Sentimento Escondido
3 de Novembro
Rio de Janeiro, 3:40 AM.
Brunna POV
Entro no quarto batendo a porta atrás de mim com toda força. Ela entra logo atrás.
- Será que dá pra você parar de fugir de mim?
- Não! - Grito deixando que toda raiva saísse.
- Por que você tá assim?
- Ah, você jura que não sabe? - Meu tom era de puro sarcasmo.
- Não.
- Por que não pergunta pra sua amiguinha?
- Que? Que amiga?
- AQUELA VAGABUNDA QUE TAVA SARRANDO EM VOCÊ, SUA RIDÍCULA! - Vou pra cima dela e consigo dar uns tapas na sonsa até que ela me segura.
- Brunna!
Me remexo tentando fazer ela me soltar mas é em vão.
- Você é uma ridícula! Safada!
- Brunna, pára!
- Me solta! - Ela abre as mãos e dou alguns passos pra trás.
Eu estava ofegante, com raiva, as cenas do final daquela noite se repetiam em minha mente em um loop infernal.
- Da pra falar o que tá acontecendo?
- Você é uma idiota! É isso o que tá acontecendo!
- Meu Deus! Se acalma, tá legal?
Rosno em resposta e me sento com tudo na cama cruzando os braços.
- Brunna, use as palavras.
- Escrota! - Grito e sua direção. - Ridícula! Idiota!
- Não essas palavras...
- Você é uma imbecil! Safada, mentirosa!
- CHEGA! - Ela grita e eu encolho. - Eu não vou permitir ser atacada por você dessa forma sem nem ao menos saber o porquê.
- Você quer mesmo saber o porquê?
- Sim!
- Ok, eu te conto então!
Flashback on
Finalmente havíamos chego em casa, hoje o bar estava incrivelmente cheio. Abro a porta da sala ouvindo uma conversa animada e assim que coloco meu olhos no cômodo, encontro Larissa e Renatinho muito bem arrumados com sorrisos largos.
- Onde vão? - Lud pergunta entrando logo atrás de mim.
- Nós vamos! - Lari fala animada nos incluindo. - Hoje vai ter show especial do Belo e o Renatinho conseguiu quatro ingressos.
- MENTIRA! - Grito animada.
- VERDADE! - Ele me mostra os ingressos e os dois pulamos animados. Eu amo Belo.
- Vão se arrumar, rápido! - Larissa diz e eu subo no mesmo instante.
Entro no banheiro em um tiro e tomo o banho mais rápido da minha vida. Já fazia algum tempo que eu ouvi falar desse show mas tinha me esquecido que seria hoje, eu até tentei comprar os ingressos mas quando finalmente consegui o dinheiro o lote tinha acabado e os preços aumentaram. Eu não sabia aonde Renatinho tinha conseguido, mas estava agradecendo a Deus e o mundo por isso.
Entro no quarto ainda enrolada na toalha e começo a escolher a roupa, eu mal sabia o que iria vestir. Coloco a calcinha e opto por usar um cropped na cor creme e um short de brilho com um salto nude. Sequei o cabelo e preferi deixar ele solto mesmo. Volto pra banheiro afim de fazer minha maquiagem e quando vou guarda-la, encontro Lud no quarto já vestida.
Ela tava simplesmente linda!
Usava um cropped rosa, uma calça cargo camuflada e um tênis branco. Havia uma bandana vermelha amarrada em um dos passadores e seu cabelo também estava solto. A visão daquela mulher parada ali, com aquela postura prepotente e aquela cara de marrenta me deixava mole.
Ela sorri largo assim que me encara.
- Nossa! - Lud me observava da cabeça aos pés. - Você tá linda!
Sinto meu rosto corar.
- Você acha?
- Eu tenho certeza!
Ela se aproxima me dando um selinho demorado. Era tão bom ouvir elogios, eu poderia me acostumar facilmente com aquilo.
- Será que dá pra deixar a pegação pra depois? - Renatinho surge do nada. - A gente vai se atrasar!
Lud sorri em reposta e sai do quarto me puxando carinhosamente pela mão. Assim que descemos Lari nos avisa que o Uber já havia chego, todos saímos e ela tranca a porta e logo em seguida o portão. Entramos no carro e não demora muito pra que cheguemos no local do show.
A noite estava perfeita. Cantei todas as músicas a todo pulmões sem vergonha nenhuma, Lud se arriscava a cantar comigo algumas das músicas que eu tinha mostrado a ela. Quando não sabia a letra, ficava apenas me observando com um sorriso enorme. Eu estava extremamente feliz, meus amigos se acabavam de cantar comigo e todos estávamos em uma vibe muito gostosa.
Vez ou outra a Lud me dava um beijo aqui e outro ali, em um momento do show ela me abraçou por trás e ficamos com nossos corpos colados enquanto ela cantava baixinho no meu ouvido. Eu amava a forma como ela me tratava e principalmente, amava o nosso grude.
Assim que o show se encerrou, Belo desceu do palco ao som das várias palmas e gritos que todos davam. Logo foi anunciado que teria uma apresentação de um DJ e decidimos ficar. Assim que entrou, o clima ficou ainda mais animado com o funk que ele tocava.
- Vou no banheiro! - Grito pra Lud devido ao som alto e ela concorda com a cabeça.
Desde que chegamos meu copo não ficou vazio. Os ingressos que Renatinho tinha arrumado eram do frontstage, bem na frente do palco e nos dava direito ao open bar. Eu, como não sou boba nem nada, logo tratei de aproveitar.
Dou descarga e vou até a pia lavar as mãos. Termino de saca-las e jogo o papel no lixo voltando para o lugar onde estava. Quando finalmente avisto meus amigos sinto meu sangue ferver com a visão que tive.
Ludmilla segurava os braços ao redor do corpo e tentava de todas as formas não olhar pra loira que fazia questão de rebolar encostando nela. A garota tava de costas e elas até tinham uma certa distância uma da outra, mas a cada volta que a bunda mucha daquela garota dava, ela fazia questão de relar na perna da Lud. Continuo me aproximando e vejo a garota olhar pra trás e piscar com um sorrisinho nojento na cara.
- Que putaria é essa? - Assim que houve minha voz Lud me encara com os olhos arregalados.
- Bru...
- Não vem com "Bru", quem é essa bruaca?
A garota se coloca de pé com uma cara de ofendida.
- Tá falando de mim?
- Tem outra além de você aqui?
- Brunna, calma. - Ludmilla segura levemente meu braço.
- Não sabia que ela tinha dona.
- Agora já sabe! Voa urubu! - Grito pra garota que revira os olhos e sai andando multidão a dentro.
Ludmilla ainda me encarava, dessa vez segurando o riso.
- Tá olhando o que?
Ela levanta as mãos em sinal de rendição. Eu bufo irritada e saio pisando duro indo em direção a saída do lugar.
- Brunna! - Ouço ela me chamar mas apenas ignoro e continuo meu caminho.
Assim que saio lá fora um moço vem me oferecer serviço de táxi e eu apenas dou o endereço e entro no carro. Antes que ele pudesse sair, Ludmilla entra do outro lado.
- O quê você tá fazendo?
- Indo embora! Pode ir moço!
O carro começa a andar.
- Brunna. - Ela toca em meu braço mas eu me afasto, encosto minha cabeça no vidro e observo a paisagem do lado de fora.
A viagem toda foi feita sob um silêncio sufocante. Assim que o carro finalmente pára eu pago o moço sem nem ao menos me preocupar com troco e saio do carro imediatamente. Abro o portão e antes que pudesse fecha-lo Ludmilla vem atrás.
- Brunna, espera!
Entro pela sala subindo as escadas com um pouco de dificuldade.
- Bru, vamo conversar.
- Eu não tenho nada pra conversar com você!
Abro a porta do quarto e fecho com toda minha força.
Flashback off
Ludmilla POV
- Era isso?
Ela me encara com fúria, seus olhos poderiam ser capazes de me fuzilar.
- Você acha pouco?
- Brunna. - Vou em direção a cama e me sento de frente pra ela mas com uma certa distância, precisava tomar cuidado. - Eu nem vi que ela tava fazendo aquilo.
- Ah não? Por que? Tinha alguma outra que você tava olhando?
- Sim.
- Quem?
- Você!
Seu semblante muda na hora. Brunna me encarava confusa, sua boca entreaberta, sua respiração levemente alterada, seus olhos nem piscavam. Lentamente seu cenho se franze e ela ensaia algumas palavras mas nada sai de sua boca. Eu apenas sorrio e me aproximo, acho que já era seguro. Capturo com cuidado uma de suas mãos e ela solta os braços.
- Como assim? - Ela finalmente diz com o tom baixo.
- Você acha mesmo que eu iria ficar olhando aquela moça tendo você comigo?
Ela pisca mais do que deveria provavelmente tentando entender o que eu dizia.
- Não brinca com isso.
- Mas eu não tô brincando, tô falando sério! Brunna, eu não consigo olhar pra mais ninguém além de você.
Sinto meu coração acelerar depois de dizer aquelas palavras. Eu não conseguia saber de onde tirei coragem.
- Ludmilla, do que você tá falando?
Sorrio sincera e me ajeito na cama. Seguro sua outra mão e encaro Brunna no fundo dos olhos sentindo meu batimento se alterar cada vez mais.
- Eu tô dizendo Brunna, que eu não me importo com o que outras façam, porque eu só quero saber de você! Eu só tenho olhos pra você! Você é a única que me importa!
- Por que tá dizendo isso agora?
- Porque me parece ser o momento certo pra isso.
Ela ainda tinha a confusão presente em seu semblante. Respiro fundo inalando todo o ar que conseguia inflando meus pulmões e então decido dizer logo de uma vez.
- Brunna, eu gosto de você! De verdade. No começo eu tive medo de sentir isso, porque pensei que por você nunca ter ficado com uma mulher antes, talvez pudesse achar que estava confusa ou algo assim, mas conforme o tempo foi passando e fomos ficando cada vez mais grudadas, eu não tive mais dúvidas do meu sentimento. Eu gosto de você Bru, e se você quiser, eu quero ficar só contigo. Eu não me importo com mais ninguém além de nós.
Brunna POV
Eu não podia acreditar no que tava ouvindo. Como assim Ludmilla gosta de mim? Quer dizer, eu já imaginava que talvez ela pudesse ter algum sentimento, mas ouvir ela falando daquele jeito, dizendo que não se importa com mais ninguém além de nós? Como assim nós? Eu não conseguia dizer nada, fiquei apenas encarando ela vendo aquele sorriso tão lindo e puro que ela me dava, seus olhos brilhavam em uma intensidade que nunca tinha visto antes. Suas mãos estavam geladas, parecia nervosa, o que confesso, era bem estranho. De uma hora pra outra a postura de marrenta caiu por terra e uma Ludmilla emotiva tomou conta. O que tá acontecendo aqui?
- Você não vai dizer nada?
Ela diz me tirando dos meus pensamentos. Sua expressão agora era aflita.
- Eu não... Não sei o que dizer.
Lud suspira pesado e solta minhas mãos. Ela levanta da cama e caminha até a escrivaninha olhando a rua do lado de fora da janela.
- Eu já imaginava. - Ela solta um riso sem humor. - Não sei o que tava pensando quando decidi falar isso. Desculpa.
Me levanto da cama e caminho em sua direção deixando uma certa distância entre nós.
- Lud...
- Não Bru, tá tudo bem! - Ela se vira e me encara. Podeira jurar que seus olhos estavam marejados. - Eu acho que acabei confundindo as coisas.
Ela faz menção de sair do quarto mas entro em sua frente.
- Não! Você não confundiu nada! - Ela me encara, confusa.
- Como assim?
- Eu também gosto de você! - Deixo sair em um impulso, como se não pudesse controlar minhas próprias palavras.
Lud franze o cenho mas o sorriso teima e se sobressai em seus lábios.
- Você gosta?
- Sim! - Meu coração se acelera, meu corpo entra em estado de alerta. O que tá acontecendo comigo?
- Brunna, não precisa dizer isso só pra me agradar.
- Eu não tô! É sério! Olha! - Pego sua mão e coloco sobre meu peito. - Toda vez que você tá perto de mim, meu coração fica desse jeito, parece q vai sair pela boca!
Ela sorri ainda mais.
- Brunna...
- E quando estamos juntas. - Me aproximo e ela segura minha cintura me encarando profundamente. - Eu me sinto tão bem!
Dessa vez sorrimos as duas.
- E o que mais? - Ela sussurra me encarando profundamente. Por alguns segundos me perco naquela imensidão castanha.
- Quando você me beija, eu perco totalmente a noção de tudo! É como se você me levasse pra outra dimensão.
Lud se aproxima e cola nossos lábios. Ela sobe uma das mãos até minha nuca e faz um leve carinho ali. Nossas bocas se afastam e ela volta a me encarar, sorrindo.
- Assim? - Seu tom era baixo e rouco, me arrepio por completa quando o ouço.
- É, bem assim!
Ela me dá mais alguns selinhos e me abraça forte. Sinto meu corpo inteiro estremecer quando sua respiração bate em minha pele, que tipo de poder é esse que essa mulher tem sobre mim?
- Então você tá dizendo que gosta de mim? - Ela finalmete diz depois que nos separamos.
- Sim, Lud! Eu gosto de você. Na verdade... - Paro por um instante mas decido dizer de uma vez. - Eu tô apaixonada por você.
Ela arqueia as sobrancelhas, seu queixo cai levemente. Fecho os olhos com vergonha, dizer isso em voz alta parecia ser tão idiota.
- Você tem certeza disso?
- Sim. - Volto a encara-la. - Eu só não queria admitir pra mim mesma, mas eu já sinto isso a muito tempo. Eu só não sabia como você iria reagir, não queria que você achasse que sou uma doida emocionada.
Sorrio nervosa e ela me solta. Lud leva uma mão ao queixo e torce o nariz como se pensasse em algo.
- Então acho que temos um problema.
Meu corpo gela.
- Por que?
- Porque eu também tô apaixonada por você.
De repente um turbilhão de sentimentos me invadem. Eu queria gritar, rir, chorar, beijar aquela mulher até minha boca cair. O sorriso rasga meu rosto como se não tivesse nada que o impedisse e ela me responde da mesma forma. Lud me abraça de novo e eu pulo em seu colo. Ela nos roda algumas vezes e nossas gargalhadas se misturam. Assim que pára, suas mãos pairam sobre minha cintura e meus braços se encontram em seu pescoço.
- Eu tô apaixonada por você, Brunna! - Ela repete e aquilo soa como música em meus ouvidos.
As palavras me faltaram e eu apenas a beijo em resposta. Um beijo alegre, com muito mais sentimento e significado. Eu mal podia esperar pra ver o que iria acontecer depois de finalmente confessarmos nosso sentimento, mas um coisa eu sabia, tudo iria ficar cada vez melhor.
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