22°: "Ressaca"
Acordei, não estava nem na praça nem em casa, estava deitado em um quarto que nunca havia visto antes, olhei para um lado e para o outro, não tinha um lençol sobre mim, eu estava jogado em cima da cama como um manequim descartado, por algum tempo fiquei parado, não queria testar sentir o meu corpo para saber se eu ainda podia me mover ou não.
Mesmo se pudesse me mexer eu não queria fazer isso, aquele quarto era confortável, era um quarto bem iluminado, um pouco desorganizado, mas uma desorganização de certa forma aconchegante, como se falasse que tinha alguém que frequentava aquele quarto constantemente.
Tentei mover finalmente, era quase impossível meche os músculos, eu conseguia porém a dor era tão intensa que puxava meu corpo de volta para a posição anterior.
Estava estagnado imóvel como uma pedra.
_ Então eu morri?
_ Espero que não_ disse uma voz familiar_ porque se estiver morto do meu lado eu vou ficar muito puto de até depois da morte ter que conversar com você.
_ EL!_ me animei e morri de dor com isso.
_ Cara que péssimo, você não podia ser uma mulher bonita? Ou sei lá alguém que eu não conhecesse para eu poder conhecer do 0.
_ Porque? É tão ruim assim Ficar comigo?
_ Não, é ruim ter que ouvir suas provas ruins_ ele deu uma risada_ nem morto você fala coisa boa, e se a gente morreu porque a gente não pode se mexer?
_ Deve ser que nossos corpos ainda estão no caixão, aí só podemos nos libertar depois que ele apodrecer.
_ Cara era disso que eu estava falando, tanta gente com boas ideia no mundo e você aparece no meu delírio de morte.
Estávamos deitados um do lado do outro numa mesma cama, descobertos, jogados como manequins, sem conseguir mexer um músculo.
_ Eu lhe daria um soco se eu pudesse_ respondi.
_ Eu adoraria brigar agora, infelizmente também estou imóvel.
_ Agora pensando sério, onde estamos?
_ Justamente o que eu estou querendo saber a pelo menos meia hora, infelizmente olhando só para o teto é difícil saber o que esta acontecendo. Ninguém apareceu aqui ainda.
_ Provavelmente o exército pegou a
gente e prendeu depois da destruição.
_ Espero que não tenha sido, seremos dissecados em instantes._ El parecia sarcástico.
_ Se for espero que seja logo, odeio não conseguir me mexer.
Uma porta se abriu, rangendo um pouco, parecia alguém espiando para ver se estávamos acordados.
_ Se estiverem mortos espero muito que não estejam conversando_ era Hannah.
_ Ah ótimo, uma voz amiga, você não trabalha pra o exército não certo? Tem tantos trabalhos que seria até justo se o governo precisasse de você.
_ Não eu não trabalho para o governo_ ela respondeu.
_ Ótimo seria uma lastima se trabalhasse.
_ Como vocês estão? Parecem estar péssimos.
_ Estamos bem, só não conseguimos mexer o corpo, certo El?_ El estava quieto, parecia estar pensando em algo._ ei cara está tudo bem, é a Hannah, ela esta perguntando se esta tudo bem.
_ Ela esta perguntando mesmo, e além disso esta respondendo, e te ouvindo._ El falou irritado.
_ Cara para que toda essa agressão ela só está conversando com..._ dei um gatilho, lembrei da situação._ ... comigo! MAIS QUE DROGA TA ROLANDO AQUI?
_ Eu não sei, mas não me parece real, tenho certeza de que Hannah só podia lhe enxergar da última vez que a vi.
_ Gente eu estou aqui, vocês estão falando sobre mim.
_Não, estamos falando sobre a Hannah, você não é ela, pois Hannah não pode nos ouvir._ disse El.
_ Você bem sabe o quanto sou teimosa, não?_ Hannah estava atrevida, como se mostrasse uma conquista.
_ Existe alguma forma dela está nos ouvindo de verdade?_ Perguntei.
_ Não, só soldados podem nos ouvir.
_ El e se ela estiver com a armadura?
_ Cara, só se ela tiver me roubado, mas minha casa é uma fortaleza para..._ El parou para refletir por um instante_ ...para inimigos. Que droga cara você usou uma armadura?
_Eu disse que queria participar, vocês não queriam me incluir, eu me inclui só!
_ Ótimo, e como explica o quarto em que estamos? Conheço sua casa bem.
_ É de Pipper, ela mora aqui perto da praça, depois que peguei uma armadura não foi difícil trazê-los para cá.
Pipper apareceu empurrando a porta.
_ Eu acho que vocês ainda estão aqui e se estiverem eu quero dizer que quero dormir na minha cama hoje.
Hannah voltou a ser visível assustando Pipper.
_ Mas, querida, você dormiu os últimos dois dias na sua cama, e ainda disse que mesmo que não visse ia adorar dormir com o Karl.
_ É um detalhe!_ ela falou meio avermelhada, _ e eu quero dormir na minha cama sem que o El esteja nela.
_ Ela sabe que estamos aqui ainda?_ perguntei para El.
_ Bem provável que tenha se esquecido..._ respondeu El._ espera aí! Ela disse que só não quer a minha presença aqui.
_ Eu queria poder me mexer somente.
_ Karl, o conquistador de moças do Café.- El refletia.
_ Cale a boca._ respondi revirando os olhos.
Hannah parecia ter tanto controle quanto El, ela sorriu como se nos escutasse.
_ Eles estão discutindo por sua causa._ falou Hannah para Pipper.
_ E... eles estão... aqui? Tipo ainda?_ Gaguejou Pipper, ficando vermelha como um tomate_ Deixa disso.
Pipper saiu do quarto rapidamente, em uma fuga sorrateira.
_ E Juno? O que aconteceu com ela?_ Perguntei a Hannah.
_ Ela preferiu ir pra própria casa ontem, não quis se envolver com essa bagunça toda,_ Hannah se sentava na cama agora que eu podia vê-la melhor ela estava com o cabelo diferente, tinha cortado, agora tinha uma franja estava preto e liso, amarrado para trás com alguns fios soltos na frente e no fundo não usava óculos.
_ Vocês passaram dois dias desacordados, El acordou mais cedo, estava tentando se mexer e gritando a algumas horas, achei louco como você não acordou com aquilo, graças aos deuses você está bem e acordado.
_ Não gritei porque achei que estava morto._ eu ri.
_No estado de vocês, Juno disse que é bem provável que se recuperem rápido por conta das armaduras, entretanto vocês não vão se mexer por algum tempo ainda.
_ Parece que ficou de nos proteger em quanto isso_ Disse El.
_ Por incrível que pareça, tem sido bem fácil cuidar de vocês nos últimos dias, assustar a Pipper, sumindo e aparecendo, atravessando paredes e outras coisas, tem sido divertido também.
_ Você aceitou a armadura fácil._ Disse El.
_ Parece uma segunda pele, achei incrível desde o primeiro instante._ ela falava eufórica, estava demasiada alegre.
_ Queria que tivesse sido divertido para mim também, infelizmente eu não tive a mesma sorte que você.
_ Mas você tem poderes, eu tenho só velocidade, veja pelo lado bom_ ela disse tentando me consolar.
_ Eu preferia não que não fosse assim, eu tenho o poder de um deus e sou tão notado quanto a maioria.
_ É triste pensar assim.
_ É triste não poder voltar a ser humano.
A conversa teve uma pausa, tinha um clima tenso agora que todos se falavam.
_ Vocês sabem que agora nos três estamos na mira de soldados assassinos certo?_ El disse cortando o silêncio abruptamente.
_ isso não ajuda a melhorar o clima_ disse Hannah.
_ Eu estou indisposto a lutar no momento._ comentei.
_ A partir daquela festa na praça estamos findados a isso.
_ É porque você não chegou a ver a chuva e os trovões, acho que ainda tem uma pedra gigante dividida em dois no centro da praça._ disse Hannah
_ Depois que eu desmaiei?.
_ Como acha que eu vim parar aqui?_ falei.
_ De certo já devem ter pessoas nos procurando a todo vapor na cidade,_ El não parecia irritado_ depois deste show espero que a casa de Pipper seja segura.
_ Não é segura, mas é comum o bastante.
_ Comum o bastante, terá que servir_ conclui o assunto._ E agora? O que vamos fazer?
_ vocês vão ficar paradinhos aí, até vocês se moverem eu vou ficar na sala ali do lado._ Hannah disse se levantando.
_ Belo corte_ falei.
_Achei mais bonito. Trás mais de minha essência.
El parecia a admirava pelo canto do olho, não comentou, porém parecia ter gostado também. Hannah saiu estava satisfeita com tudo que tinha feito nos últimos dias. El achava que ela havia sido um pouco rebelde de mais, com o corte e a armadura ao mesmo tempo, porém aceitava o que a fizesse bem nos faria bem também.
_ Somos como irmãos, ela devia entender por que eu me preocupo_ falou El depois que Hannah saiu.
_ Ela entende_ respondi._ porém ela se preocupa conosco também, ela não fez por mal, sabia que íamos precisar de ajuda.
_ Hannah podia estar no mesmo estado que nós, ou até pior, Karl entenda, se aquela moça estivesse em seu potencial máximo desde o início nós dois teríamos virado farinha, e seguindo a lógica ela viria depois.
_ Entendo sua preocupação, mas tu tem que olhar o lado dela também, se não fosse por ela, estaríamos ainda jogados na praça, ou teríamos sido pegos pelo exército.
_ Sei Karl, agora ela assumiu um fardo enorme você bem sabe disso.
_ Ela pelo menos tem controle, tanto quanto você e em um dia.
_ O controle que ela tem não vai servir de nada se ela encontrar um soldado treinado para destruir cidades inteiras.
_ Estamos aqui, vai dar tudo certo El, não se preoculpe, o pior que pode acontecer é alguém vir agora.
O papo acabou ali, El ficou em silêncio, não me respondeu mais, eu não quis entrar em outro assunto.
O dia estava calmo e sereno, pela brecha da curtina eu conseguia ver o céu, estava azul, provavelmente era de tarde de vez em quando um cachorro latia na vizinhança ou uma criança gritava.
_ É por isso que ele não me entregou o quadro_ ouvi Pipper balbuciando no corredor em frente a porta achando que estava sozinha novamente.
Depois de algum tempo ali parado ouvindo e olhando para o céu eu adormeci novamente, provavelmente o tédio foi maior que o interesse pelas nuvéns que passavam.
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