Deixe Seu Recado




Um longo suspiro, lento e preguiçoso. Ainda de olhos fechados tomava coragem para despertar, divagando entre a porta do mundo dos sonhos e o novo dia que surgia do lado de fora. Os efeitos da técnica de reversão de Shoko haviam desaparecido, fisicamente estava curada, embora emocionalmente ainda fosse um trabalho em desenvolvimento. A sensação sufocante dos segredos se foram, a ansiedade que acompanhava as perguntas sem respostas também, o sentimento que tinha era de começar a tecer uma nova tapeçaria no meu universo de fios.

Abri os olhos sentindo a claridade atravessar minhas pálpebras perdendo a luta e acordando de vez. O sol parecia já estar no céu iluminando uma manhã de céu azul pálido, nuvens brancas e brisa morna.

Olhando por cima do ombro para vi que Satoru ainda dormia, suas costas viradas para mim deitado virado para o lado da porta, guiei as pernas para fora da cama com cuidado para não fazer barulho. Era raro ver ele descansar profundamente então que continuasse até despertar naturalmente, desviei a atenção para procurar momentaneamente meu celular e lembrar que provavelmente fora destruído durante o incidente.

Megumi ou Tsumiki não conseguiriam falar comigo no caso de uma emergência, devia ter algum tempo até que tivéssemos que partir, mas mesmo assim usei Chrono; para não fazer som; nem demorar demais.

Imaginei como avisar Satoru que estava saindo, e me lembrei dos bilhetes deixados diversas vezes nas paredes em papéis de recados diferentes. Teria de ser como fazíamos antigamente.

Era um recado simples, mas parecia seco sem uma assinatura. Me recordo que antes eles eram assinados com "seu namorado" e "sua namorada" mas parecia estranho usar esse título considerando as circunstâncias. Ponderei em apenas assinar com meu nome mas era uma ideia tola, quem mais poderia ser?

Girei a caneta no dedo pensando, quem diria que um bilhete seria tão difícil de escrever. Subi as escadas para colar o recado num lugar mais fácil de enxergar, e quando entrei fiquei surpresa em ver o mesmo homem abraçado ao meu travesseiro.

A cena me fez sorrir, tomei coragem e resolvi assinar o bilhete não dando chance para o arrependimento, desci com pressa até a rua e caminhei para um lugar mais movimentado para pegar um táxi e pedir para que dirigisse para o shopping mais próximo. As pessoas estavam começando a aparecer, era um sábado estranhamente tranquilo apesar do trânsito matinal.

Paguei o motorista e fui direto até uma loja de aparelhos eletrônicos, não me importava muito com os modelos, algum um pouco mais novo que o meu antigo já seria o suficiente. Os vendedores me ajudaram a escolher e ainda conseguiram recuperar meu número antigo, mas o conteúdo armazenado foi perdido.

Estava quase saindo quando senti o cheiro de café fresco e pães sendo assados, tinha uma nova padaria no shopping local, gastar mais alguns minutos não faria mal. Aguardei meu pedido sentada numa mesa redonda no canto próxima a uma grande janela que tinha vista para a rua, aproveitando para configurar o novo aparelho com as minhas preferências.

Tinham ligações perdidas antigas de Shoko e até mesmo de Nanami. Meu amigo era outra pessoa com quem eu precisaria conversar e me desculpar pelas ações mais recentes.

O jovem garçom se anunciou trazendo uma bandeja com alguns pacotes para viagem e o meu pedido, sorri agradecendo e pude jurar que seu rosto corou depois dele tropeçar numa cadeira próxima enquanto se afastava.

Parecia estranho estar tão tranquila depois de tudo que aconteceu, mas a verdade é que me sentia diferente. Muito mais eu, do que fui um dia.

Terminei o café e continuei meu percurso, andei a pé por um tempo até que estivesse afastada o suficiente de pessoas comuns para usar meu salto cronológico e chegar na casa de Megumi e Miki sem causar qualquer tipo de comoção.

Subi os degraus e toquei a campainha algumas vezes antes de ouvir Tsumiki gritar do lado de dentro para que esperasse.

-[Nome]-chan! O que está fazendo aqui, sempre avisa quando visita! - um bocejo interrompeu sua surpresa - Ainda está tão cedo.

Balancei a cabeça achando engraço o ritmo animado e ainda sonolento dela - Estava por perto. Tome aqui, é para você e Megumi tomarem café da manhã.

-Obrigada - ela segurou o pacote nos braços - Não quer entrar? Ah, Megumi, [Nome] está aqui! Acho que ele ainda está dormindo.

-Não tem problema, só vim avisar que vou ficar alguns dias fora a cidade, mas qualquer coisa podem me ligar.

-Porque não avisou? - Uma figura mais alta veio andando até a porta, mas manteve a distância. De algum modo ele conseguia deixar os cabelos mais bagunçados do que já eram naturalmente.

-Bom dia raio de sol - cumprimentei Megumi recebendo uma careta em retorno - Acabei de comprar um celular novo, preciso salvar contatos novamente. A propósito, faça gentileza.

Joguei o aparelho pro meu primo enquanto ainda conversava da porta, o jovem pareceu me olhar da cabeça aos pés franzindo o cenho por conta de algum pensamento em sua cabeça. Ele entregou o aparelho para Miki que também salvou seu número enquanto ele mesmo segurava o pacote com delícias que trouxe.

-Pronto! Tem certeza que não quer entrar?

-Não, está tudo bem Miki. Acho que já vou, quando voltar venho visitar de novo.

Me despedi dos dois e assim que a porta fechou me virei para ir embora e prestes a virar a esquina para saltar de volta para a casa de Satoru, Megumi me chamou. Deve ter corrido até ali pois se apoiou nos joelhos por um instante para retomar o fôlego.

-O que aconteceu com você? - perguntou sem rodeios.

-Nada, por quê?

O meu primo me lançou um olhar irritado - Não me trate como criança, sei quando algo está errado, principalmente com você...

Sua voz sumiu por um instante e desviando o olhar meu primo perguntou - Aquele cara fez algo?

Precisei piscar algumas vezes até entender que ele estava se referindo a Satoru - Está preocupado comigo Megumi? Acho que vou chorar.- fiz menção de enxugar uma lágrima imaginária enquanto a carranca dele piorou.

Apertei o meio da testa dele empurrando sua cabeça para trás - Vai ficar com rugas enquanto ainda é jovem se continuar fazendo isso.

-Tivemos problemas - disse por fim confiando nele e puxando de leve os fios de cabelo na minha nuca - Mas vamos nos resolver.

Pelo menos era a verdade que meu coração escolhia acreditar.

-Então tá - ele não disse mais nada se virando para voltar, mas a surpresa foi quando ele segurou meu pulso me levando junto - Trouxe comida demais e Tsumiki vai ficar chateada se não ficar por mais tempo.

Um sorriso largo se rompeu no meu rosto, ajustei a mão para segurar a do jovem apropriadamente, como costumávamos fazer quando ele era pequeno.

- Megumi... Obrigada.






*EXTRA* - 3° Pessoa


Quando Satoru acordou, percebeu que o que estava em seus braços era o travesseiro de [Nome] e não a verdadeira. Ela não sabia, mas era um gesto comum que o corpo do homem já fazia inconscientemente, toda vez que viajava ou quando passava muito tempo longe, um reflexo que tentava suprimir a falta que o corpo verdadeiro fazia.

Olhou em volta um pouco receoso vendo que ela não estava em nenhum lugar por perto e tão pouco na casa.

Será que suas palavras na madrugada não foram o suficiente? Teria [Nome] o deixado mesmo depois do que disse?

Se sentou colocando o travesseiro para o lado lendo a energia amaldiçoada dela no quarto, da cama para o banheiro e depois o armário até sair pela porta. Pensou em se levantar mas algo de cor vibrante no canto da visão chamou mais a atenção, colado na parede do seu lado da cama, um lugar que ele com certeza veria.

Reconheceu a caligrafia e puxou o papel voltando a deitar na cama virado para cima não contendo o riso que veio acompanhado do recado.


Saí para comprar um celular, talvez visite Megumi e Miki no caminho, volto pra casa logo.
- Sua namorada, a antiga e a futura.












N/A: Capítulo de transição, bem levinho e fofinho para acalentar nossos corações.

Antes de alguma desgraça acontecer de novo huehue.

Posso confessar que, antes de começar eu tinha na cabeça "Não, 7 capítulos ta bom dá pra cobrir tudo". Estamos no 12° e nem entrei no JJK0 de verdade ainda.

Não desiste de mim povo! Vai dar certo.

Até mais, Xx!

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