Presente encontra Passado
De alguma forma sabia que meu encontro com Nanami não resultaria em grandes coisas, minha questão permanecia sem solução e por hora não era um grande problema. Nos despedimos quando o acompanhei de volta ao prédio comercial, e ali por perto mesmo peguei um táxi para me encontrar com Shoko.
Como ela já havia dito, me faria companhia na consulta para ver o motivo do meu recente incômodo físico no coração. A maior parte eu acreditava ser preocupação mas devia ter alguma curiosidade da parte dela em encontrar um antigo professor.
Kento não foi o único feiticeiro que acabou por escolher seguir carreira em algo além do jujutsu, Daisuke-san também foi um deles. Se embrenhou nos ramos de medicina se especializando em maldições do tipo parasitas, apesar de ainda cumprir sua função como feiticeiro, ele não tinha nenhum vínculo com a escola e atuava muito mais como um médico comum do que qualquer outra coisa.
Shoko estava me esperando já na frente do prédio, livre do seu usual jaleco, parecia mexer no celular tranquilamente sentada num banco de cimento.
Paguei o motorista e saí do carro, assim que me viu imediatamente me questionou com os olhos, guardando a pergunta vocalizada para quando eu me aproximasse. Mas antes que pudesse falar eu mesma já respondi.
-Não posso ficar usando minha habilidade de transporte para tudo, ao contrário de certas pessoas.
-É impressionante como você me conhece bem - A mulher riu em resposta se levantando e batendo as mãos ao lado do corpo - Já não está mais aqui quem falou.
Sorri e estiquei o braço para que me acompanhasse, andamos lado a lado de braços entrelaçados. Eu era mais alta do que ela, mas mesmo assim não nos impedia de caminhar em sincronia.
-Como se sente encontrando um dos seus antigos professores depois de tanto tempo?
-Da mesma maneira de sempre - Shoko respondeu - Daisuke-sensei mais me deixava olhar ele trabalhando do que dava aulas.
-Agora com certeza esse encontro parece promissor.
Respirei fundo antes de me virar para a recepcionista e informar sobre o meu horário marcado. Ela estava para telefonar quando um homem de meia idade e cabelos grisalhos apareceu e a interrompeu.
-Não é necessário, eu estou aqui - ele olhou para Shoko - Você não mudou em nada Ieiri, e você imagino que seja Kismet-san.
Daisuke estendeu a mão para mim e eu a apertei - Sim, mas apenas [Nome] está bem.
-Como quiser - o mais velho sorriu antes de indicar o caminho do consultório, não antes de pedir para que a moça no balcão limpasse sua agenda pelo resto do dia, em poucos segundos já me encontrava sentada em sua sala.
Os olhos castanhos atrás dos óculos de armação quadrada pareciam me olhar com curiosidade quando desviavam do meu registro médico de anos atrás.
-Ouvi algo na época - comentou por fim - Mas nunca imaginei que tivesse passado por tudo isso. Se me permite, gostaria de examiná-la, se sente na maca por gentileza.
Fiz o que ele pediu e me senti nervosa por um momento - Vamos ver se Ieiri realmente prestou atenção nas aulas de sistema nervoso.
Shoko riu - Aulas, assistir horas de cirurgia dificilmente vai ser considerado ensinamento profundo. Ela está andando e com um corpo completamente funcional, diria que a minha técnica de reversão funcionou perfeitamente.
-Não está ajudando, Shoko. - respirei fundo lançando um olhar para a mulher.
-Vamos descobrir - com dois dedos da mão esquerda juntos o médico tocou a minha testa. Sendo alguém que consegue reconhecer energia amaldiçoada já pude perceber que era a sua técnica agindo.
-Não parece ser um problema neurológico, tem muitas dores de cabeça?
-Com frequência não, só... Quando as coisas parecem sair de controle.
Ele resmungou para si mesmo e continuou com o exame, era estranho. Por mais que sua mão estivesse na minha cabeça era como ter o corpo envolto em energia amaldiçoada, subindo da ponta dos meus pés até minha testa.
-Suponho que já saiba sobre sua esterilidade - comentou.
Apenas acenei com a cabeça dizendo que sim, quando a energia amaldiçoada alcançou a região do meu tórax ele se afastou abruptamente precisando dar um passo para trás a fim de retomar o equilíbrio.
Sua testa franzida mostrava preocupação, e os olhos levemente desfocados numa confusão interna levou alguns segundos - [Nome]-san, que tipo de técnica amaldiçoada você possui?
Embora a informação fosse de conhecimento da maioria das pessoas que compunham o alto escalão, feiticeiros como ele que já não possuíam um vínculo muito forte com a instituição dificilmente teriam acesso a esse tipo de dado. Sem que ele percebesse, levantei um dedo usando a linha do tempo para falar com Shoko, a figura do médico paralisou e eu encarei a mulher.
-Sabe que essa informação é restrita, posso confiar nele de verdade?
-Que outra opção você tem? - respondeu - Julgando pela reação dele, é o único que pode te informar alguma coisa.
Ela estava certa, soltei chrono e respirei fundo. Antes de explicar sobre minha Dádiva das Moiras, como o caminho, o tempo e o destino pareciam estar envoltos na minha mão. Ainda completando como a minha técnica e a de Satoru se influenciavam em diversos níveis.
Foram horas contando para o médico todas as questões que me rodeavam e o homem ouviu pacientemente sem interromper, apenas ajustando o óculos no rosto casualmente.
-Enquanto eu estive na Grécia, tive um evento isolado - limpei a garganta - Nunca senti algo como antes, foi uma dor excruciante que pareceu atravessar o meu peito. Não conseguia respirar, não tinha controle sobre meu próprio corpo e nem sobre meu próprio... tempo.
Daisuke balançou a cabeça quando terminei o meu relato e depois de respirar fundo começou com o seu veredito - Tem razão quando diz que uma técnica forte vem com consequências.
-Quando te obrigaram a mexer com o passado foi como fazer uma porta que nunca existiu, talvez houvesse brechas mas não uma passagem. Mesmo que esteja fechada agora as falhas que ficaram se tornaram maiores e esse tipo de tempo sob o qual você não tem controle, esteve se alimentando de você sem que percebesse.
-Parasitando seu sistema, já que toda técnica de passado tem uma consequência física no seu corpo suponho que... - O homem passou a mão pelo rosto antes de voltar a falar com um tom sincero - Não tenho como afirmar ou comprovar, mas suspeito que a crise que teve na Grécia se deu a um único fato. Seu coração voltou uma batida.
Fiquei em silêncio por alguns momentos.
-Você sabia...?
-Não Shoko - respondi imediatamente - Chrono andou, rebelde. Se é que eu posso falar isso, mas não achei que fosse uma possibilidade real. Mexer com o passado acabou no momento que Satoru me resgatou, nunca foi uma possibilidade para mim.
-É difícil reparar nas coisas sob a qual não temos ciência. Você faz inconscientemente porque é um mecanismo seu mas a partir do momento que você para pra prestar atenção consegue controlar, é como respirar.
A sala pareceu ficar em câmera lenta, mais pesada e densa. O brilho vermelho do destino alcançou-me os olhos então num segundo eu me vi dentro de meu território, 'o palácio das eras', o grande relógio que geralmente indicava chrono havia ganho um gêmeo. De sua estrutura cor de chumbo cintilante nascia um fio azul, escuro e imponente, misterioso como as águas mais profundas do oceano.
Por trás de seus vitrais apenas um vazio com poucos pontos luminosos, diferente do outro que tinha uma galáxia inteira, gravado em sua base havia letras gregas entalhadas que formando um nome. Eu sabia o que era, o tempo que não pertence a chrono.
Quando voltei a mim, Shoko me segurava pelos ombros enquanto Daisuke-san tinha o telefone em mãos chamando por enfermeiros.
-[Nome]! O que aconteceu? - minha amiga perguntou preocupada, me sentia um pouco fora do ar como se tivesse acordado naquele momento. Limpei a garganta.
-Estou bem.
-Você desmaiou de olhos abertos, não está nada bem!
Em anos que conhecia Shoko, foi a primeira vez que vi sua voz subir algumas casas, e sua expressão realmente de distorcer em preocupação. Segurei seu braço e a forcei a olhar para mim.
-Ieiri - usei seu primeiro nome - Está tudo bem, desculpe por te assustar.
O lábio inferior dela tremeu e em seguida suas mãos apertaram as minhas - Vou pegar água.
Daisuke também permanecia de pé, me olhando com cuidado - Tem alguma ideia do que aconteceu?
-Pouca. - respirei fundo - Já tive uma experiência semelhante a essa quando firmei a linha do destino.
-Algumas das minhas técnicas se ativam por estímulos específicos, quando tomei consciência da parcela de chrono que representa o passado o tempo me revelou uma nova faceta. Uma que até então eu não sabia que existia.
Podia ver ali, entrelaçado nos meus dedos, junto do fio azul brilhante do tempo um novo e desconhecido poder. Algo que não pode ser cronometrado ou previsto, aquele que recebe o nome de oportunidade, o momento em que algo especial acontece.
-Uma existência que é reconhecida e marcada com um 'antes' e um 'depois' - apertei a linha na palma da minha mão e em minha cabeça revi as imagens do primeiro dia que encontrei com Satoru. Depois disso, quando meu tio Toji o atacou, todos os momentos que a linha do destino se fez presente estavam ali.
-O tempo que é chamado de kairós.
N/A: "HUAYHUAHGUYAHA" é assim que eu fiquei quando terminei de escrever esse cap. Muito feliz, particularmente achei que ficou fod@, estamos construindo uma narrativa cheia de "buracos" mas é para criar a atmosfera de confusão mas vai ter explicação em breve.
Agora, pega essa visão. Kairós esteve presente em Sýndesis o tempo todo. Se vocês repararem nos nomes dos capítulos sempre que tem " x encontra y" é porque a história da uma virada. huehuehue
Às vezes eu me esqueço que essa fic não é pra ser tão grande, kakaakakakakakak nem entramos na parte do JJK 0 ainda. Eu que lute, quem manda fazer parcela de enredo original.
É isso galera, espero que tenham gostado!
Até semana que vem! Xx
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