Capítulo Especial - 31/10/2017
*cronologicamente antes do cortejo dos youkais do Getou*
— Já lidamos com maldições o ano inteiro, por que temos que fazer uma coisa idiota dessa no Halloween?
O cenário na nossa frente era exatamente o tipo de lugar que aparecia em filmes de terror ocidentais. Uma mansão abandonada, tomada por fungos e vinhas onde novas folhagens cresciam sobre as raízes secas. A natureza selvagem pronta para tomar de volta o pedaço de terra onde a residência fora construída, rompendo a maldição dos homens que maculou o solo sagrado.
Coloquei a mão na testa, reprimindo um suspiro — Não foi um de vocês que sugeriu fazer um teste de coragem?
— Yuta que disse — Panda o entregou sem pensar uma segunda vez — se ele está tão desesperado. Pode ir sozinho.
Nisso o mais novo dos primeiro anistas soltou um ganido — Eu só disse isso porque estávamos conversando que força não significa coragem!
— Shake — Inumaki concordou.
— Parece relutante demais Panda — apontei e levantei a cabeça — está com medo?
— Não — o favorito do diretor e virou de costas para onde estávamos.
— Por que está tremendo então? — Yuta questionou com um ar inocente e uma feição confusa. Apesar do colega estar se fazendo de corajoso, suas pernas estavam tremendo, quase o impedindo de ficar de pé.
— Pare de mentir! — Maki deu um giro e o chutou para longe.
Encostei no carro e dei risada, dessa vez tive a missão de trazer os primeiroanistas para essa tal atividade extracurricular. Satoru não me disse muito, apenas fez o pedido, olhando por cima não parecia ter nenhuma maldição no lugar. Apesar de estar abandonado por algumas boas décadas, é uma mancha escura, um pedaço de sombra escondido no meio da floresta.
Como de costume, Satoru estava atrasado e o sol começava a se por no horizonte, criando a atmosfera de terror que ele havia imaginado. Mas enquanto ele não aparecia para guiar o experimento, resolvi matar tempo com os alunos.
— No fim, qual foi o resultado da conversa de vocês, sobre coragem e força?
Maki se encostou do meu lado no carro deitando a cabeça no meu ombro, é impressionante que o quanto ela mudou desde a primeira vez que nos encontramos. Ocasionalmente é possível a comparar com um gato arisco, a princípio sempre na defensiva, agressivo, mas conforme se acostuma e te aceita, garante algumas aberturas.
— Se você é forte, não precisa temer nada — a garota disse ao meu lado.
— Mas o Yuta costumava ter seus momentos, e ele foi considerado da classe especial desde o começo.
— Tem exceções — Maki rebateu ganhando uma reclamação do próprio assunto que estava de pé próximo a nós.
— O que você acha [Nome]? — Panda me perguntou.
Olhei para o céu escuro, deixando um longo resmungo ecoar — Acho que nossos conceitos, de coragem, poder e força, são um pouco bagunçados. Penso que força física não deixa ninguém mais corajoso, é algo um pouco mais mental, a pessoa mais forte do mundo também deve ter medo de algo.
— Falando sobre mim?
O ar se mexeu e quando olhei por cima do ombro, a silhueta de Satoru estava iluminada pelos últimos raios de sol que faziam do dia, dia. Ele tinha as mãos nos bolsos e um sorriso sacano no rosto.
— Estamos falando de força, não de confiança — cantei, e virei o rosto para frente.
— Achei que você me amava.
Seus passos leves soaram se aproximando, amassando a grama do local abandonado.
— O que é o amor verdadeiro, senão continuar a amar alguém com todas as suas falhas na mesma intensidade — expliquei.
— Vocês dois me deixam enjoada — Maki se afastou. — Isso, sim, é o verdadeiro horror.
Yuta tinha os olhos brilhando como se estivesse assistindo a um filme de romance. Panda fez uma careta e Toge apenas deu de ombros.
— Bom, espero que vocês se divirtam. Volto para os buscar depois.
— Hã? Você vai nos deixar sozinhos com ele? — Maki apontou para o professor sem se importar em manter a hierarquia.
— Eu não sou professora, só estou auxiliando no transporte no meu dia de folga — abri a porta do carro apenas para pegar a bolsa —, não se preocupem, ele não vai deixar nenhum de vocês morrer.
— O quê?!
Levantei a mão para acenar e os deixei para trás com os gritos de indignação, e então fiz um salto no tempo seguindo para um centro comercial. As lojas estavam todas enfeitadas com a temática do dia, com itens tradicionais e também os ocidentais clássicos. Pessoas fantasiadas andavam pelas ruas apenas aproveitando a atmosfera assustadora e festiva da data comemorativa.
No meio de tantas outras, encontrei a loja que eu queria e entrei de uma vez.
Com os dias de treinamento jujutsu, e rotina tradicional da escola, os sapatos de Megumi estavam quase gritando por clemência. Sabia que ele ira reclamar no momento em que eu chegar com um novo par, porém, como sempre, decidi deliberadamente ignorar. No geral, mimar meu primo me deixa feliz.
O casaco do uniforme dele é beje, cor de areia clara, e as calças escuras. Apesar dos coloridos serem bonitos, se eu chegar com um vermelho capaz dele bater a porta no meu rosto. Sorri sozinha e estiquei a mão para pegar um modelo claro na parede. No mesmo instante, outra pessoa também esticou a mão para pegá-lo. Teria sido algo comum, mas a situação real era bem diferente disso.
O canto da minha visão ficou azulada, os fios da minha habilidade Dádiva das Moiras se manifestaram de uma maneira selvagem e incontrolável. Porém, o destino não apareceu, quem brilhou imensamente foi Kairós.
Ergui os olhos e o garoto que encostou em mim estava com os olhos abertos na minha direção, o rosto levemente corado. Seus cabelos tinham uma cor que flertava com o rosa, mas mantinha um tom mais queimado e suave, vestia um moletom por baixo do que parecia ser um uniforme estilo gakuran preto.
Nossos dedos ainda estavam se tocando, e nisso ele deu um pulo para trás, erguendo as mãos e as balançando.
— Me desculpe moça!
Travei os dentes por um momento, minhas linhas de maldições — como Sýndesis —, não são visíveis para todos. Apenas quando eu as faço visíveis.
— Ah, você é estrangeira? — ele começou a tentar a falar em inglês.
Balancei a mão — Está tudo bem. Falo japonês, apesar de estar certo sobre eu não ser daqui, desculpe pelo tênis, você pode ficar com ele se quiser.
— Não, eu gosto de tênis mais coloridos, mas esse achei bonito — o garoto colocou um dedo no queixo. Podia ver os pensamentos que estavam passando pela sua cabeça depois de apenas um breve vislumbre de seus olhos, um deles sendo como não parecia ser meu estilo.
— Estou procurando um presente — esfreguei as pontas dos dedos —, meu primo tem a sua idade. Se importa em me ajudar? Não entendo muito.
Até entender o porquê da minha técnica se manifestou, era melhor ficar de olho nele.
O garoto abriu um grande sorriso e apontou para ele mesmo com o dedão — Claro que sim, eu conheço muito essa loja.
Ele colou os braços ao lado do corpo e se curvou respeitosamente.
— Itadori Yuji ao seu dispor!
— [Nome] Kismet — respondi —, lidere o caminho Yuji-kun.
Ao contrário do esperado, nada havia no garoto além de uma aura alegre e falante, atencioso ele me ajudou a escolher um tênis para Megumi sem nem mesmo o conhecer. Descobri que ele mora com o avô, mas sua saúde não está das melhores, que ele gosta de filmes B de cinema e é bom com esportes.
Olhei para dentro da sacola, a caixa fechada — Sinto que fiz uma boa escolha graças a você.
Yuji sorriu a ponto de fechar os olhos, cruzando as mãos atrás da cabeça — Não foi nada.
Num breve silêncio, escutei sua barriga roncar, seu rosto ficou mais vermelho que os próprios cabelos e ele se virou constrangido.
— Ainda tenho um tempo e tem muitas lojas de doce por aqui — comentei —, que tal aceitar meu agradecimento em forma de comida?
— Não devo abusar da sua generosidade, mas também...
— Eu teria que ir em alguma de qualquer maneira — pois tenho um namorado viciado em açúcar me esperando, completei em mente —, vamos lá. É o mínimo que posso fazer.
Entramos numa doceria quase ao lado da loja de sapatos, sem me preocupar muito fui apontando para a atendente quais eu queria e quantos de cada. Fora Satoru, imagino que os alunos estariam desesperados por algo, eu não sabia exatamente o que meu namorado iria fazer com eles, mas vindo dele...
— Seu primo gosta tanto de doce assim?
Dei risada — Não exatamente, mas vou me encontrar com alguém que realmente aprecia uma boa dose de açúcar.
— É seu namorado ao algo do tipo?
Virei o rosto — Na verdade, é exatamente isso, como sabe?
— Seus olhos brilharam diferente.
Olhei com cuidado para o garoto estudando suas expressões faciais — Você tem uma percepção bem aguçada para fazer suposições em cima de alguém que acabou de conhecer.
— Ah, me desculpe. Não foi a intenção ofender.
Estendi uma caixa de doces para ele — Não ofendeu, mais uma vez: obrigada por hoje. Não coma tudo de uma vez e cuidado na hora de voltar para sua casa.
— Pode deixar, obrigado [Nome]. Espero te encontrar um dia de novo!
Entre as pessoas Yuji saiu andando, enquanto isso fiquei com meus próprios pensamentos, sabendo que se Kairós brilhou no nosso encontro, a probabilidade de voltarmos a nos ver é grande. Virei as costas na direção contrária usando um beco mais afastado para voltar ao local original do teste de coragem.
Balancei os ombros pelo frio, quando cercada de prédios altos não senti o vento gelado que corre pela noite escura.
— Eles ainda não saíram? — andei para o lado de Satoru.
Ele riu de boca fechada — Eu me empenhei.
Nesse momento escutei gritos estridentes vindo da mansão abandonada e em seguida um estrondo similar a uma demolição.
— O que você fez com o interior?
— Nada de mais — imediatamente mudou de assunto esticando a mão para a minha —, isso é doce?
Deixei ele puxar a caixa, sabendo que não teria mais nenhuma informação, voltei para o carro a fim de guardar os tênis de Megumi e também a caixa de doce dos alunos antes que meu namorado resolvesse ficar com as duas.
Coloquei a bolsa no banco e puxei um casaco que estava no porta-malas, o vestindo em seguida. Soltei um suspiro baixo quando o frio que estava ultrapassando minhas roupas cessou.
— Preciso de mais cinquenta anos para me acostumar com esse clima — esfreguei as mãos juntas. Ao contrário do que pensei Satoru não estava atacando a caixa de doce.
Ele me chamou para perto, nossas mãos se tocaram e meu corpo foi puxado lentamente em sua direção. Seus braços circularam minha cintura num abraço enquanto a cabeça encontrou apoio no meu ombro.
— O que foi? — questionei.
— Você está certa.
Me afastei minimamente, segurei seu rosto entre as mãos e acariciei a pele com os polegares antes de correr com os dedos livres por seus cabelos claros, não precisava ver seus olhos para sentir o carinho naquela aproximação. Seus gestos eram suaves, a voz doce e baixa, Sýndesis tremulou lenta, preguiçosa no mesmo ritmo das carícias trocadas.
— Costumo estar, isso não é novidade — brinquei —, mas vou agradecer se me dizer por que.
— A pessoa mais forte do mundo também tem medo de algo.
De alguma forma eu sabia exatamente o que ele queria dizer, não existe gramática, ou palavras o suficiente para descrever o que a presença do outro significa nesse equilíbrio do espaço-tempo. Vimos a destruição, vivemos o desespero em outra linha do tempo, o vácuo absoluto que surge quando o outro lado da balança está vazio e a loucura que vem com ele.
Esse, sim, é o verdadeiro pesadelo.
Inclinei para que pudesse encontrar sua boca com a minha. Seus lábios estavam frios, mas o beijo quente, e perigoso. Prevendo que os alunos poderiam chegar a qualquer momento, segurei suas bochechas com uma única mão.
— Se comporte feiticeiro mais forte do mundo — dei um último beijo estalado em sua bochecha virando de costas para ele — seus alunos estão por perto.
— Eu não vejo como isso é um problema — Satoru apoiou o queixo no meu ombro.
No exato momento em que nós dois olhamos para frente, parte da mansão explodiu e os quatro alunos saíram correndo por ela. Toge e Panda vinham na frente, esse segundo carregando nos ombros Yuta e Maki que pareciam ter deixado as almas dentro da mansão.
Levou alguns minutos para eles se recuperarem, os doces fazendo um papel fundamental em apaziguar os ânimos deles.
— Então — Satoru bateu uma palma — vou anunciar os resultados. Todos vocês perderam!
— Hã? Como assim?
— Não está claro Maki-chan? Vocês começaram a gritar no momento em que entraram na mansão. Mas dou um ponto pela persistência, diga se eu não sou o melhor professor que existe?
Panda a impediu de avançar na direção de Satoru, enquanto isso ela gritava algo nas linhas de "vendado, idiota e sádico".
— Acho que agora é minha hora de partir — sorriu e eu balancei a mão indicando para ele ir de uma vez, já que eu que estava dirigindo. O homem a caixa de doce do teto, e me deu um beijo estalado na bochecha sussurrando em tons baixos.
— Volte direto para mim Bela-Adormecida. Vamos terminar o que começamos mais cedo — assim que a frase sumiu, Satoru se foi com ela.
— De alguma forma, vocês realmente parecem que saíram direto de um filme de sobrevivência.
Os alunos estavam visivelmente exaustos, sujos, com teias de aranhas ainda agarradas nas vestes e sabe se lá mais o que. Abri a porta do carro e disse para eles entrarem, Maki veio direto para o lugar do passageiro, nem dando uma chance para que os outros tentassem capturar o assento.
Olhei para a mansão uma última vez antes de fechar a porta, ligar o carro e voltar para a normalidade dos dias.
— Eu nunca mais vou aceitar qualquer coisa que ele disser — Maki apoiou o cotovelo na janela —, [Nome] fuja. Nunca dá pra saber o que se passa dentro da cabeça vendada dele.
— Mas Gojo-sensei parece que realmente ama a [Nome].
Yuta costuma ser sempre sincero, a inocência de suas palavras fez o canto dos meus lábios se curvarem.
— Somos feitos um para o outro — usei a frase romântica mais clichê do mundo, mas também a mais verdadeira quando se diz sobre nossa relação.
Os alunos grunhiram de desgosto com a minha fala.
— Pare, isso é tortura. Me leve de direto para uma maldição, é muito melhor do que ficar ouvindo isso de você.
Dei risada com a fala de Maki finalizando o assunto com uma fala.
— Feliz Halloween.
N/A: Espero que tenham gostado desse extra!
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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