chul estava deixando o caso pela falta de provas. Ele era competente, mas também impaciente. Pelo menos era o que a sua reputação dizia.

– Descobri que estou com uma doença pulmonar. – o detetive contou pacientemente. O rosto de Jimin era uma mistura de surpresa e preocupação. – Eles me afastaram por um tempo, apenas para eu me recuperar. Amanhã mesmo passarei por uma avaliação médica para então começar o tratamento. Acredite, eu estou me sentindo muito mal por te deixar na mão.

– Não, não me peça desculpas por isso. – Jimin ainda estava com uma preocupação crua no rosto. – A sua saúde é mais importante agora. Eu entendo.

– Eu gostaria de terminar o que comecei, mas o meu chefe não quer saber de conversa.

– Ele está certo. Você precisa se cuidar. – Jimin sorriu um pouco embaraçado, apenas para aliviar a tensão. – A propósito, quem é o novo detetive?

– Kim Seokjin. – disse Chul. – Ele é amigo de sua família há muito tempo, então acredito que isso fará uma tremenda diferença no caso. Seokjin está tão revoltado quanto nós. Ele nos prometeu trazer respostas.

A cabeça de Jimin ficou muito distante dali. Ele era apanhado pelos próprios pensamentos muito facilmente, não que isso fosse um problema. Na verdade, ele estava se perguntando o que aconteceria de agora em diante com Seokjin no comando. Ele era um amigo próximo da família e muito conhecido por ser o melhor perito criminal de Seul.

– Ele vai entrar em contato com você amanhã cedo. Suponho que seja para recolher outro depoimento. – disse o detetive Chul, o fazendo voltar a olhar para ele. – É importante que tenha em mente tudo o que testemunhou naquele dia. Seokjin é muito exigente nos detalhes.

– Eu vou tentar.

– Outra coisa, não continue morando nesta casa sozinho. Sei que precisa de um tempo para pensar, mas quanto mais acompanhado estiver, mais seguro vai estar.

Jimin encolheu os ombros, sem expressão, dando nada a ele. Em sua cabeça, um pensamento o fez lembrar que Jungkook estava na cozinha, certamente ouvindo toda conversa. Não era seguro deixá-lo saber que a polícia estava investigando um homicídio particular, pois isso poderia provocar más impressões, pensou Jimin.

Da mesma forma que não era seguro contar ao detetive Chul que havia alguém em sua casa, cujos minutos atrás estava beijando. Por via das dúvidas, ele se manteve calado, fazendo parecer que estava de fato sozinho.

– Pode deixar. – foi tudo o que ele respondeu.

O detetive Chul sorriu.

– Isso era tudo o que eu tinha para dizer, Jimin. Se precisar de mim, pode me contatar. Mesmo que eu esteja em tratamento, ainda posso atender suas chamadas.

Jimin balançou a cabeça em um sim, sorrindo em agradecimento. Ele não disse nada em resposta porque não tinha o que dizer, apenas continuou parado fingindo que não estava com os pensamentos longe, ou melhor dizendo, em Jungkook.

Com isso em mente, Jimin supôs que teria de inventar uma justificativa para a inesperada visita do detetive caso fosse questionado por Jungkook. Certamente, ele devia estar muito confuso.

– Bem, chegou a minha hora. – disse Chul, colocando o chapéu de volta na cabeça. – Mais uma vez, me desculpe por aparecer sem avisar. Eu não quis preocupá-lo no telefone.

– Não tem problema, senhor. – ele balançou a cabeça para enfatizar sua compreensão. – Aliás, eu gostaria de saber se você encontrou alguma coisa nas evidências que estava estudando.

– Infelizmente não. Eram evidências forjadas.

– Forjadas?

– O criminoso as colocou lá apenas para nos distrair. Parece que alguém limpou todas as provas e implantou outras para ganhar tempo.

Jimin ficou boquiaberto. Ele poderia ter pensado nisso muito antes, mas não imaginou que até mesmo as evidências seriam previamente arquitetadas no local do crime sem que ele pudesse vê-las.

– Mas não se preocupe com isso, Jimin. – Chul prosseguiu. – Uma hora ou outra ele comete um deslize. E quando isso acontecer, nós vamos saber onde pegá-lo.

Após um minuto de silêncio, Jimin acenou com a cabeça. Chul finalmente se virou em direção à saída após tudo ficar acertado entre eles. Jimin abriu a porta para ele, ainda pensativo, e o esperou desaparecer no meio da tempestade. Chul buzinou para ele quando alcançou o seu carro do outro lado da calçada, sendo retribuído por um suave aceno de mão.

No instante seguinte, Jimin retornou para dentro de casa e fechou a porta com as costas. Ele permaneceu parado, sentindo uma estranha sensação fria se espalhando pelo estômago. Jungkook emergiu na entrada da cozinha, sua expressão estava escondida entre as sombras. O olhar de Jimin se moveu em direção a ele. Era difícil dizer, mas ele podia adivinhar qual era a expressão no rosto de Jungkook agora.

– Está tudo bem? – Jungkook perguntou conforme se aproximava.

Em vez de dizer sim, Jimin somente balançou a cabeça. Mesmo que estivesse evitando abrir o jogo para Jungkook, Jimin presumia que provavelmente ele já sabia a verdade. O homicídio estava em todos os jornais, então se Jungkook não teve contato direto com essa informação, pensou, alguém relatou sobre o acidente para ele.

– Você deve estar confuso, não é? – sua voz estava muito instável.

Jungkook levantou as sobrancelhas.

– Por que acha isso?

– Porque um detetive acabou de sair da minha casa e eu presumo que você tenha ouvido tudo.

Jungkook não disse nada, mas ficou claro em sua expressão que Jimin estava certo.

– Oh, entendi. – disse Jungkook, estreitando os lábios em um sorriso suave. – Você está encrencado?

– Mais ou menos.

– Mais ou menos?

Com um suspiro, Jimin sentou-se no sofá. Jungkook, no entanto, continuou em pé. Ele fingiu inocência quando ouviu a pergunta de Jimin, embora soubesse exatamente o que a presença do detetive significava. Se queria coletar respostas, precisava agir como se estivesse de fato preocupado com a situação.

– É muito difícil falar sobre esse assunto. – Jimin falou, sem encará-lo. Jungkook se manteve inexpressivo. – Mas para resumir, isso não tem a ver comigo. Não diretamente.

– Não precisa me contar se não quiser. Eu respeito o seu silêncio.

Jimin o encarou bem a tempo de vê-lo se empoleirar no braço do sofá. Sua expressão era uma mistura de preocupação e gentileza, características atípicas no comportamento de Jungkook e que somente ele sabia.

– Veja bem, nós não temos tanta intimidade assim, mas eu percebi que após a aparição desse detetive, você ficou mais calado. – observou Jungkook.

– Impressão sua.

– Não é, você sabe disso.

O rosto de Jimin mudou lentamente para um vermelho escuro. Seus olhos foram imediatamente para Jungkook, como se quisesse estudar o que havia por trás dele. Os olhos de Jungkook, no entanto, ainda estavam pousados nele.

– Eu prefiro não tocar nesse assunto. – disse Jimin, parecendo inseguro, nervoso e tenso.

Não encontrando outra abordagem, Jungkook acenou em concordância. Se forçasse a barra, Jimin desconfiaria de seu interesse particular. Ele não tinha intenção de estragar tudo depois de ter chegado tão longe.

– Acho melhor te deixar sozinho. – Jimin concordou após um momento de silêncio. – Amanhã eu te pego para irmos jantar. Podemos continuar de onde paramos.

Finalmente, Jimin sorriu.

– Vou estar esperando.

Com isso, Jungkook segurou o queixo dele com o dedo e então o ergueu para que pudesse enfrentá-lo nos olhos. Jimin pareceu surpreso, mas não incomodado. Diante de seu gesto, Jimin se manteve quieto, como se as suas defesas estivessem a ponto de estilhaçar caso se movesse.

– Não vou me esquecer de seu beijo. – disse Jungkook sob sua respiração. – E espero que se lembre do meu.

Jimin sentiu o próprio rosto queimar, não sabendo dizer se era tesão ou vergonha, embora ele não se sentisse envergonhado com tanta frequência. Em todas as vezes, lembrou-se, era ele quem provocava.

Antes de emitir qualquer coisa, Jungkook beijou seus lábios, dessa vez menos faminto. Foi um toque suave, provocativo e cheio de equilíbrio. Jimin segurou seu rosto com ambas mãos quando ele ameaçou recuar. Jungkook sugou seu lábio inferior antes de puxá-lo entre os dentes.

Jimin começou a sentir o gosto amargo de sangue na língua, e antes de perceber de onde vinha, Jungkook varreu a faixa escarlate com o polegar. Desse modo, Jimin apenas o olhou com mais atenção, estranhamente excitado com aquela atitude.

– Até mais, Park.

Após se despedir como gostaria, Jungkook deslocou seu peso para fora do sofá, indo em direção à porta. Jimin continuou paralisado, ainda pensativo sobre aquele beijo esquisitamente bom. Ele tocou a própria boca, na mesma região onde Jungkook mordeu, e então encarou os dedos, observando um círculo de sangue na ponta do indicador.

Jimin se virou rapidamente na mesma direção que Jungkook seguiu, sua boca havia formulado o nome dele, mas quando percebeu que Jungkook já havia partido e que agora ele se encontrava sozinho naquela casa, fechou-a.

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Olá meus amores, como vocês estão? eu não sei o que vocês acharam desse capítulo, mas espero que tenham gostado. Ele ficou bem curtinho, como é uma shortfic, os capítulos terão em média esse tamanho.

Essa pegação jikook foi apenas uma prévia do que está por vir... rs

Enfim, chega de detalhes! Aguardo vocês na próxima atualização.

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