Condição




-Não Akira você não pode deslocar a equipe egípcia para lidar com uma maldição em Uganda. Tem aquele cara de Cabo Verde, talvez ele conheça alguém da capital ou da república central.


-Tem certeza? Porque o custo vai ser maior para deslocar alguém.


-Mas tem uma questão de território, uma guerra civil entre eles é o que menos precisamos. - Coloquei a colher na pia enquanto no fogão uma panela fumegante terminava de cozinhar o que seria meu jantar - Tem aquela questão das fronteiras religiosas e crenças locais.

-Até mesmo os feiticeiros jujutsu possuem algo em que acreditam.


-É mesmo, você tem razão. Enfim o restante das equipes mandaram os relatórios, vou te encaminhar para conferir o fechamento.


-Obrigada - fechei os olhos por um momento passando a mão na testa - E aquele problema em Atenas?

Do outro lado Akira suspirou alto, e ouvi até o barulho da cadeira rangendo enquanto ele provavelmente se espreguiçava.


-Uma pista falsa, assim como todas as que recebemos nos últimos anos. Eram um panacas do submundo causando confusão.


-Não acha estranho Gaia sumir completamente do mapa desse jeito?


-Achar eu acho, mas o que posso fazer. Investigamos todas as faíscas que surgiram e nenhuma deu em nada. Parece que afundou e se desfez junto com Vega, sabe q-


O telefone foi retirado abruptamente da minha mão antes que Akira terminasse de falar.

-Ah Akira-kun, você passou dois meses com a minha namorada. Desculpe, mas vou ser um pouco egoísta agora.

Ele agora respondia Akira enquanto saía do meu alcance e mantinha um sorriso convencido no rosto, o homem ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder algo para o mais velho.

-Sim, estou providenciando isso.

E sem esperar uma segunda resposta desligou jogando o aparelho em qualquer canto, mantendo o sorriso no rosto e braços cruzados na frente do corpo.

-Satoru eu ainda preciso trabalhar, sabia?

Contornando o pequeno balcão com passos lentos o homem segurou meu rosto entre as mãos colocando alguns fios de cabelo atrás das minhas orelhas. As faixas foram deixadas de lado fazendo com que não tivesse nada entre meu olhar e suas íris cintilantes.

-Você está de folga ou melhor nós estamos. Akira-kun consegue se virar sozinho.

-Não faz ideia do que está falando, ele quase começou um conflito por conta de custos de viagem.

Um riso deixou sua boca enquanto se inclinava para que nossas testas pudessem encostar - Ele dá um jeito.

As mãos que seguravam meu pescoço desceram pelos meus ombros, enquanto sua boca se mantinha contra a minha num beijo lento e sedutor. Não foi preciso muito esforço para que logo estivesse sentada sobre o balcão com o homem entre as minhas pernas, meus braços estavam em seus ombros e casualmente se curvaram sobre seus cabelos claros num carinho.

Um movimento mais brusco e a linha do tempo se fez presente, por pouco a panela não foi ao chão.

Segurei o rosto dele pelas bochechas o afastando - Você quase me fez perder meu jantar.

Mesmo com as bochechas sendo apertadas ele pediu uma desculpa nada sincera, estendendo a mão e voltando o recipiente a sua posição original. Olhei por cima para ver que ainda levaria alguns minutos.

-O cheiro está bom, o que é?

-Dolmadakia. É um prato tradicional grego, é feito com folhas de videira, elas não iam durar muito tempo então precisavam ser cozidas logo, a propósito... - virei o rosto - Como você sobreviveu tanto tempo sem comida na geladeira?

Se fosse dar um nome a sua expressão, seria "a criança pega no pulo."

-Não costumo comer em casa.

-Sem ser as centenas de pacotes de doces espalhados por aí - respirei fundo cutucando seu tórax com talvez um pouco mais de força do que o necessário - Não estou cuidando da minha saúde para que você de repente morra de infarto e leve nós dois.

-Técnica de reversão, isso não vai acontecer.

A maneira convencida dele quase me fazia ter arrependimento de algumas escolhas

-Eu odeio você - ralhei. Não bastava Satoru ser extremamente poderoso, ele ainda tinha todas as vantagens possíveis, essa balança de espaço-tempo está bem desigual. Dei alguns tapas em seu ombro e pedi para que saísse da minha frente.

-A propósito, não ache que vou ficar cozinhando para você - cruzei os braços - Se vamos fazer isso dar certo...

Não consegui terminar de falar pois uma dor aguda me tomou o peito e o ar travou em meus pulmões. Na frente dos meus olhos figuras escuras e distorcidas surgiram, duas circuladas apenas pela linha vermelha e uma terceira que se assemelhava a um borrão de tinta, era menor que as outras e a única que se mexia, envolta de sua massa disforme a linha do tempo e do destino se cruzavam e ganhavam uma cor tão profundamente escura que a única coisa que eu conseguia assimilar era ao desespero.

-[Nome]!

Satoru me segurou quando minhas pernas vacilaram e uma tosse insistente rompeu pela minha garganta. Balancei a cabeça ainda confusa pelo que tinha acontecido, segurei o ombro dele mantendo o equilíbrio.

-Estou bem... Passou.

Mesmo mantendo o apoio em minha cintura, Satoru desligou o fogão e em seguida me guiou para a sala onde pudesse sentar. Limpei a garganta respirando fundo na tentativa de tranquilizar meu coração, tudo que eu menos precisava era de uma segunda crise.

Ele voltou com um copo de água e pouco tempo depois de fato me acalmei - Isso foi horrível.

-Imagino que sim - respondeu. E então o questionamento veio - Mas porque não senti?

Senti seus olhos buscarem os meus e mesmo tendo uma parte de mim não querendo, sustentei seu olhar. - Não deixo a linha do destino ativada a todo instante, parece... Invasivo demais.

Passei a mão no colo, como se uma massagem torácica diminuísse o incômodo causado pelas batidas irregulares, respondi - Tem coisas que você não precisa sentir.

-Mas são nesses momentos que eu sei que tem algo acontecendo com você se não estivesse aqui, o que aconteceria? Se fosse algo mais grave?

Passei a mão pelo rosto, ele estava certo. Por mais que isso soasse estranho, contudo...

-Não quero ser mais uma informação na sua cabeça - levantando a mão para sua face com o polegar acariciei a parte de sua bochecha - Não quero ter que me preocupar com o que eu to sentindo só porque vai ricochetear em você. Tenho minhas preocupações e meus problemas, são meus, é o que me faz um indivíduo.

-Não quero dizer que não quero dividir as coisas com você - Mantive minha mão espalmada em seu rosto, já que Satoru se mantinha agachado perto de mim.

-Só que tem coisas que não precisam.

Sua mão cobriu a minha apertando de leve, e em seguida se levantou sem dizer sequer uma palavra. Nenhuma resposta engraçadinha ou qualquer outra coisa, posso dizer que nossa noite não foi a mais agradável, tinha um certo sentimento estranho que estava nos rondando, um silêncio constante que se arrastava pelos corredores da casa.

Uma refeição taciturna que se desdobrou em cada um seguindo para um lugar da residência.

Quando a minha cabeça encostou no travesseiro estava sozinha na cama e o outro lado permaneceu vazio por um bom tempo. Talvez eu tenha cochilado pois quando acordei Satoru estava deitado de frente para mim, sua testa estava franzida e a expressão um tanto quanto sombria.

-Desculpa.

Ele tomou a minha fala como um sinal que estava tudo bem, então me puxou contra seu tórax a mão na base da minha coluna levemente receosa em manter o toque. Quando finalmente me aninhei contra seu corpo e Satoru me abraçou forte.

-Te entendo - murmurou baixo apenas o suficiente para que ouvisse - Mas ainda me preocupo com você.

-Porque a minha vida não é só minha, eu sei.

-Você é tudo que eu tenho.

Fechei meus olhos, espaço-tempo era uma unidade independente do que nossos corações quisessem, no fim do dia amar um ao outro continuava sendo uma opção nossa.

Uma ideia surgiu em minha mente, a técnica de centelha do caminho era uma sugestão a ser seguida independente do que acontecia ao seu redor. Trama a linha que representa Láquesis, a moira que traça a sorte de uma pessoa em vida, era absoluta.

-Toda vez que o perigo se aproximar, a linha do destino vai fazer seu papel e avisar. - um brilho púrpura se fez presente, uma linha de movimentos fluidos se fazia presente em espirais - Independente das minhas vontades.

Antes que Satoru pudesse falar algo coloquei a mão sob sua boca e sorri encarando seus lindos olhos - Isso não é uma promessa é uma condição.

O brilho deixou de existir e se desfez enquanto entrava na lateral da minha têmpora - Pelo menos um dos problemas está resolvido, pode começar a pensar nas nossas férias.

Satoru me olhou e em seguida abriu um sorriso sincero enquanto rolava pra cima de mim mantendo a cabeça em meu peito e uma perna jogada sobre a minha, a partir desse ponto só existia nós e uma atmosfera serena e confortante. Encarei o teto do quarto enquanto uma das mãos afagava os cabelos preguiçosamente e sem padrão.

-Mais cedo, vi algo. Confuso, mas diria que parecia um filme sobreposto ao outro mas além disso... Tinha uma figura, Chrono e Trama se fundiram em volta dele fazendo uma única linha escura.

-Dele? - ele ergueu a cabeça - Como sabe que é um "ele"?

Franzi a testa realmente não passava de uma forma, mas o ele parecia ser mais adequado ao o que quer que fosse. - Me parecia um garoto, ou um jovem.

-Alguma possibilidade de ser Megumi?

-Não. - respirei fundo - Acho que eu reconheceria meu primo se fosse ele, mas o que me preocupa foi Chrono ter se manifestado involuntariamente.

Levantei a minha mão - Achei que já tinha controle sobre ela.

-Já faz algum tempo que você não vai pro campo, talvez quando voltar deva pedir para Yaga-san missões de verdade ao invés de ser babá a longa distância de Akira.

Era claro o tom irônico em sua voz - Não acredito que depois de todos esses anos você ainda se incomode. Talvez ele esteja certo quando diz que vocês ainda precisam de uma terapia de casal.

-[Nome] que tal para de falar dele e planejar o que vamos fazer? Uma semana não é muito tempo.

Uma mudança não tão suave de assunto, mas deixei que fosse do seu jeito.

-Algum lugar não muito longe, você pode escolher. - algo clicou em minha mente - Mas só podemos viajar daqui dois dias.

-Porque?

Apesar do questionamento ser curioso, não respondi com precisão.

-Tenho coisas a resolver.










N/A: Obrigada por ler até aqui!

Até ano que vem, Boas festas! Xx

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