26°: "Lágrimas"
Duas semanas se passaram. Pipper foi ao hospital e acabara de receber alta, durante esse tempo fomos visita-la todos os dias, Juno cuidou dela enquanto estava lá.
O enterro de Hannah ocorreu no dia de sua morte, muitas pessoas apareceram, ninguém acreditava no que tinha acontecido, ninguém esperava vê-la morta.
A cidade se acalmou um pouco da quantidade de turistas que vinham ver a pedra partida na praça que chamaram de olho de Atlas, pelo formato de ondas que se espalhavam na rocha partida que lembrava um olho deformado.
Com menos intensidade de pessoas era possível sair na rua sem dar de cara com nenhum inimigo certeiro.
El se deprimira um bocado e se trancou em sua casa, procurando fazer melhorias nas armaduras.
Juno podia me ver agora, mas depois de a morte de Hannah eu só tinha a visto quando ia visitar Pipper. Também tinha receio de ser atacado novamente então fiquei com medo de ficar muito tempo próximo delas.
Fiquei só, durante o resto desse período. Polo, depois de ter se escondido e tido um ataque de pânico na casa de Pipper não voltou a me procurar.
Eu estava irritado e triste então procurei fazer algo. Tudo me trazia a tona lembranças de minha amiga.
Resolvi me fortalecer, El fazia melhorias na armadura, eu deveria buscar melhorias em mim.
Treinar era a minha melhor opção, estilos de luta e aprender a ter autonomia dos poderes que a armadura me dava. Eu estava frenético tinha horários fixos de treinamento eram duas horas para cada estilo de luta, me infiltrei em todas as escolas de artes marciais que eu encontrava, aprendia todos os estilos e me mantive naquele ritmo.
Ao anoitecer eu tentava trazer chuvas ou neblinas para perto de mim, tentava controlar o céu e todo o seu potencial.
Depois que as duas semanas se passaram eu finalmente percebi... tudo aquilo era extremamente difícil e demorado, eu não ia aprender nada tão fácil, o sentimento de ansiedade me consumiu nada me fazia parar. Assim foram os meus dias.
Então em um dia frio e ensolarado, tinha ficado duas semanas diretas sem dormir, mesmo que eu não precise dormir, eu tinha uma fadiga psicológica tão grande que desmaiei na escada da porta da minha casa enquanto tentava controlar o céu durante a noite. O sol fraco que acabara de nascer aquecia, mas qualquer sombra trazia uma mudança de clima intensa que arrepiava todo o corpo. Pelo menos o dia era gostoso, já que todo o resto parecia desgostoso.
O corpo não doía mais, era incrível como o descanso saudável e uma armadura de tecnologia utópica faziam bem ao corpo.
Esquecendo de tudo me levantei, andei procurando um lugar para ir, no automático me deparei sentado em baixo de uma madeira rústica, olhando para quadros antigos.
Estava sentado na cafeteria.
Em um súbito susto Pipper entrou.
_ Mas que droga!_ Ela disse, estava com a perna direita quebrada e usava uma munhequeira mão direita.
_ Se assustando muito fácil, Pipper._ O novo garçom brincou com ela._ Viu um fantasma?
Ela se tocou de que ninguém me via.
_ Desculpe, é a primeira vez que venho aqui desde o acidente, me assustei contigo._ disse irreverente.
_ Não imaginei que eu estava tão assustador._ Ele disse se olhando no espelho, era um rapaz da idade de Pipper tinha pele parda, cabelo pouco cacheado e bem cortado, uma barba rala e olhar charmoso. Vestia a farda da cafeteria, com o crachá, Tomás, e usava brincos curtos._ Sente-se um pouco vou fazer algo para ti.
Pipper me olhou, ainda usava as lentes, percebeu que eu estava perdido.
_ Traga um café gelado e também um chocolate quente, adicione leite em pó e creme de avelã para engrossar.
_ São dois opostos...
_ Vamos Tomás, não é pra mim.
_ Está esperando alguém jovem?_ Tomás deu um sorriso malicioso.
_ Não vou te dar a moral de saber._ disse curta e grossa.
_ Vou agora, senhora cliente._ Ele saiu jogando o pano nos ombros.
Ela me olhou no fundo dos meus olhos.
_ É difícil ficar aqui, sem saber que ela vai entrar pela porta alegremente._ Pipper parecia murmurar, mas era uma mensagem obvia para mim._ Ainda não é um bom momento para falar disso, imagino que você esteja tentando aceitar o que aconteceu, Juno me disse que foi horrível. Ela me disse também que você me visitou todos os dias, é verdade?
Acenei com a cabeça. Ela corou.
_ Você está falando cada vez menos._ Ela disse reestabelecendo sua voz calma.
_ É difícil falar quando não se é escutado. O silêncio se torna um costume, já que a única opção é ter mais pessoas que se tornam paredes ao meu redor.
_ Você não está sozinho amigo.
_ Você me escuta?
Ela me olhava firmemente.
Não._ disse deprimida_ Mas tu sabe que eu te olhava do canto da cafeteria, certo? Eu costumava tentar entender o que diziam enquanto trabalhava, eu conheço as palavras que você diz quando mexe seus lindos lábios.
_ É muito estranho conhecer o movimento dos lábios de uma pessoa, alguém já te disse isso?_ disse quase incomodado.
_ Bem, tinha alguém que me dizia coisas parecidas..._ Ela pareceu ficar triste.
_ Como você veio parar aqui?_ Questionei mudando de assunto.
_ Você diz na cafeteria? Vim a pé, minha casa é próxima._ Doce e lerda Pipper.
_ Sim e não, como você começou a trabalhar aqui?
_ Eu fugi da casa de meus pais! Roubei um banco no centro do país e vim parar nesse fim de mundo, para esconder minhas riquezas._ Ela tinha uma expressão séria e sincera, ou pelo menos parecia ser isso, ela gargalhou com minha expressão espantada._ sou Órfã, meus país morreram a muito, fui criada pelos meus tios até decidir arrumar algo pra fazer da vida, então vim trabalhar aqui e comprei minha casa.
_ Você sabe que a sua casa é um pouco mais exuberante do que uma funcionária de cafeteria pode ter, não sabe? Então ou você roubou um banco ou estão te pagando muito bem aqui.
_ Ou meus país eram donos de todas as fazendas cafeicultura da região e eu era a única herdeira.
_Faz muito mais sentido._ Eu ri, depois de muito tempo, eu ri.
_ Olha... um sorriso!!._ Ela tentou me tocar e me atravessou o dedo.
_ Com quem está conversando?_ Tomás estava parado com dois copos na bandeja.
Eu olhei me tocando de que ela estava conversando e gargalhando para o ar em uma mesa vazia.
Para minha surpresa ela já tinha pensado nisso.
_ Estou em uma ligação._ Disse ela apontando para o fone sem fio que ela estava usando._ Porque?
_ Achei estranho, desculpa, pareceu que você conversava pessoalmente com alguém._ Tomás ficou constrangido._ Seus pedidos._ disse entregando os copos.
Ele colocou na mesa e se afastou.
_ Você prefere ir a algum lugar mais tranquilo?_ Pipper sabia que seria estranho conversarmos sem que os outros me vissem.
_ Seria melhor._ O estranho era ela não tirar os olhos da minha boca.
_ Tem um jardim lindo aqui no fundo._ Disse ela se levantando e seguindo caminho.
_ Espero que ninguém me veja te seguindo e entrando lá._ Falei ao vento dando uma risada abafada.
Pipper caminhava na minha frente, mancando pela perna quebrada, carregando seu copo na mão boa, o meu é claro eu retirei da mesa rápido o suficiente para que ninguém o notasse sumindo.
Poucos lugares eram tão lindos e organizados quanto o fundo daquela cafeteria.
_ Este é nosso lugar de descanso._ Pipper parecia gostar do lugar._ Eu vinha aqui sempre que eu precisava de um tempo para mim.
Ela me olhou, esperava uma resposta, eu estava distraído olhando o lugar.
Era lindo, tinha uma parreira (ou videira, como também é chamada) que enramava em madeiras atravessadas nas paredes horizontalmente e fazia uma sombra fraca no local, havia alguns bancos espalhados de um lado e de outro, no canto pés de café grandes e ovais estavam se carregando, era quase época de colheita, da parede uma pequena fonte com formato de bule jorrava água.
_ É lindo!
_ E um ótimo lugar para relaxar. Sente-se. _ disse ela sentada me olhando.
Me sentei ao seu lado.
_ Ela fez esse lugar somente para seus funcionários, antes dela isso era o lugar de jogar lixo._ Pipper ficou parada por um tempo._ Se tornou o lugar mais bonito de toda a cafeteria, ela deu sua criatividade e alma em cada local que passou.
_ Este é um dos poucos locais que mostram a beleza de sua mente grandiosa._ Murmurei._ Espero que esteja em um lugar muito mais belo que este.
Pipper sorriu, um sorriso reconfortante. Pela primeira vez, desde o dia da morte, eu deixei uma lágrima descer. A primeira lágrima é a mais difícil, depois as outras correm como uma nascente a céu aberto.
O Choro é livre.
Inconscientemente eu abracei a Pipper, descarregando minha tristeza. Ela corou mais do que o comum, ela ficou sem resposta, não tinha como dizer algo, estava imobilizada pelo meu abraço.
Enfim aceitei a morte de minha amiga. Ela não existia mais nesse mundo.
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