Contrariada

Los Angeles
25 de março, 5:42 PM.

Luane POV

Eu estava muito nervosa e extremamente ansiosa. Desde que minha mãe decidiu viajar o mundo com Renato a casa e tudo que acontece nela tem ficado sob a minha responsabilidade. Eu até consegui me virar bem, mas não contava com o fato de que dona Silvana não estaria aqui pro evento mais importante do ano.

Hoje seria a festa anual da Runway Magazine. Eu havia contratando uma cerimonialista e um buffet pra poder me ajudar a cuidar de tudo, afinal não tenho como dar conta de tudo sozinha. As coisas caminhavam maravilhosamente bem, do jeito que eu havia planejado, mas eu ainda não estava preparada para os acontecimentos que estavam prestes a ter naquele dia.

Minha mãe finalmente iria voltar da sua temporada de férias, Marcos iria se reunir conosco novamente depois de um ano e meio longe e Ludmilla estava vindo e traria sua noiva nojenta junto. Eu simplesmente não suportava aquela garota ridícula, mas pelo menos não iria precisar aguenta-la.

Dei as últimas coordenadas ao moço que tinha uma pilha de cadeiras sobre o carrinho até que meu celular toca. Meu coração se inundou de alegria assim que li o nome no visor.

- Hummm, veja só que milagre! - Disse atendendo a ligação. - A que devo a honra de uma ligação de vossa majestade?

- Aí Luane, deixa de ser boba garota. - Respondeu dando uma leve bufada. Eu poderia jurar que ela estava sorrindo. - Minha mãe já chegou em casa?

- Não, a nossa mãe ainda não chegou, por enquanto tem somente o pessoal do buffet e eu em casa.

- Cadê o Yuri?

- Foi na casa de um amigo. Você já está vindo?

- Estou. Acabei de chegar no aeroporto, só tô esperando um táxi e logo chegaremos aí.

Chegaremos. Me viro de costas para a porta e falo em um tom mais baixo.

- A água de salsicha tá com você?

Lud reprime a risada que eu sabia que ela queria soltar.

- Sim Luane, Bia veio comigo.

- E você vai trazer essa lambisgóia pra nossa casa?

- Sim, ela vai na festa comigo. - Lud respondia na maior calma o que me deixava mais irritada ainda.

- Ludmilla você vai mesmo infectar a minha casa linda com a presença desse bigato de goiaba?

Um breve silêncio se fez. Eu a chamei novamente, com certa pressa ela volta a falar.

- Sim Lulu, estamos chegando. Acabei de entrar no táxi, estamos a caminho.

- Ludmilla você trate de segurar essa garota bem longe de mim tá escutando? Se essa garota encostar em mim eu juro que...

- Claro Luane, já estamos indo sim.

- Ludmilla!

- Tchau...

- LUDMILLA!

- Eu também te amo!

Foram suas últimas palavras antes que ela desligasse na minha cara. Eu não conseguia me manter sã, só de lembrar daquela pata fanha desqualificada e sem noção meu sangue fervia, mas não iria deixar isso atrapalhar a festa.

Termino de checar os últimos detalhes e subo pro meu quarto afim de tomar um banho e me arrumar, eu precisava estar bem para receber os convidados.

[...]

Ludmilla POV

O caminho do aeroporto até a casa de minha mãe foi tranquilo. Bianca falava animada sobre o casamento, comentando todos os últimos detalhes e ajustes que faltavam para o grande dia que finalmente estava chegando.

Eu me sentia mal por não estar assim tão conectada e empolgada com isso tudo. Esse casamento acabou se tornando um estorvo pra mim assim que percebi o que ele realmente representava.

Eu gostava da companhia de Bianca, ela me fazia bem e já chegou a me ajudar em vários momentos, mas eu não sabia dizer se sentia algo a mais por ela. A verdade é que fui levando esse relacionamento fingindo que não era nada demais e quando percebi, já estava mergulhada até o pescoço nessa história.

Logo eu seria uma muher casada, o que me deixava um tanto desconfortável, mas tem certas coisas na vida que não dá pra fugir, não é mesmo?

Bianca estava absolutamente animada, assim como toda noiva estaria. Desde que a pedi em casamento seus planos sobre o grande dia começaram a surgir.

- Ludmilla, você tem certeza disso?

- Não. Mas é assim mesmo não? A gente sempre tem dúvidas até o momento que finalmente faz acontecer... Né?

Eu estava nervosa. Tudo parecia tão certo até aquele momento. Nós estávamos juntas a um ano e meio, nunca havíamos tido uma briga ou qualquer desentendimento. Bianca era uma ótima namorada, mas não poderia ser somente isso pro restu da vida. Nunca ouve um pedido oficial, mas conforme a coisa foi ficando cada vez mais séria ficou impossível terminar. Eu tentei algumas vezes mas sempre quando chegava o momento crucial de terminar, eu desistia. Foi então que percebi que era melhor encarar de frente toda essa situação e parar de querer fugir das minhas responsabilidades.

Eu havia comprado o anel, reservado o restaurante, marcado com Bianca de irmos jantar, estava tudo pronto, mas por algum motivo, algo dentro de mim gritava pra mudar de idéia. Meu corpo todo entrou em um estado de alerta e eu não conseguia relaxar de forma alguma, foi quando decidir chamar Daiane pra conversar e contei que pediria Bianca em casamento, ela surtou, óbvio. Tentou de todas as formas me convencer a desistir e eu até cheguei a ficar tentada com aquilo, mas já não dava mais pra voltar atrás.

- Eu não acho. Se você não tem certeza então não é pra ser!

A encaro por alguns segundos, eu tinha medo de Daiane estar certa.

- Senhora, o carro já está pronto.

O motorista avisa e sai logo em seguida. Eu não podia mais voltar atrás, não era certo. Respiro fundo puxando o máximo de oxigênio possível para os pulmões, eu estava muito nervosa.

- Você ainda pode desistir...

- Não. Eu vou fazer isso!

- Okay... Boa sorte, você vai precisar.

Saio de minha sala na mesma direção do homem que a pouco veio me avisar. Entro no carro e dou confirmação para finalmente podermos andar. A cada esquina dobrada a tensão parecia aumentar ainda mais.

Quando finalmente chegamos, saí do carro e fui em direção a entrada do restaurante, eu havia reservado uma mesa ao qual fui direcionada imediatamente.

[...]

O jantar havia sido incrível, como eu esperava. Bianca estava linda, como sempre. Nós conversamos sobre diversas coisas e a todo momento ela pareceu não fazer idéia do que iria acontecer no final da noite. Havíamos acabado nossa sobremesa e eu achei que finalmente seria a hora certa. Me aproximei de Bianca com certo cuidado, segurei sua mão olhando no fundo de seus olhos e comecei a falar algumas palavras que pra mim, pareciam ser completamente falsas.

Me esforcei ao máximo parar tentar transpassar sinceridade e ela parecia acreditar em tudo, mas algo dentro de mim estava absolutamente incomodado. No final do discurso, tirei do bolso de meu blazer a caixinha azul, abri lhe mostrando o anel, e fiz o pedido.

Os olhos de Bianca se encheram de lágrimas e ela encarava simultaneamente o anel, fitando meu rosto em seguida. Respondeu sem consegui dizer as palavras, eu deslizei a aliança em seu dedo lhe dando um beijo logo em seguida.

Voltamos pra casa naquela noite e comemoramos como mandava a regra. Na mesma semana eu convidei Bianca pra morar comigo. A sensação de que algo estava errado aumentou ainda mais e aquilo me incomodava, mas como sempre, apenas ignorei e segui fazendo aquilo que eu achava que seria o certo.

- Amor, você tá me ouvindo?

Encaro a mulher do meu lado que me fitava com um olhar confuso.

- Ah, sim... Claro.

- Tá tudo bem?

- Tá sim, amor. Só tô ansiosa pra chegar.

Ela sorri me dando um beijo rápido na bochecha. Trinta minutos depois finalmente chegamos. Tudo estava perfeitamente arrumado. Luane havia caprichado em todos os detalhes, como sempre.

Era tradição, todo ano minha mãe fazia questão de organizar uma festa para comemorar mais um ano da empresa e consequentemente o seu triunfo. Nos últimos anos quem tomava conta de tudo era Luane, já que a garota amava esse tipo de coisa.

Assim que chegamos os funcionários vieram ao nosso encontro nos ajudar com as bagagens. Apesar de ter se passado tanto tempo longe, aquela casa parecia a mesma de quando eu havia saído.

- Filha!? - Ouço uma voz conhecida e me viro para o lugar de onde ela vinha.

Vejo minha mãe sorridente vindo ao meu encontro de braços abertos.

- Mãe!

- Ah meu amor, que saudade! - Ela me abraça firme e eu retribuo da mesma forma.

Eu não via minha mãe a meses, nós conversamos por mensagem mas não era a mesma coisa. Ela estava linda, como sentpe.

Assim que me solta percebe Bianca logo atrás de mim.

- Ah, olá Bianca! Que bom que veio! - Minha mãe se inclina e cumprimenta a garota com um beijo rápido.

Apesar de não ir muito com acara dela, dona Silvana sabia tratar muito bem uma pessoa.

- Irmã! - Ouço a voz dos três que vinham correndo em minha direção feito uma pequena manada.

Me preparo para o impacto em vão, já que assim que seus corpos colidem com o meu, todos os quatro caímos no gramado rindo sem parar. Eu sentia muito falta desses momentos com minha familia.

- Ai meu deus Crianças, tomem cuidado!

- Deixa eles Silvana, isso é saudade.

Me levanto batendo a roupa afim de tirar partes do gramado que haviam ficado presos em mim e em seguida cumprimento Renato. Ele também estava muito bonito, como sempre extremamente elegante.

- Senti sua falta Lud! - Yuri não soltava minha cintura nem por um segundo.

- Também senti a sua pequeno!

Ficamos ali alguns minutos nos abraçando e conversando brevemente. Decido finalmente entrar pra tomar um banho e me arrumar, afinal, a festa já estava prestes a começar. Bianca me acompanhou sem dizer absolutamente nada. Tanto ela quanto minha família tinham um incomodo gigantesco ente eles, mas fingiam estar sempre em harmonia.

Tomei um banho rápido e logo fui me arrumar. Bianca fez o mesmo. Finalmente estávamos prontas para descer e nos juntar aos outros membros da casa.

[...]

A festa estava incrível, a comida era maravilhosa, Luane havia contratado uma banda para tocar e a noite estava perfeita com um céu tão estrelado que mais parecia uma fotografia. Minha mãe conversava com alguns sócios antigos, Luane estava com as amigas assim como Yuri. Eu não sabia aonde Bianca havia se metido mas também não sentia vontade de procurá-la.

- Como estão sendo seus últimos dias de liberdade?

Ouço a voz familiar soar atrás de mim e me viro com um sorriso enorme.

- Pensei que sua opinião sobre casamentos não fosse tão amarga.

- Não é. Mas depende da pessoa com quem você passará o resto da vida, não é mesmo?

Marcos diz apontando pra Bianca que estava em um lugar mais afastado. A mulher caminhava sem rumo em um círculo imaginário enquanto falava alguma coisa ao celular que lhe prendia a atenção. Aquela cena me fez ficar um pouco incomodada. Suspiro pesado puxando o máximo de oxigênio aos meus pulmões.

- O quê tanto pensa?

- Não sei, Marcos. Tudo isso é tão estranho.

- Se você tá se referindo ao fato de estar casando, realmente. É muito estranho ver Ludmilla Oliveira, assumido um compromisso desse.

Solto um riso confesso ao ouvir aquilo. Ele realmente tinha razão, nunca fui do tipo que se amarra, sempre fui livre, mas essa época já tinha passado.

- Responsabilidade, irmão. Esse é o nome.

- Graças a Deus eu não tenho mais que lidar com isso.

- Eu queria ter sido como você. Queria ter abdicado de tudo isso e ir viver uma vida simples, sem mais preocupações.

- Você nunca poderia fazer isso...

O encaro fingindo ofensa.

- Por que?

- Porque você é uma máquina Ludmilla. Você foi criada pra ser uma. Nossa mãe te ensinou a ser uma líder mesmo você já tendo nascido com o dom. Esse era o seu destino.

- Ai Marcos, esse papo de destino...

- Eu sei que você não acredita, mas ele existe. E as vezes ele pode nos surpreender.

Ele diz me dando uma piscada.

- Do que você tá falando?

Quando Marcos finalmente abre a boca pra dizer nossa mãe o chama.

- Depois terminamos essa conversa.

Ele sai me deixando sozinha novamente. Continuo observando Bianca que agora parecia agitada, ela não largava o celular um minuto sequer e aquilo já estava me irritando. Ela estava em uma festa, uma das mais importantes, custava ficar longe daquela merda de telefone?!

- Lud. - Luane toca meu braço com certo receio. - Podemos falar com você?

Ela e Daiane me encaravam apreensivas. Sorrio assentindo e sigo em direção às mulheres que andavam até a casa maior.

[...]

- Vocês deveriam cuidar menos da minha vida!

- E você deveria nos escutar mais!

- Nós somos suas amigas Ludmilla, só queremos o seu bem! - As duas me encaravam com um olhar indecifrável.

- Eu não consigo entender, qual o problema que vocês têm com ela? O que é que vocês têm contra a garota?

As duas se olham e logo votam a me encarar sem conseguir dizer uma palavra sequer.

- Não é bem um problema...

- É implicância! - Digo irritada me levantando com raiva. - Coisa de criança!

- Não é implicância! Desde quando essa garota entrou na sua vida ela tem te sugado, você tá cada vez mais distante da sua família por causa dela!

- É isso então? Ciúme?

- Lud por favor, nos ouça...

- Eu tô cansada de ouvir o mesmo discursinho manjado de vocês! A Bianca é minha noiva e nós vamos nos casar vocês querendo ou não! A escolha é minha e a vocês basta somente respeitar! 

Digo as últimas palavras saindo imediatamente do quarto e indo em direção às escadas. Era incrível como toda vez que nos encontrávamos a pauta das conversas sempre terminava da mesma forma. Eu já estava cansada das pessoas dizendo como eu deveria levar minha vida. Eu sou adulta o suficiente pra fazer minha próprias escolhas. Por que eles não podem apenas aceitar e me deixar vive-las em paz?

Silvana POV

Ouvi alguns gritos exaltados vindos do quarto de Luane que me deixaram um tanto assustada. Quando cheguei no corredor vi Ludmilla furiosa indo em direção ao primeiro andar da casa.

- O que é que tá acontecendo aqui ? - Entro no quarto da garota e percebo que ela e Dayane estão apreensivas e um tanto frustadas.

- Sua filha, teimosa como uma porta!

- Vocês brigaram ?

- Não tia, a gente só tava tentando conversar com ela sobre a tal noiva... - Fechos os olhos buscando o máximo de sabedoria dentro de mim e não pude evitar que um suspiro pesado saísse.

- Meninas vocês tem que parar com isso...

- Isso o quê mãe ?

- Essa mania de querer fazer a Ludmilla enxergar algo que ela não quer ver!

- Essa Bianca não presta!

- E você acha que é falando mal dela que vai conseguir convencê-la?

- Já é um bom começo...

- Não Luane, não é! Essa garota pode até não ser a certa pra Ludmilla, eu concordo com vocês, mas ainda assim, ela é a mulher que Lud escolheu pra viver. Nós podemos sim tentar abrir seus olhos mas não é criticando as escolhas dela que vamos conseguir.

- E o que a senhora sugere?

- Eu ainda não sei, mas vou pensar em algo...

- Então pensa logo, porque o casamento delas tá chegando e eu juro que se o juiz de paz perguntar se tem alguém contra o matrimônio eu grito igual sirene de ambulância!

- Você não seria capaz...

- Diz que duvida! - Encaro Luane que mantém firme a pose, era melhor não mexer com aquela garota.

- Pode deixar que eu vou pensar algo, por ora vocês deveriam ir dormir, o dia já foi cheio de emoções por hoje.

Digo saindo do quarto rumo às escadas, eu queria conversar com Ludmilla e tentar acalma-la, sabia bem como ela ficava quando esse assunto entrava em pauta e não poderia deixar que aquela situação piorasse como das últimas vezes.

O corredor era um tanto longo, meu quarto era o último, ao lado havia o de Luane e perto das escadas o quarto o de hóspedes. Percebi que a porta do quarto de hóspedes está aberta e uma claridade saía de dentro dele, o que era estranho pois todos os quarto estavam trancados naquela noite justamente por causa da festa. Me aproximo para fehca-lo até que ouço uma voz feminina já muito bem conhecida por mim.

"Eu a ouvi falando sobre com algumas pessoas."

"Não, agiu normalmente em todo momento."

"Eu não sei dizer..."

"Claro que não, não sou tão burra assim."

"Se depender de mim, ela nunca vai descobrir."

"Eu não vejo a hora de dar certo logo."

"Tá bom. Tchau. Eu te amo."

Após aquelas últimas palavras um breve silêncio se fez até que ouço alguns passos em minha direção e logo trator de disfarçar.

A porta se abre e a mulher sai de lá a trancando e logo guardando a chave consigo. Ela caminha de cabeça baixa encarando o chão até que bate de frente comigo.

- Oh, Silvana. - A garota fica mais pálida do que o normal assim que me reconhece. - Me desculpe. Não te vi, tava distraída.

- Tudo bem, não tem problema. Você tá bem? Parece preocupada.

- Ah, sim... - Ela evita de todas as formas manter o contato visual. - Têm mesmo algumas coisas que não saem da minha cabeça...

- Posso saber o quê?

- Ah... Coisas do trabalho, não se aborreça com isso...

- Ah, eu não me aborreco não. - Bianca permenace me encarando sem graça.

- A senhora viu a Ludmilla?

- Não, não a vi depois da festa.

- Ah sim... Bom acho melhor eu procurá-la então.

- Certo. Faça isso. - Ela sorri amarelo e logo trata de ir para longe de mim.

Era incrível como aquela garota conseguia ser sonsa quando queria. Desço as escadas atrás de Ludmilla e a vejo na varanda lateral, ela estava escorada no pilar de gesso olhando para o horizonte. Me aproximo e vejo ela soltar uma nuvem de fumaça, Lud estava fumando o que me deixava um tanto preocupada. Não era comum vê-la fazendo isso, já que só fumava quando estava muito estressada.

Me aproximo dela e digo ainda encarando suas costas.

- Gostou tanto assim do vestido a ponto de não querer tirá-lo? - Lud me encara e sorri sem humor.

- Oi mãe, eu já tava indo tirar. - Estendo a mão pedindo um trago do cigarro e ela me encara com um sorriso simpático.

Lud me passa o cigarro, dou um longo trago e então prendo a fumaça em meus pulmões sentindo cada músculo relaxar instantaneamente. Já fazia um bom tempo que eu não fazia aquilo, havia até me esquecido da sensação relaxante que causava.

- A senhora veio aqui pra falar mal da Bianca também? - Ludmilla diz em um tom cansando.

Eu apenas observo o horizonte junto a ela e devolvo o cigarro.

- Não, não tenho porque falar mal dela. - Ela me encara mas eu evito seu olhar e continuo firme olhando para a grande imensidão negra que o céu se encontrava naquela noite.

- Eu não consigo entender o que é que todos tem contra ela. Não consigo entender por que não conseguem aceitar o fato de que é com ela que estou e vou permacer.

- Você a ama? - Meu tom de voz saiu tão grave que até eu me assustei.

Ludmilla me encara confusa e eu a encaro de volta olhando no fundo de seus olhos.

- O que?

Aquela pergunta realmente pareceu mexer com ela de uma forma que eu não imaginava.

- Você ama a Bianca? - Ela permanece imóvel me encarando por aluns instantes.

- Que tipo de pergunta é essa?

- O tipo que se faz pra alguém que está prestes a se casar.

- Ai mãe não começa...

- Ludmilla, veja bem, eu sempre te respeitei, respeito sua vida, suas escolhas e principalmente suas namoradas. Mas hoje ela já não é mais uma delas, essa garota se tornou sua noiva você está prestes a dar um passo gigante e muito importante na vida. Eu não digo que amo essa garota e que gostaria de tê-la em todos os cafés da manhã, mas nós conseguimos ter uma convivência agradável, ficar com ela foi escolha sua e eu consigo respeitar isso mas minha filha... - Dou um passo a frente e segura sua mãos com todo carinho. - Mas você precisa saber se esse casamento está acontecendo pelo motivo certo ou não! Você precisa saber se você a ama de verdade!

- Que diferença isso faz?

- Toda! - Ela bufa e solta minha mão dando de costas.

- Minha filha...

- Nós estamos juntas a 3 anos! - Ela para e se vira pra mim, seu olhar era indecifrável mas seu tom relevava a frustração. - Não dá mais pra voltar atrás, eu já fui longe demais.

- Sempre dá pra voltar atrás.

- Dessa vez não.

- Não pense assim filha...

- Mãe, eu já tomei minha decisão! É com ela que eu estou e é com ela que eu vou ficar, ponto final. Vocês querendo ou não isso vai acontecer, eu só realmente espero não perder seu apoio por conta disso.

- Você não vai.

- Muito obrigado. - Ela diz dando meia volta e subindo novamente.

Ludmilla sempre foi dona de uma teimosia única, seria difícil lhe mostrar que aquela decisão não era a certa mas eu não iria desistir.

Ludmilla POV

Entro no quarto e percebo que Bianca já estava dormindo. Tiro aquele vestido que já estava me apertando e os sapatos que simplesmente detonaram meus pés e vou pro banheiro, eu precisava se um banho e de uma bela noite se sono. Toda aquela conversa com as meninas e minha mãe tinha me deixado com uma dor de cabeça gigantesca. O fato delas me tratarem feito criança me deixava ainda mais irritada. Eu já era uma mulher adulta que sabia muito bem tomar as próprias decisões, não conseguia entender porque elas não aceitavam isso de uma vez.

Termino meu banho e me enrolo na toalha, passo a mão no espelho embaçado e me encaro por alguns instantes.

- Não é implicância! Desde quando essa garota entrou na sua vida ela tem te sugado

- Você a ama Bianca?

- Que tipo de pergunta é essa?

- O tipo que se faz pra alguém que está prestes a se casar. Você está prestes a dar um passo gigante e muito importante na vida. Você precisa saber se esse casamento está acontecendo pelo motivo certo ou não! Você precisa saber se você a ama de verdade.

- Não dá mais pra voltar atrás, eu já fui longe demais.

- Sempre dá pra voltar atrás.

- Depende da pessoa com quem você passará o resto da vida.

Maneio com a cabeça tentando anular aqueles últimos pensamentos. Esse não era o momento certo para dúvidas, tudo já tinha isso longe demais e não dava pra simplesmente desistir e jogar tudo pro ar. Eu tinha assumido um compromisso e precisava honra-lo.

Saio do banheiro voltando para o quarto e me visto logo em seguida. Coloco um conjunto simples de cetim e me deito na cama embaixo do endredom quente. Deito de costas para Bianca encarando o nada, aquelas palavras não paravam de martelar em minha cabeça. Sinto a mulher me entrelaçando com seu braço e solto um suspiro pesado.

- Pensei que não viria pra cama.

Sua voz estava sonolenta. Eu apenas faço um leve carinho em sua mão.

- Já essa tou aqui, meu bem. Vamos dormir ok?!

- Uhum.

Logo sua respiração volta a ficar pesada e eu percebi que ela já havia dormido novamente, ao contrário de mim que continuava com a cabeça cheia. Tudo parecia tão certo e ao mesmo tempo tão errado. Eu queria poder entender o que realmente estava acontecendo.

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