Capítulo 03
Aaron Forbes
- Sim, sou entregador de pizzas em um dos seus restaurantes porquê? - pergunto confuso encarando o seu rosto sério.
- Tu disseste que eles são como a tua família. - disse repetindo as minhas palavras e eu assinto, um pequeno sorriso surge no meu rosto ao pensar neles.
- Sim, eles me ajudaram e continuam ajudando muito, os senhores da família são muito bons para mim e eu agradeço muito a eles por sempre me fazerem sentir acolhido. — disse, ele passa as mãos pelo rosto irritado — Qual é o problema?
- Há mais alguma coisa que eu deva saber sobre ti? Tens família? — a irritação era clara no tom da sua voz, pergunto-me como ele conseguia mudar de humor tão rápido. Bipolar.
- Não, não tenho família. Acredito que isso torne as coisas mais fáceis para a tua família. - Dei um sorriso cínico encarando o seu rosto, logo desvio a atenção para outro lado.
- O que houve com a sua família?
- Eu não quero falar sobre isso!
- Eu não perguntei se tu queres falar sobre isso, perguntei o que houve com a tua família, se esse assunto é doloroso para ti isso não me importa, eu vinculei a tua vida a minha, então eu preciso saber tudo sobre ti. E não minta para mim, eu tenho formas de descobrir. — exigiu
- Aquele cara? Se tens formas de descobrir porque não as usas? Eu não quero falar sobre este assunto! - ele fecha os olhos e massageia as têmporas impaciente, segura a minha nuca e acerta uma cabeçada no meu rosto Eu me afasto tonto gemendo de dor, sentindo o sangue escorrer pelo meu nariz e o seu gosto metálico na minha boca.
- Você ficou louco? - pergunto assustado vendo o sangue nos meus dedos.
- Tem guardanapos de papel no porta luvas, use não manche o meu carro com o seu sangue. - fito-o com raiva e ele sustenta o meu olhar. Abro o porta luvas e pego os guardanapos e uso para limpar o sangue. - Agora me conte sobre os seus pais Aaron.
- O meu pai morreu, num tiroteio entre umas gangues do bairro em que vivia, a minha mãe não aguentou a sua morte, entrou em depressão e se matou, ela enforcou-se, eu a encontrei morta, satisfeito? - pergunto cerrando os punhos irritado com ele por me fazer reviver essas memórias.
- Desça, é perigoso ficarmos aqui. - disse descendo do carro encerrando o assunto sem responder a minha pergunta, descanso a cabeça no assento e fecho os olhos respirando fundo, abro-os vendo o sangue no guardanapo e a ele no lado de fora já indo em direção ao prédio, sem opção abro a porta, desço do carro e o sigo em silêncio para dentro atrás dele.
Subimos as escadas até ao seu andar e me surpreendi ao ver a porta antes perfurada por vários buracos de bala intacta, como nova, ele abriu a porta do apartamento e passou por ela e eu o segui receoso fechando a porta atrás de mim, acende as luzes, o lugar era bonito, tudo parecia moderno e visivelmente caro, bem limpo e organizado, sem sinais dos homicídios que aconteceram aqui a poucas horas, as grandes janelas da sala antes quebradas estavam perfeitas e intactas no seu lugar, o apartamento era enorme e espaçoso a sala e a cozinha eram integradas um corredor levava para outros cômodos, as janelas davam uma excelente vista da vida noturna em Chicago.
- Eu ouvi aquele cara lá fora dizer que já não tens vizinhos... - comento vendo-o tirar a camiseta, ele tinha um corpo atlético bonito sem exageros, peito e ombros largos, braços torneados, havia uma grande tatuagem no seu braço esquerdo formada por várias outras menores marcando a sua pele branca bronzeada, jogou a camisa sobre os ombros e me encarou passando as mãos pelos cabelos castanhos.
- Sim... Foram todos realojados, já só cá estamos nós os dois. - fito os seus olhos e desço continuando a análise pelo seu corpo, desvio atenção dos meus olhos engolindo em seco quando o vejo aproximar-se e parar diante de mim. - Assim é mais seguro. - o seu dedo toca o meu queixo e ergue o meu rosto, olhou profundamente dentro dos meus olhos e aproximou o seu rosto do meu em direção a minha orelha. - Assim tu podes gritar à-vontade que ninguém vai te ouvir. - murmurou e o seu hálito quente arrepiou o meu corpo todo, ele se afasta e me olha. - Só há um quarto, vai dormir comigo.
- Tem medo que eu fuja?
- Também e não te quero deitado no meu sofá.
- Tem medo que eu estrague a sua mobília cara? - cuspo as palavras carregadas de cinismo, ele me olha e dá um sorriso preguiçoso, no qual me perdi por instantes, ele era bonito, muito na verdade e essa aproximação toda mexia comigo, ele pisca um dos olhos para mim e se afasta desaparecendo no corredor. Reviro os meus olhos, esse cara era estranho, também, era membro de uma família de assassinos. Passeio os olhos por todo o cômodo, o que eu fazia num lugar como este? Tão longe de onde eu pertenço, tão diferente da minha realidade. Querendo ou não eu estava preso a este homem, como ele disse a minha vida estava interligada a dele, eu havia perdido a minha liberdade em troca da minha vida para a família Labonair.
Suspiro e caminho até a janela encarando a vista da cidade eu estava preso a uma realidade que não era a minha. Sinto todo o meu corpo dolorido e a minha mente exausta, olho para o corredor e a ideia de ter que dividir a cama com ele me deixava nervoso e inquieto, eu podia dormir no sofá, aí correria o risco de não acordar no dia seguinte ou ter o rosto desfigurado por outra das suas cabeçadas. Suspiro sem opção e sigo em direção ao corredor, havia três portas a primeira era um banheiro, fecho-a e abro a segunda, o seu quarto, entro cauteloso ouvindo o som do chuveiro ligado vindo de uma porta que acredito ser o banheiro. O quarto era grande de cores neutras, havia uma grande cama de casal próxima a uma parede toda envidraçada com outra vista da cidade. Uma pequena secretária com computador e um closet, sem exageros só neste quarto cabia o meu apartamento, me aproximo do criado mudo aonde havia uma moldura com a foto da sua família, ainda me sinto tenso a olhar para eles mesmo pela foto, as irmãs Odeth e Olenna eram divertidas e a Sra. Meredith pareceu doce e amável mas havia alguma coisa além das aparências, havia a realidade eles eram uma família de criminosos.
- Já podes usar o banheiro. - viro-me ao ouvir a sua voz, pouso a moldura de volta no lugar e me levanto, ele tinha a toalha a volta da cintura e gostas residuais pelo corpo.
- Eu posso usar o outro...
- Use este! - ordenou secando os cabelos húmidos com a toalha, ele nunca pedia, todas as palavras que saiam daquela boca eram em tom imperativo, o seu rosto fino era emoldurado por uma barba rala, olho para a cama e para ele.
- Eu não me sentirei bem dormindo aqui, neste quarto.
- Porquê? Eu não vou te agarrar se esse é o problema. - falou seguindo até ao closet de onde saiu minutos depois usando apenas uma cueca boxer eu desviei o olhar para o chão. - É perigoso dormires na sala eles podem voltar e se isso acontecer preciso que estejas comigo.
Ele tinha razão.
- Está certo. As minhas roupas eu não tenho nada que possa usar aqui.
- Tome um banho verei alguma coisa que possas usar Aaron. - disse paciente, me deu as costas e seguiu até a mesa do computador era impossível não olhar as suas costas largas e a sua bunda redonda e firme naquela cueca boxer justa e apertada. Ele se senta checando alguma coisa no computador eu o olho e sigo para o banheiro, entro e fecho a porta atrás de mim, fito o meu reflexo no espelho sobre a pia, havia sangue seco perto do meu nariz provavelmente amanhã estaria roxo, ele diz que vai me proteger e no segundo seguinte me agride, homem bipolar desgraçado.
Livro-me das minhas roupas e sigo para o box, com alguma dificuldade consigo ligar o chuveiro, deixando a água quente molhar o meu corpo anestesiado os meus músculos, eu queria não estar aqui, queria nunca ter feito essa entrega, estar no meu apartamento e ter saído com a Pietra para aquela festa, só queria que tudo voltasse a normalidade a mesmisse de sempre com a qual já estava acostumado, eu não podia confiar no Kian, esse era um erro que eu não me permito cometer, as suas intenções são duvidosas, porque um homem como ele me ajudaria sem esperar nada em troca? A resposta é simples, não ajudaria, preciso arranjar uma solução, busco pela toalha e a encontro, desligo o chuveiro e seco o meu corpo, visto a minha boxer e saiu do banheiro com a toalha na cintura, sobre a cama estavam uma calça de moletom verde escura e uma regata. Olho o Kian entretido com alguma coisa no computador, pego as roupas e volto para o banheiro aonde me visto, as suas roupas ficaram um pouco largas mas dava para usar, sai e deixei o quarto fui até ao frigorífico e peguei uma garrafa com água, procurei por copos no armário e o encontrei e me servi, bebendo o líquido em seguida, deixo o copo no lava louça e volto para o quarto, encontrando-o no mesmo lugar sigo para a cama afasto os lençóis e me deito, cobrindo-me em seguida de costas para ele desliguei o abajur e fechei os olhos, eu estava nervoso demais para dormir depois da noite que tive e nesta cama que não era a minha, eu queria dormir, eu só precisava dormir e esperar que chegue o dia de amanhã.
Abro os olhos lentamente, a claridade do dia os feriu, esfrego-os e me sento na cama me espreguiçando, bocejo, olho para o lado e ele não estava no quarto, o seu lado da cama estava intocado, ele não dormiu aqui.
- Não sei por quê isso me surpreende, claro, como se ele fosse dormir na mesma cama que eu, provavelmente mandará queimar os lençóis. - murmuro afastando os lençóis e me levanto, sigo para o banheiro no mesmo instante a porta é aberta por ele, paro imóvel encarando-o parado diante de mim.
- Bom dia. - disse e eu assinto. - Me responda com palavras Aaron. - engulo em seco.
- Bom dia Kian, eu preciso usar o banheiro.
- Tudo bem, eu já terminei. - afasta-se da porta e eu passo por ele me vendo detido pelo seu toque. - Não te preocupes que eu não pretendo mandar queimar os lençóis. - disse e eu sinto as minhas bochechas corar, nunca agradeci tanto pelo tom da minha pele como agora. Ele me ouviu. - Porque faria isso se eles têm o seu cheiro.
- Engraçado você hein. - falo vendo o sorriso nos seus lábios. - É feio ouvir atrás da porta.
- Do meu quarto? Da minha casa? Eu já disse para não presumir nada sobre mim, eu não sou o que demonstro, só te deixarei confuso, agora tome o seu banho, preciso trabalhar e aproveito para te deixar no trabalho, sei que hoje não tens aulas. - fala e eu o olho surpreso.
- Eu disse que tinha meios, e é bom saber que não mentiu para mim. - ele me solta e se afasta em direção ao closet. Entro no banheiro sem demora tiro as roupas e sigo para o box aonde tomo um banho rápido, faço a minha higiene oral e saiu do banheiro vestindo as minhas roupas, término de calçar os ténis e vou para a sala.
Kian vestia uma calça social preta e camisa branca com um colete por cima, um casaco longo negro e sapatos sociais. Bebeu o seu café e me fitou. - Quer comer alguma coisa?
- Estou sem fome, podemos ir?
- Claro. - pegou as suas coisas e seguiu em direção a porta comigo atrás, deixamos o apartamento e descemos as escadas para fora, havia um carro preto parado a nossa espera, outro mercedes, esse era um AMG GT R. Kian seguiu para o seu lugar e eu entro sentando-me ao seu lado, esse carro era incrível, olho fascinado para todos os seus detalhes, toda a parte de dentro era uma combinação entre o creme e o preto.
- Gosta de carros?
- Sim, os seus são incríveis. - respondo passando o cinto sorrindo, confesso que parecia uma criança numa loja de doces mas não me importo eu adoro carros. - Estou no último ano de engenharia automóvel, na universidade de Chicago mas isso já deves saber.
- Sim, eu sei...
- Para aonde vamos?
- Pizzaria Bertuolo...
- Tudo isso é desnecessário. - digo aborrecido sentindo todo o meu bom humor ir pelo ralo - Não precisas me levar até lá, eu posso muito bem ir por conta própria, eu tenho uma moto que nem é minha e eu preciso devolve-la ou corro o risco de perder o emprego!
- Alguém vai tratar disso e não precisas te preocupar em manter o seu emprego. - disse atento na condução e eu o olho sem entender absorvendo as suas palavras.
- Como assim? - ele desvia a sua atenção para mim, como sempre os seus olhos causam o efeito estranho no meu corpo.
- Tu vais pedir a tua demissão!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top