Um Contratempo

Narrador POV


4:17 PM

- Mas é claro. Vai me dizer que você realmente achou que eu estava morta?

- Mas... Como...?

- Aprendi com você, amor. Você foi uma ótima professora.

- O que você está fazendo aqui?

- Eu vim te ver! Estava com saudade. - Bianca caminha lentamente até Ludmilla.

Ela joga sua bolsa sobre a poltrona, dá a volta na mesa e se senta sobre ela cruzando as pernas de forma provocativa.

- É melhor você ir embora.

- Poxa, mas não deu nem tempo de matar a saudade. - Ela se abaixa puxando Ludmilla pela gola da camisa. - Você não tem noção do quanto eu senti sua falta!

A negra respira fundo tentando resistir. Apesar de toda raiva que ela sentia pela ruiva, seus instintos ainda insistiam em traí-la. Bianca era uma mulher extremante sexy e exalava luxúria. Qualquer pessoa se jogaria aos seus pés.

- Eu não... Você...

- Shhh! - Ela coloca um dedo sobre os lábios de Ludmilla. - Você recebeu minhas mensagens?

A negra franze o cenho e só então percebe do que se tratava.

- Foi você?

- Mas é claro! Quem mais poderia ser?

- Como conseguiu meu número?

- Foi difícil sabe?! - Ela volta a sua posição inicial mantendo as costas eretas. - Mas valeu a pena!

- Bianca, o que você quer?!

- Ah, essa é fácil baby. - Ela caminha até o mini bar que haviam ali. Bianca despeja uma boa quantidade de whisky no copo e o saboreia. Ela se vira novamente para Ludmilla e com um sorriso malicioso brinca com as palavras. - Eu quero você!

- Você tá louca!

- Tô mesmo, por você!

- Eu acho melhor você ir embora! - Lud se levanta tentando manter a postura firme.

- Se não o que? Vai me expulsar de novo?

- Se for preciso, sim!

Ela se aproxima novamente depositando o copo sobre a mesa. Bianca cola seu corpo no de Ludmilla enquanto seus dedos trilhavam um caminho pelo braço dela até chegar em seu ombro e seus olhos se encontram. Ela chega ainda mais perto fazendo seus lábios quase se tocarem e então sussurra manhosamente.

- Você seria capaz de tanta crueldade!

Ludmilla se agarrava ao último fio de juízo que tinha. Quando ela estava pronta para se afastar e dizer algo, alguém entra na sala interrompendo o quer que estivesse acontecendo ali.

- Amor você tem os arqui... - Brunna para na hora.

Ludmilla empurra Bianca e se afasta puxando todo o ar que podia afim de oxigenar seu cérebro o forçando a pensar em algo.

- QUE PORRA ESSA DESGRAÇA TÁ FAZENDO AQUI? - A voz de Brunna ecoa estridente pela sala e Bianca trinca o maxilar na hora.

- Eu acho melhor tomar cuidado quando for falar de mim!

- Você não tava morta?

- Bem que você queria, não é mesmo?

- Queria! Muito inclusive! - Ela observa Ludmilla que ainda estava de costas. - Cê vai me explicar o que tá acontecendo aqui?

- É simples. - Bianca dá um passo a frente cruzando os braços. Seu tom era frio e cínico. - Eu vim visitar minha esposa!

- Garota, qual é o teu problema? - Brunna começa a andar em direção à ela e Bianca dá alguns passos para trás. - Por acaso você bebeu água de enxurrada? Bateu a cabeça quando era criança? Ou a água oxigenada da tinta de cabelo cozinhou seu cérebro?

- O quê?

- Você é burra ou quer um real, minha filha? Quando vai entender que a Ludmilla não é nada sua?

- É aí que você se engana...

- A única enganada aqui é você! Vai embora daqui!

- Acho melhor você ir baby, assim eu posso ficar a sós e aproveitar com minha esposa.

- Desgraçada! - Brunna desfere um tapa na moça e Ludmilla corre em direção a elas.

- Não faz isso!

- Você vai defender essa vagabunda agora?

- Claro que não Brunna! Eu vou defender você!

- Leva essa selvagem daqui Ludmilla! - Bianca grita e Brunna mais uma vez tenta ir para cima mas Lud a segura pelos braços.

- Você vai me dizer que porra tá acontecendo aqui?

- Amor, calma! - Ela se aproxima e sussurra. - O bebê...

- Ah, agora você liga pro bebê?

Bianca arregala os olhos assim que ouve tais palavras serem proferidas.

- Como é?

Ludmilla se vira encarando-a enquanto ainda segurava Brunna.

- Bianca, por favor, vá embora!

- Você vai ter um filho com essa daí?

- Eu juro que não quero ter que chamar a policia, mas se você não sair, eu não terei outra escolha!

- Você não seria capaz!

- A audácia da filha da puta! - Brunna esbraveja e Lud a leva para fora da sala.

- Você fica aqui! - Ela diz apontando para Brunna. - Patrícia chama a segurança por favor!

A secretária logo atende ao pedido e Ludmilla volta em direção a sua sala.

- Olha, eu não sei o que você veio fazer aqui, nem o quer, mas por favor, vá embora e não volte mais!

- Você vai ter um filho com essa selvagem?

- Bianca!

- Fala Ludmilla!

- Vou! - Ela grita já sem paciência. - Eu vou ter um filho! Eu e a minha esposa iremos ter um filho! Agora por favor, saia!

- Eu não vou deixar isso acontecer!

- Me poupe do seu chantagismo barato, Bianca!

- Ludmilla você é minha! Sempre foi e sempre vai ser!

- Eu não era sua nem quando estávamos juntas, agora por favor, sai!

A ruiva se faz de ofendida e quando estava pronta para começar uma nova frase dois seguranças entram na sala.

- Senhora, por favor, nos acompanhe! - Um deles fala mostrando o caminho da saída.

- Não! Eu não vou sair daqui!

Eles encaram Ludmilla que somente assente com a cabeça. Os seguranças vão em direção a ela e a seguram pelos braços, Bianca tenta resistir mas os rapazes a levantam e a levam para fora dali.

- Você vai me pagar por isso Ludmilla! - Ela grita a todos pulmões em direção a moça. Bianca encara Brunna e seus olhos gritaram todo o ódio que ela sentia. - Você vai se fuder muito comigo!

- Eu não tenho medo de você! - Ela grita de volta mantendo a pose.

O elevador se fecha e a mulher some junto dos seguranças.

- Amor... - Lud segura impulso de Brunna que puxa o braço com toda força e sai pisando duro. - Brunna!

A garota sai dali sem ao menos olhar para trás. A maior bufa e encara Patrícia que tinha um olhar completamente perdido.

Lud volta para sua sala, ela se joga na cadeira e bufa tentando colocar a cabeça no lugar.

[...]

- Brunna pelo amor de Deus! Eu já disse que eu não sei!

- E por que você ainda não deu um jeito de acabar com essa merda?

- Porque algo idiota assim não merece minha atenção.

- Ah me poupe! Você tá é gostando disso!

- Ai cara, nem começa vai.

- Nem começa? Você acha que me engana?

- Lá vem...

- É, lá vem mesmo! O que tá acontecendo, Ludmilla? Tá arrependida de ter se casado rápido demais?

- Você tá se ouvindo?

- To! Você que não se enxerga! Fica recebendo mensagem de uma pessoa que você nem sabe quem é e ao invés de fazer alguma coisa, só deixa estar?

- O que você quer que eu faça? - Ela pega o celular e entra no aplicativo de mensagens. - Quer que eu xingue a pessoa? Ok. Quer que eu bloqueie? - Ela mexe um pouco no aparelho. - Pronto! Era isso? Brunna eu só quero paz pra nossa vida!

- Se você quisesse paz teria feito isso antes!

- Brunna, qual é...

A garota da as costas e caminha em direção a porta.

- Brunna. - Lud se levanta e caminha até ela. - BRUNNA! - As duas se encaram, Lud segura a mão da esposa com certo cuidado e tenta se acalmar. - Por favor, não vamos ficar assim. Eu juro que não tem nada a ver.

A menor respira fundo tentando controlar tudo o que sentia.

- Eu quero ficar sozinha agora.

- Amor, por favor... - Ela levanta o queixo da garota com cuidado e deposita um beijo calmo em seus lábios. Brunna tenta resistir mas não consegue.

Aos poucos ela vai se desfazendo do toque e se afasta.

- Eu realmente preciso ficar sozinha!

Lud suspira pesado e franze o cenho.

- É sério que tá fazendo isso por causa de uma mensagem idiota?

- Idiota? Ludmilla, como você se sentiria se eu recebesse esse tipo de mensagem de um número desconhecido? Você ia levar numa boa sem problema algum?

Ela permanece calada por alguns segundos e Brunna volta a falar.

- Foi o que eu imaginei. Então não vem me pedir calma muito menos pra esquecer isso, porque não é fácil assim. Eu tô carregando um filho teu e o mínimo de respeito que você poderia me dar, pouco te importa!

- Não é nada disso!

- O que é então?

- Eu só não achei que fosse grande coisa...

- E o que seria grande coisa? A dona da mensagem entrar aqui e sentar na tua cara?

- Não seja ridícula!

- Argh, eu preciso sair daqui!

- É só isso o que sabe fazer?

- Eu não quero mais olhar pra tua cara Ludmilla! Agora não dá!

- Ok Brunna! Faz o que você quiser! - Ela da as costas e volta a se sentar.

A mulher sai da sala pisando firme e entra no elevador.

A verdade é que Ludmilla sabia bem de quem se tratava quando recebia as mensagens. Depois que Bianca foi expulsa de sua sala na semana passada, ela continuou enviando algumas mensagens de texto por três dias seguidos, mas quando não obteve nenhum tipo de resposta, acabou desistindo.

Ludmilla agradeceu a todos os deuses por isso, mas sua paz não durou muito tempo. Brunna acabou descobrindo as mensagens e sua desconfiança ficou ainda maior. Ela tentava ao máximo não acreditar na infidelidade de sua esposa mas essa era a hipótese mais certa de todas. De certa forma Lud agradecia que Bianca estava longe dos pensamentos dela, mas ela teria que tomar uma atitude logo, caso contrário seu casamento iria por água abaixo.

- Escrota! Ridícula! Acha que me engana com essa merda? - Brunna esbravejava enquanto guardava seus pertences na bolsa. - Eu não nasci ontem! Eu não sou burra, não!

Ela coloca a bolsa no ombro e vai em direção ao elevador. Assim que entra, aperta repetidas vezes o botão da garagem na esperança de que isso, fizesse o elevador descer mais rápido. Brunna batia insistentemente o pé no chão demonstrando todo seu nervosismo. Quando finalmente chega a seu destino ela vai em direção ao carro, destrava o alarme, entra jogando sua bolsa no banco do passageiro e liga o carro arrancando dali com pressa.

O rádio estava ligado em uma estação qualquer tocando uma música antiga agitada, Brunna batia os dedos no volante no ritmo da música enquanto dirigia sem rumo pela cidade. Ela precisava pensar, muita coisa havia acontecido em sua vida em um curto período de tempo. Será que era pra ser assim?

De repente a morena se pegou pensando em tudo o que havia acontecido a alguns meses atrás.

Brunna era apenas mais uma garota normal de 23 anos que tentava viver sua vida da forma mais tranquila possível. Tinha saído da casa dos pais, tinha seu próprio emprego, as próprias ambições, sonhos, vontades, desejos... Até que de repente, da noite pro dia, sua vida virou de ponta cabeça. Ela conheceu uma mulher bonita, atraente e completamente misteriosa, e até hoje ela não sabia o que foi que lhe chamou mais atenção. Brunna de início, quis somente ajudar alguém que precisava, mas não foi necessário muito esforço para que ela acabasse se apaixonando.

Brunna saiu de uma relação longa e conturbada, entrou em uma que nunca imaginou, porém essa era leve, gostosa. Uma relação que sempre desejou, sempre sonhou em ter, mas nunca achou que seria possível. Quando menos esperava, já estava casada. Um compromisso que nunca imaginou que teria.

Com o casamento novas responsabilidades surgiram e ela teve que abandonar seu país, sua família e tudo o que tinha para entrar de cabeça nessa nova aventura. Ao lado de sua, agora, esposa, aprendeu muito, viveu muito, mesmo que em tão pouco tempo. Assumiu uma empresa, conheceu um novo país que sempre desejou, era hoje dona de um pequeno império e agora, carregava dentro de si um fruto de seu único e verdadeiro amor.

Um filho que foi tão bem planejado e desejado mas que ainda assim, era coisa demais para sua cabeça. Ela agora além de empresária e esposa, seria mãe.

Em um ano e quatro meses sua vida havia mudado completamente e ela, hoje, era uma nova pessoa.

- É meu filho.... - Ela diz acariciando a barriga por cima da blusa. - Eu não me arrependo de nada! Pelo contrário, cada decisão que tomei foi a melhor que pude fazer. Mas ainda assim, é muita coisa pra assimilar.

Ela continuava com o leve carinho. Brunna vai aos poucos desacelerando o carro que já havia ganho uma certa velocidade. Depois de tanto pensar se encontrava agora um pouco mais calma, a brisa do vento que entrava pela janela ajudava um pouco. Nova York sempre foi um sonho para a moça e poder passear pelas ruas da cidade apenas para se distrair e esfriar a cabeça, sempre funcionava.

O celular de Brunna apita e ela revira os olhos já imaginando o que Ludmilla poderia estar falando. Ela pega o aparelho sem problemas de dentro da bolsa e desliza afim de ver a mensagem. Assim que lê o nome do remetente, ela estranha.

- Número desconhecido?

Brunna corre os olhos pela mensagem.

"Você me tira o que eu tinha e eu tiro o que você tem, a vida é uma via de mão dupla!"

A garota estranha a mensagem e então ouve-se um som de buzina estridente. Brunna encara a rua à sua frente e percebe que o semáforo estava fechado. Ela tenta frear mas o carro não para. Mais uma tentativa mas o pedal estava frouxo. Mais alguns carros buzinam, Brunna entra em desespero, ela apertava o freio com força mas não funcionava. Quando ela finalmente agarra o freio de mão um carro preto em alta velocidade a atinge e antes que ela começasse a capotar, um rosto conhecido e o cabelo cor de fogo são as últimas coisas que ela consegue ver.

Brunna POV

De repente, silêncio.

Eu ainda sentia a dor no meu pé de tanto apertar aquele pedal.

Sentia meu corpo balançar bruscamente de um lado para o outro dentro do carro enquanto algo parecia tentar me prender.

Talvez o cinto de segurança.

Eu não conseguia ver nada. Acho que fechei os olhos num reflexo involuntário.

A última coisa que eu vi foi aquela desgraçada. Bianca.

A última coisa que me lembrava foi da briga com minha esposa.

Tudo a minha volta parecia girar. O espaço ficava menor a cada segundo.

Tudo no mais completo e perfeito, silêncio.

Bianca POV


Desperto ainda meio zonza, minha cabeça doía um pouco mas nada que um analgésico não resolvesse.

Depois que bati no carro daquela vagabunda saí feito louca do lugar e fui o mais longe possível. Eu havia me preparado.

Segui Brunna por doze quarteirões inteiros, queria ter certeza de que meu plano daria certo. O tempo que tive com Rômulo acabei aprendendo algumas coisas, cortar os freios de um carro era uma delas.

Foi o que fiz com Brunna. Depois, só para ter certeza de que aquela pé rapado iria dessa pra pior, fiz questão de terminar o que comecei, não queria que ela saísse bem dessa, muito menos viva.

A segui durante doses quarteirões apenas observando o quão distraída ela estava, o quanto ela acelerava gradativamente enquanto vagava em seus pensamentos, e isso só me ajudou.

Fiz a curva uma rua antes, sabia que ela iria encontrar um semáforo bem a sua frente e que não iria conseguir frear. Dito e feito. Eu já estava com meu aparato de proteção.

Meu carro tinha airbags, comprei um protetor bucal e um colar cervical, desses que vendem em farmácias. Coloquei um capacete qualquer e apertei bem o cinto de segurança. Assim que ela chegou no ponto exato, acelerei mais e bati em cheio no carro dela, bem no meio da porta do passageiro. Vi a garota balançar dentro do carro e então ele capotou. Uma, duas... Sete vezes.

Me mantive acordada o máximo que pude e sai dali mais rápido do que cheguei. Quando já estava longo o suficiente me deixei desabar. Desmaiei. Não sei por quanto tempo. Acho que algumas horas, talvez eu precisasse dormir um pouco.

Saio do carro esticando o corpo, já estava de noite, o céu escuro e a rua fria e gelada. Tiro o colar cervical e o protetor jogando na lixeira mais próxima. Observo os estragos feitos no meu carro. Depois eu mando arrumar.

Entro dando partida e indo direto a minha casa. Tudo o que precisava agora era de um banho e uma bela noite de sono.

- Nossa vingança já estava feita, amor! - Acaricio a foto de Rômulo que mantinha no carro sorrindo levemente.

Chego em nosso apartamento em quinze minutos. Ele ainda estava preso, mas eu fazia questão de manter tudo muito bem arrumado para quando ele finalmente saísse.

Estaciono o carro em minha vaga e passo pelo porteiro sem dar muita confiança. Não queria perguntas sobre o que aconteceu. Aperto o botão do elevador e não demoro muito para chegar. Passo a chave na tranca e entro jogando minha bolsa em um canto qualquer.

Engraçado, eu jurava que tinha fechado a janela.

Tranco a porta atrás de mim e coloca a chave no pote. Cruzo a sala e fecho a janela que estava aberta impedindo o vento frio de continuar entrando. Quando dou meia volta a luz do abajur se acende e eu tomo um susto.

- Finalmente nos encontramos depois de tanto tempo, norinha.

Engulo seco ao perceber quem estava ali.

- Silvana? O-O quê faz aqui?

Ela se levanta e caminha em minha direção vagarosamente.

- Vim te fazer uma visita. Matar a saudade. Fiquei sabendo que você gosta desse tipo de surpresa, afinal, fez isso para minha filha e pra Brunna recentemente, não?!

Minha garganta trava. Meus pés pareciam ter criado raízes. Eu não conseguia nem piscar direito.

Ela se aproxima mais ficando atrás de mim e então sussurra no meu ouvido.

- O gato comeu sua língua?

Sinto meu corpo estremecer e em impulso tento correr, mas antes de dar o primeiro passo, sinto meus cabelos serem puxados com toda força para trás.

- Onde você pensa que vai?

Silvana me joga contra a parede de vidro e ela se quebra assim que minhas costas batem contra ela. Sinto alguns cacos de vidro me arranharem e tento proteger meus olhos.

- Você mexeu com minha filha! - Ela me puxa pelos cabelos de novo me levantando. - E eu fiquei quieta!

Silvana bate com minha cabeça contra a parede de concreto e minha visão fica turva.

- Mexeu com minha nora, e eu mantive a classe! - Ela me empurra e minhas costas vão de encontro com a parede com tamanha força que perco o ar. - Mas agora você foi longe demais!

Ela caminha até mim e seu punho vem de encontro com meu rosto. Três vezes seguidas.

- Você mexeu com o meu neto, sua puta! - Outro soco na boca do estômago. - Uma criança que nem nasceu ainda! Que não tinha nada a ver com a sua loucura! - Ela bate minha cabeça contra a parede mais algumas vezes. - Você nunca mais vai pensar na minha família de novo! - Outro soco. Outra cabeçada. - Caso contrário. - Ela me segura pela garganta e seus dedos se apertam impedindo a passagem de ar. - Eu acabo com sua vida!

Ela continuava me encarando e a cada segundo o oxigênio me faltava. Sinto o chão sumir e só então percebo que ela havia me levantando. Silvana me encarava com os olhos cheios de lágrimas mas seu corpo não fraquejava. Quando minha visão começa a escurecer, sinto ela me arremesar com toda força sobre os vidros quebrados no chão e então a dor a ardência se faz presente.

- Isso é pra você se lembrar de mim. Além dessa marca linda que minha nora te deu. - Ela disse se referindo a cicatriz do tapa que aquela vadia me deu.

Tento me levantar do chão mas não conseguia me mexer. Ouço ela falar alguma coisa no celular mas apago devido a dor e exaustão que sentia. Parecia ter sido apenas alguns segundos, acordei novamente com homens fardados me algemando e me levando para um camburão. Silvana acompanhava tudo com Daiane ao seu lado. A mais velha ainda chorava mas seu rosto permanecia duro e imparcial. O policial me empurra para dentro e eu finalmente me permito desabar.

Narrador POV

- MOÇA POR FAVOR, ME AJUDA! - Ludmilla se joga sobre a bancada da recepção e a enfermeira se assusta.

- Senhora, se acalme! O que aconteceu?

- Minha mulher! Ela ta grávida!

- Ela está em trabalho de parto?

- Não! Ela sofreu um acidente! Disseram que veio pra cá! Cadê ela?!

- Senhora, por favor, tente se acalmar! Qual o nome da paciente?

- Brunna! Brunna Oliveira! Gonçalves!

- Muito bem! - A enfermeira digita o nome no computador e lê os dados. - Ela está na sala de cirurgia, assim que terminarem o médico vira avisar!

- Cirugia? Por que? O que ela tem?

- Senhora...

- Eu quero a minha esposa! Eu quero vê-la! AGORA!

- Se a senhora não se acalmar eu serei obrigada a chamar o segurança!

- Não será necessário! - Marcos segura o ombro da irmã e tenta acalmar a enfermeira. - Muito obrigada!

Ele leva Ludmilla até a sala de espera e senta com a irmã lá.

- Fazer barraco em hospital não vai salva-los e você sabe disso!

- É a minha esposa e meu filho!

- Eu sei! É minha cunhada e sobrinho ali também, mas não adianta descontar seu medo nos funcionários!

Ludmilla respirava fundo tentando controlar a calma. Luane entra na sala e se senta ao lado da irmã.

- Alguma notícia?

- Ela tá na sala de cirurgia! Quando terminarem vão vir falar com a gente!

Os três suspiram fundo e se encostam na cadeira. Os minutos pareciam se arrastar fazendo com quê as horas passassem em milênios. Daiane e Silvana já haviam chego e contaram tudo o que aconteceu à Ludmilla. Brunna já estava sendo operada a quatro horas e ninguém havia dado uma única notícia sequer. Talvez isso fosse bom, sinal de que estavam comprometidos com o trabalho, mas ao mesmo tempo era ruim.

Ludmilla já havia andando em todas as formas geométricas possíveis, sua cabeça explodia de dor, seus olhos pesavam, seus corpo parecia ter sido moído, mas ela não conseguia parar. Sua ansiedade para descobrir como sua esposa e filho estavam a consumiam. Ela queria uma única notícia.

- Familiares de Brunna Gonçalves Oliveira!

Todos se levantam e Ludmilla vai até ele.

- Sou a esposa dela!

- Muito prazer! Vocês são?

- Família, sogra, cunhados e amiga. - Silvana aponta para cada um respectivamente e o médico apenas assente.

Ele aponta para uma das cadeiras e chama Ludmilla. Todos voltam a de sentar.

- O quadro de Brunna é grave, porém ela já está estável. Por conta do acidente ela acabou tendo um traumatismo craniado, quebrou duas costelas e distendeu o pulso. A cirugia foi um sucesso, deu tudo certo, mas ela ainda está desacordada e por conta do trauma, creio que ficará assim por algum tempo.

- Como assim Doutor? - Silvana pergunta apreensiva.

- Nós manteremos Bruna em estado de coma induzido. Ao menos até que ela melhore dos ferimentos mais graves.

- Mas isso não vai fazer mal para o bebê? - Ludmilla pergunta apreensiva e o médico encara a família.

Todos trocam olharemos com pesar e Silvana abaixa a cabeça já imaginando o que viria.

- Sra. Oliveira, eu sinto lhe informar mas, Brunna... Perdeu o bebê.

De repente o chão se abre e ela sente cair em um buraco sem fim. Silvana se levanta e caminha na sala tentando disfarçar. Luane consegue manter as lágrimas e Marcos abraça a irmã pelos ombros.

- O que? - A voz de Ludmilla sai falha e baixa e seus olhos já se enchiam de lágrimas.

- A batida foi forte. O carro capotou sete vezes. Apesar de estar com cinto de segurança, o baque foi forte. Brunna teve uma hemorragia causada pelo aborto, nós fizemos uma transfusão de sangue, tentamos salvar o feto mas não conseguimos.

- Não pôde ser... - Ela tentava se manter forte mas seu coração parecia estar tem pedaços.

- Bom, eu sei que não é uma boa hora, mas é melhor dizer agora. - Ele continua e ela se prepara para o que quer que seja. - Por conta do trauma, Brunna acabou tendo uma das trompas rompidas.

Ele faz uma pausa afim de esperar a reação de Lud, ela o encara confusa.

- O que isso quer dizer?

Ele respira fundo e continua.

- Quer dizer que Brunna, talvez, não possa mais engravidar nunca mais.

Aquilo era a gota d'água para ela. Além de quase perder a esposa e perder o filho, o sonho de construir uma família ia por água abaixo. Ludmilla não tinha forças nem mesmo para chorar.

- Você deseja vê-la? - O médico pergunta cauteloso.

- Eu posso?

- Sim, me acompanhe por favor!

Ele se levanta e Ludmilla vai logo atrás. Os dois sobem em silêncio de elevador até chegarem em um corredor gelado, o médico guia Ludmilla até a porta de número 205 e abre dando passagem a ela. Lud entra e ele fecha a porta.

Assim que a mulher encara Brunna, seu coração que já estava em pedaços, se diminui e aperta mais ainda. Bruna estava deitada na cama, ela tinha hematomas arroxeados no rosto, um curativo com faixa na cabeça, um tubo grossa e transparente em sua boca ligado a uma máquina que simulava a respiração humana. Diversos fios de diferentes cores estavam acoplados a seu corpo, ligados em uma máquina que disparava bipes a todo segundo. Algumas outras máquinas estavam ao seu redor com diversos números e siglas que Ludmila não sabia dizer o que significava. Ela se aproxima mais da cama e sente que seu corpo desmoronaria a qualquer instante.

Brunna estava desacordada, machucada e extremante frágil. Ela não imaginava o que havia acontecido com ela.

Lud se aproxima mais e se abaixa chegando perto da orelha de sua esposa. Ela funga algumas vezes tentando conter o choro.

- Oi minha vida... - As lágrimas começam a rolar e a garota não consegue mais se conter.

Ludmilla apoia a cabeça no ombro da esposa e chora copiosamente. Seus soluços balançavam seu corpo todo, ela apertava forte a mão quente de Brunna mas não obtia nenhum tipo de reação. Seus gemidos dolorosos saiam tão altos que todo o corredor seria capaz de ouvir. Após alguns minutos Lud segura o choro e se aproxima novamente.

- Tá tudo bem meu amor! Eu tô aqui! - Ela faz um leve carinho no rosto da morena. - Eu vou cuidar de você!

A maior volta a chorar deitada sobre o peito de Brunna. Ela não fazia idéia de quando Brunna iria acordar, de quando iria ver aquela olhos castanhos tão profundos no qual já sentia saudade. Ela não fazia ideia de quando sentiria o abraço apertado dela novamente. Ela não fazia idéia de quando veria esposa de volta. Ludmilla se levanta com calma tomando cuidado com todos os fios e então percebeu e que uma lágrima solitária rolava pelo rosto de Brunna. Ela a limpa com o polegar e então surrurra.

- Não chora minha princesa, vai ficar tudo bem! - Ela segura sua mão, lhe dá um beijo na testa e então confessa. - Eu te amo!

Ludmilla POV

- E foi isso o que aconteceu. - Ludmilla diz enxugando algumas lágrimas.

Brunna continuava encarando os próprios pés quando também chorava sem parar. A garota estava em silêncio desde que Ludmila havia começado a falar.

- Durante a semana toda eu fique com você. - Lud continua. - Só saía daqui pra ir em casa tomar banho e já voltava. Quando eu saía minha mãe vinha e ficava com você. - Brunna houvia tudo atentamente. - Eu te trouxe flores todos os dias, lia pra você, botava musica de vez em quando, conversava. Foi só uma semana mas foi a semana mais longa de todas, e a pior sem sombra de dúvidas.

- Por que você parou? - Sua voz saiu baixa e rouca.

- Porque eu tive medo de que você nunca acordasse.

- Por que ? - Ela encara e esposa e Ludmilla engole seco.

- Porque o médico disse que talvez pudesse acontecer. O seu traumatismo foi leve, você foi tendo uma recuperação muito rápidas mas ainda tinha chances de você já acordar. Ele me mostrou uns papéis e se no caso eu assinasse, eles desligariam as máquinas que tavam te ajudando. Eu não quis assinar. Foi aqui que você foi voltando.

- Voltando?

- Sim. Seus batimentos voltaram ao normal, você já conseguia respirar sem a máquina, mas mesmo assim ainda não acordava.

- Entendo.

Ludmilla apenas a observava sem dizer nada. Brunna mal piscava. Sua mente girava tentando absover cada palavra que foi dita.

- Eu nunca mais... Vou pedir engravidar? - sua voz trêmula entregava que ela estava prestes a chorar.

- Amor! - Lud se levanta e se senta ao seu lado a abraçando. - Não pensa nisso agora!

A garota se permite chorar tudo o que estava guardado. Suas memória ainda não estava completa, mas ela se lembrava de tudo que lhe foi contado. Brunna sentia uma dor descomunal, não física ou causada por seus machucados mas psicológica, por ter perdido seu filho de forma de tão brutal.

- Eu te amo Bru! - Ludmilla a essa altura também já chorava. - Eu te amo muito! Nós já somos e ainda seremos muito felizes meu amor! - Ela segura o rosto da esposa nas mãos e as duas se encaram. - Você é o melhor presente que a vida me deu! O acaso mais lindo de toda minha existência! Você me faz a mulher mais feliz do mundo e eu não quero medir esforços pra te fazer isso também! Você não sabe quanto medo eu senti de nunca mais poder ter você assim, nos meus braços. - Ela desliza as mãos pelos braços de Brunna até alcançar suas mãos. - Ver seus olhos, sentir seu calor, seu beijo, eu tive tanto medo de não te ter mais meu amor! De perder você! Eu não sei o que eu...

Brunna deposita um dedo nos lábios da esposa e a encara segurando seus lábios.

- Eu tô aqui! Eu te ouvi o tempo todo! - Ludmilla soluçava tão alto que seu corpo todo tremia. - Eu não vou a lugar algum!

E pela primeira vez naquela semana, Ludmilla da seu primeiro sorriso. Em uma.mistura de alívio, paz e dor.

- Eu te amo Brunna! - Ela dá um selinho em sua esposa.

- Eu te amo Ludmilla! - Ela repete o gesto e as duas encostam seus narizes em um beijo de esquimó.

- Nós vamos ficar bem, ok?! - Lud sussurra mais para si mesmo do que para Brunna.

- Ok!

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