O CONFRONTO E REENCONTRO

Obra criada em coautoria: Cris Pires e Amorim Cunado (@crispirei5 e @AmandaCunado)

Palavras: 1670

★ ✧✦ ✧ ✦ ✧ ★

Seu corpo é teletransportado para outra dimensão, deixando de lado o rosto marcante e desgostoso daquele viajante do tempo que conheceu. O mesmo lhe trouxe uma certa familiaridade, deixando a sensação do medo percorrer suas entranhas. A dúvida de estar correndo contra a tempestade, não podendo controlá-la ou guiá-la para onde deva prosseguir, o incerto lhe sufocava.

Cristina, atenta-se para o portal que a guiava, o tempo ali é diferente, lento mas não enfadonho. Havia um certo conforto e desespero em relação ao não saber a totalidade das possibilidades existentes, no entanto, tinha fascínio e ternura. As luzes azuis, brancas e roxas formavam um túnel estrelado, como o céu em aurora boreal.

"Será que esse é o máximo que poderei alcançar?", estende sua mão tocando os fios de luz que transpassaram a matéria como uma onda.

— Sempre que a seguro, ela se afasta dos meus braços. — passa um filme em seus pensamentos, até o último momento que esteve com sua filha, seu corpinho frio e sem vida em seus braços.

Ao voltar à realidade, sente calafrios e o luto bate à porta, tão intenso quanto naquele dia de terror.

— Esse não será o seu final, não dessa vez. — seus olhos se fecham com as lágrimas caindo sobre o rosto. Ao abri-los, percebeu que havia voltado à dimensão anterior.

Estava ao lado do caminhão observando aquele galpão aberto, iluminado apenas pela lua. Os soldados e Cris, que a cercavam anteriormente, não se encontravam ali. Percorreu os olhos pelas pedras de escombros com seus metais retorcidos, não havia tempo para pensar em como aquele mundo se tornou terra árida e entulhos.

"Eles foram até Mica.", fica claro em sua mente.

Seus olhos se arregalaram, suando frio, seu coração palpitou. Sem olhar para trás, correu. Não pensou em nada, além de sua filha, e deixou a máquina no galpão inimigo. Quando seus músculos não respondiam mais ao seu comando, ela o empurrava, forçando-o a prosseguir.

"Apenas mais um pouco, apenas mais um pouco, por favor", Cristina chorava ao suplicar para o seu corpo cansado a continuar, chegando a cair algumas vezes pelo caminho, mas isso não a impediu de seguir em frente.

Ao chegar à porta do esconderijo onde deixou a menina, cai de joelhos pelo desgaste, tenta recuperar o fôlego e se levanta cambaleando. Pois correu por quilômetros, pela favela escura onde os humanos que restaram, naquele mundo, viviam em tocas de concreto com ratos em paredes.

Suas pernas tremiam ao dar um passo à frente para entrar no esconderijo. A porta é feita de apenas um tecido amarrado aos ferros expostos da estrutura, quando move a mão para entrar é impedida por uma voz familiar.

— Tinha certeza de que voltaria. Alguns hábitos não se alteram.

A cientista sente a arma encostar em suas costas, na altura dos ombros, e subir em direção à nuca. Por reflexo, vira-se e rebate a arma para o lado, torcendo a mão de Cris, tomando posse da pistola e o apontando para a cabeça da mulher. Apesar de possuírem a mesma aparência, seu jeito de se vestir e agir eram diferentes.

— Você fez isso com tanta naturalidade que sequer percebeu! — a cientista vê um sorriso de canto no rosto da rival.

— Está tentando enrolar agora que a arma apontou para sua cabeça, maldita?

— Deixe-me expressar melhor, quando você foi boa em combate físico? — embora Cristina tenha se esforçado para relembrar, sabia que nunca havia lutado ou treinado para tal, apenas agiu de acordo com o que o corpo mandou — Vamos lá, somos cientistas e, é claro, eu sou um pouco mais preparada fisicamente e mentalmente do que você.

— Sinapse Cerebral. — ambas falam simultaneamente, como se estivessem conectadas.

— Se continuar, vamos ambas desaparecer. Nossos neurônios estão se comunicando e estamos nos unindo, coisas que apenas eu sei, agora você está conseguindo efetuar. Como o método de luta que acabou de fazer. Não irá parar por aí, até nos tornarmos meros átomos esquecidos pelo tempo. Na verdade, estaríamos fazendo um grande favor ao mundo. Não pode haver duas de nós na mesma linha do tempo, os seus dias aqui cessaram. Vai embora e retorne a sua vida, não como antes, mas abandone esse objetivo Cristina.

— Cadê eles? O que fez com eles? — a cientista pergunta sem prestar atenção ao que a outra versão tinha a dizer.

— Meu Deus, como posso ser tão insuportável assim? — a militar coloca a mão direita no bolso e retira algo.

Antes que possa levantar o objeto, Cristina atira naquele braço, impedindo o movimento. Com o impacto, a mulher deixa o óculos cair, recua e segura o local atingindo, controlando o pequeno ferimento e rindo da ousadia de sua outra versão.

— É você que não está ouvindo direito aqui. No caso de apenas uma de nós poder subsistir, que seja eu. Evite fazer mais alguma gracinha, não vou atirar em seu braço, mas sim em sua cabeça.

— Observe ao seu redor e reflita se é isso que deseja, pois o mundo está assim devido ao nosso projeto. Mica morreu por sua causa. — Cristina suspira profundamente ao ouvir essas palavras, sem acreditar.

— O que você está dizendo? — exasperada aponta a arma para a testa de Cris.

— Quando a construí, não tinha noção do seu poder e dimensão. No início, permiti seu uso como arma militar, desfrutando de vantagens em batalhas e recorrendo quando algo não dava certo. No entanto, mudar certas coisas e brincar com o tempo causaram a destruição do nosso mundo. Aqui é Tellus, Cristina, não é um outro mundo, mas sim o seu futuro. Por não possuir o conhecimento necessário, expus Mica à radiação, resultando em uma das primeiras vítimas do nosso experimento. Depois dela, houve outras centenas de vidas, não somente de seres humanos, mas também do planeta.

— Não, isso não pode ser possível, ela morreu antes de conseguir terminar a máquina. — a cientista recuou e tremeu a arma em suas mãos.

— Tive que interromper o objetivo mais ambicioso, pois não acreditei que o experimento continuaria. Entretanto, você encontrou uma outra razão para continuar. Antes era para sua própria satisfação e ego, depois a culpa e o desejo de trazê-la a todo custo. — Cristina arregala os olhos em pavor.

— Está dizendo que você a matou? — segura com mais força a arma em sua direção.

— Uma coisa é certa, não importa a forma, ela sempre morrerá. Eu apenas testei uma outra opção para nos impedir. — cessa de estancar o ferimento no braço e com frieza em seus olhos observa o sangue correr em sua mão.

"Não é nada comparado ao quanto foi derramado dos inocentes, que o projeto Kairós ceifou." 

— Como você ficou assim? Você diz que matou a nossa menininha com tanta facilidade assim. Você é um ser assustador. Você sabe o que me fez passar todos esses anos? Eu anseio morrer a cada instante, mas persisti porque a amo e não consigo viver em um mundo onde ela não exista. Agora você me diz que a matou? Você a machucou? Não, eu jamais a feriria. — Cristina, com suas mãos trêmulas e lágrimas, se expressa descontroladamente com a arma apontada para a cabeça da militar que não demonstrava nenhum sentimento.

— Se você visse o que vi e o que fizemos, entenderia. Você tem conhecimento de todas as máquinas existentes no seu tempo, incluindo os robôs, que também construímos. Eles serão usados contra uma minoria que conseguiu resistir à radiação e aos colapsos do tempo. Você não acha que me odeio todos os dias? Mas isso foi necessário para impedir que isso acontecesse. Mas estamos aqui, nós duas, repetindo o mesmo erro.

Tomada por lembranças confusas que não eram suas, mas trazidas pelas sinapses neurais, a cientista jogou a arma para o lado e lançou seu corpo contra Cris. O golpe inicial a derrubou no chão, se sentando em cima dela e dando murros sucessivos, sem interrupção, deixando o rosto da militar banhando em sangue e deformando.

"Eu não fiz isso. Não cometi esses crimes, não matei minha filha!" o turbilhão de memórias quase a levava para insanidade enquanto a agressão continuou.

— Eu te odeio! Eu te odeio! — Cristina berrava roucamente ao batê-la.

Após um último golpe, sua mão é segurada. A intervenção a fez retornar a si, deixando-a paralisada. Levantou os olhos, para notar que quem a segurava era um conhecido. O homem de corpo alto e cabelos ruivos de outrora.

— Viajante? — sua voz saiu pausadamente, envergonhando-se de seu estado. — O que está fazendo aqui?

O ruivo a levanta com calma, tirando-a de cima de Cris, que estava quase inconsciente. Fazendo-a ficar de pé, frente à frente, observa as mãos da mulher e limpa os respingos que sujam o rosto dela, com ar atencioso e calmo.

— Não havia muita coisa para fazer na minha agenda. — levanta os olhos rapidamente para ver sua reação e a mesma desvia, o rapaz retorna a se preocupar com suas mãos que estão feridas, mas ela o afasta.

— Eu não necessito de sua ajuda.

— Sei que não, mas me deixe ajudar, mesmo assim. — sua voz grave soava com firmeza e confiança.

— Está cometendo um erro. — Cris diz com dificuldade ainda deitada.

— Não me importo com o resto do mundo, a única pessoa que quero proteger é Mica.

— Então a proteja de si mesma. — tosse e se curva para o lado, num esforço de tentar se levantar, mas exausta após pronunciar essas palavras, desmaia.

Relembrando toda sua fúria, Cristina ameaça se aproximar, mas o ruivo a segura pela cintura fazendo-a recuar.

— Não que eu não goste de brigas intensas entre o nosso eu, mas a primeira recomendação é evitar matar a si mesma. E outra coisa, vamos tirar vocês daqui.

Sentindo a calma que emanava do rapaz, respira fundo e assente com a cabeça, o acompanhando até o esconderijo.

★ ✧✦ ✧ ✦ ✧ ★

꙳⭒ ✯ Vote e Comente O que achou! ✯⭒ ꙳


Total de palavras incluindo avisos: 1746

As palavras óculos e agenda estão destacadas conforme exigido para a copa dos contos.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top