[CAPÍTULO 07]

– Conta aí, o que vocês fizeram? – Jungkook ouviu o seu irmão perguntar pela milésima vez desde que voltou para casa.

Ele estava deitado no sofá da sala com o boné sobre os olhos enquanto Taehyung misturava o açúcar em seu café. A festa de boas-vindas tinha terminado uma hora atrás, mas Jungkook chegou em sua casa muitos minutos depois.

– Já disse a você que não aconteceu nada. – Jungkook respondeu com a voz meio sonolenta. – Nós ficamos conversando, depois ele foi embora.

Taehyung espremeu os olhos.

– Só isso? Nada de flerte ou troca de contatos?

Jungkook finalmente arrancou o boné dos olhos. Ele o encarou à distância, sentindo-se ingênuo o suficiente por pensar que seu irmão realmente acreditaria em sua história. Taehyung sabia que ele não queria dar detalhes da conversa que teve com Jimin, pois, em sua cabeça, contar os seus planos poderia fazer algo dar errado.

– Eu dei o meu número para ele.

– Oh, então essa é a sua maneira discreta de preservar a identidade? – Jungkook lhe deu um olhar de desgosto profundo e então sorriu.

– Você é idiota se pensa que dei meu número real. – disse. – O número que dei a ele pertence ao meu celular de negócios. Não posso receber nenhuma chamada a não ser que seja de alguém que esteja salvo na lista de contatos. Em outras palavras, meu número não existe para outras pessoas, exceto para os meus clientes.

– Isso significa que a polícia não pode te achar?

Jungkook confirmou com um balançar de cabeça, sorrindo. O rosto de Taehyung se iluminou com aquilo. Em outras circunstâncias, ele diria que aquilo era loucura ao invés de genial.

– O que vai fazer agora? – perguntou Taehyung, certamente depois de cogitar sobre a sua curiosidade repentina. – Você acha que esse plano de se aproximar dele vai dar certo? Eu ainda penso que é muito arriscado.

Jungkook suspirou.

– Sendo arriscado ou não, eu preciso fazer isso. – disse. – Ele é a minha única chance de chegar até a polícia.

– Ok, não vou mais insistir nisso. – ele levantou as mãos em rendição. – Mas fique esperto. Yoongi está de olho em você. Se ele descobrir sobre os seus serviços secretos, a coisa vai ficar feia.

– É, eu estou ciente disso.

– É bom que esteja mais do que ciente. – antes que pudesse sondar a reação de Jungkook, ele prosseguiu. – Hoje na festa ele não parou de te olhar. Você está se arriscando ficando perto desse Jimin, assim como está se arriscando ao deixar o Yoongi sondar o seu terreno. Escute o que eu digo, ele vai armar contra você.

Jungkook pressionou os lábios, não afetado pelo que ouviu, mas incomodado pelo que pensou. Ele tinha um recurso em mente caso Yoongi se atrevesse a interferir em seus negócios, mas não podia colocá-lo em prática apenas por ele estar lhe observando. No entanto, existia uma segunda opção.

Talvez, imaginou, um trágico acidente fosse mais convincente para os membros do torneio do que um homicídio. Jungkook estaria no topo da lista de suspeitos se o seu arqui-inimigo fosse morto de repente. Por isso, as coisas deveriam ser pensadas de outra maneira.

Para a sua própria surpresa, ele se sentiu brevemente cruel, mas esse pensamento o fez rir internamente.

– Aliás, o que o Mingyu queria com você? – Taehyung perguntou, simplesmente ganhando os olhos de seu irmão.

Jungkook abriu um sorriso enorme. Taehyung fez uma cara mau humorada para o seu irmão, nada contente com o seu silêncio intencional.

– Drogas. – Taehyung não esboçou surpresa, nem felicidade, ele apenas suspendeu uma faixa de sobrancelha. – Estou brincando. Ele trabalha com objetos eletrônicos, então pedi para que ele me arranjasse uma escuta.

– Não me diga que...

– Sim, é exatamente isso que você pensou. – Taehyung arregalou os olhos, impressionado. – Se eu não posso estar o tempo todo com o Jimin, pelo menos posso ouvir ele. Para ser mais específico, posso ouvir a conversa dele com o detetive responsável pelo caso.

Jungkook encarou o seu irmão nos olhos e ali Taehyung teve certeza que tinha alguma coisa a mais nessa história. Talvez, pensou, um interesse não voltado para o seu objetivo inicial. Em outras palavras, Jungkook estaria usando a escuta não apenas para descobrir coisas sobre a investigação.

– Tá, mas como você pretende colocar a escuta nele? – Taehyung perguntou, incerto. – Ele não vai usar a mesma roupa por tanto tempo, sem contar que quando ele for tomar banho a escuta vai estar lá.

Jungkook revirou os olhos e saltou para fora do sofá, indo em direção a cozinha.

– Quem disse que eu vou colocar na roupa dele? – ele abriu a geladeira e fisgou uma jarra de água e um copo. – Vou colocar na casa dele. Em um lugar bem discreto.

Taehyung vacilou, confuso.

– O que... Como você pretende entrar na casa dele? Arrombando a porta? Pulando a janela?

– Não. – disse. – Sendo convidado.

– Ah, claro, até porque é óbvio que ele vai convidar um estranho que acabou de conhecer para ir até a casa dele tomar um chá da tarde.

– Você não está pensando fora da bolha. – ele encheu o seu copo com água e então o encarou. – Eu não preciso esperar que ele me convide formalmente. Para isso, eu mesmo posso me convidar. Digamos que se ele perder algum pertence valioso, seria muita gentileza minha ir entregá-lo, você concorda?

A expressão de Taehyung estava imóvel a princípio, em seguida deslizou próxima de entusiasmo. Ele pensou que Jungkook estava colocando a corda no próprio pescoço ao se arriscar a colocar uma escuta em Jimin, mas, aparentemente, tudo fazia parte do plano de seu irmão.

– Isso quer dizer que você vai roubá-lo? – Taehyung perguntou, sorrindo, não esperando ouvir uma resposta, afinal ele já sabia o que Jungkook diria.

Antes que pudesse dizer algo em acréscimo, a porta da casa deslizou aberta com um barulho brusco de batida, em seguida uma figura robusta e alta emergiu na entrada. Taehyung deixou a xícara escorregar de suas mãos, espalhando estilhaços pelo chão, enquanto Jungkook, muito instantaneamente, recuou uma pegada.

– Quanto tempo não te vejo, meu queridíssimo sobrinho. – disse o homem ainda parado na porta de entrada.

Jungkook fechou as mãos em punhos, mas rapidamente desfez seu gesto. O homem caminhou para dentro, inspecionando o lugar com uma atenção venenosa. Taehyung olhou para Jungkook, assustado, mas seu irmão não retribuiu o seu gesto, uma vez que ele ainda estava encarando seu tio.

A quanto tempo eles não se viam? Três meses? Cinco? Onze? Taehyung não teve tempo de calcular, pois estava assustado demais com a chegada inesperada de seu tio paterno.

Desaforado, o homem se lançou no sofá e abriu os braços por cima do encosto, como se estivesse de fato em sua própria casa. Muito enfurecido para dizer alguma coisa, Jungkook apenas continuou olhando para ele. Os olhos de seu tio prenderam os dele antes de dizer:

– Então, onde está o meu dinheiro?

Taehyung engoliu com dificuldade, ciente que por trás daquelas palavras havia uma ameaça forte. Jungkook se manteve quieto, como se estivesse pensando sobre o que dizer.

– Ainda não consegui o dinheiro, mas estou trabalhando nisso. – Jungkook disse.

– Não conseguiu? – havia um deboche amargo na voz de seu tio. – Por um acaso você mata por diversão ou por negócio? Qual é, Jungkook, não tente me enganar.

– Eu já disse que não consegui o dinheiro. – ele falou com mais firmeza. – O que tenho aqui não é suficiente para pagar a dívida. Você precisa esperar um pouco mais. Eu prometo que vou devolver o seu dinheiro.

– Sua promessa é vazia. Eu quero o meu dinheiro, garoto.

– Eu estou participando de um torneio. O valor do prêmio é em dinheiro, então se eu ganhar, posso quitar metade da dívida e te dar o resto depois.

Muito ligeiramente, seu tio se lançou para fora do sofá e o agarrou pela camisa. A cabeça de Jungkook atingiu o armário, o fazendo escurecer as vistas por um segundo. Seu corpo estava agora entre o armário e o seu tio. Taehyung olhou para aquilo com os olhos esbugalhados.

– Está me dizendo que você depende da sorte para me pagar o que deve?! – ele rosnou.

Dessa vez, Jungkook não o respondeu. Taehyung fez menção de avançar sobre o homem, mas seu irmão rapidamente percebeu isso e disse:

– Taehyung, não faça nada. Fique onde está. – seu irmão, desse modo, recuou uma pegada, ciente que Jungkook estava fazendo aquilo para lhe proteger.

– Eu vou te dizer uma coisa. – disse o seu tio, cuspindo fogo pela boca. – Se você não trouxer o dinheiro em uma semana, eu corto a sua garganta.

– Uma semana? – Jungkook soltou o ar entre os dentes. – Eu não vou conseguir todo esse dinheiro até lá. Você precisa me dar pelo menos um mês.

– Culpe o vagabundo do seu pai por bater as botas me devendo uma grana preta. – ele disse de forma amarga. – Ele devia ter pensado duas vezes antes de me pedir dinheiro emprestado. Agora, você vai pagar o que ele me deve.

A verdade era que Jungkook não tinha medo de seu tio, Jongsu, mas temia que ele pudesse usar Taehyung para lhe atingir. Em muitas de suas ameaças, Jongsu prometeu matar o seu irmão como forma de aviso, mas Jungkook sempre soube desviar o foco de Taehyung. Porém, ele não poderia saber até quando isso daria certo.

– Me dê um mês. – Jungkook falou finalmente. – Se em um mês você não tiver com todo o dinheiro em mãos, pode me matar por ter falhado.

Jongsu gargalhou, como se a proposta o agradasse.

– Vou te dar mais um mês. – Taehyung deixou escapar um suspiro de alívio ao ouvir aquilo. – Mas os juros vão aumentar. Quero dez mil a mais do que o valor a ser pago.

Jungkook passou os próximos segundos em silêncio, depois balançou a cabeça em concordância. Ele já tinha ultrapassado o prazo, não podia refutar as ordens de seu tio como se estivesse em posição para isso, mesmo que discordasse. Com isso, Jongsu finalmente soltou a sua camisa, mas antes de se virar totalmente, desferiu um soco na cara de Jungkook.

Taehyung saltou para trás, em choque, principalmente quando o seu irmão cuspiu algumas gotas gordas de sangue. Jongsu segurou seu queixo e ergueu sua cabeça para que ele o enfrentasse nos olhos. Jungkook apertou os lábios manchados com seu próprio sangue.

– Meus homens vão estar de olho em você. Não se esqueça que eu posso te queimar vivo assim como queimei a vadia da sua mãe. – ele o ameaçou através de um murmúrio.

Em seguida, Jongsu o largou e limpou os dedos sujos de sangue na calça. Ele apenas olhou para Taehyung do outro lado, e então se virou para longe, batendo a porta quando se pôs para fora da casa. Uma necessidade incontrolável explodiu dentro de Taehyung, o fazendo correr na direção de seu irmão.

– Fique pressionando o lugar, eu vou pegar gelo para você. – ele disse para Jungkook, que somente chacoalhou a cabeça.

Desse modo, Taehyung abriu a geladeira e fisgou alguns cubos de gelo. Ele pesquisou nas gavetas do armário uma caixa com todos os itens de prontos-socorros, e então pegou dois esparadrapos e um pacote de algodão. Jungkook sentou-se no sofá, desorientado, enquanto pressionava o nariz com a mão.

Às pressas, Taehyung se agachou diante dele e colocou os itens no chão, depois começou a varrer o sangue do nariz de Jungkook com o algodão. Ele estava furioso demais para sentir dor. Enquanto Taehyung, diferente dele, estava sentindo aquela sensação peculiar de adrenalina pelo corpo, pulsando nervosamente dentro dele.

– Jungkook, nós temos que fugir daqui. – ele parecia desesperado. – Eu estava vendo a hora de ele te matar na minha frente.

– Ele vai saber se nós fomos embora.

– Você é mais esperto que ele. – seu irmão disse enquanto colocava o gelo sobre o ferimento em seu nariz. – O papai deixou uma dívida absurda, nós não vamos conseguir pagar. Ou melhor dizendo, você não vai conseguir pagar.

– Temos que tentar de novo. – ele disse através de um gemido.

Taehyung balançou a cabeça para os lados.

– Isso é suicídio. – ele declarou. – Nós vamos morrer se ficarmos aqui. Jongsu está furioso, se ele descobrir que você não está nem com metade do dinheiro, estamos encrencados. Por favor, vamos embora. Eu não posso te perder. Você é a minha única família.

De repente, Jungkook segurou sua mão pelo pulso, o fazendo parar de limpar o seu sangue. A expressão de Taehyung ficou confusa, ele desconheceu seu gesto.

– Eu tenho um dinheiro guardado. Não é muito, mas é o suficiente para você fugir.

Algo subiu à superfície dos olhos de Taehyung, mas Jungkook não soube definir se era preocupação ou mágoa. No final, ele apenas disse:

– Está me pedindo para ir embora e te deixar para trás?

– Eu não tenho nada a perder. – ele sorriu, mas seu gesto não tinha humor. – Estou encrencado de qualquer forma. Se o meu tio não me matar primeiro, a polícia fará isso.

– Pare. – Taehyung se levantou subitamente, suas mãos estavam entre os cabelos. – Por que você está falando como se estivesse desistindo de tudo? Você sempre soube se livrar desses problemas.

– Taehyung – ele suspirou, sua voz estava mais fraca. – Você sabe que eu tenho esse trabalho porque não tive outra escolha. Eu não tenho receio de matar, mas também não sinto prazer. Eu apenas faço.

– Você não é o Jungkook que eu conheço. – ele disse de forma amarga.

– Eu quero o seu bem, por isso estou te oferecendo esse dinheiro.

– E eu estou recusando. Se você ficar, eu fico com você. – Jungkook simplesmente suspirou e desistiu de insistir. – Qual é, nós ficamos juntos a vida toda. Não vou me afastar de você justo agora.

Taehyung gostava de saber que Jungkook colocava a sua segurança em primeiro lugar, mas também não se agradava em saber que para isso ele tinha que colocar a sua vida em risco.

– Bem, eu não vou contrariar a sua decisão. – Jungkook disse por fim, lançando o algodão encharcado de sangue no chão. – Mas saiba que o Jongsu vai colocar homens na nossa cola, por isso precisamos bolar um plano para conseguir sair sem sermos vistos.

– Você tem alguma coisa em mente?

– Tenho. – ele disse. – Mas primeiro vou lavar o meu rosto. Me espere aqui.

Jungkook se deslocou para o banheiro, deixando Taehyung sozinho na sala. Ele aproveitou o tempo para limpar os estilhaços da xícara que despencou de sua mão minutos atrás, como também varrer a poça de café. Enquanto seu irmão não retornava, ele ficou remoendo tudo o que acabou de acontecer.

Ele parou para pensar e chegou à conclusão que não podia deixar Jungkook trabalhando sozinho. Por mais que não tivesse estômago para fazer o que ele faz, no mínimo deveria arrumar um emprego para ajudá-lo a ganhar dinheiro.

▸▸◂◂

DIAS DEPOIS

O ar daquela manhã estava frio, mas não congelante, apenas o suficiente para deixar a pele de Jimin arrepiada. Ele gostava de sentir a brisa antes do sol nascer, isso lhe fazia ter uma persistente sensação de bem-estar. Jimin tinha optado por tomar café da manhã em uma cafeteria próxima da casa em que ele estava morando agora. O relógio apontava para alguns minutos antes das 06:00.

O lugar estava vazio, exceto pelos funcionários limpando as mesas de serviço. Jimin passou a visitar aquela cafeteria com mais frequência, especialmente nesse horário, pois o fluxo de pessoas era bem menor. Vale salientar que, após um tempo, ele começou a ter preferência por ficar em sua própria companhia.

– Bom dia, senhor. – uma garçonete o cumprimentou. – Já quer fazer o seu pedido.

– Ainda não, eu estou esperando uma pessoa. Obrigado.

Ela acenou em compreensão, em seguida virou-se sob os calcanhares e sumiu quando entrou na cozinha à esquerda. Jimin virou a cabeça na direção da janela, sendo ligeiramente atingido pelos primeiros raios solares. Ele piscou um par de vezes, em seguida conferiu as horas em seu relógio. Já se passavam das 06:10.

O sininho da cafeteria retumbou quando alguém passou pela porta. Para o seu alívio, era quem ele esperava encontrar. A mulher fez uma lenta inspeção pelo ambiente, sorrindo quando seus olhos caíram na imagem de Jimin. Ele se levantou para cumprimentá-la com um abraço.

– Fico feliz que tenha vindo. – Jimin disse quando se afastou dela, em seguida indicou a cadeira na sua frente. – Sente-se, por favor.

A mulher, cujo nome era Yujin, apoiou a alça da bolsa no espaldar da cadeira e sentou-se. Ela agarrou as mãos de Jimin sobre a mesa e as colocou entre as suas em um gesto de solidariedade.

– Sinto muito por tudo o que aconteceu. – ela disse em sua voz suave. – Como você está se sentindo depois de tudo isso?

– Eu vou ficar melhor. – ele não quis prolongar aquela conversa, até porque o seu objetivo em convidar Yujin para um café era outro. – Mas eu não estou aqui para falar dos meus pais. Quero te fazer algumas perguntas.

A mulher largou suas mãos de repente. As manchas escuras abaixo de seus olhos disseram a ele que ela estava enfrentando noites mal dormidas. Yujin trabalhou para a sua família por pouco mais de cinco anos. Além de governanta, ela também era uma confidente da Sra. Park, embora tivesse a idade de uma mãe.

Quando Jungkook lhe contou sobre aquela noite em específico, Jimin decidiu procurar respostas que pudessem confirmar a história dele. Não era como se ele estivesse desconfiando de suas palavras, mas não podia simplesmente levar tudo como verdade. Qualquer pessoa nas mesmas condições que as suas buscaria uma validação.

– Você se lembra daquele dia que eu estava indo para um clube e você me pediu para não chegar muito tarde porque o meu pai estava voltando de viagem? – ele interrogou, esperando ouvir um não.

– Sim, me lembro.

Jimin suspirou mentalmente.

– Você também consegue se lembrar quem me levou para casa naquela noite?

– Foi um rapaz. Ele disse que estava com você no clube quando você desmaiou. – contou. – Eu falei que ele podia entrar e te levar para o quarto. Na hora não imaginei que ele podia ser um estranho ou um amigo próximo, apenas deixei que entrasse, pois eu não queria que seu pai te encontrasse naquele estado. Para ser honesta, ele falava de você como se fossem muito amigos.

Na menção da palavra amigo, Jimin supôs que Jungkook fingiu ser muito próximo para que Yujin pudesse deixá-lo entrar. No entanto, se eles ainda não se conheciam, como Jungkook poderia fingir ser um amigo próximo ou até mesmo saber onde Jimin mora? No mínimo, Jungkook deveria saber o seu nome, e, diante de tudo, Jimin não se lembrava de ter conversado com ele naquele clube. Nem em nenhum outro lugar.

– Você viu se ele tinha tatuagens nos braços? – perguntou Jimin, tentando obter mais detalhes sobre a pessoa que ela viu.

– Não sei, querido. Ele estava usando um casaco de frio. – Yujin disse, comprimindo os lábios como se sentisse muito. – Tudo o que posso dizer é que ele foi muito gentil com você. Antes de sair, ele disse que eu deveria preparar um chá para diminuir o efeito do álcool em seu corpo.

– Ele não tocou em nada, apenas me levou para o quarto e pronto?

Yujin ficou momentaneamente confusa com aquela pergunta.

– Querido, se te conforta, eu estive com ele o tempo todo. Desde o momento que ele entrou na casa até a hora que saiu. – Jimin não soube dizer se estava aliviado ou perturbado. – Ele não tocou em absolutamente nada, apenas te colocou na cama e saiu.

– Ele me disse que escreveu um bilhete para mim e deixou na cômoda. – Jimin frisou.

– Disso eu não me lembro. – ela disse com sinceridade. – Ele não demorou mais que um minuto em seu quarto, por isso tenho dúvidas se ele realmente teve tempo para lhe escrever alguma coisa.

Ok, agora Jimin estava tremendamente confuso. Ele havia encontrado um papel dobrado sobre a cômoda no dia seguinte, mas não tinha certeza sobre o que era. O que isso significava, afinal? Talvez Jungkook tivesse escrito muito antes de o levar para a sua casa, pensou, ou talvez Yujin não tenha prestado atenção nesse detalhe.

– Jimin, esse rapaz te magoou? – a pergunta de Yujin o arremessou para fora de seus pensamentos. – Por que você está me fazendo tantas perguntas sobre ele?

– Eu só preciso saber se me lembro dele. – Jimin pausou por um momento. – Eu olho para ele e tenho a sensação que o conheço, mas não sei exatamente de onde.

– Aposto que ele está interessado em você. – ela abriu um sorriso de orelha a orelha. – Talvez você não se lembre tão bem dele porque você estava quase inconsciente naquele dia, mas algo me diz que ele não quis esquecer seu rosto.

Jimin sentiu-se endurecer, principalmente da cintura para baixo.

– Não é o que está pensando. Eu saberia se tivesse dormido com ele.

Yujin sorriu. Ela sabia sobre a orientação sexual de Jimin, mas nunca quis usar isso como um tópico de conversa. Ele lhe contava as coisas porque sabia que ela não abriria o jogo para os seus pais.

– Me diga uma coisa – Yujin prosseguiu. – Em todas as vezes que perdeu a consciência por beber demais, você se lembra do que aconteceu?

Jimin não disse nada por um momento, em seguida balançou a cabeça para os lados.

– Então podemos concluir que foi o que aconteceu com você e esse rapaz. – Jimin engoliu, ainda convicto de que Jungkook não tinha sido apenas um caso de uma noite. – Pare de pensar bobagens, meu querido. Você ainda é jovem, precisa aproveitar a vida. O que quer que esse rapaz tenha dito, ele não mentiu, pois eu estava lá acompanhando tudo.

Talvez ela estivesse certa. De acordo com as duas histórias contadas, Jimin concluiu que Jungkook não tinha mentido sobre aquilo. No entanto, ainda havia dúvidas na cabeça de Jimin. Ele ainda estava incerto sobre Jungkook saber o seu endereço e, especialmente, o seu nome. A não ser que ele tenha descoberto essas informações através de fontes próximas a Jimin.

– Chegou a minha hora. – Yujin disse, pegando a sua bolsa do espaldar. – Você gostaria de me perguntar mais alguma coisa, querido?

Jimin apenas balançou a cabeça para os lados. As dúvidas que restaram não poderiam ser respondidas por Yujin, por isso ele tinha um novo destino em mente.

– Já terminamos. – ele assegurou, sorrindo.

Yujin se levantou da cadeira ao mesmo tempo que Jimin e lhe deu um abraço apertado. O toque em suas costas foi de lamentação, Jimin sentiu.

– Me ligue se precisar. – Yujin disse quando se afastou. – Eu sei que nada está sendo fácil para você, mas mantenha a cabeça erguida e lute por justiça. Seus pais eram pessoas maravilhosas e sentiam muito orgulho de você.

– Obrigado. – ele agradeceu com um sorriso contido. – Você quer uma carona até a sua casa?

– Não precisa, querido. Minha filha não está muito longe. – Jimin balançou a cabeça, conformado. – Muito obrigada pela gentileza. Preciso ir agora. Nos vemos depois.

Após um momento de despedida, Yujin finalmente deixou a cafeteria. Minutos depois, o ambiente começou a se encher de pessoas, então Jimin recolheu sua bolsa de trabalho e pendurou sobre o ombro, caminhando para fora instantes depois.

Ele entrou no carro e girou a chave na ignição, segundos depois o motor roncou em partida. A estrada estava vazia de veículos, mas Jimin quis dirigir sem pressa enquanto refletia em seu mundo interior.

Ele ainda estava pensativo sobre a conversa anterior, na qual também serviu para assegurar a história que Jungkook lhe contou. Jimin não teve todas as respostas que gostaria, mas não iria ficar remoendo isso como se fosse a coisa mais urgente a se descobrir.

Diante de tudo isso, ele se perguntou o porquê de estar tão interessado nesse assunto. É comum que as pessoas se esbarrem com outras, durmam com desconhecidos, consigam o número do celular através de amigos próximos, Jimin pensou, mas se tratando dele as coisas pareciam ser enigmáticas.

Lembrando-se das coisas que Yujin lhe aconselhou, ele concordava que ela estava certa sobre ele ser jovem demais para se questionar tanto. Jimin foi ensinado, desde pequeno, a duvidar, refutar e questionar. Mas, parando para pensar sobre isso, ser ignorante, em certos momentos, pode ser uma dádiva.

Por coincidência ou não, Jimin acabou passando próximo do local do torneio. Ele olhou acima, vendo a enorme faixa escrita 'El Serpiente' em letras graúdas. O portão estava fechado, mas ele conseguiu visualizar perfeitamente a movimentação interna através do espaçamento das grades.

Com isso, Jimin estacionou o carro em uma vaga próxima e desligou o motor, ainda permanecendo sentado. Ele olhou adiante, não encontrando a figura daquele que procurava. Algumas estruturas estavam sendo montadas, fazendo Jimin supor que tinha relação com as provas do torneio.

Por um momento, ele pensou em ligar para Jungkook. Desde o dia que ele rabiscou o número do celular em sua mão, Jimin não havia sequer enviado uma mensagem. No entanto, ele agendou aquele número em sua lista de contatos, caso fosse necessário um dia.

Muito ligeiramente, o barulho de uma moto atraiu sua atenção. Ele olhou para além do para-brisa e encontrou Jungkook pilotando sua atraente Kawasaki Ninja preta. Ele estava usando capacete, mas Jimin reconheceu suas tatuagens.

Os grandes portões de grade se abriram para os lados para que ele pudesse entrar. Jungkook conduziu sua moto para o interior lentamente. A forma como ele cumprimentou o segurança do lugar disse a Jimin que eles eram amigos, ou, no mínimo, conhecidos.

Com isso, Jimin destravou o cinto de segurança e deslocou o peso de seu corpo para fora do carro. Ele atravessou a rua com pegadas rápidas e alcançou o portão de grades. O segurança olhou para ele de cima a baixo, sem dizer nada por um momento.

– Desculpe, mas apenas os membros do torneio podem entrar. – o segurança disse.

– Eu não quero entrar. – Jimin olhou ligeiramente para dentro do campo aberto, ou melhor dizendo, para Jungkook. – Eu quero falar com aquele cara que acabou de entrar. Pode chamar ele, por favor?

O segurança olhou na mesma direção que Jimin. Quando seus olhos caíram na imagem de Jungkook, um sorriso divertido brotou em seus lábios. Ele voltou-se para Jimin, dessa vez com uma expressão mais sorrateira.

– O Jungkook? – perguntou. – Você é o que dele?

– Apenas faça o que eu pedi. Chame ele. – Jimin disse com uma seriedade necessária, o suficiente para fazê-lo entender que ele não estava ali para dividir informações.

O sorriso no rosto do sujeito começou a desaparecer. Entediado, o segurança revirou os olhos e fechou a cara. Controlar a sua insatisfação pelo que ouviu estava fora de cogitação. Ele apenas girou a cabeça na direção de Jungkook e gritou:

– Ei, Jungkook!

Jungkook tinha acabado de retirar o capacete da cabeça quando ouviu a voz de Mingyu. Seus olhos negros o observaram à distância, mas ele não disse nada, apenas aguardou as próximas palavras dele.

– Esse cara aqui quer falar com você. – os olhos de Jungkook caíram sobre Jimin, que também o encarava de volta.

Com uma centelha de interesse, Jungkook apoiou o capacete sobre o retrovisor e andou na direção deles, sem abalar a sua postura calma. Jimin estava certo de que algo nele mudou quando se deparou com sua presença. Talvez ele não estivesse esperando por isso.

– Dá licença. – disse Jungkook para Mingyu, embora seus olhos ainda estivessem fixos em Jimin.

– O quê? Esse é o meu trabalho, cara. Se quer bater um papo, faça isso lá fora.

Jungkook o enfrentou nos olhos em seguida, o bastante para fazer Mingyu entender o seu gesto. Ele apertou os dentes brevemente, havia uma expressão de desagrado por trás de seus olhos. Jimin não soube dizer o que aquilo significava, mas teve certeza que aquela troca de olhares tinha algo por trás. Uma dívida, talvez? Pensou.

– Tudo bem, mas se o meu chefe reclamar, vou pedir para ele falar diretamente com você. – alertou Mingyu antes de girar sob os calcanhares e partir para longe.

Com isso, Jungkook abriu o portão e se pôs para fora. Jimin quis mencionar o momento anterior, mas considerou melhor não o fazer. Ele tinha ficado tão atento ao jeito de Jungkook que tinha esquecido completamente o motivo que o fez estar ali.

– Confesso que estou surpreso em te ver. – disse Jungkook com um sorriso no canto superior. – Me diga, o que o traz aqui, Park?

– Aquela sua proposta ainda está de pé?

O sorriso no rosto de Jungkook se alargou.

– Isso quer dizer que você mudou de ideia? – perguntou.

– É, digamos que sim. – ele disse. – A ideia de jantar com você não me parece tão ruim. Além do mais, é a única forma que tenho de te agradecer por ter me ajudado no clube.

– Então você consegue se lembrar desse dia?

– Não, mas talvez você possa me ajudar com isso.

Jungkook levou aquele comentário como um elogio, ou melhor dizendo, um progresso. Por um momento, ele não tinha se dado conta de que estava jogando com Jimin, especialmente quando ele sorriu em sua direção. Ali, portanto, Jungkook soube que estava cego pela necessidade de se aproximar dele.

Imprevistamente, seus olhos viram, como um borrão, a silhueta de alguém no outro lado da calçada. Era um homem. Jungkook percebeu, instantaneamente, que ele estava lhe observando à distância. Pela aparência rudimentar, chegou a conclusão que era um dos homens de seu tio.

– Posso saber o que te fez mudar de ideia tão rápido? – Jungkook perguntou em divertimento, tentando não demonstrar a Jimin que estava incomodado com algo.

Jimin suspirou.

– Você estava certo quando disse que a monotonia é uma chatice. – ele assumiu. – Então, eu estava pensando em mudar isso. Quero curtir minha vida, conhecer novas coisas, fazer um monte de loucuras, enfim. Nunca saberemos o dia de amanhã.

Jungkook abriu um sorriso pequeno e então perguntou:

– Em outras palavras, você quer se arriscar?

Aquela pergunta poderia ser interpretada de várias formas, mas Jimin quis acreditar que ele estava se referindo ao impulso de se aventurar em coisas diferentes. Ele não conseguiu se concentrar suficientemente em sua reação para perceber que suas sobrancelhas ficaram arqueadas em inquérito.

– Talvez eu queira. – respondeu Jimin, dando de ombros mentalmente para aquela manobra arriscada.

– Então você encontrou o cúmplice perfeito.

▸▸◂◂

Oi meus amores, como vcs estão? Espero que bem! Eu demorei muito pra atualizar esse capítulo pq ultimamente eu estava muito focada no livro físico de dangerous. E por falar nisso, estou cogitando transformar killer em livro físico também, mas por enquanto é só uma cogitação, nada de certezas.

Killer vai ser curtinha, então as coisas podem acontecer "rápido demais" a depender do ponto de vista. Espero que tenham gostado do capítulo, não sei se ficou bom porque escrevi ele em dois dias e revisei apenas uma vez. Mas enfim...

Se cuidem direitinho e até a próxima atualização!! <3

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