Certo para dar Errado
As informações que recolhi em Kyoto foram entregues para Yaga-san e Akira, que também seria o responsável por distribuir para os outros envolvidos no caso. Os primeiro anistas pareciam estar se alinhando melhor, principalmente depois de Yuta e Maki passarem pela missão na escola juntos.
Nesse espírito de companheirismo resolvi prestar uma visita ao meu loiro mal-humorado favorito. Dessa vez apareci na saída de seu trabalho durante o horário de almoço e apenas avisei para descer, Nanami não gostava quando encontros não eram bem planejados ainda assim sempre me encontrava. Além de que devia uma desculpa a ele pela última vez.
Com as mãos nos bolsos andava ao seu lado nos guiando em direção a um bom restaurante que escolhi, depois de praticamente o buscar e quase o forçar a entrar no carro emprestado da escola.
Não tinha nada de mais, mas era um bom lugar, clássico, as mesas eram baixas e as salas separadas. Tirei o casaco e me sentei.
— Me acostumei com diversos costumes, mas ainda prefiro mesas e cadeiras altas.
— Sei disso, sempre reclama. Pergunto-me porque quis vir num lugar como esse — Kento se sentou em minha frente.
— Você gosta e como é um pedido de desculpas, acho justo.
A mesma careta de sempre, o homem franziu ainda mais a testa e em seguida se serviu com um pouco de água. — Não tinha nenhuma necessidade disso.
— Será que você pode aceitar sem reclamar? Se o pedido de desculpas o incomoda tanto, encare como uma dívida — rebati —, com certeza estou te devendo algo. Já que costumávamos apostar refeições em todas as missões.
— Embora você roubasse em muitas delas. — repeti seu gesto e também coloquei um pouco de água num copo.
— Me avisava por vontade própria — me respondeu — naturalmente a contagem seria a meu favor.
Levantei a cabeça olhando para o teto e a luz clara — O que posso fazer, é meu melhor amigo, até superamos seu medo de altura juntos.
Finalmente alguma reação genuína — Nunca tive, você e Haibara que colocaram isso.
— Mas também nunca disse estar errado.
— Sim, disse várias vezes. Vocês tinham o prazer em ignorar.
Minha risada foi alta e genuína, era sempre bom me encontrar com Kento Nanami, me sentia uma garota novamente. Aqueles tempos não fora fáceis, mas pareciam mais tranquilos do que os que se aproximam.
— Mas de verdade — agora meu tom se tornou mais sério — desculpe por pedir para cortar o fio foi algo impensado. Estava com medo, e ignorante a qualquer opção que não me levasse à morte.
O loiro então ouviu todos os meus relatos, sem mais segredos, contei sobre o dia que desmaiei as suspeitas de Shoko e até mesmo o dia em que lutei com Satoru na ilha de Gunkanjima.
— Explica muito sobre a perturbação — o loiro me interrompeu para comentar — Saíram notícias sobre as mudanças repentinas, gravidade, interferências de rádio, mas quando não descobriram nada apenas foi deixado de lado.
Vergonha me tomou o rosto, era tão pior quanto os dias que as luzes resolviam sair de controle. Limpei a garganta arrumando meus cabelos atrás das orelhas.
— Não foi nada bonito, um descuido e ambos poderíamos ter morrido.
Os detalhes foram deixados de lado, até que cheguei aos mais recentes. Getou e Gaia. Nanami permaneceu tenso a todo momento durante nossa volta até o escritório, Yaga-san já avisara internamente sobre a busca, mas como ele não estava mais diretamente ligado a instituição resolvi avisar.
— Tome cuidado, não sabemos o que pode seguir. — disse por fim, quando estacionei o carro. Antes de deixar o loiro sair, segurei sua mão — De verdade.
O gesto foi repentino, mas meu amigo não pareceu surpreso. Pelo contrário retribuiu o aperto e pude ouvir um pequeno suspiro — Não se preocupe, obrigado pelo almoço. Com mais 3 você pode quitar a sua dívida.
— Sabia que você estava contando.
Ele se despediu e então saiu, de igual forma assim que a porta se fechou e confirmei que Nanami entrou no prédio parti com o carro para retornar a escola. Era somente um empréstimo, não tinha porque ficar andando com o veículo, também não havia muitos lugares para ir.
No caminho, entre trânsito e semáforos, não pude deixar de refletir. Satoru foi uma das primeiras pessoas a quem me vi obrigada a falar sobre os papéis, na verdade, deixei que lesse na íntegra os documentos. Após confirmar que Maki estava bem e devolver Yuta a escola em segurança fomos para casa, foi quando compartilhei a situação. Yaga-san não iria se importar em eu ficar com os papéis por uma noite a mais. Também deixei que visse pelas minhas memórias o pequeno diálogo com o velho diretor Gakuganji.
Naquela noite o tão sempre falante Satoru Gojo se calou, perdido em pensamentos apenas me segurou em seus braços até que o sol surgisse na manhã seguinte. Não tocamos no assunto desde então, o homem às vezes tinham sentimentos tão complicados quanto os meus, deixaria que compartilhasse comigo em seu próprio tempo.
Tempo, de novo, parecia inútil ter essa coisinha girando na minha mão e só poder usá-lo de forma tão limitada. Grandes técnicas sempre tem grandes restrições, Inumaki era um exemplo disso. Posso ver o futuro até certo ponto, mas é incerto e cheio de probabilidades, não serve de nada numa situação como essa. Passado é como um veneno com o qual estou aprendendo a conviver sem me matar e o presente apenas acontece.
Nas mitologias as senhoras do destino, moiras para os gregos ou até mesmo as nornas da mitologia nórdica, eram absolutas. Controlavam a vida das pessoas e até mesmo dos deuses e heróis, poderiam até serem chamadas de mestres de maldições, porém quando traduzidas para minha técnica pareciam patéticas.
Reconheço meu poder, não sou ignorante, mas de que adianta se eu não puder fazer com ele algo que seja realmente útil? O feiticeiro que antes possuía a técnica do espaço-tempo, seria muito mais forte do que eu e Satoru juntos? Acelerar, parar, deixar o tempo lento, era como a primeira pedra numa árvore de habilidades, existia a possibilidade de eu estar acomodada com aquilo que sei e ter estagnado no que diz a respeito do crescimento.
Talvez estivesse na hora de voltar aos campos de treinamento, já havia pensado nisso anteriormente, com uma manipulação mais precisa do passado talvez pudesse desenvolver a técnica de reversão e aplicar esse tempo amaldiçoado que me mata em qualquer outra coisa. Ao invés de acumular isso dentro de mim, atuar como um condutor. Em teoria funcionava, tomei uma nota mental de falar com Ieiri assim que possível.
O caminho foi percorrido com inúmeros pensamentos de companhia, não tive missões nos últimos dias apenas compromissos. Hoje não seria diferente, ainda tinha um lugar que precisava comparecer. Estacionei o carro no lugar indicado e logo encontrei um assistente para fazer a entrega da chave, segui então um caminho conhecido até uma sala de treino.
Megumi estava sentado nos degraus, pensativo e apenas levantou a cabeça quando me aproximei. Hoje fora o dia marcado para ele tentar contrato com um novo shikigami.
— Estou atrasada?
— Não — me respondeu apoiando a mão no chão e se levantando. — Se lembra das regras certo? Não pode interferir.
— Sou apenas a supervisora. Confio em você, sei que não precisará de minha ajuda.
Pude ver um rubor leve em seu rosto antes de se virar para abrir as portas, imediatamente subi as escadas laterais para observar sem atrapalhar. No centro da arena Megumi se posicionou e o círculo de invocação surgiu, junto dele uma criatura alada que reconheci como um Nue. Os cães divinos também foram conjurados e a batalha teve início.
Como esperado a luta foi intensa, Nue seria o primeiro adversário com múltiplas habilidades que Megumi enfrentaria. Sem contar que as asas deixavam mais fácil os ataques serem unilaterais. Não parecia estar tendo muito avanço e ele mesmo já parecia cansado, mas seus olhos e rosto estavam focados o garoto devia ter um plano para subjugar aquela criatura. No momento que o shikigami abaixou para atacar entendi o plano de meu primo, se usar de isca para que o Nue entrasse no alcance dos cães divinos.
Foi uma estratégia astuta, que garantiu a ele um contrato selado. Não podia esconder um certo orgulho, desci para encontrar com ele que estava sentado no chão completamente esgotado. Assim que me aproximei consegui ver a mancha avermelhada em sua perna.
— Precisamos ver Shoko — disse, não parecia tão grave, mas a ferida era funda — Consegue andar?
Estendi a mão ajudando ele a se levantar, mas no momento em que tentou dar um passo quase caiu.
— Droga.
— Sei que você vai odiar, mas se não me deixar te carregar vai morrer com perda de sangue no caminho.
Sua expressão disse todas as palavras de baixo calão que se passaram em sua mente, além da vermelhidão em seu rosto. O garoto se recusa a me dar abraços quem diria me deixar o carregar, mas situações extremas pedem medidas extremas.
Abaixei-me e Megumi subiu em minhas costas, no fim ser mais alta que a média tinha suas vantagens, passou os braços pelo meu pescoço buscando apoio e mesmo com dores permitiu que segurasse suas pernas. Senti o líquido quente escorrer pela minha mão assim que o fiz.
— Tente não dormir, não estamos tão próximos do prédio principal.
Ele não me respondeu, não o julgava aquela situação era uma primeira vez para nós dois. No fundo de meu coração era como estar com um filho, compartilhamos do mesmo sangue e, além disso, também acompanhei seu crescimento. Assim como o de Tsumiki.
No meio do caminho senti seu aperto afrouxar, e sua cabeça tombar contra meu pescoço a perda de sangue estava fazendo seu efeito. Forcei-me a apressar o passo e assim que apareci na ala médica Shoko me indicou para colocar o garoto numa das macas.
— Fala sério o que tem de errado com essa sua família? — me questionou.
— Somos apaixonados demais — respondi — Foi durante o ritual.
Minha amiga fez uma careta e logo a perna de Megumi estava normal, ele ainda estava um pouco pálido, mas não precisava de uma transfusão de sangue. Alguns dias de repouso e estaria bem novamente, acompanhei os assistentes que o levaram até seu quarto.
Sempre meticulosamente arrumado e comum, não faria mal a ele ter alguma decoração ali, fechei as cortinas verifiquei como estava mais uma vez e me afastei após afagar seus cabelos escuros. Voltaria pela manhã para o verificar e garantir que tivesse uma boa refeição.
Já estava no fim do dia, pelas janelas vi o sol se pondo pintando os corredores de madeiras com tons alaranjados. Fora um dia cheio, e parecia ainda um pouco distante de acabar. O fio vermelho que prendia a minha vida a de Satoru reluziu enquanto eu andava e me forçou a seguir seu brilho na direção contrária. Novamente aquela sensação de ter algo querendo ser dito, mas não com frases, queria que eu a seguisse.
De alguma maneira, sentia que a voz que ouvi na minha cabeça enquanto estava no lago das escolhas tinha uma ligação direta com o fio vermelho. Só não precisei de um cara falando na minha cabeça para continuar, apenas a segui e quando cheguei ao meu destino ouvi Satoru e Ichiji conversando.
— Então você tem uma ideia de quem seja o responsável? — o assistente questionou.
Silêncio perpetuou pelo corredor e eu me mantive encostada na parede sem interromper a conversa. Embora Satoru provavelmente já tinha conhecimento de minha presença.
— Suguru Getou, um dos cinco de nível especial — Satoru respondeu — Assassinou mais de cem pessoas comuns e foi expulso da escola de Jujutsu.
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas tive a certeza de uma coisa. O plano de Getou havia começado.
N/A: Adiantando atualizações por motivos de, preciso da sexta para outra história. Mas teve atualização dois dias seguidos, chamo isso de vitória.
Estou seguindo um pouco mais o filme, estou aproximadamente na metade dele então poucos capítulos nos separam do fim.
É isso, obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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