De novo um
O sentimento era engraçado, de repente tudo se tornou nada. A dor desapareceu e o que restou foi apenas insanidade. Era como estar perdido, mas saber exatamente onde ir.
Por onde Satoru andava para trás havia destruição, nos olhos cintilantes sustentados por uma face inexpressiva havia apenas a indiferença. Não existia mais um fio, uma bússola moral, algo que o segurasse naquela terra, apenas uma força tremenda regida pela perda do equilíbrio.
Não sabia onde estava Akio e os gregos, também não se importava, sem saber o motivo foi atraído para a instalação submarina. Os soldados na porta desapareceram com parte da estrutura, o próprio espaço sendo distorto a medida que avançava. Em certo momento, quando se viu envolto numa enorme mancha carmesim, encontrou o destino que procurava.
Haviam corpos desconhecidos no chão, uma maca, e no centro dela [Nome] deitava serena sem movimento. Uma agulha no centro da testa, olhos opacos como se não houvesse mais uma alma habitando aquele corpo, e talvez realmente não existisse.
Naquele universo, na grande tapeçaria bordada pelos fios do destino, suas vidas encontraram o fim.
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Sentei rapidamente buscando por ar, minha visão turva por lágrimas coração acelerado e uma sensação terrível que mesmo viva me fazia sentir morta. Antes que percebesse cambaleei para fora do quarto tendo a pele rasgada por gotas de chuva.
Caí de joelhos sobre as pedras tentando segurar com força o chão na tentativa de fazer com que o mundo real parasse de rodar. Existia um zumbido insistente e agudo reverberando de tal forma que parecia impedir minha cabeça de processar meus próprios pensamentos.
Eu morri.
Num outro mundo, numa outra ramificação dos muitos destinos que envolviam a minha vida com a de Satoru. Nós morremos, e condenamos um mundo inteiro com isso. A intenção da linha do destino estava clara agora, todas as nossas brigas e todo o nosso ressentimento voltava a um único ponto em nossa vida.
O dia que meu pedido de ajuda foi recusado, mas se fosse diferente não teríamos outro resultado senão o fim. De tudo.
Raios iluminaram os céus e trovões esconderam o som do meu choro sofrido. Mesmo que fosse uma projeção, que não fosse real, doía. Somente o pensamento de perder algo que era essencial para a minha própria existência era sufocante.
Das águas quentes da terma natural nascia uma camada fina e baixa de neblina que cobria as minhas mãos e de repente — como em outros momentos em que me encontrei em desespero —, o fio vermelho brilhou. Espiralando em minha volta como uma proteção, pulsante e brilhante como nunca.
Cumprindo o papel para qual foi criado, que era ser um guia para que o espaço e tempo nunca se perdessem, o destino lentamente pareceu reluzir guiando meus olhos para o outro lado. Próximo à porta num estado não muito melhor, o meu Satoru estava de pé parado na chuva, os cabelos claros caídos sobre a face e olhos temerosos como se não soubesse como agir depois de tudo aquilo que vimos dentro da linha de Kairós.
O poupei da dúvida forçando as minhas pernas a se levantarem e num instante tudo que senti foi seu corpo dando de encontro com o meu. Quente e acolhedor a metade perdida numa realidade inexistente. Meus braços envolviam seu pescoço num abraço e suas mãos pareciam me segurar de uma maneira que buscava comprovar de que estava realmente ali, que não era um pesadelo ou uma fantasia distorcida.
— Me desculpe — disse com a voz ainda embargada — Satoru, eu... Droga, fui tão estúpida.
Afastei de seu pescoço apenas para tomar seu rosto carinhosamente entre as minhas mãos, e olhar no fundo daqueles olhos que eu tanto amava. Satoru deixou que a cabeça tombasse até que encostasse levemente contra a minha.
— Naquela noite como essa, dias atrás, eu deveria ter te beijado. Não deixado que ações levassem a uma briga sem sentido.
— Então não vamos cometer o mesmo erro.
Antes na chuva, agora no colchão. Completos novamente, beijos lentos sedutores buscando a lembrança, com sabor de saudade e desculpas. Ludibriantes, pequenos gestos e toques que se faziam pontos de fogo ao menor dos movimentos.
Nossos corpos se puxavam cada vez mais para perto, se querendo, não havia nada que importasse ao nosso redor; eramos tudo.
A cada toque era um pedaço de mágoa que se desfazia e ficava para trás, caído no esquecimento, cada beijo uma afirmação de que eram muito mais do que uma desavença. Os movimentos, lentos carregados de paixão traziam consigo votos de que tudo de ruim ficaria para trás e a partir de agora seriamos melhores.
Minha pele foi venerada como naquele primeiro dia que nos deitamos, o desejo atravessava meu corpo e se ficássemos ainda mais próximos talvez nos fundíssemos num único ser. Me sentia ser devorada, suspiros e gemidos que pareceram durar por uma eternidade.
Se já era apaixonada por Satoru poderia dizer com todas as letras que o amava, cada pequena nuance. Não me importava de ficar presa naqueles olhos cintilantes ou de me perder em seus abraços, torcia para me afogar em seus beijos e cair no caos que eram suas vontades.
Naquela noite, que marcava uma nova etapa, nos afogamos um no outro e compartilhamos muito mais do que já havíamos antes. Em pouco tempo nos afastamos, sentimos a dor da perda e nos encontramos novamente. Nós nos apaixonamos e amamos novamente, perdidos num universo particular, infinito e onde o tempo permaneceu parado.
Palavras não foram trocadas até que o sol alcançasse o meio do céu no dia seguinte, ainda embriagados na companhia um do outro aproveitávamos juntos o que parecia ser o verdadeiro dia de folga.
— O que esta na sua cabeça? — questionei vendo que ele encarava sério o teto enquanto os dedos contornavam minha coluna.
— Se você morreu, por que eu não morri também de imediato? Se esse é o contrato que conhecemos.
Virei e passei a mão pelo seu rosto contornando suas feições, Satoru fechou os olhos com esse gesto — Depende do conceito de morrer, alguém com morte cerebral permanece com o corpo funcionando por alguns minutos. Acredito que foi por conta disso que você viveu a perda do equilíbrio, isso é...
— Até que seu coração parasse de bater de vez. — completou por conta.
Ficamos em silêncio por mais algum tempo, aproveitando a companhia um do outro. Todas as incertezas que nos contornavam pareciam ter desaparecido mesmo que contra a vontade nos levantamos da cama para aproveitar as águas quentes e em seguida um almoço reforçado.
— Você ficou comendo a sobremesa enquanto eu tinha minha intuição ontem — reclamei puxando o doce do dia na minha direção.
— Vamos lá [Nome] o que eu podia fazer, você disse ter um cara interferindo na nossa ligação — o homem contornou a mesa apoiando as mãos uma de cada lado do meu corpo — Além disso, não me parece tão ruim provar o doce direto de você.
Foi quando um toque de celular rompeu o momento, um bem atípico. Se fosse qualquer outra pessoa eu iria ignorar, mas não ele.
— É meu primo — disse batendo em seu braço, mencionando para me deixar passar.
— Espera, ele nunca te liga.
— É justamente por isso que preciso atender — Satoru suspirou e deu espaço para eu levantar direcionando a atenção para o doce logo em seguida. Balancei a cabeça com a ação, algumas coisas nunca mudariam.
Assim que atendi a voz do meu primo soou do outro lado, trêmula exasperada e passando um sentimento que nunca ouvi na voz do garoto antes. Medo.
— [Nome] eu não sei o que aconteceu, mas, quando voltei ela já estava assim e-
— Megumi — chamei e coloquei no viva voz para que Satoru também escutasse — Se acalma o que aconteceu?
O garoto pareceu se recompor do outro lado — É Tsumiki, ela foi amaldiçoada.
N/A: Voltamos a programação normal pessoal, e com um casal feliz de novo!
Wattpad não manda notificações direito então por favor se você gosta de Kairós adicione nas listas e/ou biblioteca que eu acredito que a chance de receber as atualizações seja maior.
Não sei se eu vou manter semanalmente como antes, MAS com certeza será uma semana sim uma semana não no máximo.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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