[CAPÍTULO 05]

Sangue. Gritos. Tortura. Dor...
Sangue. Gritos. Tortura. Dor...
Sangue. Gritos. Tortura. Dor...

Jimin abriu os olhos de supetão, suas unhas apertaram forte o colchão quando ele se sentou. Com a respiração acelerada, seus olhos fizeram uma rápida inspeção pelo lugar, se dando conta de que estava em seu quarto. No sonho, entretanto, ele viajava em retrospectiva ao momento do assassinato.

Observar o crepuscular através da janela o deixou mais confortável, principalmente quando o cômodo começou a ganhar forma. A noite não havia caído totalmente, mas ele já podia ouvir os pássaros cantando ao longe.

Com sua frequência cardíaca diminuindo, Jimin passou as costas da mão sobre a testa, onde varreu uma grande quantidade de suor. Seu pescoço estava doendo pela posição que dormiu, então ele lançou o cobertor para longe e se pôs sentado com as pernas para fora do colchão. O tique-taque do relógio acima da cabeceira apontava para o número quatro.

Jimin mordeu o lábio, inclinado a não voltar a dormir. Ele passou a ter sérios problemas com pesadelos nos últimos dias, alguns chegavam a parecer reais, o suficiente para enganá-lo. Por isso, decidido a fugir desse estupor, Jimin pensou em uma forma de espairecer, apenas o bastante para empurrar essas partículas de pesadelo para longe.

Levantando-se, ele caminhou até o banheiro e ligou a torneira. Formou uma concha com as mãos e as encheu com água, depois molhou o rosto. Um rápido olhar sobre o banheiro revelou uma toalha de rosto sobre um gancho. Ele retirou toda água com um remexer sutil, em seguida pôs a toalha no mesmo lugar.

A porta do quarto rangeu de repente, atraindo os olhos de Jimin naquela direção. Ele a flagrou entreaberta no meio da semiescuridão do cômodo, mas não havia ninguém.

– Namjoon?

Silêncio.

Jimin acendeu as luzes do quarto, tudo estava em perfeita ordem. Não havia nada, nem mesmo uma instantânea sombra. O sexto sentido de Jimin lhe disse que aquilo não tinha sido apenas uma falha impressão, pois ele tinha certeza que trancou a porta antes de dormir.

Ciente de que não estava maluco, ele pegou o celular da cabeceira e ligou a lanterna, em seguida deslocou-se para fora do quarto. A sala estava escura, exceto pelo feixe de luz da lanterna. Tudo estava em silêncio. Havia uma almofada no chão, mas fora isso tudo estava em seu devido lugar.

– Namjoon? – ele tentou de novo, mas ninguém o respondeu.

Muito ligeiramente ele supôs que Namjoon estivesse dormindo. Em um lampejo, ele percebeu que a janela da frente estava aberta, protestando com um gemido quando balançada pelo vento. Mesmo sem desejar, Jimin começou a pensar o pior.

Movido pelo instinto e igualmente pela curiosidade, ele atravessou a sala e alcançou a porta, mesmo ciente de que essa escolha não lhe parecia a mais inteligente. Uma vez aberta, Jimin olhou para os dois lados da varanda, mas não encontrou ninguém.

Ele engoliu.

Certamente, Namjoon esqueceu de trancar a janela antes de dormir, embora essa conclusão não reduzisse seu pressentimento ruim. Por um milésimo de segundo, Jimin se pegou pensando na possibilidade de estar sendo perseguido. O detetive Chul o alertou de ficar atento, pois o assassino poderia, subitamente, ir atrás dele para acertar as contas.

Ele ainda era uma testemunha ocular, portanto não estaria seguro até que o responsável fosse encontrado.

O tempo estava fresco lá fora, o céu começava a clarear aos poucos, mas a neblina ainda atrapalhava sua visão. Havia um oficial uniformizado com o carro estacionado na calçada para fiscalizar a casa. Jimin cruzou os braços na tentativa de conter a brisa gelada e o perigo simultâneo. Parecia loucura, ele sabia, mas a sensação de estar sendo espionado continuava lhe dizendo que algo estava errado.

Com isso, ele retornou para dentro e trancou a porta, como também a janela. No entanto, um barulho instantâneo de pés ecoou ao longe, o fazendo girar a cabeça em todas as partes. Jimin lançou o feixe de luz na direção do ruído, mas tudo o que ele enxergou foi a porta dos fundos semiaberta.

Havia um quintal nos fundos da casa, onde Namjoon costumava plantar seus variáveis tipos de flores. A sua mórbida curiosidade lhe fazia correr perigo, mas ele ficava cego diante dela. Por isso, ao invés de ignorar esse detalhe, ele optou por ir conferir.

Quando Jimin abriu a porta, seu coração deu um salto brusco entre as costelas, mas de repente suavizou. Ele encontrou Namjoon em sua roupa de esporte pulando corda enquanto usava fones de ouvido. Ainda de costas, Namjoon não pareceu notar a presença de Jimin, mas quando seu amigo tossiu para chamar sua atenção, o corpo dele girou instintivamente.

– Jimin?

Ele removeu os fones do ouvido e enxugou o suor na testa muito ligeiramente. Sua expressão era uma mistura de surpresa com uma profunda dúvida. Jimin percebeu que os olhos dele demoraram demais no seu celular, certamente por conta da lanterna acesa. Com isso, ele a desligou depressa.

– Por que está acordado a essa hora? – Namjoon voltou a perguntar, dessa vez ele colocou a corda sobre o ombro, como se não fosse mais usá-la.

– Ouvi um barulho estranho.

– Deve ser a minha coelha. Aquela danada costuma correr pela casa de vez em quando.

– Não. – em particular, uma parte de Jimin vacilou. – A porta do meu quarto estava destrancada. A janela da sala estava aberta também. Isso não é incomum para você?

Namjoon apertou as sobrancelhas em incerteza, ele conseguia entender a preocupação de Jimin, mas a região onde morava costumava provocar ruídos estranhos no meio da noite, principalmente por conta da direção que sua casa estava para o vento.

– Posso ter esquecido a janela aberta. – explicou Namjoon. – Não é a primeira vez que isso acontece.

– E a porta do meu quarto, como você explica isso?

– Você estava muito cansado ontem, provavelmente esqueceu de fechá-la.

Jimin chacoalhou a cabeça para os lados, equivocadamente inconformado. Com isso, Namjoon largou a corda no chão e se aproximou dele.

– Por que você não começa a fazer caminhada, ou quem sabe um exercício de leve pela manhã? – ele sugeriu brevemente. – Não sobrecarregue sua mente com tantas hipóteses, você precisa preenchê-la com coisas saudáveis. Olhe só para mim, estou pulando corda às quatro da manhã.

– Você costuma fazer isso sempre?

– Todos os dias, sem exceção.

O pressentimento ruim que Jimin sentiu minutos atrás foi rapidamente eclipsado pela certeza de saber que Namjoon estava com ele. Talvez essa premonição fosse consequência dos constantes pesadelos que vinha tendo, portanto, a sensação que tinha era de que nada estava normal.

– Vou tomar um banho. – disse Namjoon em seguida. – Por que você não prepara um café e come alguma coisa?

Jimin deu um suspiro fundo e forçou um sorriso.

– Me parece uma boa ideia.

– Não tem ninguém aqui além de nós dois, Jimin. Ele não está aqui. – Namjoon ressaltou quando percebeu que os olhos dele estavam diferentes. – Além do mais, há dois policiais de vigia. Ele não vai te fazer nenhum mal. Confie em mim.

– Ele driblou um sistema de segurança potencializado, acha mesmo que dois guardas vão segurá-lo? – sua voz estava tensa.

– A grande diferença é que agora estamos mais espertos. Quem quer que seja esse cara, ele não vai te matar.

Jimin não conteve o movimento arqueado de sobrancelhas.

– Como pode ter tanta certeza?

– Bem, ele teria feito isso no dia que cometeu o crime.

Onde quer que Namjoon quisesse chegar, não o estava convencendo. Muito pelo contrário. A desconfortável lógica que Jimin tinha agora era de que ele havia se tornado um alvo. Sendo parte do contrato ou não, Jimin tinha consciência que a trama ia mudar drasticamente e ele ficaria na linha-alvo do assassino.

Depois de muito impasse, Jimin varreu esse pensamento para longe e aceitou o convite de Namjoon. Tomar uma xícara de café morno era bem mais produtivo do que cismar com o que ainda não lhe aconteceu.

Ainda...

▸▸◂◂

Jimin estava dirigindo por cerca de quarenta minutos. Ele optou por óculos de sol e uma roupa mais modesta, nada de gravatas e ternos. A parte da cidade por onde ele estava passando ficava distante do centro, o que tornava um bom lugar para fugir dos holofotes. Seungwan estava ao seu lado, furtivamente escondendo seus olhos dos raios solares.

A casa que Seungwan estava negociando ficava em um bairro tranquilo, sem tráfego ou imprensa. Em épocas de faculdade, Seungwan ficava nessa casa para focar nos estudos, pois, segundo ela, o ambiente era tão quieto que dificilmente alguém acreditaria que haviam vizinhos. Quando começou a namorar Hoseok, no entanto, seus planos de domicílio mudaram e então ela se transferiu para a casa dele.

– Só mais dois quarteirões. – sua amiga disse, conferindo a estrada para além do para-brisa.

Jimin girou a Mercedes para a direita enquanto analisava visualmente as ruas pacatas. Algumas árvores nas calçadas formavam sombras no pavimento, o que facilitava o abrigo de crianças em seus pequenos patins. Por um momento, uma sensação de conforto lhe tocou.

– Parece tão calmo. – ele comentou baixinho.

– Realmente. – Seungwan sorriu. – Se você estava procurando um lugar tranquilo, aqui é o paraíso. As pessoas são educadas, elas evitam fazer barulho para não incomodar.

Realmente, nada de buzinas, nada de olhares discretos de piedade, nem do estranho evitar de olhos, tampouco o arrastar de pés em silêncio. O ambiente parecia indiscutivelmente apropriado para Jimin. No entanto, só havia um problema...

– É seguro? – Jimin questionou, ganhando o calmo olhar de sua amiga.

– Sim. – ela não pareceu convicta ao dizer aquilo. – Mesmo sendo seguro, pode não ser suficiente. Você foi testemunha de um crime e o responsável ainda está solto, nenhum lugar vai ser totalmente seguro para você enquanto esse cara estiver andando por aí.

– Isso significa que eu vou ter que colocar policiais na minha porta. – ele resmungou.

– Isso significa que você precisa se prevenir. – disse ela previamente. – Chegamos.

Jimin estacionou a Mercedes em uma vaga espaçosa, bem próxima da casa sinalizada por ela. Ignorando tudo de ruim que sua mente estava projetando, ele apenas focou em sair do carro e dar a volta para encontrar Seungwan no meio do caminho.

Encurtando a distância, Jimin observou clandestinamente a rua onde estava, e, possivelmente, os seus futuros vizinhos. Tudo parecia tão incomum em comparação ao lugar onde morava com seus pais. Ele estava acostumado com os empregados andando pela casa, barulhos do tráfego, olhares de cobiça e a grande correria do dia a dia.

Hoje, no entanto, a impressão que tinha era de que tudo isso desapareceu.

Seungwan foi para a porta de entrada tão silenciosamente que seu amigo mal percebeu. Jimin a seguiu, tentado a conhecer o interior de sua futura casa. Claro que ele não viveria eternamente naquela casa, até porque ela não era sua, mas, voltando em retrospectiva, Jimin tinha boas memórias do que Seungwan lhe contava sobre o local.

Considerando a sua situação atual, um lugar pacato era tudo o que ele precisava agora. Ao julgar os atípicos acontecimentos na casa de Namjoon, ele teve certeza disso.

Ele agitou-se para dentro quando Seungwan destrancou a porta, deixando-a escancarada para ele passar. O interior da casa estava livre de mobílias, a claridade da manhã derramou um feixe de luz vertical para dentro, o que acabou por iluminar todos os cômodos.

A aparência da casa lhe dizia que ela estava inabitável a um bom tempo, mas, por outro lado, não haviam resíduos de poeira e o assoalho aparentava estar limpo. A varanda era o único lugar sujo com as folhas que se espalhavam ao redor do chão. Jimin teria que fazer uma varredura quando se mudasse.

– Seja bem-vindo. – disse Seungwan, colocando sua bolsa sobre um suporte forjado ao lado da porta. – O lugar não é muito grande, mas tem dois quartos, um banheiro, cozinha, uma sala pequena e também o térreo. Os quartos ficam no andar de cima.

– Foi você quem decorou? – ele perguntou enquanto fazia uma breve inspeção pelas paredes de cor camurça.

– Sim, mas você pode reformar de acordo com o seu gosto. – ele a encarou à distância. – Acho que você não vai gostar muito da decoração do quarto, mas fique à vontade para pintar de outra cor.

– Pelo jeito eu sou a primeira pessoa a morar aqui depois de você. – comentou ele, sorrindo.

– Digamos que sim. – ela riu. – Quando o meu pai me deu essa casa, ele me fez escolher toda a decoração. Mas agora que ela não me pertence mais, não tem problema te dar esse passe livre.

– Acho que não vou mexer em quase nada. Olhando assim, ela me parece organizada e bonita. Você tem um bom gosto. – ele passeou por cada cômodo, estudando seus espaços e suas divisões. Seungwan sorriu em agradecimento. – Então, quanto você vai me cobrar por ela?

Pela reação de Seungwan, ela pareceu não querer nada em troca.

– Não seja bobo, Jimin. Não vou te cobrar por isso. – ele enrugou a testa rapidamente. – Você pode ficar aqui o tempo que quiser. Considere isso como um favorzinho.

– Seungwan-

– Estou falando sério. – ela lhe deu um suave soco no ombro e então o abraçou. – Você me ajudou tantas vezes que isso ainda me parece insuficiente para agradecê-lo. More aqui o tempo que precisar, pelo menos até encontrar um lugar mais sofisticado.

Eles eram amigos próximos de longa data, muito antes de ele conhecer Namjoon e Hoseok. Foi Jimin, a propósito, que apresentou Seungwan a Hoseok, embora ela estivesse namorando um cara estranho antes disso.

Ela era uma pessoa legal, não se intrometia em sua vida, não bisbilhotava, tampouco fazia perguntas invasivas, a não ser que Jimin estivesse em perigo como agora.

– Ok, já que você insiste. Obrigado. – Jimin agradeceu, abraçando-a pelos ombros. – Não vou ficar tanto tempo aqui, é só para esfriar a cabeça. Não aguento mais a imprensa na minha cola.

– Pior que eles não vão largar do seu pé.

Jimin suspirou, concordando com aquilo. Às vezes, quando ele estava com um péssimo humor, seu bode expiatório eram os repórteres. Jimin os ofendiam internamente, claro, pois não queria expor uma imagem arrogante. Ele já cogitou arranjar alguma coisa para desfalcar sua raiva, mas nada lhe serviu.

– Ah, venha. Vamos ver lá em cima. – disse Seungwan de repente, agarrando a mão dele em seguida.

Eles foram para o lance de degraus e seguiram para o andar de cima. Jimin pôde observar o quão embrutecido era o brilho das janelas naquele andar por conta do sol. Ele segurou a visão por um momento antes de explorar os cômodos vazios, conforme faziam seu caminho. As portas eram brancas, o corredor estreito e as paredes lisas. No final da passagem havia uma grande janela onde era possível ver os galhos de uma gigante árvore chacoalhando à distância.

Por um instante, ele se flagrou sentindo uma sensação desconfortável no estômago. O ruído atraiu seus olhos e, previamente, sua audição. Apesar de tudo, ele também conseguia vislumbrar os arranha-céus que ficavam mais distantes.

– Jimin? – Seungwan o chamou, acenando os dedos na frente de seus olhos. Ele a encarou. – Está bem?

– Estou. – ele balançou a cabeça, como se estivesse varrendo um pensamento para longe. – Digo, eu me lembrei de uma coisa estranha que aconteceu de madrugada.

Ao pensar naquilo, seu estômago embrulhou. Em poucos segundos, Seungwan curvou as sobrancelhas, seus olhos estavam incertos.

– O que aconteceu?

Jimin tomou fôlego e disse:

– Eu estava tendo pesadelos, então acordei assustado. Quando fui no banheiro, a porta do meu quarto de repente abriu. Eu pensei que fosse o Namjoon, por isso peguei minha lanterna e fui para fora, só que não tinha ninguém.

– Não era o Namjoon?

– Não, ele estava treinando nos fundos da casa. – Jimin contou. – A janela da sala estava aberta também. Não sei o que se passou na minha cabeça naquela hora, mas eu quis verificar o que era. Quando abri a porta, novamente, não havia ninguém. Eu não sei se estou ficando louco ou se realmente tinha outra pessoa lá dentro.

– A quanto tempo você não dorme, Jimin?

De repente, ele se encontrou confuso com a pergunta. Ele sabia que aquilo soava estranho, ou melhor dizendo, como se não fosse nada além de um pesadelo, mas a verdade era que ele sentia que tudo o que aconteceu foi real e não parte de um sonho.

– Eu sei o que está pensando. – disse Jimin, ouvindo os próprios nervos embaixo de seu tom. – Você deve estar achando que tudo isso foi um sonho, não é?

– Se você não estiver dormindo bem, é comum que venha a ter alucinações auditivas ou visuais. Seu cérebro começa a ficar sobrecarregado, então se você não o relaxa, é esperado que as coisas fiquem mais aguçadas e piorem.

– Seungwan, eu sei o que ouvi. Não foi um sonho, foi real. Tinha alguém na casa do Namjoon além de nós dois.

– Como isso é possível? Tem policiais protegendo você o tempo inteiro. Como alguém entraria na casa do Namjoon sem a polícia perceber?

– Você realmente quer saber quem?

Um pequeno estremecimento passou por Seungwan quando os olhos de Jimin ficaram sérios. Ela se lembrou que o assassino havia entrado na casa de Jimin tão silenciosamente que nem os vizinhos puderam ouvir. Pior que isso, ele havia se livrado de aparecer nas câmeras como se fosse um fantasma.

– Jimin, eu acho que você deveria informar ao detetive. – sua amiga aconselhou, segurando os dedos gelados dele. – Se esse cara estava lá, isso significa que ele pode estar atrás de você.

– Eu não sei se estou seguro aqui. – ele sussurrou.

– O que você quer dizer?

– Talvez eu tenha que me mudar de cidade caso seja necessário. Ir para Busan, quem sabe.

Seungwan não disse nada sobre isso, mas seus olhos estavam chateados e pensativos.

– Eu não quero que você vá. – ela murmurou com um desânimo melancólico. – Mas eu entendo os motivos.

– Por enquanto é só uma opção. – aquilo deveria animá-la, mas seu humor continuou para baixo. – Não fique assim, Seungwan. Por favor.

– Não quero que nada te aconteça. – ela balançou a cabeça, realmente detendo a vontade de chorar. – O que aconteceu com seus pais me deixou aflita e agora você me conta que pode estar sendo perseguido. Se alguma coisa acontecer com você...

Antes que ela pudesse terminar de falar, Jimin a puxou para os seus braços e apoiou o queixo acima de sua cabeça. Ele não podia negar que também temia por isso, mas demonstrar fraqueza não lhe ajudaria em nada.

– Jimin – ela disse seu nome, em seguida o encarou por baixo. – Venha morar comigo e com o Hoseok. Nós podemos cuidar de você.

– Eu agradeço sua preocupação, mas já sou um adulto e por isso tenho que lidar com isso, seja com medo ou não.

Seungwan espremeu as sobrancelhas.

– Você realmente sente que não tem mais nada a perder?

O olhar que Jimin atirou sobre ela era tão triste quanto penoso. Ele gostaria de dizer a Seungwan que sua vida não era mais a mesma e que, apesar de estar aguentando firme, ele não tinha desejo de aguardar o seu futuro. Tudo o que estava vivendo não era para si, mas para os seus pais, então não faria diferença.

No entanto, antes que ele pudesse dizer algo em sua defesa, o toque de um celular ecoou pelo cômodo vazio. Seungwan deixou escapar um suspiro quando se deu conta de que era o seu. Jimin deu um passo para trás na mesma hora que ela começou a remexer os bolsos da calça. Quando achou o aparelho, pôs no ouvido.

– Alô?

Jimin ainda não tinha passado na empresa, ele optou por visitar a casa primeiro, pois suspeitava que não teria tempo para isso mais tarde. Seu tio tinha lhe avisado com antecedência de que faria uma breve aparição na construtora hoje, portanto, Jimin chegou à conclusão de que esse encontro não seria nada agradável, tampouco passageiro.

Pela conversa que ouviu, Jimin presumiu que Seungwan estava falando com Hoseok. Com isso, ele aproveitou para andar pelos cômodos lentamente, fazendo uma breve varredura pelo local. Quando alcançou aquela janela, ele estagnou, sem abri-la, e olhou para além do vidro.

A distância, pôde observar uma coisa diferente apontada para o céu. Uma fachada de boas-vindas. Abaixo daquilo, um nome em especial atraiu seus olhos naquela direção. El Serpiente. O que quer que aquilo significasse, Jimin suspeitou que fazia parte de algum evento.

– Jimin? – ele girou de frente para ela. – Hoseok está engarrafado no trânsito. Ele me pediu para pegar uns documentos que ele esqueceu em casa. Você pode me esperar aqui?

Seu amigo acenou em concordância e lhe esticou a chave de seu carro.

– Use o meu carro. – ela pensou em negar e pegar um táxi, mas o olhar de Jimin não a permitiu escolher essa opção.

– Obrigada. – sorrindo, ela agradeceu e agarrou a chave.

Jimin acompanhou Seungwan até a porta principal, que apoiou a alça da bolsa no antebraço antes de se deslocar para fora. Ele não quis retornar para o interior da casa, embora Seungwan tivesse dito que ele podia divagar por onde quisesse para conhecer melhor sua futura residência. Seu impulso natural, no entanto, optou por ficar na varanda, observando a Mercedes dando partida.

Jimin deixou sua mente relaxar quando sua amiga partiu. Ele procurou não pensar em coisas ruins nesse meio tempo, o que não ocorreu facilmente. Tinha sido assombrado, novamente, pelas lembranças da madrugada, mas isso não durou muito, logo ele as dispensou com um balançar de cabeça.

Avaliando a vizinhança, Jimin notou que as pessoas eram muito diferentes dele. Não pelas vestimentas ou condições financeiras, mas pela forma que aproveitavam o dia. Jimin estava acostumado a colocar os negócios em primeiro lugar, o lazer ficava em últimos planos. Às vezes, não havia espaço para sequer pensar em diversão.

Como um raio em movimento, um punhado de motos cruzou pela estrada da frente, soltando fumaças pela boca do escapamento. Jimin observou aquele desfile de motos com um olhar interessado. Os veículos eram robustos, empinados e pretos. Não havia nenhuma outra cor além do preto.

Aqueles que as pilotavam tinham tatuagens de serpentes no braço, como se fossem uma gangue de motoqueiros. A aparência deles era uma mistura selvagem de caras fora da lei, com óculos escuros e vestimentas de couro.

Jimin se sentiu observado quando aquele que parecia ser o líder dos motoqueiros o encarou de longe. Ele tinha uma bandana vermelha amarrada no braço, cabelos na altura dos ombros e um olhar felino. Não demorou muito, logo o motoqueiro-líder guiou os demais por uma esquina.

Ali, então, Jimin se lembrou da fachada de boas-vindas e logo supôs que eles estavam indo para o evento El Serpiente. O que era estranho, pois Seungwan lhe disse que aquele quarteirão era tranquilo e silencioso. Esse evento, no entanto, não parecia estar tão longe daquele bairro. Muito pelo contrário, ele estava tão perto que Jimin conseguia ouvir o ronco e as buzinas das motos.

– Está perdido por aqui? – uma voz diferente perguntou. Não parecia tão diferente, pois Jimin já havia escutado antes.

Quando se virou, seus olhos deram um fraco solavanco. O cara que o salvou daquele carro desgovernado estava bem na sua frente, usando calças rasgadas e uma regata preta. Jimin observou as tatuagens ao longo de seu braço e quase despencou para trás. Não que ele estivesse enfeitiçado, na verdade aquilo era muita coincidência para ser real.

– Você...

– Em carne e osso. – Jungkook sorriu um tiquinho para cima. – Parece que você está surpreso em me ver.

– Na verdade, sim.

– Foi o que imaginei. Eu estava passando e te reconheci de longe. Isso soa mal?

Jimin fez um fraco som de assobio e então sorriu. Em outras circunstâncias, ele diria que estava sendo paquerado por aquele motoqueiro, mas agora sua ótica apontava para aquela estranha coincidência. Tudo bem que, levando em conta a moto Kawasaki Ninja H2 que ele usava, era esperado que fosse encontrá-lo num lugar como aquele.

Ele tinha uma aparência mais bonita de dia, sua cicatriz ficava mais acentuada sob o feixe solar. Não apenas uma, mas as várias cicatrizes pequenas ao longo de seu pescoço e braço. Jimin podia até suspeitar de uma marca de nascença, mas aquele punhado de riscos pálidos não podiam ser fruto de uma disfunção genética.

– Você mora aqui? – perguntou Jimin.

Jungkook balançou a cabeça para os lados para a sua surpresa.

– Moro um pouco distante daqui. Você não saberia se eu dissesse. – explicou. – Algo me diz que você também não mora aqui.

– Nesse caso, eu estou pensando em me mudar para cá. – Jungkook avaliou esporadicamente a casa às costas de Jimin e então voltou-se para ele. – São coisas pessoais.

– Entendo.

Jimin podia estar ficando louco, mas flagrou o lampejo de um sorriso por trás de seus lábios fechados. Era como se aquela informação o tivesse deixado, por uma fração de segundos, satisfeito. Jungkook, por sua vez, continuou observando-o com um indisfarçável interesse, e era a mais estranha espécie de olhar.

– Isso é um pouco estranho. – comentou Jimin. – Você me salvou de um carro desgovernado ontem e do nada você aparece hoje também. Isso é muita coincidência.

Jungkook deu uma risada gostosa, bem descontraída por sinal.

– Eu faço parte de um torneio de motos que está para começar hoje a noite. Sou um dos participantes. Creio que você tenha visto aquelas motos passando por aqui. Aqueles caras são membros exclusivos do torneio, sempre andam em bandos. Então, talvez, seja só uma coincidência louca.

– E você, por que está aqui agora se o torneio ainda não começou? – aquilo não era bem uma indagação, apenas uma dúvida.

– As provas começam semana que vem, hoje terá a festa de boas-vindas, mas nós temos que treinar no local antes de começar. É uma das regras.

– E onde está sua moto?

Ok, Jimin, controle-se, isso não é um interrogatório.

Jungkook apontou para o final da rua, onde uma moto preta estava estacionada, sua ferragem parecia novinha em folha, muito dificilmente ele teria percebido esse detalhe na noite passada. Com isso, o rapaz suspirou e lhe deu um sorriso de desculpas.

– Me desculpe por parecer tão invasivo. – Jimin falou. – É que eu gosto de saber com quem estou conversando.

– Tranquilo. – ele deu de ombros, realmente demonstrando tranquilidade. – Está afim de caminhar um pouco? Sei que você é novo no bairro, posso te apresentar algumas novidades. Lugares. Pessoas. Você sabe.

Jimin sentiu-se inclinado a aceitar, se não fosse pelo terrível pensamento que mergulhou em sua cabeça naquela hora.

– Eu adoraria, mas estou esperando uma amiga.

Em outras palavras, ele não podia sair com estranhos, pois estava ciente do conselho do detetive Chul sobre se afastar de pessoas fora de seu vínculo social, uma vez que qualquer uma delas podia ser o assassino. Se bem que Jimin suspeitava que o responsável estava mais perto do que nunca, e não precisava necessariamente ser um desconhecido.

– Bem, já que você recusou a minha primeira oferta, que tal a festa de boas-vindas? – Jungkook sugeriu, optando por outra abordagem. – Considere isso um convite exclusivo.

Jimin sorriu um pouquinho, embora ele não tivesse certeza do que dizer.

– Eu não sabia que pessoas fora do torneio podiam participar de uma festa só para motoqueiros.

– Qualquer pessoa pode participar, Park. O convite é gratuito, mas as bebidas não. – disse Jungkook, elevando o canto esquerdo da boca. – Nesse caso, fique tranquilo, eu te pago a bebida.

Ao que parece, ele está decidido a não desistir facilmente. Em outra época, Jimin teria dito sim sem pensar duas vezes, mas agora ele tinha em mente que não podia sair por aí aceitando convites de estranhos. Por isso, ele sorriu pacientemente e tentou se livrar usando uma outra abordagem sem precisar dizer o motivo.

– Esse tipo de festa não faz o meu perfil.

– Eu costumo dizer que nós devemos desfrutar de outros mundos diferentes do nosso. Monotonia é uma chatice. – acrescentou Jungkook, quase que satisfatoriamente. – Mas, bem, o convite está feito. Eu vou estar te esperando caso mude de ideia.

Jimin sentiu um familiar aperto no estômago com aquelas palavras. Ele não queria parecer grosseiro com o outro, afinal ele estava lhe tratando muito bem, sem precipitações. Por isso, Jimin ficou parado, sem dizer nada em protesto. Enquanto Jungkook, desse modo, se mantinha pacientemente quieto, como se o silêncio fosse o seu aliado.

De repente, uma imagem da noite passada correu por sua cabeça, fazendo Jimin ter uma nova ideia. O motoqueiro não tinha lhe dito seu nome. Ele o manteve em segredo como se aquilo fosse de algum modo um jogo de adivinhações.

– Eu aceito seu convite com uma condição. – disse Jimin, mas sua parte racional protestou em discordância. "Não faça isso, seu tolo". – Me diga seu nome primeiro.

Um sorriso divertido brincou no canto esquerdo dos lábios de Jungkook. Em seguida, disse:

– Vejo que você está ansioso para descobrir.

– Talvez. – ele cruzou os braços. – Você sabe o meu, nada mais justo do que eu também saber o seu.

Jungkook fez uma cara divertida, como se Jimin estivesse de algum modo perto de convencê-lo. Adivinhação não era o tipo de competição que ele gostava, mas ele dificilmente soltaria o seu nome sem antes ter certeza onde estava pisando.

Algumas pedras em seu caminho podem nunca sair, pensou.

– Que tal fazermos diferente – propôs Jungkook, soando divertido ao dizer. – Você me dá um nome e a partir de então pode me chamar assim.

Jimin suspendeu uma sobrancelha, sabendo que aquela era uma proposta muito estranha para o tópico de uma conversa normal. Escolher um nome? Pensou. Por Deus, isso é loucura.

Ele não disse nada em resposta, até porque não havia pensado em nada. O quê? Por que eu estou cogitando pensar em um nome para ele? Jimin sacudiu a cabeça na mesma hora.

– Isso é loucura. Você quer que eu te dê um nome? – Jimin perguntou, retoricamente.

– Como você gostaria de me chamar?

– Eu não sei.

Jungkook sorriu.

– Então esse será o seu desafio.

Por algum motivo desconhecido, aquela proposta lhe pareceu atraente. Jimin não reagiu, nem teve tempo para isso, pois o cara tatuado na sua frente continuou a dizer:

– Eu tenho que ir agora. – Jimin mastigou seu lábio e demorou a concordar. – Seja bem-vindo a sua nova casa. E tenha cuidado.

Jimin abriu um pequeno sorriso em agradecimento. Ele não tinha percebido até então, mas o motoqueiro não o tratou como uma celebridade, nem entrou em assuntos indesejáveis sobre o homicídio. Ele o examinou apenas como alguém que estava entrando em uma nova vizinhança.

Isso podia parecer estranho para Jimin, mas ao mesmo tempo era tranquilizador.

Com isso, Jungkook se virou para longe e acenou para Jimin quando alcançou sua moto. O rapaz retribuiu seu gesto discretamente. Não podia dizer que ficou surpreso com a súbita aparição daquele sujeito — novamente —, uma vez que ele passou a noite inteira se convencendo de que o conhecia.

Mas a verdade era que Jimin não tinha memórias sobre ele. Tentou vasculhar suas lembranças festivas, mas nenhum rosto que surgia à superfície era o dele, assim como não conseguia associá-lo a nenhum afiliado da empresa.

Aquele sujeito, quem quer que fosse ele, era uma sombra desconhecida em seu caminho.

▸▸◂◂

Oi bebês, dessa vez eu demorei um pouquinho pra soltar esse capítulo, mas como agora vou entrar de férias talvez o próximo saia mais rapidinho.

O jungkook tá começando a beirar o território do jimin, basta saber se ele vai desconfiar ou deixar o bonde seguir. Eu gostaria de ver a opinião de vocês sobre a estória até aqui.

Não sei o que vcs acharam desse capítulo, espero que tenham gostado. Enfim, se cuidem! <3

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