14°: "Asas"

Agora eu já não sabia o que fazer, normalmente eu voltaria para minha casa para poder escrever um pouco mais, infelizmente eu havia acabado de terminar o meu livro e não tinha muito o que fazer depois do café da manhã.

_ O que você vai fazer agora Karl?

El ainda estava olhando a paisagem na janela enquanto tomava um banho de sol, agora tinha a aura da armadura brilhando em volta dele, sua sombra sumiu.

_ Quando você fez isso?

_ É tão natural quanto o piscar de um olho._ Respondeu El._ Assim que a armadura reconhece que ninguém está mais prestando atenção em você ela te faz sumir. _ Ele olhava para um pombo._ Certeza de que se eu fosse você eu nunca ficaria invisível neste local, já que além de Pipper estar sempre te observando, todos que entram sempre te olham e fazem comentários sobre você.

_ Eu sinceramente não me importo com isso, adoro que comentem sobre mim, mas eu não presto muita atenção em quem anda me olhando ou deixando de olhar._ Realmente não fazia questão de estar ou não sendo observado, a não ser que quem estivesse me observando fosse a moça de jaleco que entrava todos os dias antes do trabalho.

_Alguns rapazes também te observavam._ ele deu uma risada.

Agora realmente não importava mais quem me observava, querendo ou não eu não poderia ser visto por ninguém além de El e de soldados, que provavelmente iram querer me matar assim que me vissem.

_ Bem El, como sempre, eu acho que você deve ter com o que trabalhar e eu não quero ocupar o seu tempo hoje, ainda não...

_ Não se preocupe o meu dia esta disponível para você conversar comigo o quanto quiser._ Ele dizia de forma amistosa.

_ Não estou muito afim de conversar, ouvi e comentei bastante na conversa de mais cedo, agora eu acho que não quero ser escutado, não até saber o que eu tenho a dizer.

_ Tudo bem, acho que você ainda precisa de mais tempo para isso tudo.

_Você sabe que não estou bem El, Não se queixe._ Eu disse me isolando.

_ Entendo Karl, vou resolver o seu problema, já te falei isso, se acalme um pouco.

_ É um pouco mais complicado quando você não pode se sentar e conversar com seus amigos!_ disse apontando para Pipper que caminhava feliz pelo balcão da cafeteria.

El ficou em silêncio.

_ Não me é natural como um piscar de olhos..._ Falei sarcástico_ Isso me é uma tortura, não sei como agir! Não tenho uma missão, não sou um soldado!_ Eu estava irritado, não conseguia expressar-me de outra forma.

El pareceu desapontado consigo mesmo, sua aura o rodeava quase parando, quase como se estivesse pesada sobre seu corpo.

_ Tenha seu Tempo Karl, nós nos falamos depois._ El disse culpado.

Após finalizada a conversa, fui para a rua, sabia que eu poderia usar a moto invisível, mas ficar tornando ela invisível o tempo todo poderia dar pistas para os soldados que viviam rondando pela cidade.

Preferi ir andando até parte do caminho, quando lembrei de um detalhe importante sobre a armadura, algo que eu havia esquecido até então, que El comentou de forma breve.

_ Eu posso voar!_ bravejei ao mundo, entretanto ninguém pode me ouvir, era ótimo poder testar coisas novas, independente do meu estado emocional._ Quem me ouve não importa agora, o que importa é que...

Abri as asas que ficavam escondidas na armadura.

Eram lindas, em sua maior extensão quando abertas era duas vezes minha altura. Dobradas passavam meu cabelo amarrado e tocavam minhas panturrilhas nas pontas, a cor era a mesma da aura, as penas pareciam se mover como a aura, quase como se estivessem evaporando aos poucos, sua cor era transparente dando para ver o outro lado, atravessando a luz como meu corpo. Parecia ter luz própria, mesmo que fraca

Não era difícil movê-las, na verdade era tão fácil que parecia natural, como seu eu já as tivesse em mim em outra vida.

Com um forte bater de asas, eu voei.

Aquela sensação de está ar!

_ Incrível!_ FIQUEI ESTUPEFATO.

Me acostumei rapidamente, me sentia livre, flutuava e plantava sem medo de cair, eu estava seguro o suficiente para poder fechar os olhos se eu quisesse.

Não tinha um rumo, eu estava apenas planando pelo Céu como se não houvesse amanhã, sentia o sol nas minhas costas, eu podia subir o quanto quisesse, me deixar cair em queda livre e depois voltar a planar, não importava como eu o fizesse parecia que tinha feito aquilo a vida toda, voar era ótimo.

Lembrei de como as águia caçavam, de um livro que li, se jogando em direção ao alvo em velocidade máxima.

Decidi testar os limites do que eu poderia fazer. Talvez não fosse boa ideia por eu ter acabado de começar, mas estava empolgado, ou irritado, de mais para pensar.

Subi o máximo que pude passei das nuvens até uma altura que eu não conseguia mais respirar, me sentia fraco ao tentar, e me deixei cair. Fechei as asas, joguei meu corpo para a queda livre, saber o quão veloz eu conseguia ser caindo. O meu óculos, ainda no meu rosto vibrava com o ganho de aceleração, se eu movesse o rosto para o lado com certeza eu o perderia. Sentia meu cabelo puxado para trás como se estivesse sendo amarrado, sentia o vento empurrar a minha pele por um breve instante me senti aliviado, a adrenalina me fez ficar com o coração acelerado e eu conseguia sentir o corpo vibrar com cada pulsação, era emocionante.

Chegando cada vez mais próximo ao chão a emoção se expandia para cada músculo, cada osso do corpo.

Ao chegar a poucos metros do chão abri as assas, enquanto planava por entre as casas e os prédios em uma velocidade impressionante, a emoção que me fazia vibrar fazia também uma rajada de vento se criar onde eu passava, a cada curva que eu fazia eu arrancava folhas de árvores, movia pequenos objetos e jogava o cabelo das pessoas para cima.

Minhas asas e aura tinham uma luz mais forte agora.

Enquanto estava distraído olhando para trás não vi que estava me aproximando de uma quadra de basquete, assim que olhei para frente não tinha mais como desviar, tentei frear, mas não tinha um feio de mão em asas em pleno voo, bati em cheio na grade da quadra e arranquei-a toda, por sorte ninguém jogava nada ali.

Estava jogado no chão em um emaranhado de grades de ferro, as asas já haviam voltado para armadura as pessoas começavam a olhar, comentar e se aglomerar ao meu redor.

_ Alguém viu o que foi que provocou isso?_ Um senhor de idade perguntava olhando abismado para a grade retorcida.

_ Não vi nada, para falar a verdade não ouvi nada, só vi a grade se retorcendo_ um jovem de boné disse ao lado do senhor.

_ Foi o vento._ disse uma senhora de óculos que se aproximou vindo da mesma direção que eu vim._ uma rajada forte passou e chegou a me derrubar e jogar a sacola de compras de minha amiga longe.

A senhora apontava para uma moça que catava o caminho de compras que vinha pelo rastro de bagunça que eu havia deixado.

_ O VENTO‽ Não é possível algo assim acontecer apenas com vento._ Disse o senhor de idade.

_ É bem possível na verdade._ Um jovem que eu nunca havia visto na cidade se aproximou por trás das pessoas._ A natureza anda fazendo coisas absurdas ultimamente.

O rapaz era mais alto do que eu, provavelmente 1,96m, cabelo liso desgrenhado, suas roupas tinham estilo próprio, algo que não se vê todos usando, seus olhos castanho mel vibravam de euforia, ele tinha um sorriso extremamente grande, uma barba por fazer e sandálias nos pés. Porém ele tinha algo de diferente de todas as pessoas a sua volta, sua postura era extremamente magnifica, ele andava como um um guerreiro em marcha olhava com a intensidade e magnificência de um rei.

_Viajei o mundo inteiro vendo coisas como esta. Magnífico e assustador._ Falou fitando a destruição.

Por um momento achei que ele estava olhando para a grade retorcida, mas logo percebi que seu olhar estava vidrado em mim como se ele pudesse me ver.

Me assustei. Até ali não tinha feito movimentos bruscos, entretanto ao sentir aquele olhar, eu me pus para fora da grade com a mesma velocidade que havia entrado.

Criando outra rajada de ar eu saltei e corri na direção oposta ao acidente, olhei para trás e por um breve momento vi o homem olhando para mim, me seguindo com os olhos e depois desviando e se misturando a multidão até desaparecer.

Parei de correr.

_ Ele me viu? Como é possível? será ele algum soldado?_ Minha cabeça estava a mil e eu quase me sentia ofegante._ Não, nem El conseguia saber onde eu estava como aquele cara, ele me olhou nos olhos enquanto falava com os outros.

Continuava andando contra a bagunça, estar longe daquele lugar era tudo o que eu queria agora, voar era muito bom, mas eu precisava ter mais controle e ficar mais atento quando fosse fazer isso.

As pessoas iam na direção a quadra, cada vez mais apressadas, comentários vinham de todas as direções.

Logo uma ordem unida de alguns soldados que passavam virou uma marcha para investigar o ocorrido.

Uma cidade militarizada é constituída disso.

Enquanto os soldados passavam na minha frente, eu senti um olhar no meio daquelas cabeças peladas, um olhar tão intenso quanto o último, mas este era severo, não tive tempo de reconhecer o rosto, apenas o cabelo grande amarrado em um coque entre o pelotão, os ombros largos chamavam a atenção, continuaram em marcha até chegar na quadra, não pararam, mas com certeza um deles havia me sentido de perto.

Fui correndo a procura de El para contar a história percebi que eu estava sendo muito descuidado, eu ainda podia morrer, eu não fazia a mínima ideia de como usar a força que eu tinha. Eu era um tolo de ainda estar irritado com a única pessoa que podia resolver aquilo.

Era o último dia do outono, estava frio, pequenas nuvens se arrastavam no céu enquanto a brisa fria corria por entre as ruas, jogando cabelos ao vento e arrepiando o corpo com um sopro gelado na nuca.

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