O Plano

- Você tem certeza que isso vai funcionar? - A mulher pergunta terminando de colocar seus sapatos.

- Isso é veneno, Bianca! - Ele diz encarando o pequeno frasco transparente em suas mãos - Não tem como não funcionar!

A ruiva da de ombros e pega seu sobretudo em cima da cama e jogando-o em seus ombros.

- Se você diz... Bom, eu preciso ir. Ludmilla vai desconfiar se eu chegar muito tarde em casa.

O rapaz suspira fundo se levantando da cadeira. Rômulo as vezes se incomodava com o fato de ter que dividir Bianca com Ludmilla, mas no momento ele não tinha muita escolha. Bianca o encarava com temor enquanto ele caminha lentamente em sua direção. A ruiva tinha certo medo do rapaz e com motivo, Rômulo costumava ser explosivo, seu jeito sombrio e controlador era suficiente pra que ela se sentisse acuada.

O rapaz se coloca a centímetros da moça podendo sentir o calor que seu corpo emamava. Ele aproxima sua mão do rosto dela a fazendo recuar por alguns segundos. Rômulo segura uma pequena mecha do cabelo ondulado e coloca atrás da orelha de Bia, que pemanece imóvel.

- Então vai meu amor. Chega de mansinho tá? E vê se não irrita nossa mina de ouro. - Ele segura com certa força a mandíbula da garota a puxando para mais perto de si - Não esquece que nosso futuro depende da morte daquela vadia, mas pra isso acontecer você vai ter que aguentar ela um pouco mais.

O rapaz praticamente rosnou cada palavra tocando levemente seus lábios nos de Beatriz. Ele lhe dá um selinho rápido e solta a garota com um pequeno impulso. Bianca apenas observa ele se afastar sentando-se novamente em sua mesa. A mulher pega sua bolsa e sai sem dizer uma única palavra.

Rômulo e Bianca se conheciam desde a infância. Os pais dos dois chegaram a ser sócios de um pequeno comércio que acabou não vingando. Juntos desde criança, o rapaz sempre se mostrou um completo cavalheiro, fazendo assim, com que Beatriz acabasse se apaixonasse por ele com o passar do tempo. Mas aos poucos a paixão se tornou obsessão. Bia já havia dado diversos ataques de ciúmes por conta da cafajestagem do rapaz que por sua vez, sempre alegava não estar fazendo nada demais, afinal os dois não tinham uma relação estabelecida.

A pedido dele, o romance sempre aconteceu às escondidas de forma que nem suas familias soubessem. A relação não oficial dos dois foi se aprofundando cada vez mais até que entraram na faculdade. Rômulo se deixou levar por toda liberdade e ilusão que o lugar oferecia e aproveitou absolutamente tudo o que aquilo poderia lhe proporcionar. Quando soube disso, Bianca não gostou nem um pouco. Se viu traída e decidiu esquecer o rapaz. Ele pouco se importou, até conhecer Ludmilla.

O rapaz sempre sentiu uma ponta de inveja e uma vontade gigantesca de fazer parte do mundo da empresária, mas Lud por sua vez sempre foi muito cuidadosa com quem estava ao seu lado. Os dois tinham vários amigos em comum e até frequentaram as mesmas festas e grupos, mas quando finalmente percebeu que nunca conseguiria fazer parte daquilo da forma como desejava, Rômulo deixou que a inveja e a ganância tomassem conta de si e então começou a arquitetar um plano e pra isso obviamente iria usar a pessoa na qual ele tinha total poder.

Rômulo voltou a se aproximar de Bianca, os dois logo começaram a ficar juntos e não demorou muito para que o rapaz conseguisse manipular a garota para que ela o ajudasse. Ele a havia domado tão bem que ela aceitava toda e qualquer ordem ou idéia que ele tinha, por mais absurda que fosse.

Rômulo não demorou para começar a colocar em prática seu plano maquiavélico para arruinar com Ludmilla e tomar tudo o que ela tinha. Bianca era como um filhote de estimação aonde ele mandava e desmandava e tudo ficava bem.

O plano era simples mas demorado. Rômulo apresentou as duas mulheres, aparentemente sem nenhuma intenção ainda na época da faculdade. Bianca, por mais bonita e atraente que fosse, não fazia o tipo de Ludmilla. Por conta disso ela acabou não dando muita moral para a ruiva, mas depois de certa insistência do rapaz as duas acabaram finalmente marcando um encontro.

Rômulo treinou Bia perfeitamente bem para que ela agradasse Ludmilla afim da empresária dela, e assim aconteceu. Depois de certa insistência do rapaz ela acabou cedendo e saindo com a ruiva que logo tratou de usar tudo aquilo que havia aprendido para conquista-la, logo, não demorou muito para que elas começassem a namorar. Ludmilla não demonstrava muito interesse em prosseguir com a relação mas depois de tanto tempo enrolando a moça, finalmente decidiu ceder. O noivado aconteceu e logo após isso Rômulo se afastou do casal para não levantar nenhum tipo de suspeita e agora tudo caminhava para a conclusão do plano do rapaz.

Ludmilla havia caído tão bem na farsa que acabou convidando Bianca para morar com ela, assim os próximos passos seriam fácies de concluída. Após saber que o casamento realizado em comunhão parcial de bens, Silvana tentou de todas as formas tirar essa idéia cabeça da filha pedindo para elas assinarem um contrato pré nupcial, mas a garota não quis. Ela confiava tanto em Bianca que qualquer um que ousasse ofende-la se tornava inimigo declarado de Ludmilla. Após o casamento, ainda na lua de mel, o plano finalmente chegaria a sua rota final e com Ludmilla fora do caminho, Bianca assumiria a empresa, se casaria com Rômulo e os dois usufruiriam de tudo o que um dia foi dela.

O rapaz se levanta da cadeira e vai em direção a geladeira. Ele abre e pega uma garrafa de vodka, abre e bebe ali mesmo, no bico da garrafa sem rodeios.

- Esse plano vai dar certo! - Ele continuava encarando o pequeno frasco que veneno que ainda tinha na mão. - Ele tem que dar!

Rômulo se vira e vai em direção à janela da kitnet que ficava de frente para o edifício que Ludmilla comandava. Sim, Rômulo morava a poucos metros dali e seu passatempo favorito era observar o prédio que tanto cobiçava comandar um dia.

- E um dia tudo isso será meu! - Seu tom de voz diabólico só demonstrava o tamanho de sua obsessão.

[...]

Bianca POV

O trajeto da casa de Rômulo até meu apartamento foi consideravelmente rápido devido ao trânsito calmo. Já passava das 20h da noite e àquela hora a maioria das pessoas já haviam sai do trabalho.

Entrei no estacionamento do prédio e fui em direção a minha vaga. Por sorte o carro de Ludmilla não estava ali o que indicava que ela não havia chego ainda, o que me daria algum tempo. Fui em direção ao elevador e logo apertei o botão da cobertura. Desde que nossa relação se firmou Ludmilla me chamou para morar com ela, não sei se por mera formalidade ou se era algo que ela queria mesmo.

Vocês devem estar pensando que garota sem vergonha traindo alguém tão boa assim descaradamente, mas eu posso me explicar.

Eu juro que não fazia aquilo por mal, por diversas vezes ja me vi em um conflito interno aonde me segurava ao máximo para não contar a verdade a ela, mas eu não poderia fazer isso com Rômulo.

Ele sim era o amor da minha vida. Eu sempre fui completamente apaixonada por ele. Minha vontade sempre foi ser somente dele e de mais ninguém e viver feliz assim e era exatamente por isso que aceitei fazer parte de seu plano.

- Vocêcompletamente maluco! - Me levanto da cama em um pulo e tento me afastar mas sinto sua mão segurar meu pulso com força.

- Você precisa me ajudar!

- Eu não vou fazer nada! Eu não vou me meter nessa sujeira!

- Bianca, por favor...

- Não Rômulo! - Minha voz soava alta e esganiçada. - Vode perdeu completamente o juízo, meu Deus! Você quer matar... Desde quando você virou isso? Um assassino?

- Desde quando ela começou a me tratar feito lixo! - Ele me encarava com raiva. - Eu fui menosprezado a minha vida toda por pessoas como ela! Eu não vou mais aceitar isso!

- Romulo...

- Não Bianca! Eu queria a amizade dela, mas ela me negou isso da pior forma, então agora eu vou tirar tudo o que ela tem!

Eu não entendia como ele tinha chego naquela conclusão. Pelo pouco que soube, nunca vi ou ouvi Ludmilla o tratar mal, mas Rômulo sempre foi um tanto instável. Por diversas vezes havia se metido em brigas onde afirmava com toda certeza que foi provocado quando na verdade quem começava era ele. Explodia com muita facilidade e algumas vezes já foi agressivo até mesmo comigo. Mas ele não era de todo ruim, quando queria era carinhoso e atencioso, ao menos comigo.

- Romi, amor, me ouve - Me aproximo dele segurando suavemente seu rosto e tentando ser o mais cautelosa com as palavras. - Nós estamos falando da vida de alguém. Alguém que tem família, mãe, irmãos...

- Eu também tenho tudo isso, alguém pensou nisso quando me fez mal?

Seus olhos estavam frios, completamente negros, sua mandíbula travava e as palavras que dizia parecia mais facas afiadas.

- Romin...

- NÃO ME CHAMA ASSIM, PORRA! - Ele segura meus braços com força e os joga para o lado se afastado de mim. - Eu não sou mais uma criança! Meu nome é Rômulo, R-O-M-U-L-O!

- Okay, calma... Desculpa.

- Quer saber de uma coisa?! - Ele se vira e vai em direção a geladeira. Rômulo pega a garrafa de vodka e bebe em goladas generosas uma boa quantia do líquido. - Eu não preciso de uma ridícula feito você! Você quer ir embora? Hum? Ok... - Rômulo caminha até a porta e abre a mesma com raiva. - VAI! SAI DA MINHA CASA! Eu vou conseguir fazer esse plano acontecer com ou sem você.

- Rômulo por favor!

- Vai embora!

- Rômulo espera, vamos conversar amor..

- Vai emBORA! - Sua voz aumenta gradativamente - SAI DAQUI SUA VADIA ESTÚPIDA! - Ele vem em minha direção e segura meu braço com força me empurrando pra fora. - Você é como todos os outros! Me abandona quando mais preciso.

- Rômulo, não! - Eu não conseguia mais segurar o choro, ele se prepara para bater a porta em minha cara mas eu impeço abraçando-o - Por favor não! Não me manda embora!

- Me solta Bianca!

- NÃO! - Me agarro mais em seu pescoço.

- Vai embora... - Sua voz estava falha.

- Eu te ajudo!

Rômulo me encara curioso.

- O que?

- Eu te ajudo! Eu te ajudo com o que for! não me manda embora por favor, fica comigo!

Um sorriso quase imperceptível apareceu eu seus lábios mas logo ele voltou a fechar a cara.

- Mas? - Ele me encarava como se já esperasse a resposta. - O que você quer?

Respirei fundo o soltando e enxugando as lágrimas, nos encaramos frente a frente.

- Eu vou te ajudar, mas em troca eu quero que se case comigo. - Meu tom de voz era firme. - Quero que seja meu!

Ele pareceu hesitar por um instante. Rômulo fechou a porta atrás de mim e se aproximou mais encostando nossos corpos.

- Okay. - Ele diz sem desviar o olhar. - Eu me caso com você... Mas depois de concluirmos o plano.

Eu apenas assenti hipnotizada por seu olhar tão penetrante.

- Okay...

Era um pacto e ele me fez ter certeza disso quando me segurou firme no colo me dando impulso para subir nele. Eu entrelacei minhas pernas em sua cintura e Rômulo me beijou forte e rápido caminhando em direção a cama e me jogando sobre ela com toda força que tinha.

- Eu vou ser seu, mas você ja é minha!

Foram suas últimas palavras antes dele arrancar minha calça numa velocidade extrema me fazendo quase cair da cama.

E aqui estou eu.

Nos últimos anos minha vida tem sido essa loucura. Eu tenho que me dividir em duas para poder dar conta de tudo. A vida ao lado de Ludmilla era até agradável. Eu tinha todas as regalias que podeia ter, frequentava lugares caros e da alta sociedade ao lado dela. Ia à bailes beneficentes, jantares de confraternizações e eventos importantes. Eu confesso que adorava essa parte, me sentia alguém importante. Por diversas vezes já saí em capas de revistas tanto sozinha quanto acompanhada de Ludmilla e eu achava aquilo o máximo.

Apesar de ser difícil, nunca falhei. Lud nunca havia percebido absolutamente nada do que eu fazia. Ela confiava em mim de uma forma absirda. Claro que penei muito pra conseguir isso já que ela sempre foi desconfiada ao extremo com qualquer pessoa que tentava entrar em sua vida. Ludmilla sempre teve uma redoma de aço gigantesca em volta de si.  Eu usufruía dessa confiança para poder ajudar Rômulo em tudo o que ele precisava. Rômulo e eu nos conhecíamos desde sempre, mas somente na época de adolescente que me apaixonei por ele. Eu o amava mais do que tudo e seria capaz de entregar minha vida pela dele. Eu me sentia mal por Ludmilla, com o tempo fui me apegando à ela. Ela me tratava bem, era difícil de se exaltar, carinhosa, e mesmo estando quase todo o tempo ocupada e distante, fazia questão de se fazer presente na relação. Apesar de sempre sentir que ela nunca se entregou de verdade à mim, eu poderia até dizer que ela me amava.

Entrei no quarto jogando minha bolsa em cima da cama e tirando o vestido que usava. Depois de um dia cheio como aquele eu precisava de um belo banho para relaxar. Fui em direção ao banheiro e liguei a torneira da banheira, prendi meu cabelo em um coque alto e tirei o resto da roupa que havia em meu corpo. Entrei na banheira sentindo a água morna instantaneamente relaxar cada músculo de meu corpo. Coloquei uma música ambiente para tocar e fechei os olhos apenas relaxando.

A vida que Ludmilla me proporcionava era muito boa, mas a minha não era completa. Eu queria proporcionar a mesma coisa para o homem que eu amava única e verdadeiramente, e já não me importava mais com o quê tinha que fazer para aquilo acontecer.

- O que você tanto pensa hein?!

Ouvi uma voz rouca e suave invadir meus ouvidos e dou um pequeno pulo agitando a água da banheira.

- Aí Ludmilla que susto! Quando você entrou aqui?

Ela me deu um largo sorriso, confesso que ele era lindo.

- Cheguei a pouco tempo, fiquei te olhando aí e te achei tão linda.. - Eu amava quanto ela me elogiava. - Posso entrar aí? To precisando relaxar também...

Sorri escorregando para o lado dando espaço para ela entrar.

- Claro, vem!

Lud sorriu e logo começou a se despir. Peça por peça, cada uma foi caindo ao chão lentamente até que finalmente seu corpo estava nu. Ludmilla tinha um corpo escultural, parecia ter sido feito sob medida. Eu amava o tom de sua pele e suas curvas tão acentuadas, mas apesar de tudo, observa-lo era a única coisa que me era permitida.

Ludmilla nunca me deixou toca-la. O mais longe que já cheguei foi em seus seios e por poucos segundos. E não era somente comigo, suas ex namoradas também nunca tiveram o prazer de toca-la de forma mais profunda. Lud não deixava de jeito nenhum. Eu não reclamava, apesar de ter sentido vontade algumas poucas vezes, não era muito o que eu gostava.

Ela entra vagarosamente na banheira se sentando ao meu lado. Aos poucos se acomoda me sentando entre suas pernas de costas para ela.

- Senti sua falta hoje, sabia?! - Lud começa uma leve massagem em meus ombros e beija meu pescoço. Eu apenas fecho os olhos apreciando a sensação que aquilo me causava.

- Sério?!

- Uhum. Me desculpa ter sido grosseira com você hoje cedo, eu tava tão atolada de coisa pra resolver e...

- Tá tudo bem amor! - Me viro para ela encarando-a - Não tem problema, eu entendo!

- Mesmo?!

- Mesmo!

- Você é tão maravilhosa...

Lud escorrega vagarosamente as mãos pelos meus braços até chegar em minhas mãos e entrelaça nossos dedos.

- Eu tava pensando, e seu eu te levasse pra jantar como um pedido de desculpas?

Me viro novamente para frente.

- Humm... Eu adoraria...

Lud solta meus dedos e arranha levemente minhas pernas dos joelhos até a virilha me fazendo soltar um leve gemido. Seus beijos por meu pescoço começam a ficar cada vez mais intensos.

- A gente pode dar um passeio pela cidade - Ela sussurrava em minha nuca me fazendo arrepiar completamente - Jantar em um ótimo lugar, e se você quiser, eu posso trazer a sobremesa pra casa. - Seu tom de voz era completamente maliocoso.

Deixo uma leve risada escapar e ela continua dançando com as mãos em meu corpo me fazendo remexer em seu colo.

- O que você acha? - Ela morde o lóbulo de minha orelha me fazendo arfar em um impulso

- Eu acho sua ideia incrível, amor!

Ludmilla desliza a mão direita pelo meu abdômen até chegar em meu sexo.

[...]

Ludmilla POV

Termino de me arrumar em frente ao grande espelho do closet. Eu estava usando uma calça pantalona preta e uma camiseta de gola rolê vermelha, no pé um coturno que era coberto pela barra da calça longa e algumas jóias prateadas, nada muito chamativo. Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e depois de um dia como o que eu tive, meu rosto estava livre de qualquer maquiagem.

O banho que tomei com Bianca foi realmente relaxante e a leve atividade que tivemos nele me fez ficar ainda mais leve.

- Vamos? - Ouço a voz de Bianca atrás e mim e a encaro. Não consigo segurar, meu queixo cai automaticamente.

- Uau! - Ela estava linda. Usava um vestido branco com um decote generoso. Salto alto e uma maquiagem leve com um batom vermelho sangue que combinava com a cor de deus cabelos.

Bianca não fazia muito meu estilo de mulher mas eu devo admitir, ela era uma mulher muito linda e extremamente sensual. Qualquer pessoa daria tudo para tê-la pelo menos por uma noite sequer.

- Gostou? - Ela me encarava com um sorriso descarado

- Eu amei! Você ta linda!

- Obrigado. - Disse somente e logo em seguida pegou sua bolsa para guardar o celular.

Eu me aproximo lentamente e seguro suas mãos com calma a fazendo me olhar novamente.

- É se a gente ficasse em casa e pedisse o jantar aqui mesmo? - Falei em um tom malicioso no qual ela entendia bem

Bianca sorri.

- E ter tido todo esse trabalho atoa?! Não mesmo! - Ela se vira batendo uma mexa de seu cabelo em meu rosto e eu apenas a observo se afastar. - Acho melhor tirar esse sorriso besta e irmos logo. Daqui a pouco o restaurante fecha.

- Sim senhora!

[...]

O caminho até o lugar foi calmo e tranquilo. Bianca e eu conversamos sobre algumas coisas do nosso dia, ela havia me contado que encontrou uma antiga amiga no shopping e as duas passaram boas horas conversando sobre a vida e colocando o papo em dia. Eu realmente gostava de saber que ela tinha uma vida além do nosso relacionamento.

Eu nunca fui muito de me relacionar, sempre prefiri a solidão pois achava que a vida assim seria melhor e mais fácil. Obviamente já havia me envolvido com algumas pessoas mas nada muito sério. Meu relacionamento com Bianca só havia engatado porque pegou no tranco. Rômulo, um antigo amigo nosso, havia sido o cupido que nos ajudou a ficar juntas, eu não tinha planos de levar aquilo adiante mas ele falou tão bem da garota que acabou me convencendo. Depois de algum tempo Rômulo sumiu, eu perdi o contato con ele e Bianca também. Aos poucos fomos nos aproximando, dando continuidade na relação e quando eu vi, já estava tempo demais com ela para simplesmente terminar.

Eu já era diretora geral de uma das filiais da empresa, já estava ficando um pouco mais velha e precisava passar uma imagem mais séria. Foi por isso que decidi pedir Bianca em casamento.

Minha família sempre foi contra nosso relacionamento. Meus irmãos nao gostavam muito de Bianca, Luane a tinha como inimiga declarada, Yuri até tentava ser educado e Marcos fugia dela como o diabo foge da cruz. Ele dizia que ela tinha uma áurea escura e uma energia muito pesada e sombria, eu não entendia muito bem o que aquilo queria dizer mas era o bastante para saber que ele não gostava dela.

Minha mãe sempre foi contra nosso namoro, o que era algo estranho porque ela nunca se mostrou contrária a minha vida desde que me assumi.

- Essa garota me é muito estranha Ludmilla. Ela não é do bem não, escuta sua mãe!

- Eu escuto mãe, mas você sempre tem algo contra alguém que eu me relaciono.

- Que mentira! Eu nunca tive nada contra seus romancezinhos, pelo contrário, sempre apioei você em relação a sua vida amorosa.

- Então porque não pode fazer isso agora ?

- Porque essa garota nao presta!

- Ai Silvana.

Ela se aproxima de mim e segura em meus ombros me fazendo olhar no fundo de seus olhos.

- Olha minha filha, eu nunca me meti na sua vida, sempe deixei você vive-la da sua forma e tentei ao máximo não atrapalhar suas escolhas e eu realmente espero que eu esteja errada, mas eu nao consigo gostar dessa garota! Ela tem algo estranho dentro dela, eu não sei o que é, mas eu sinto isso...

- Mãe...

- Mas apesar disso tudo, eu torço muito pela sua felicidade! Eu só quero que voce seja feliz, não importa como ou com quem!

Não pude conter o sorriso e a abracei com toda força que tinha. Ela riu e me abraçou de volta, carinhosa.

Depois daquele dia minha mãe e eu nunca mais conversamos sobre meu relacionamento com Bia, mas ela ainda assim não gostava dela, dava pra ver pelas suas atitudes. Mas apesar de tudo, o respeito de todos para com ela sempre prevaleceu.

Assim que chegamos no restaurante o gerente foi logo nos direcionando para nossa mesa de sempre. Eu era cliente regular daquele restaurante já que sempre quando tinha uma reunião de negócios fora da empresa, o escolhia. Bia também gostava, ela adorava a receptividade do chef que sempre caprichava nos pratos.

O garçom nos oferece o cardapio e logo que fazemos nosso pedido ele os leva de volta e sai.

- Você conseguiu terminar de escrever o parágrafo? - Bia diz segurando levemente minha mão chamando minha atenção para ela.

A encaro confusa por um momento mas logo me lembro.

- Ah sim... Consegui. Na verdade, consegui escrever mais que um parágrafo.

- Hum, que bom... Ao menos minha visita te serviu pra alguma coisa.

Bia sorri descontraída e eu devolvo o sorriso do mesmo jeito

- Devo admitir que sim.

- To atrapalhando alguma coisa aqui ?

Ouço uma voz conhecida e logo duas mãos magras e finas me tapam os olhos. Eu sorrio já sabendo de quem se tratava.

- Daiane!

Ela me solta e parece na minha frente sorrindo abertamente. Eu pisco os olhos algumas vezes me acostumando com a claridade novamente.

- Acertou viada!

Nos abraçamos brevemente e ela se senta ao meu lado.

- O que você tá fazendo aqui garota ?

- Eu é que te pergunto isso!

Daiane Oliveira era minha melhor amiga. Nos conhecíamos desde os tempos de escola, éramos tão grudadas que Daiane já fazia mais parte da minha família do que eu mesma. Com o tempo, conforme fomos ficando mais velhas seguimos a vida, eu assumi a empresa de minha mãe e Daiane se formou em direito e foi trabalhar junto com o pai logo depois abrindo seu próprio escritório de advocacia. Nós não nos encontrávamos com tanta frequência hoje em dia, mas quando acontecia, era como se o tempo nunca tivesse passado.

- Trouxe Bia pra jantar. - Falei apontando para a mulher emburrada em nossa frente.

- Ah... Você tá aqui... - Ela diz com certo desdém na voz - Oi Beatriz.

- Bianca!

- Uhum... - Daiane se vira novamente pra mim - Me conta, como estão as coisas? A empresa? Sua mãe? Seus irmãos? Sua vida?

Eu ri com a chuva de perguntas. Da última vez que falei com Daiane tinha acabado de assumir a empresa e ainda era meio solteira.

- Tá tudo ótimo! A empresa está ótima, cada dia melhor. Minha mãe casou, foi pras Maldivas com o marido, Luane se formou na faculdade, Yuri só tá crescendo...

- E o Marcos? Tá com aquele boy francês ainda? Qual era o nome dele mesmo? Cyroc!?

Não pude conter a gargalhada

- Cédric!

- Isso!

- Sim! Eles ainda estão juntos, inclusive, estão por aí viajando o mundo juntos!

- Meu Deus! - Ela oferece a taça assim que o garçom chega com o vinho.

- Pois é...

Bianca ligarreia do outro lado da mesa. Eu a encaro confusa e ela me encara de volta. Respiro fundo entendo seu recado.

- Er... E eu... Bom, eu vou me casar!

Daiane se engasga com o líquido e eu tento ajudá-la em vão. Ela me encara com os olhos arregalados enquanto recuperano fôlego. Àquela altura o restaurante inteiro nos encarava intrigado.

- V-voce o quê????

- Daiane se acalma! Meu Deus... Eu vou me casar!

- COMO ASSIM VOCÊ VAI SE CASAR???? - Ela altera o tom de voz se levantando fazendo com que novamente o restaurante inteiro nos observasse.

- Senta aí inferno! Deixa de fazer escândalo! - Eu a puxo de volta para a cadeira e ela me encara incrédula.

- Quem é você e o que fez com a minha amiga?

- Daiane...

- Ludmilla que loucura é essa??? Desde quando VOCÊ é do tipo que se amarra??

- Desde quando ela me conheceu!

A voz de Bianca surge fazendo com que sua presença fosse finalmente notada. As duas se encaravam como se fossem se engalfinhar a qualquer momento. A morena volta a me encarar com certo nojo no semblante.

- Você vai casar com ela????? Não tinha opção melhor não? - Ela sussurrou as últimas palavras em um tom mediano fazendo co que a ruiva nos escutasse

- Ludmilla você vai deixar ela falar assim de mim?

- Ludmilla você vai deixar ela falar assim de mim? - Daiane a imitou afinando o tom de voz. Bianca se irritou e saiu batendo a mão sobre a mesa e dizendo algumas palavras inaudíveis.

- Daiane!

- O que?

- Você precisa superar isso cara!

Daiane e Bianca nunca se deram bem. Assim como todas as outras pessoas que eram importantes pra mim, ela e Bia nunca se entenderam e eu nunca entendi o motivo daquilo. Da última vez que nos vimos, eu já estava com Bia mas não era nada sério. Daiane vivia tentando me fazer mudar de idéia em relação a ficar com a garota, mas eu sempre ignorava seus "alertas". algumas vezes cheguei a achar que ela fazia aquilo porquê queria Bianca para si, mesmo ela me jurando que não. De qualquer forma, hoje Bianca é minha noiva e futura esposa, e Day aceitando ou não, teria que respeitar.

- Bianca é minha noiva, não posso deixar você tratá-la assim.

- E eu sou melhor amiga.

- E daí?

- Ue, noiva ganha de melhor amiga?

Eu demoro um pouco na resposta e Daiane fecha a cara.

- Não acredito que você hesitou.

- Eu não hesitei...

- Ludmilla!

- Daiane para! Eu não hesitei! Só é difícil essa situação, vocês me colocam entre a cruz e a espada cara. Você é minha melhor amiga e eu te amo, mas a Bianca é minha noiva. As duas merecem respeito então por favor, tenta.

- Eu tento se ela tentar. - Ela diz crizando os braços feito uma criança birrenta.

- Obrigado...

- Mas eu espero que você ainda abra seus olhos antes que essa loucura se concretize!

Eu suspiro fundo me dando por vencida e vejo que Bianca já está voltando. Logo atrás dela o garçom vem trazendo nossos pedidos. Ela se senta e ele nos serve.

- Bom... - Daí diz se levantando - Eu vou deixar vocês aproveitarem o jantar romântico! com licença.

- Já vai tarde... - Bianca diz em um tom baixo porém audível.

Daiane me encara como quem dizia "você tá vendo isso né?" e eu apenas fecho os olhos e inspiro o máximo que pude.

- Foi bom ver você também, Belinha. - Ela diz com um sorriso falso nos lábios - Tchau Lud, se cuida. Eu te amo. - Ela se abaixa chegando perto do meu ouvido e sussurra só pra mim - E qualquer coisa que você precisar, qualquer coisa mesmo, me liga!

Daí me entrega seu cartão por debaixo da mesa aonde os olhos de Bia não alcançavam e se coloca em pé novamente me dando uma piscadea. Ela sorri falso para Bianca que lhe devolve o gesto e logo sai.

- Eu espero que dá próxima vez você me defenda das ofensas da sua amiguinha. É o mínimo que você pode fazer pela sua futura esposa!

Inspiro fundo inflando os pulmões e sorrio simpática.

- Sim senhora!

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