DIAS ATUAIS

—Então? Qual vai ser o plano agora que meu pai resolveu assumir o Cobra Kai com Kreese? — Leonard perguntou do outro lado do escritório

— Vamos seguir como planejamos. Vamos esperar o torneio acabar para divulgar o vídeo do Kreese te agredindo.

— Ainda precisamos saber como manipular meu pai. Por incrível que pareça parece que agora ele quer fazer as coisas direito. Pelo menos foi o que ele me disse

— Silver não vai ser um problema para nós, pode confiar. Ei, dá uma olhada nisso — Elliot virou a tela do computador para Leonard — Esse vai ser o design dos nossos quimonos.

Eram quase a mesma coisa, mas todos os detalhes amarelos eram vermelhos. E agora, eles tinham mangas.

— Legal! Está muito melhor, precisamos nos diferenciar. Agora olha isso — Leonard virou o notebook para Elliot — Quero nossa logo estampada em todos os lugares. Mochilas, jaquetas, garrafas de água. Qualquer coisa

— E outdoors é claro. Vamos criar outdoors enormes com os nossos rostos.

— Perfeito

De repente a porta foi aberta, pegando os dois de surpresa

— Elliot, eu preciso...

— Isabela! Eu pedi pra você bater antes!

— Desculpe, senhor Barnes eu...

— Não se preocupe. Está tudo bem, o que foi?

Elliot estava visivelmente agoniado, e Isabela percebeu isso. Foi quando ela olhou para o notebook de Leonard, que parecia muito distraído para notar a presença dela

— Vocês estão ajudando no marketing do Cobra Kai? Por quê?!

— Isabela, não é o que parece

— É, Isabela não é o que parece — Leonard se levantou da cadeira e encarou a moça — Outra LaRusso, Elliot? Eu acho que você está muito apegado a essa família

Isabela encarou Leonard um pouco confusa, mas depois arregalou os olhos em surpresa

— Você! Você estava no dojô, naquele dia!

— Sabia que é feio bisbilhotar? A conversa que tive com seu tio era particular — Leonard andou na direção dela

— Eu... eu ouvi sem querer — ela disse andando para trás, o medo nítido nos olhos dela. De repente Leonard começou a rir

— Só estou brincando com você. Não quero te assustar. Está tudo bem que você tenha ouvido, mas espero que não espalhe isso para ninguém

— Eu não vou, prometo

— Eu perdi alguma coisa aqui? — Elliot perguntou

— Isabela estava no Miyagi Do quando fui contar nosso plano ao Daniel. Ela se escondeu atrás da cerca, achando que eu não podia ver.

— Você é assustador, igual seu pai. Eu devia sentir medo de você?

— Garanto que não precisa. A menos que você mude de lado e fique do lado do meu pai, não sou uma ameaça para você. E nem Elliot

— Ok...

Um silêncio tomou conta do escritório por alguns segundos

— Nós não estamos fazendo marketing para o Cobra Kai. Pelo menos, não para o de John Kreese

— Esse é o nosso marketing. Leonard e eu vamos levar o Cobra Kai a outro nível, quando tirarmos Kreese e Silver de lá.

— Isso significa que essa guerra de karatê vai acabar? De uma vez por todas?

— Sim. Estamos fazendo isso por todos. Pelos alunos do Cobra Kai, os alunos do Miyagi Do e do Presas de Águia, e por Daniel e Johnny

— E no que eu posso ajudar?

Leonard e Elliot se entreolharam. Ela queria mesmo se juntar a eles? Sem nem saber direito como o plano funcionaria.

Bem, apesar disso, a ideia não era ruim. Eles precisavam que alguém sabotasse o Cobra Kai, e tanto Leonard quanto Elliot corriam risco se encontrando com Daniel LaRusso. Isabela seria perfeita para esse plano

— Independente de quem ganhe o torneio, é bom que o Miyagi Do e o Presas de Água estejam prontos para o que quer que aconteça. Portanto, vou passar o máximo possível de tempo assistindo aos treinos do Cobra Kai. E você, vai informar tudo que estiver acontecendo, a Daniel e Johnny

— Eu infelizmente não posso me envolver muito, então realmente preciso que vocês dois tomem as rédeas por um tempo. Kreese e Silver não sabem sobre meu irmão e pretendo manter isso sob segredo por um tempo — disse Elliot, e os mais novos assentiram. De repente o celular de Leonard tocou. Era uma mensagem de Terry

Terry: Vou começar hoje no Cobra Kai. Quer ir junto? Pelo menos para assistir? Se quiser me avisa que eu passo para te buscar na agência

Leonard: Mal posso esperar :)

— Vamos começar logo com isso. Todo esse esforço vai valer a pena no final. Terry vai começar hoje como sensei e quer que eu esteja lá

— Tente não provocar muito o sensei Kreese. Não vamos ter sempre uma câmera para filmar quando ele te agredir

— Peraí, o que??? — Isabela perguntou, assustada. — Como assim filmar?

— Elliot vai te colocar a par de tudo, LaRusso. Agora preciso ir.

Leonard guardou o computador e saiu do escritório, pronto para sabotar o Cobra Kai mais ainda.

Terry chegou logo para buscá-lo e no caminho contou várias coisas sobre o Cobra Kai e sobre a época no Vietnã. Ele falou muito sobre John Kreese, e isso estava irritando Leonard ao extremo, mas ele fez o melhor para não demonstrar. Quando chegaram, Silver foi ao banheiro colocar o quimono e prender o cabelo. Pouco depois, Kreese chegou pela porta dos fundos.

— O que você está fazendo aqui?

— Meu pai me chamou para assistir o primeiro dia dele como sensei. Tem algum problema com isso?

Terry saiu do banheiro e quebrou o clima de tensão entre Leonard e Kreese

— John, você já conheceu Leonard, certo? Meu filho faz karatê desde criança. Eu que o ensinei por um tempo

— Mesmo, Terry?

— Sim. Ele me ensinou o método Quicksilver, e isso me ajudou muito no internato. Precisávamos de atividades extra curriculares e eles tinham artes marciais como opção. Taekwondo, Karatê e Kung Fu. Podíamos escolher só uma, mas eu fiz as três.

— Então você parece ser páreo para nossos alunos, por que não fazemos uma demonstração com você, Leonard? Se seu pai permitir claro

— John, Leonard não veio aqui para lutar...

— Tudo bem, eu topo. Já faz um bom tempo que não enfrento meu velho em uma luta. — Leonard deu um tapinha no ombro do pai e assentiu. Terry deu de ombros

— Bem, se é o que ele quer, não vamos discutir.

— Tem um quimono no armário. Pode vir quando estiver pronto.

Kreese foi falar com os alunos enquanto Terry ajudava Leonard com o quimono

— Você não me disse que continuou com as aulas de karatê no internato

— Você nunca perguntou. Como acha que virei faixa preta?

— Desde quando você pratica três artes marciais?

— Desde o sétimo ano. Está surpreso? — Leonard provocou, mas Terry revirou os olhos e foi ver os alunos quando Kreese o chamou.

Talvez Terry realmente estivesse tentando ser melhor, mas Leonard não podia baixar a guarda. Depois do que ele fez com Daniel e com Mike, Leonard não se surpreenderia se ele tentasse mais alguma coisa com outros alunos, ou até com ele mesmo.

De repente ele ouviu Terry dando a deixa para que Leonard se apresentasse aos alunos do dojô

— Meu filho, tem a idade de vocês, mas tem um longo histórico com artes marciais. Por isso eu e sensei Kreese concordamos que, para avaliar o preparo de vocês, vocês terão que enfrentar meu filho aqui, e agora. Leonard, venha aqui

Leonard tirou os sapatos e andou na direção do tatame. Os alunos estavam indiferentes ao vê-lo. Não seria tão difícil derrota-lo, ao menos foi o que eles pensaram.

— Eu vou dar a vantagem a vocês — Leonard disse, com as mãos em sua faixa preta — Vou deixar que antes de me enfrentarem, prestem atenção no meu estilo de luta e identifiquem minhas fraquezas. E como sei que vocês estão pensando que meu pai vai me entregar a luta, eu desafio o sensei Kreese para a primeira rodada.

Kreese foi pego desprevenido. Ele olhou para Terry que não parecia muito confiante com a decisão de Leonard. Os alunos também estavam confusos pois ninguém nunca havia desafiado o sensei antes

— Bem, isso será divertido — disse Kreese. Agora ele podia ensinar uma lição para aquele garoto intrometido e orgulhoso.

Eles se cumprimentaram e ficaram em posição de luta. Leonard não atacou primeiro. Esperou que Kreese avançasse e parou todos os socos e chutes dele. Então, fez com que Kreese perdesse o foco quando cerrou um dos punhos e levantou uma das pernas ao mesmo tempo. Kreese ia acertar a perna levantada do garoto, mas em questão de segundos ele abaixou a perna e varreu as pernas do mais velho, fazendo com que ele caísse no tatame.

Os reflexos de Leonard o alertaram que Kreese daria um golpe na perna dele, enquanto ele ainda estava deitado estava no tatame, então quando a mão de Kreese encostou no tornozelo de Leonard, o mais novo ergueu a perna e acertou um golpe no pulso do sensei.

— Acho que foi o bastante — Leonard se afastou, sem ajudar Kreese a levantar. Kreese se levantou e iria atacar Leonard pelas costas, só que mais uma vez os reflexos maravilhosos de Leonard o alertaram e ele ainda de costas para Kreese, conseguiu atacar com um chute um pouco acima da faixa.

Todos ficaram impressionados com Leonard. Ele havia derrotado Kreese em uma luta, enquanto estava de costas. Seu equilíbrio era algo surreal e a agilidade dos seus braços e pernas também.

— Bom trabalho Leonard — Kreese disse com um falso tom de aprovação — Então, quem vai ser o primeiro?

— Com licença sensei, mas eu gostaria de escolher — Leonard disse e Kreese deu espaço para ele.

Ele reconheceu ali todos os alunos que Elliot lhe havia mencionado. Especialmente a sobrinha dele, Tory Nichols

— Você — Leonard apontou para Tory, que deu um passo a frente — Prestou atenção na luta?

— Sim

— E o que percebeu?

Tory olhou para um garoto, que Leonard reconheceu como Robby Keene, o filho de Johnny Lawrence

— Você não ataca primeiro. E evita golpes abaixo da faixa

— Bem observado. Vamos ver se é isso mesmo

Os dois ficaram em posição de luta, mas dessa vez Leonard atacou primeiro.

Durante a luta ele precisou admitir para si mesmo que Tory era habilidosa, mas não era como ele. Em determinado momento da luta, Tory estava com o braço apertando o pescoço de Leonard, mas invés de dar uma cotovelada nela, que era o contra-ataque mais previsível, ele usou a parte livre do seu braço para soca-la no nariz. Isso tiraria o foco da luta e ele podia finalizar com um chute na perna esquerda, que era a perna que ela mais se equilibrava

— Você foi ótima, Nichols — Leonard estendeu a mão para ajudá-la a levantar, mas ela fez menção de puxá-lo para um último golpe. O que não aconteceu, pois Leonard percebeu e se manteve equilibrado. Quando Tory tentou se levantar e usar a força para jogar Leonard no chão, Leonard deu mais um chute na perna esquerda dela, fazendo com que ela caísse de novo. Ela não aceitava a derrota. Queria revidar, mas Leonard sempre previa os ataques dela

— A luta acabou. Volte para o seu lugar.

E assim foi com todos os alunos. Quanto mais fraquezas eles observavam em Leonard, mais Leonard adaptava seu estilo de luta.

— Então? — Silver perguntou voltando para a frente da classe — O que aprenderam?

Os alunos demoraram muito para responder, até que Robby deu um passo à frente, ainda se recuperando do golpe que Leonard deu em sua cabeça

— Leonard adapta o estilo de luta de acordo com o que o oponente acredita que seja sua desvantagem. Eu acreditava que ele era destro, e ele simulou algo com a mão direita, mas me acertou com a mão esquerda. Tory achava que Leonard esperava o oponente atacar, e foi pega de surpresa quando ele direcionou o primeiro golpe. Kyler achou que ele não conseguia imobilizar um oponente durante a luta e Leonard o jogou no tatame e fez seus braços e pernas ficarem dormentes. O estilo de luta dele é imprevisível

Leonard ficou impressionado. Era tudo verdade

— Muito bem, senhor Keene — disse Kreese — Essa é a lição de hoje. Vocês não podem se prender a mesma sequência de golpes em todas as lutas. Vocês não sabem o que seu oponente está escondendo de vocês, então precisam se preparar para qualquer coisa. Assim como Leonard foi imprevisível, seus inimigos também podem ser. Entenderam?

— Sim sensei!

— Ótimo. Vamos ao trabalho.

Leonard deixou o dojô com a desculpa de que teve uma emergência no trabalho, mas ele tinha acabado de receber uma mensagem de Isabela

Oi Leo (posso te chamar de Leo né? Se não puder me diz e eu chamo de Leonard) Então meu tio não gostou de saber que agora eu faço parte do plano "vamos tomar de vez o Cobra Kai" mas eu assegurei ele de que está tudo bem? Como foi hoje? Tem alguma informação pra mim? Me liga se tiver, ok? Tchau :)

Ela era mesmo mais velha que Leonard? Às vezes ela parecia uma criança. Não que isso incomodasse, Leonard achava legal conviver com alguém assim para variar.

Tenho sim, Isabela. Informações muito valiosas. Avisa pro Elliot que eu estou voltando, ok? (E pode me chamar de Leo sim, não se preocupe) Até mais tarde..