Liberdade
(capítulo incluso em OUT/2023, separado do anterior, revisado, com cenas novas)
O dia do cortejo se aproximava e uma parte dos alunos precisaram ser realocados, alguns deles entrariam em batalha, e os menos aptos ficariam na escola.
Por sorte, Megumi teve uma viagem escolar, e estaria bem longe de qualquer um dos lugares cotados para a batalha. Não teria de me preocupar com a segurança dele enquanto exorcizava algumas maldições. Apesar disso, avisei meu primo da situação geral. Ele tinha os cães divinos, Nue e outros, para o ajudar se algo de estranho acontecesse.
Satoru e eu acabamos por nos separar, ele ficou em Tóquio e eu fui designada para Kyoto, são poucas pessoas que conhecem a verdadeira natureza do nosso contrato. Então em certas situações, para não criar desconfianças, temos que aceitar as decisões sem ter muito o que falar.
— Está treinando? — a voz de Akira me chamou, desviei de um dos bonecos de treino de Yaga-san e travei seu tempo logo em seguida.
Alguns fios de cabelo grudaram no meu rosto, e mesmo dentro do galpão, minha respiração tomou o ar, a condensando numa névoa branca por conta do frio.
— É o que parece, não é?
O homem entrou no galpão colocando as mãos nos bolsos logo em seguida — A escola tem dinheiro, devia pedir para reformar esse lugar. Cairá na sua cabeça daqui a pouco.
Se olhar com cuidado, ele não estava errado, mas tinham memórias demais gravadas naquelas paredes para serem simplesmente trocadas.
— Até lá, prefiro não mexer. Penso que ainda aguenta algum tempo.
Akira chutou o chão levantando um pouco de poeira — Acabei de sair de sair da sala da Shoko, ela me contou sobre o tratamento que está fazendo. Se é que podemos falar isso.
— A princesa do tempo, sendo morta por ele mesmo — respondi —, seria poético se não fosse comigo.
— As leis do mundo funcionam de maneira misteriosa, mais do que uma trava para não realizar seus desejos. Encare como uma proteção para si mesma, e ao garoto Gojo.
Um riso escapou dos meus lábios — Ele não é mais um garoto Akira, até quando vai falar assim?
— Algumas atitudes me faz pensar o oposto — meu irmão de consideração bateu o ombro com o meu o empurrando —, mas você parece feliz. Espero que permaneça feliz também.
Cerrei os olhos em sua direção — Está ficando mais emocionado a medida que envelhece Akira? Que conversa é essa?
Ele levantou as mãos e se virou dando as costas para mim — Só estou te dando meus votos de felicidade, apenas isso. É um crime querer que a minha família fique bem?
— Claro que não, já que está aqui para conversas soltas. Que tal me ajudar a treinar? Dessa vez sem testes.
— Como desejar, irmãzinha.
O cenário de treinarmos juntos se repetiu algumas vezes até chegar o dia 24 de dezembro, o aniversário de Satoru, que foi no sétimo dia do mesmo mês, não foi exatamente comemorado. Para não dizer que passou em branco, usamos o Cortejo dos Youkais como desculpa para passear a noite pelas de Shinjuku e visitar uma loja ou outra.
Enfim o dia chegou, estava de frente para o espelho ajustando as minhas vestes quando Satoru abraçou meus ombros.
— Somos o casal jujutsu mais forte, nenhum de nós deve ter problemas.
Provavelmente ele estava sentindo a preocupação flutuando pelo fio do destino, virei para o encarar de frente e segurei suas mãos.
— Isso não me impede de ficar preocupada — respondi —, me prometa que vai tomar cuidado, Satoru.
Ele não respondeu com a voz, mas se inclinou para deixar nos meus lábios um beijo calmo, seus cabelos estavam soltos e fizeram cócegas quando rasparam no meu rosto.
— Te vejo no fim do dia [Nome] — e com essa fala ele desapareceu, provavelmente indo direto para o seu posto.
Eu mesma não tinha tempo para perder, após garantir ter tudo que precisava ajeitado, fiz o meu salto no tempo aparecendo junto do time responsável por Kyoto.
— Diria "boa tarde", mas não acho que é um bom momento.
Utahime e a aluna de cabelos azuis, acredito que seu nome era Miwa, deram um salto quando apareci.
— Está atrasada — Nanami disse apontando o relógio, olhei mais de perto e se passaram segundos da hora combinada. Coloquei a mão em seu ombro e me adiantei para ouvir as instruções.
— Mantenham a destruição dos prédios e infraestrutura no mínimo. Pode ser que alguns civis ainda não tenham evacuado. Se acharem alguém. Ajudem a evacuar.
— Porque não conseguiram tirar todos os civis? — meu amigo comentou.
— Talvez sejam viciados em hora extra como você — rebati, ganhando um grunhido em reposta — Não te faz lembrar dos tempos de escola Kento? Cuidado por aí, não vou estar por perto para te pegar com minhas linhas pelo pé.
— Vá para sua posição [Nome] — ele me empurrou na direção contrária — tem uma geração nova inteira aguardando para ter essa experiência. Não precisa se preocupar comigo.
— Não se esqueça de contar — me despedi com um aceno e assumi meu lugar no alto de um prédio.
Por enquanto parecia tranquilo, nada senti de estranho. Esse silêncio, me fez questionar a verdadeira motivação de Getou.
Um mestre de maldições, que as coletou durante anos, de repente as libera todas de uma vez. Não importa quantos caminhos de pensamento eu seguia, não conseguia uma resposta. Getou não é burro, existe algo nesse plano dele que ainda não descobrimos.
— Sýndesis — chamei a maldição no vento, o garoto se manifestou com um sorriso no rosto —, é possível rastrear as promessas a partir de agora? Com você, e Kairós?
— Mas é claro que sim, não só com Kairós, mas Chrono também — ele flutuou a minha volta —, o que quer saber?
— Futuros que envolvam Yuta Okkotsu.
Fechei os olhos vendo em meu domínio inato os fios se entremeando enquanto a maldição seguia meu pedido. Parecia natural ter Sýn ao meu lado, a única questão é que agora ele responde verbalmente aos meus pedidos ao invés de apenas brilhar em intensidades diferentes.
As primeiras maldições começaram a surgir no horizonte, e nisso uma imagem me acertou. A maldição Rika Orimoto já não pertencia a Yuta, mas sim estava sob o controle de Getou, a escola Jujutsu de Tóquio completamente manchada de vermelho. Os futuros que vejo, são sempre relacionados a mim, a minha linha do tempo que pode avançar nas diferentes realidades me ajudando a fazer uma previsão do que aconteceria. E nesse cenário, depois de uma luta intensa em Kyoto eu voltava para a escola apenas para ver os alunos do primeiro ano completamente destruídos.
Travei os dentes quando a realidade da situação me encontrou.
*Satoru, Getou está atrás de Yuta.
A mensagem que o fio transmitiu foi rápida, o homem estava na presença de Ichiji. Ele estava de venda, então não tive sua visão compartilhada, apenas seus sentimentos me acertando como um caminhão.
*Explica o porquê daquele exibido não estar na linha de frente. As coisas acabaram de ficar potencialmente complicadas.
Vi a decisão que ele teve de mandar Toge e Panda para a escola, e após isso fechei nossa linha de comunicação particular.
— Você escolheu o curso [Nome] — Sýn me avisou seus cabelos rubros brilhando intensamente —, são outros futuros que se abriram no lago das escolhas de Kairós, quer que eu veja também?
— Não — respondi juntando as pontas dos dedos —, ser princesa do tempo é uma coisa. Usar você para brincar de deus é outra, até entender como funciona em sua totalidade não quero saber muito. O ricochete pode ser mais forte que ir ao passado.
— Desculpe, tem coisas que eu também não sei.
— Está tudo bem, fez um bom trabalho — coloquei a mão em sua cabeça antes de o liberar, gastava muito mais energia do que o comum, ao contrário de Satoru não tinha uma técnica de reversão.
Respirei fundo, muitas maldições vinham pelo céu, uma boa parte delas estavam ao meu alcance.
Milhares de fios apareceram na minha frente, cada um representando uma ação sendo feita no momento, de maldições e feiticeiros. Cada uma delas é um reflexo de Chrono, o ponto de partida de tempo, visualmente é como estar dentro de um grande novelo.
As maldições no meu campo de visão foram imediatamente cortadas, o líquido escuro e roxo pintando todos os prédios em seu alcance. Uma chuva pútrida que sinalizava o início da batalha, Shoko estava em Tóquio, o que significava que aqueles combatendo maldições em Kyoto precisavam ser um pouco mais cuidadosos.
Essa era a minha função.
Deixei meu corpo cair do topo do prédio, reduzindo a velocidade até o chão, maldições já estavam dominando as ruas e mais sangue vermelho do que eu imaginava fora derramado. Corri em direção aos combatentes, as linhas azuis do tempo me envolvendo e paralisando as maldições para facilitar seu exorcismo. As maiores que se erguiam tão altas quanto os prédios tombavam quando minhas linhas de Aisa cortavam suas carnes, sendo finalizadas pelos outros feiticeiros ao redor.
Uma maldição tentou pegar-me pelo chão, mas um salto rápido usando minhas linhas consegui desviar a puxando em seguia e a partindo no meio. Em câmera lenta as partes caíram esperando eu sair de baixo, não estava tão inclinada a ficar coberta de restos de maldições. Após ter uma distância segura, soltei o fio do tempo e os pedaços caíram ruidosamente atrás de mim, o ar revolto fez com que os cabelos na minha nuca voassem.
Muitas foram exorcizadas, mas ainda havia centenas, girei os pulsos, se quisesse acabar logo com isso teria que colocar algum esforço. No fim da rua vi alguns jovens tendo problemas com uma maldição, das que vi parecia a mais forte. Pisei no chão com firmeza e avancei o meu tempo até a criatura, passei por debaixo de uma de suas pernas tortas e saltei até o topo puxando minhas linhas cortantes rasgando a criatura no meio.
Da viela na minha lateral um grupo de maldições menores surgiu, fracas, porém em quantidade O fio azul brilhou em sua totalidade, as parando no ar enquanto suas cabeças eram decepadas, pulei para longe desviando dos restos.
— Não fiquem parados ainda temos muito o que fazer — disse batendo as minhas mãos juntas e liberando o meu controle de tempo por um momento.
Segui a rua até o fim onde escutei explosões, os alunos de Utahime apareceram logo em seguida. Bem que achei ter visto Nishimiya nos céus.
— [Nome]-san — Kamo me cumprimentou —, tem muitas maldições reunidas numa rua lateral, estão vindo para cá.
— É uma boa chance de acabar com elas de uma vez. Conseguem as atrair em minha direção?
— Sim.
Em conjunto com os alunos montamos uma estratégia, me posicionei no fim da rua vendo as criaturas correndo todas juntas em minha direção. Os alunos que se propuseram a servir de isca já estavam seguros nos prédios laterais, então cabia apenas a mim exorcizar aquelas criaturas.
Minha visão se tornou azul, dando mais tempo do que o suficiente para que minhas linhas cortantes tomassem os cantos das ruas até o final. Apliquei mais energia amaldiçoada, deixei o tempo correr e cruzei os braços em minha frente numa réplica do movimento de meus fios. Os monstros que já deviam ser centenas agora se desfaziam em milhares de pedaços.
— Eek — escutei um grito atrás de mim, vindo da primeira-anista Miwa — [Nome]-san é tipo super ultra forte.
Permiti-me dar rir — Deve ter melhorado um pouco a situação, continuem com o bom trabalho. Imagino que Todou esteja agindo por conta, certo?
O suspiro de Noritoshi Kamo foi mais que autoexplicativo.
— Ele disse que tem um especial de natal as 20:00 com a Takada-chan, e que não vai perder o tempo dele aqui — explicou a garota.
Cocei a lateral da cabeça — Parece com algo que ele faria, mas ele fazendo o papel dele é o suficiente.
Nishimiya desceu a vassoura indicando as ruas mais povoadas e por um momento fiquei junto daqueles alunos. Vi Mai andando por cima dos prédios, ajudando do jeito que podia. Apesar de ter a gêmea, Maki, debaixo da minha proteção, a outra, Zenin me rejeita de todas as maneiras possíveis.
As flechas amaldiçoadas de Noritoshi são uma habilidade excelente, conseguimos resgatar um grupo de alunos sem grandes problemas. E fazendo das palavras de Kento verdade, Miwa e mais dois deles estavam pendurados de cabeça para baixo depois de eu evitar que fossem consumidos em loco.
— Prestem atenção nos arredores, mantenham o foco.
— Ah, é a segunda vez que alguém diz isso para mim hoje — chorou a garota de cabelos azuis.
Enquanto parados ali em meio a restos, Sýndesis, enquanto fio, se manifestou em minha frente. Uma sensação se espalhou pelo meu corpo logo em seguida. Não foi com Satoru, mas sentia que em paralelo algo grande estava acontecendo em algum lugar.
Quando descobrimos sobre o contrato, entendemos que a cláusula principal era a respeito do espaço-tempo. Porém, havia algo a mais: "suplico para que o nosso ardor perenize através do ciclo e clamo para que de igual forma todo juramento feito entre dois iguais perpetue até seu firmamento".
Promessas feitas entre dois se manteriam até que fossem realizadas, — independente de ser relacionado a mim — foi dessa frase que a verdadeira lenda do akai ito nasceu. É o motivo de ocasionalmente ela ter sido vista em momentos da minha vida, e também por outras pessoas. O juramento que meus ancestrais e de Satoru fizeram, foi o primeiro, mas qualquer outro seguir as mesmas condições for firmado, também irá se perpetuar até sua realização.
Foi no instante que as maldições começaram a sumir, que entendi ser algo relacionado a sensação que tive. Mechamaru disse que os comandantes de Getou haviam recuado, assim como algumas das maldições restantes.
Quando olhei para o céu que tinha tons escuros entremeados aos laranjas de fim de tarde. Tudo parecia estar normal, ou algo próximo disso, logo não havia mais necessidade de permanecer em Kyoto por muito mais tempo.
— Tivemos muitas fatalidades Utahime? — questionei me aproximando da professora.
— Não tantas, graças a você — a mulher sorriu para mim — está dispensada por hoje [Nome].
— Obrigada, venho visitar antes dos novos primeiro-anistas começarem. Estou devendo uma para Todou.
— É uma promessa — ela esticou a mão para mim e eu a cumprimentei de volta.
Antes de voltar para onde estava a outra ponta da linha do destino, me despedi do meu melhor amigo.
— Não sei quantos exorcismos fez, mas tenho certeza que meus ataques em massa me deram a vitória dessa vez.
Kento tirou os óculos e tirou um lenço do bolso para limpar as lentes — Suponho que a situação tenha te favorecido dessa vez. Me deixe avise quando quiser cobrar, com pelo menos dois dias de antecedência.
Balancei a cabeça e o abracei, recebendo o mesmo gesto de uma maneira bem menos empolgada.
— Se cuide, meu amigo.
— Você também.
Me afastei, e o primeiro passo que dei em seguida me levou direto para a escola, em Tóquio. O que encontrei lá foi um completo desastre, tudo estava destruído, escutei Maki de longe e segui sua voz para avistar os quatro alunos do primeiro ano juntos. Passei as mãos nos meus cabelos ajeitando os fios para trás, por que sempre que havia um problema eles pareciam estar bem no meio deles?
Contudo, uma figura nova estava junto deles. Uma jovem, na verdade uma criança. Estava de joelhos na frente de Yuta que chorava copiosamente, não tomei muitos minutos para entender ser Rika, agora liberta de sua maldição.
— Yuta, obrigada. Por me dar tempo, por me deixar perto de você. Durante esses seis anos, fui mais feliz do que quando estava viva. — as palavras foram ditas para o garoto de maneira doce e com um tom de despedida.
Aproximei-me de Satoru me colocando ao seu lado e pegando sua mão entrelaçando nossos dedos. Rika disse suas últimas palavras e o espirito livre da maldição se ergueu em luz dissipando em esferas luminosas acariciadas pelos últimos raios de sol do dia. Era uma bela imagem ainda mais vendo o fio vermelho que também significava o fim de uma promessa.
— O que você vê? — Satoru me perguntou.
— Uma esperança para o futuro.
• FIM •
N/A: Capítulo revisado e incluso na história em Outubro de 2023, para melhor entendimento do texto, com cenas novas, e outras melhorias.
Fazia um tempo que queria mudar, então achei uma boa oportunidade.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top