Capítulo Especial - Akira




Se alguns meses atrás alguém me dissesse que eu voltaria para a Grécia para presenciar o casamento de Akira, diria estar beirando a insanidade. Porém, foi exatamente o que aconteceu.

Entre os acontecimentos no fim do ano e início do ano letivo na escola, veio o convite. Evidentemente fui pega de surpresa, afinal sequer sabia de seu noivado. Sem falar que nos encontramos durante o cortejo pouco tempo antes e Akira não mencionou nada sobre seu relacionamento. O primeiro sentimento foi de choque, depois a confusão e então a decepção de não ter recebido a notícia pessoalmente.

Satoru disse que poderia ir chutar a bunda do meu projeto de irmão a qualquer momento se eu pedisse, mas não foi necessário. Poucos dias depois do anúncio, veio a explicação.

Desde a última viagem que fiz, Akira andou se encontrando com uma mulher, a dona de uma floricultura nos arredores da casa dele. Eles pareciam ter uma relação sólida, apesar de não se apegarem ao rótulo de namorados. E o que aconteceu foi que quando Akira retornou para Grécia, depois de prestar seus serviços no Japão, descobriu que Kassandra — a florista — estava grávida. Meu irmão confessou que já tinha alguns pensamentos para deixar o relacionamento deles mais sério, mas o bebê veio para adiantar tudo. Apesar de sair completamente de seus planos, ele estava feliz, e era o que importava.

O casamento seria no fim de março, depois da transição de inverno para primavera no mediterrâneo. Também dando tempo o suficiente para Kassandra se acostumar com as mudanças iniciais do corpo. Dessa forma, o diretor Yaga não teve outra escolha além de dar alguns dias de folga para mim e Satoru a fim de comparecer à cerimônia, como família e também representantes do "trabalho".

Apesar da casa de Akira ser pequena, sua conta bancária continuou recheada como sempre. Do momento em que chegamos a Atenas até o dia do casamento, tanto eu quanto Satoru fomos recebidos com as mais diversas regalias. O local do casamento era o rooftop de um hotel, com vista para ruínas históricas. Facilita na locomoção dos convidados estrangeiros, uma vez que era necessário apenas pegar um elevador.

Na penteadeira do quarto de luxo me olhei no espelho mais uma vez, a imagem refletida parecia estranha uma vez que não é comum eu me vestir tão formalmente. O vestido era de um tom de verde-escuro que refletia um brilho quase azulado, as mangas ficaram caídas nos ombros, deixando meu colo — com um decote generoso —, e pescoço completamente expostos. O tecido se agarrava a minha cintura para fazer um efeito caído, deixando a fenda que subia até a coxa escondida quando não estava andando.

— Se você já não fosse minha noiva, pediria para casar comigo de novo.

No canto superior do espelho, Satoru apareceu refletido vestido elegantemente. Obrigado a deixar as faixas, optou por um par de óculos escuros de marca. Seus cabelos também estavam cuidadosamente arrumados para trás, criando uma aparência quase etérea, o verdadeiro príncipe Phillip.

Respirei fundo e soltei os ombros — Não está exagerado? Me sinto estranha.

Satoru andou pelo quarto pegando o colar separado em cima da cama — Nós temos um contrato que amarra nossas vidas juntas, como pode achar isso normal e ficar incomodada com um vestido?

Suas mãos afastaram meus cabelos para o lado, as pontas dos dedos acariciando a pele do meu pescoço mais do que o necessário para prender o fecho da jóia.

— Combina com você, parece a dama de um mafioso poderoso pronta para cometer um assassinato. — Satoru se abaixou para poder me olhar pelo espelho. — Não que seja muito diferente da realidade, kardía.

— Espero que tudo isso tenha sido para falar que estou bonita — fiz menção de me levantar ganhando sua mão para poder me apoiar e não tropeçar.

— Como uma princesa, Bela Adormecida — ele levantou minha mão até os lábios beijando as costas dela. — O que vou fazer se os convidados prestarem mais atenção em você do que na noiva que está se casando?

— Nada — ajustei a gola de seu paletó —, prometemos para Akira que não íamos causar problemas.

— Não me lembro disso — respondeu com um tom de voz cômico.

— Mas eu sim — peguei a carteira e girei mais uma vez olhando a vestimenta de corpo inteiro. — E sejamos sinceros, é mais fácil as convidadas te devorar com os olhos do que o contrário. Aqui sou uma aparência comum, você é aquele que deixa os outros maravilhados.

— Oh, meu coração fica agitado quando me elogia assim — sua mão percorreu a base das minhas costas —, e se evitarmos isso tudo e ficarmos no quarto? Não parece uma ideia melhor?

— Tentador, mas não. — ergui as pontas dos pés para deixar um beijo rápido em sua boca. Apenas para limpar o vestígio de batom com o polegar em seguida.

— Viemos aqui apenas para isso, precisamos comparecer.

Satoru deu de ombros — Espero que Akira chore, só assim vai valer a pena.

Dei risada e andei até a porta — Achei que tinha superado esse rancor com ele.

— Não, preciso de pelo menos mais 40 anos, dez para cada templo velho que ele me fez visitar quando jovem.

Tomei sua mão na minha e então juntos seguimos para o rooftop do hotel, o casamento seria no período da tarde, então não era tão estranho que Satoru estivesse de óculos escuros. Não tínhamos nenhum papel para cumprir além de estarmos presentes, então apenas escolhemos um lugar discreto e nos sentamos.

A família Kimura, dos descendentes de Akio, era pequena. Tendo Akira praticamente como representante legal dela. Pelo que ele havia me dito, eles haviam se separado, uma vez que havia um herdeiro para receber a "profecia do tempo" os outros de desprenderam da família principal. Mesmo quando nos encontramos pela primeira vez, ele não falou muito sobre seus familiares vivos, que imagino que não sejam muitos.

Escutei algumas risadas e de canto de olho observei algumas garotas, provavelmente da família da noiva, desviando olhares para onde estávamos.

Um riso seco deixou a minha boca — O que foi que eu disse?

Satoru resmungou e virou a cabeça, um sorriso canalha puxando os cantos de sua boca enquanto se inclinava levemente. Seus lábios encostaram de leve na minha orelha, causando um arrepio na base da minha coluna.

— É porque estava pensativa demais para reparar nos caras que passaram olhando para você.

Nesse instante senti sua mão correr pela minha perna encontrando a fenda do vestido.

— Pessoas estão olhando.

— É melhor que olhem mesmo.

Ainda que por cima do tecido bati em seus dedos trocando a posição de pernas, a resposta veio na forma de um riso, e então a mão boba veio parar em cima dos meus ombros me puxando de leve para encostar em seu peito. A outra mão livre segurou a minha girando o anel de noivado no meu dedo.

Era a primeira vez de Satoru na Grécia, ainda que tivéssemos deixado Yuta aos cuidados de Miguel na África pouco tempo atrás, o mediterrâneo tinha um ar diferente. Apesar de ter reclamado de visitar um monte de ruínas velhas, não negou ser interessante ver aquilo que apenas aparecia em animes e outras obras da cultura que via pela televisão. As praias eram lindas e a água quente. Porém, o passatempo favorito dele foi passar pelos diversos cafés e docerias que encontramos pelo caminho. A variedade de doces nunca vistos antes com certeza foi o ponto alto. Baklavas provavelmente sendo seu favorito entre eles.

Estar visitando minha terra natal com ele fazia surgir no meu peito uma sensação engraçada, boa, que provavelmente ficaria guardada na minha mente como um sonho.

Não demorou para que o casamento realmente começasse, pelo fio vermelho que nos ligava eu traduzia a maioria das coisas ditas em grego durante a cerimônia. Geralmente recebendo em resposta um comentário engraçadinho sobre o que fazer e o que não fazer quando fosse a nossa vez.

Kassandra, minha futura cunhada, era linda. Sob a luz do fim de tarde parecia ainda mais radiante, seu vestido era de um tecido leve que não marcava tanto a gravidez, balançava em pequenas ondas conforme a brisa que vinha do mar batia, assim como os cachos de cabelo flutuantes.

Nós nos encontramos antes da cerimônia, pois Akira foi nos buscar no aeroporto logo no primeiro dia. Ela havia aprendido com meu irmão algumas palavras em japonês, então estava animada, na mesma proporção de envergonhada, em usar pela primeira vez com um nativo. Satoru também não pareceu se incomodar então foi um encontro agradável.

— Oh, não sabia que Akira realmente podia chorar, sorte a minha — comentou Satoru, tirando o celular do bolso e clicando algumas vezes, registrando um Akira choroso passando as mãos nos olhos depois da troca de alianças.

— Vocês dois não tem jeito.

Tudo continuou do jeito que deveria, cumprimentamos o casal na recepção depois. Kass beijando ambas minhas bochechas e meu irmão de consideração me dando um abraço forte. Akira recebeu um aperto de mão de Satoru meio a contra gosto, principalmente depois que meu noivo mencionou o registro e sua cara de choro, mas riu por fim trocando algumas palavras ásperas com ele.

A noite chegou devagar, embalando os mais variados tipos de conversas. Aqueles interessados no jantar, as crianças que estavam mais preocupadas em roubar doces — Satoru incluso neles —, e os que pareciam ter exagerado um pouco no vinho. Esse último podia dizer-se ser a minha situação, não muito, apenas o suficiente para me alegrar.

Estava apoiada na sacada do rooftop, olhando à distância o mar cintilando sob a luz da lua. Seria ótimo se tivesse uma visão parecida com essa da nossa casa, sem ser apenas os prédios e ruas agitadas de Tóquio, mas provavelmente a escola vetaria por estar fora do alcance imediato. Tanto eu quanto Satoru podemos nos mover rapidamente, mas comparado com a escola, é uma via de mão única.

— Ah, estou exausto — Akira disse se apoiando do meu lado.

— Se você está assim, imagina sua esposa — respondi e franzi. — Ainda é estranho falar isso, parece que faz pouco tempo que você estava me repreendendo por te chamar de pai durante os encontros.

— De certa forma sinto o mesmo, mas o que posso fazer. Agora que terei um filho ou filha, as coisas precisam mudar — confessou com um sorriso. — Mas Kass é a melhor pessoa que encontrei, então tudo vai dar certo.

— Eca.

O som só podia ter vindo de uma pessoa.

— [Nome] tem certeza que esse é o Akira? Está falando coisas que me assustam e sendo positivo.

Meu irmão respirou fundo e jogou a cabeça para trás ignorando a provocação — Sorte sua que estou cansado demais para responder Garoto Gojo.

— Idade chega para todos, velho Kimura — respondeu uma última vez e então me puxou da sacada, deixando Akira para falar com outros convidado.

Havia uma música lenta tocando de fundo, e uma iluminação baixa no que eles chamavam de pista de dança. Minha companhia colocou uma das mãos na minha cintura segurando a outra numa posição de valsa.

— Desde quando você sabe dançar? — questionei.

— Não sei, mas não parece difícil. Estão só balançando no ritmo — falou com riso —, parecia divertido. Não teremos uma oportunidade como essa tão cedo.

Concordei e me deixei levar também pelo balanço — Realmente, com o ano letivo para começar, o conselho vai ficar mais no nosso pé. Como sempre. O que sabe sobre o primeiro ano?

— Por enquanto temos apenas dois nomes, Megumi e uma garota do interior. Nobara Kugisaki, o ideal seria ter um terceiro, mas ainda não temos ninguém em vista. — sua mão me puxou para perto, colando nossos corpos.

— De todos os assuntos escolheu o trabalho? — senti a ponta de seus dedos puxar o tecido — Que tal retomar aquela conversa de antes?

Satoru deu um passo para trás e me forçou um giro, nisso o cenário também mudou voltando a ser o nosso quarto no hotel. Propositalmente ele me soltou fazendo com que eu caísse de costas na cama se mantendo de pé na minha frente.

— Se você tivesse me dito para voltar, eu o faria. Não precisava usar teletransporte, subitamente Akira vai precisar explicar como dois de seus convidados sumiram no ar. — levantei os braços aproveitando para me alongar.

Meu noivo jogou o paletó para o lado, abrindo também os primeiros botões da camisa, pegando meu tornozelo nas mãos para tirar minha sandália — Bom, esse é um problema para o velho resolver. Não me importa.

Mais uma vez sua mão percorreu minha perna pela abertura do vestido, dessa vez com permissão. Satoru puxou a própria camisa subindo na cama colocando uma perna de cada lado da minha cintura — Talvez eu deva deixar algumas garrafas de vinho em casa, suas bochechas ficam mais rosadas assim.

Seu polegar percorreu a lateral do meu rosto, contornando a minha boca — Também está quente. Está com calor, amor? Quer que eu tire esse vestido para você?

— Não devia me perguntar isso antes de começar a abrir o zíper? — cruzei os dedos atrás de seu pescoço — O que me lembra, você desenvolveu um péssimo hábito de fazer primeiro e perguntar depois. Com o anel de noivado foi o mesmo.

— Apenas com você e na maioria das vezes eu já sei a resposta mesmo.

Resmunguei — É por causa desse tipo de resposta que eu te odiei logo no primeiro dia, sabia?

— Jura? Sempre achei que fosse por ter te chamado de mulher-aranha. — ele riu se abaixando, dessa vez mirando a minha boca.

— Isso também.







N/A: O resto fica pra vocês imaginarem!

Isso já ia entrar na sequência, mas não ia fazer um capítulo dedicado. Como estava com saudade do casal, e tinha o dia dos namorados. Decidi juntar tudo e dar um pouco mais de contexto.

Um pouco de normalidade pra esse casal se só enfrenta bucha.

Espero que tenham gostado desse cenário!

Vejo vocês um dia por aí, ou em outra obra.

Até mais, Xx!

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