Brasil

- Brunna? - Ouço uma voz me chamar ao fundo mas me recuso a atender. - Brunna, acorda!

Alguém me sacode e eu levo um susto. Me sento na cama em um pulo e demoro pra entender o que se passava.

- Ai Larissa, que merda. - Passo a mão na testa tentando me acalmar. - Que é que tu quer?

- Eu quero falar da doida que tá dormindo no nosso sofá.

- Ai, de novo isso. - Reviro os olhos me levantando da cama.

- Sim! De novo! Brunna pelo amor de Deus! - Ela me segue até o banheiro.

Começo a fazer minha higiene e nem assim tenho paz.

- Tu conhece a mina na rua, ela fala que não tem lugar pra dormir e tu trás ela pra dentro de casa?

- Sim.

- Não Brunna! Porra, o que tu tem tá cabeça cara? Nem conhece a mulher!

- Ela também não me conhece. Ela confiou em mim sabendo só meu nome. Eu só fiz o que deveria ter feito.

- Trazer uma sem teto pra dentro de casa?

- Ela não é sem teto Larissa. Eu já disse, ela veio dos Estados Unidos, tava na casa de uma prima de uma amiga mas teve que sair. Eu só quis ajudar e pronto.

- Isso não faz sentido. Ela vem dos Estados Unidos e não tem dinheiro nem pra merda de um hotel?

- Ai eu não sei! Não perguntei sobre a conta bancária dela.

- Brunna, eu acho melhor você tomar cuidado com essa mulher.

- Tá bom Larissa, eu já ouvi. Agora posso cagar em paz?

Ela faz cara de nojo e sai do banheiro fechando a porta.

Larissa sabia ser insuportável quando queria. Ela tinha um instinto materno que chegava a ser sufocante. Ela e eu éramos melhores amigas desde a época do colégio. Depois que terminei o ensino médio quis dar uma de independente. Arrumei um emprego, saí da casa dos meus pais e aluguei a casa que vivo hoje. Quando soube, Lari não quis me deixar sozinha e acabou fazendo o mesmo. Renatinho veio por último. Ele era meu vizinho no meu antigo bairro e nossas mães eram bem amigas. Lari sempre nos defendeu e cuidou de nós com o maior amor e carinho do mundo, mas as vezes esse amor todo sufocava.

Termino de escovar os dentes e saio do banheiro. Volto pro quarto afim de pegar minhas coisas e levo um susto com Ludmilla parada ali.

- Oi! Você acordou, bom dia.

- Sim, bom dia. - Sua voz agora estava um pouco mais rouca do que normal o que me deu um leve arrepio.

- Dormiu bem?

- Mais ou menos... Minhas costas doem.

Não consigo evitar rir.

- Consequências de dormir no sofá. Desculpa não te acordar, não queria atrapalhar seu sono.

- Tudo bem. Mas na próxima me acorde, por favor.

- Pode deixar.

Saio do quarto e volto pro banheiro afim de tomar meu banho.

Ludmilla POV

Eu tinha certeza que as dores nas costas que aquele sofá me deu iriam durar o final de semana inteiro. Pego minhas coisas e me dirijo ao banheiro de baixo, eu e Brunna parecíamos ser as únicas a estarem acordadas na casa.

Saio do banheiro e sinto um cheiro já conhecido.

- Uh, isso é cheiro de... - Paraliso ao ver Larissa na cozinha. Ela me olha de cima a baixo com o cenho franzido.

- Café?

Pisco algumas vezes e sinto meu rosto corar.

- Sim...

- Senta aí, vamo conversar.

- Cadê a Brunna?

- Tá se arrumando.

Ela oferece a cadeira e eu me sento. Larissa aproxima uma xícara e a preenche até a metade. Faço um sinal agradecendo e bebo o líquido logo em seguida sentindo minha garganta esquentar.

- Então... - Ela começa. - Estados Unidos, ahn?!

Engulo a seco.

- Sim.

- Hum... Brunna disse que você é empresária.

- Sou.

- Me diz uma coisa, como uma empresária gringa, feito você, vem pro Brasil e não tem nem lugar pra ficar?

Respiro fundo inflando os pulmões.

- É uma longa história...

- Eu tenho todo o tempo do mundo.

Por um momento me deixei pensar o quanto ela parecia arrogante.

- Eu entendo a sua preocupação, mas você não precisa desconfiar de mim.

- Ah não?

- Não. Não quero fazer mal a ninguém aqui, só estou tentando retomar o controle da minha vida.

- Você o perdeu em algum momento?

- Eu não quero falar disso.

- Você não quer falar sobre nada, não é mesmo!?

- Sim, e se você pudesse respeitar isso, eu agradeceria.

- Veja bem Ludmilla, você está na minha casa. A minha amiga pode até ser ingênua o bastante pra acreditar em sua historinha mal contada, mas eu não!

- Brunna não foi ingênua ao acreditar em mim.

- Claro que foi! Brunna é boa demais pra esse mundo. A prova disso é que te ajudou sem nem pensar duas vezes mesmo sem nem saber quem você é.

- Eu nunca a coloria risco. Não quero fazer mal a ela.

- É, tá bom. Pode até ser, mas saiba de uma coisa. - Ela se levanta e vem em minha direção. Seus olhos não se desviavam dos meus em momento algum. - Se eu descobrir que você ao menos pensou em fazer alguma maldade pra ela...

- Larissa!

Nós duas olhamos em direção de onde vinha a voz. Brunna estava parada na entrada da cozinha logo atrás de nós, seus braços estavam cruzados e sua feição não era nada boa.

- Posso saber que palhaçada é essa?

- Só tô conversando com a sua amiga.

- Não, você tava ameaçando ela!

- Brunna...

- Eu não sou ingênua Larissa. Ao contrário do que você pensa eu sei muito bem me virar sozinha. E como eu já tinha dito antes, Ludmilla não é uma pessoa ruim.

- Você não pode ter tanta certeza disso.

- Mas tenho! Vê se deixa a gente em paz.

Brunna caminha até nós e me puxa pela mão, confesso que ela era bem mais forte do que imaginei.

- Vem, Lud.

Sigo a garota para o quarto.

- Eu odeio essa mania dela de me tratar feito criança, que saco!

- Ela só quer cuidar de você.

- Mas ela não precisa ameaçar ninguém pra isso. Qual é, me poupe. Se você fosse fazer alguma coisa já teria feito na primeira oportunidade.

Ela não estava errada.

- Calma Brunna, ela só quer ter certeza de que você vai ficar bem.

A garota rosna e se senta bruscamente na cama.

- Eu acho melhor procurar outro lugar pra ficar. Talvez um hotel...

- Não! Cê tá louca?

- Brunna, isso não vai dar certo. Sua amiga já está desconfiada e sinceramente? Eu não quero causar nenhum incômodo.

- Lud...

- Eu não quero te causar problemas.

Ela suspira, vencida.

- Pelo menos me deixa te ajudar então. Conheço alguns lugares aqui perto.

Sorrio devido a sua preocupação, Brunna era a pessoa mais gentil que já conheci.

- Tudo bem, eu adoraria.

[...]

10 de junho de 2017.

7:18 PM.

Depois de rodar o bairro todo e um pouco além, ainda não havia conseguido achar um lugar para ficar. Parecia que todos os pequenos hotéis e pousadas daquela região estavam ocupadas o que confesso, era um pouco estranho demais.

Durante o tempo em que procurei, Brunna não me deixou sozinha um minuto sequer. Era ela quem conversava com as pessoas donas dos locais em que fomos. A garota estava tão frustada quanto eu.

Chegamos em casa esgotadas, sentia minhas pernas tremerem, nunca havia andado tanto em minha vida e todas aquelas ruas ingrimes só dificultavam ainda mais.

- Eu tô moída. - Brunna diz se jogando no sofá.

Me sento ao seu lado, eu não estava muito diferente.

- Nunca achei que fosse tão difícil encontrar um lugar.

- Nem eu! Menina, nem quando eu fui procurar casa pra morar tava tão difícil assim. Credo.

Deixo um leve riso escapar. Durante os poucos dias em que estivemos juntas Brunna e eu havíamos criado um laço. Conversamos muito sobre a vida, principalmente a dela. Descobri que a garota sempre foi apaixonada por dança mas acabou desistindo de seguir a profissão. Assim que se formou se sentiu obrigada a buscar sua liberdade e começar a montar a própria vida e não mediu esforços para fazer, já havia trabalhado com uma dúzia de coisas sendo vendedora de loja de roupas até caixa de supermercado. Brunna gostava do trabalho em que estava, apesar dos horários nada flexíveis ela se divertia com as histórias que seus clientes lhe contavam e chegou a admitir, a vida noturna que a cidade lhe proporcionava era bem interessante.

- Argh, eu ainda tenho que trabalhar hoje...

Olho no relógio.

- É melhor ir se arrumar, já está quase na hora.

- Tem razão. - A garota solta um leve gemido ao se desencostar do sofá. - Pareço uma velha, meu Deus!

Quando Brunna fez menção de se levantar Renatinho entrou com tudo escancarando a porta e entrando pela sala.

- Brunna! Tu não vai acreditar!

Ela arregala os olhos devido ao susto.

- O quê?

- Tu ficou sabendo da Joyce? - Ela maneia com a cabeça negando. Renatinho senta ao seu lado com uma expressão animada. - Fiquei sabendo que ela tá grávida.

- De novo?

- Sim! E adivinha quem é o pai!

Ela se vira para ele.

- Quem? - Seu tom de voz estava mais animado do que o normal.

- Adivinha!

Ela parece pensar por um instante.

- NÃO!

- SIM!

- MENTIRA!

- VERDADE!

- O RUAN?

- ELE MESMO!

Os dois se levantam gritando e pulando como se tivessem ganho algum tipo de prêmio. Toda aquela cena me fez rir mesmo não sabendo do que se tratava. Os dois param de gritar e voltam a se sentar no sofá.

- Eu sabia que ela tava com ele, aquela safada nunca me enganou! 

- Nunca enganou ninguém né minha filha?! - Renato estava levemente ofegante. - Agora não vai ter como esconder mais.

- Ai, eu sinto pena da Brenda. Não merecia isso.

- Ih minha filha, quem tem pena é galinha. Ela sabia muito bem no que tava se metendo quando se envolveu com aquele macho.

- Ai, agora além de corna é madrasta.

- Que nada menina, fiquei sabendo que ela desceu o cacete nele e se mandou. Levou as coisa dela tudo.

- Eu não faria menos.

- Eu também não.

Após um breve silêncio eu pigarreio, os dois me olham como se lembrassem que eu estava ali.

- Joyce era uma menina que estudava com a gente. - Brunna começa. 

- Ela era piranhona.

- Na época da escola ela vivia terminando e voltando com esse Ruan né, mas daí os dois se separaram real e seguiram a vida, ele começou a namorar com a Brenda e ela ficava com uns doido por aí.

- Até que apareceu grávida.

Era engraçada a forma como os dois se alternavam.

- Nisso a criança nasceu a cara do Ruan, mas ele negou até a morte. A Brenda fez a maluca e seguiu com ele. Mas daí agora...

- Joyce apareceu grávida do filho dele e a outra descobriu que foi traída? - Minha frase saiu mais como uma afirmação que qualquer outra coisa.

- Pegou rápido o babado, né nega?!

Renatinho diz sorrindo e eu devolvo o gesto.

- Ai, a conversa tá boa, mas eu preciso me arrumar. Alguém nessa casa precisa trabalhar, não é mesmo?!

Nós dois encaramos Brunna e ela cora levemente.

- Tô falando do Renatinho.

- Ei! Eu trabalho sim.

- Ficar jogando candy crush enquanto sua mãe atende os clientes não é trabalhar.

- Oh garota!

Ela mostra a língua para o rapaz e sobe logo em seguida. Renato se aproxima de mim escorregando pelo sofá.

- E aí, conseguiram achar um lugar pra você ficar?

- Não. - Meu tom era de total frustração.

- Ai nega, eu ainda acho que você deveria ficar com a gente. Já tá até fofocando junto, af.

Sorrio para o rapaz.

- Eu bem que gostaria, mas não quero causar desconforto pra Larissa.

- Ah não liga pra ela não, Larissa é uma rabugenta. Nada agrada aquela lá...

- Ela é tão difícil assim?

- Difícil é apelido! Só uma foda violenta pra desestressar aquela garota.

Uma gargalhada alta sai sem que eu ao menos perceba e ele me acompanha. Renato era uma comédia.

- Mas sério, pensa melhor, fica aqui. Mesmo que a Lari não vai muito com tua cara, eu e Brunna gostamos de você. E nós somos a maioria.

Assinto para o rapaz que me oferece um sorriso amigo. Ele se levanta e sobe em direção ao quarto. Deito minha cabeça no encosto do sofá pensando em suas últimas palavras, se eu não encontrasse logo um lugar para ficar eu teria que seguir o que ele havia me dito. Mesmo que a contragosto.

Sinto um leve toque em meu ombro e abro os olhos lentamente.

- Oi, bela adormecida.

Me endireito no sofá ouvindo alguns de meus ossos estalarem.

- Eu dormi?

- Sim. - Brunna solta um riso nasal.

Percebo que a garota já estava pronta vestindo seu uniforme.

- Nossa, eu realmente dormi. Você já está de saída?

- Já, só vim te acordar pra tu não ficar com dor de novo.

- Obrigado.

- Magina. Tem comida na geladeira, mas se quiser pode fazer um lanche. Não me espere acordada. - Ela sorri e me dá um beijo na bochecha saindo logo em seguida.

Me levanto e subo indo direto pro banheiro, eu precisava de um banho e algumas horas de sono pra me recompor do dia de hoje.

[...]

Acordo com o toque estridente do celular. Aquele som já estava me irritando.

Antes de vir ao Brasil tive que deixar meu celular antigo com Daiane e ela me deu um novo com um número diferente, seu contato era o único que eu tinha, logo deduzi que era ela quem me ligava.

- Alô?! - Minha voz soou mais grossa do que eu imaginava.

- Finalmente hein, princesa?! Já é a sétima vez que ligo. Tava dormindo até essa hora?

Afasto o celular da orelha e olho no visor. Já eram três da tarde e haviam sete ligações perdidas.

- Sim, você me acordou. O que aconteceu?

- Quem diria, a empresária toda certinha acordando tarde desse jeito. - Ela diz soltando um leve riso. - Tô ligando pra dizer que deu certo! Sua conta finalmente foi destravada e você pode usufruir do seu belo dinheirinho.

Aquela frase saiu como música para os meus ouvidos.

- Obrigado, Day. Te devo uma.

- Uma vida né?!

Não consigo evitar de rir, ela estava certa.

- E aí, como tem sido com a Érica? Ela tem te tratado bem? Você não deu em cima da minha prima não, né?

A duas últimas semanas foram tão corridas que não tive tempo de falar com Daiane. Ela não sabia que precisei sair da casa de Érica nem que estava procurando um lugar pra ficar depois de encontrar Brunna.

- Ah, sobre isso... Eu precisei sair de lá.

- O quê? Como assim? Por que? Onde você tá?

- É uma longa história, o marido dela ficou incomodado comigo lá e precisei sair. Acabei encontrando uma garota e ela me levou pra casa, estou hospedada aqui a alguns dias mas já vou precisar sair de novo. Porém ainda não encontrei nada...

- Espera, uma garota?

Era incrível como depois de explicar tudo, aquela tenha sido a única parte que Daiane havia escutado.

- Que garota é essa? Ela é bonita? Como assim ela te levou pra casa dela? Vocês transaram?

- Daiane...

A porta se abre e Brunna me encara surpresa.

- Acordou! Bom dia!

Sorrio em resposta para ela.

- Ludmilla, quem é? É a garota? Nossa, se ela for tão linda quanto a voz...

- Daiane, eu preciso ir agora.

- Espera!

- Quem é?

- Er, ninguém... Uma amiga.

- Ninguém? O sua puta eu salvei tua vida e você me chama de ninguém?

- Tchau Daiane.

- Ludmilla! Use proteção...

Finalmente encerro a chamada e inspiro o ar, Daiane conseguia me deixar doida. Abro os olhos e Brunna permanecia parada à minha frente me encarando curiosa.

- Então... - Ela se senta na cama. - Quem é Daiane?

- Minha melhor amiga.

- Ah... - Ela parecia surpresa. - Ok... Sobre o que falavam?

- Nada demais. - Desconverso me levantando da cama. - Acho melhor eu me arrumar se quiser achar um lugar pra ficar, já está tarde.

- Sobre isso. - Brunna chama minha atenção. - Você não precisa mais procurar.

- Não? Por que? Você encontrou algo?

- Sim.

- Sério? - Fecho a porta e me aproximo dela, animada. - Onde?

- Aqui!

Meu sorriso morre em milésimos.

- Não entendo.

- Eu conversei com a Lari ontem, contei pra ela o esforço que você tá fazendo pra não deixar ela incomodada e ela acabou se convencendo de que não era preciso nada disso. No fim acabou concordando em te deixar ficar.

Eu não sabia o que pensar sobre aquilo.

- Ela me deixou ficar?

- Sim! - Brunna diz se levantando, a garota tinha um olhar esperançoso. - Não é maravilhoso?

- Sim... Eu acho.

- Claro que é! Assim você pode ficar aqui, podemos continuar juntas e você não vai precisar ir pra um lugar onde não conhece ninguém. É ótimo!

- É... É sim...

Percebo o sorriso da garota morrer aos poucos enquanto ela se afasta.

- Então por que tá com essa cara de quem comeu e não gostou?

Coço a cabeça preocupada.

- Eu não sei... Ela não gosta de mim, não queria causar desconforto.

- Ela não tem que gostar de nada, Lud. Você não causa desconforto em ninguém, Larissa nem aqui fica direito. Não se preocupa com isso.

Ela volta a se aproximar e pega uma de minhas mãos me oferecendo um sorriso amigável. Seu simples toque me passou a tranquilidade que eu precisava.

- Bom, já que ela realmente concordou, acho que não tem problema ficar...

- Isso!

Brunna da um pulinho alegre e me abraça.

- Claro que não vai ter problema!

Seguro levemente sua cintura e respiro fundo sentindo o aroma refrescante de seu shampoo. Realmente seria ótimo ficar em um lugar aonde eu tinha alguém para chamar de amiga, pois foi isso que Brunna se tornou. Ela se afasta levemente e nós nos encaramos. Seu olhos brilhavam de uma forma linda, seu sorriso era doce, reconfortante. Não consigo evitar de sorrir em troca e permanecemos assim por alguns instantes. Ela ainda tinha os braços em volta de meu pescoço e eu ainda a segurava pela cintura de forma firme porém delicada.

Brunna migra os olhos dos meus para minha minha boca e sinto meu corpo gelar com o gesto. Nós nunca havíamos ficado tão próximas assim. Em um impulso irracional começo a me aproximar mais e sinto ela suspirar levemente até que a porta se abre.

- Oh Brunna você viu...

Nos afastamos bruscamente assim que a voz de Renatinho se faz presente no local. Ela se vira de costas e eu encaro o chão e logo depois o rapaz, sem jeito.

- Desculpa. - Ele segura o riso. - Não queria atrapalhar vocês...

- Atrapalhar?

- Não atrapalhou nada! - Brunna se vira de volta. - Eu só tava contando que ela pode ficar. A Lari deixou. - Seu tom era de puro constrangimento.

- Ah... Sei... - Renatinho ainda tinha o riso travado no rosto. - Então tá bom... Eu já vou indo então.

- É eu também! - Brunna diz passando por nós e sai do quarto em um flash.

Renato me encara com um sorriso sacana e eu dou de ombros sem graça.

- Só pra constar. - Ele olha para o lado de fora da porta e então sussurra. - Eu super apóio vocês.

- O que? Não! Nós só...

- Não precisa se explicar, eu não vi nada. - Ele pisca fazendo um sinal de zíper na boca e logo depois sai do quarto.

Eu me jogo na cama com as mãos no rosto e logo depois encaro o teto. O que aconteceu aqui?

[...]

12 de junho de 2017

1:47 AM.

Brunna POV

Depois daquele quase beijo entre Lud e eu fiquei o resto do dia ignorando ela e o que havia acontecido. Eu estava feliz de realmente poder ajudá-la e depois que consegui fazer Larissa aceitar Lud lá em casa, fiquei ainda mais animada.

Durante os dias em que procurávamos um lugar tivemos muito tempo pra conversar e nos conhecer melhor. Eu contei algumas coisas sobre a minha vida e ela também. Acabei descobrindo que Lud é uma ótima cantora mas ela não pôde seguir o sonho porque tinha que assumir os negócios da família. Ela era muito apegada a mãe, tinha três irmãos, um deles era adotado e seguia a linha good vibes. Lud sabia falar quatro línguas, inglês, espanhol, português e francês, o que confesso, me deixou bem impressionada, já que eu mal falava português.

Depois de passar um dia e meio ignorando a garota, cheguei a conclusão de que era bobeira ficar desse jeito, quer dizer, não é como se nós realmente fôssemos nós beijar naquele dia, não é mesmo?

Já que agora ela iria morar lá em casa oficialmente, eu não queria causar nenhum tipo de desconforto a ela. Lud se mostrou interessada em ajudar a pagar o aluguel e até deu sua parte, o que foi estranho, já que quando chegou lá em casa, no primeiro dia, ela mal tinha dinheiro pra comer direito, mas também não queria fazer um interrogatório com a garota.

Lud pediu pra que Renatinho e eu mostrássemos a cidade, ela queria conhecer melhor o lugar onde iria morar. No começo ele não quis, já que tudo nessa cidade é longe e caro, mas assim que ela se dispôs a pagar pelo passeio e comida, a animação dele apareceu rapidinho.

Já tínhamos andando por uma boa parte dos pontos turísticos, era lindo ver os olhinhos de Lud brilhando observando tudo como uma criança curiosa. Havíamos mostrado Os Arcos da Lapa, indo para o Pão de Açúcar onde ela quase teve um piripaque andando de bondinho. Quando finalmente conseguimos chegar no Cristo Renatinho deitou no chão no meio de todo mundo tentando respirar causando uma crise de riso em mim e Lud. Ela tirou algumas fotos típicas e depois todos concordamos em ir comer, já que estavamos varados de fome.

Lud quis conhecer a praia, ela disse que sempre teve curiosidade de ir em uma praia brasileira poque sua avó sempre contava o quanto eram incríveis e diziam que as praias brasileiras eram as melhores.

Assim que chegamos Lud foi direto pro mar e eu conseguia ver a garota rir toda vez que uma onda a derrubava. Renatinho estava estirado na areia tomando sol enquanto eu comia um espetinho de camarão.

Depois de tanto levar caldo, Lud finalemente se rendeu e decidiu voltar para onde estávamos. Ela saiu do mar com um sorriso enorme enquanto tentava tirar o excesso de água do cabelo.

Eu não conseguia prestar atenção em mais nada assim que coloquei meus olhos nela. Lud havia comprado um biquíni branco que realçava ainda mais sua pele negra. Ela caminhava em minha direção, o sol estridente refletia sobre seu corpo molhado deixando com um brilho surreal, eu nunca havia reparado em como o corpo dela era tão lindo e em como suas curvas eram tão acentuadas. Lud tinha algumas tatuagens espalhadas pelo corpo, o que a deixava ainda mais sexy. De todas, três eram minhas favoritas, o diamante que ela tinha na cintura no lado direito, a frase de uma música também na cintura mas no lado esquerdo e o desenho entre os seios.

Mas o corpo não era o único atrativo de Ludmilla, seus olhos eram intensos, seu sorriso era tão lindo que me deixava desconcertada e sua voz... Ah, sua voz rouca era a minha perdição. Eu adorava acoda-la só pra ouvir seu "bom dia" com aquele timbre grave. Ela tinha uma mania quase irritante de me deixar vidrada.

- Tá escorrendo um pouquinho aqui ó. - Renatinho passa o dedo no canto da minha boca.

- Escorrendo o que?

- A baba.

Dou um tapa no braço dele e o ridículo ri da minha cara.

- Eu não tô babando, idiota.

- Tu tá secando tanto a garota que daqui a pouco ela some, se liga Brunna.

Encaro Renato que tinha um sorriso idiota e malicioso no rosto. Ele olha pra Ludmilla que ficava cada vez mais próxima.

- Ela é linda, né.

Volto a olhar pra mulher que assim que nos avista, sorri e acena. Senti meu coração errar uma batida e sorrio de volta.

- Demais.

- Se eu fosse você, investia.

- Investir no quê, garoto? Eu hein.

- Você acha que eu não sei que tá afim dela?

Renatinho me encarava com um olhar sugestivo.

- Não sei do que ce tá falando.

- Ah Brunna, me erra. Se eu não tivesse entrado naquela quarto vocês teriam se pegado com força.

- Claro que não!

- Atá Brunna Gonçalves! Você não me engana!

- Vai tomar no...

- A água tá uma delícia! - Lud diz se sentando do meu lado.

- Igual a você, nega. Não é Brunna?!

Fuzilo o idiota com o olhar enquanto ele dava um sorriso sacana.

- Vocês deveriam entrar, sério.

- Ai eu acho que vou mesmo. - Renato levanta e corre em direção ao mar.

- Olha isso, parece uma gazela.

A gargalhada dela invade meus ouvidos me fazendo rir também. Eu adorava quando conseguia fazer Lud sorrir.

- Você não vai entrar? Eu fico aqui olhando as coisas.

- Ah não, tô bem aqui.

- Ah pára né?! Vem, vamos! - Lud levanta e me puxa pela mão.

- Espera! E nossas coisas?

Ela continuava correndo me puxando em direção ao mar.

- Deixa lá, ninguém vai pegar.

- Ludmilla cê tá louca? Claro que vão! Espera!

- Vem Brunna!

Tento me soltar mas ela abraça por trás e continua correndo. Assim que sinto a água gelada bater em minhas pernas dou um grito.

- Lud espera!

- Vamo pro mar!

Ela gargalhava igual a mim enquanto me empurrava e eu tentava ir na direção contrária.

- Meu celular! Meu celular!

Ela finalmente percebe que eu tinha o aparelho nas mãos e para de me empurrar. Lud encosta sua cabeça em minha costas, ofegante. Sinto seu hálito batendo em minha pele enquanto eu ainda ria de toda a situação. Lud me segurava forte, me abraçando por trás. Eu segurava um de seus braços que estavam entrelaçados a mim.

- Você é doida!

Sinto ela sorrir e uma sensação boa me invade. Eu estava começando a gostar de ficar em seus braços.

- E você precisa parar de se preocupar tanto.

Ela me solta e me vira pra si. Lud ainda mantinha o sorriso que me deu a alguns instantes atrás, seus olhos brilhavam tanto quanto o sol. Era estranho meu coração estar tão acelerado mesmo depois de já ter me acalmado da corridinha que demos.

- Oh gente. - Renatinho me tira do transe. - Aquelas não são as nossas coisas?!

Ele aponta pra dois garotos que tinham pego nossas bolsas e agora corriam.

- Ai, merda! - Foi a última coisa que eu disse antes de sair correndo atrás dos meninos.

Ouvi Ludmilla e Renatinho vindo logo atrás de mim.

- Pega! Pega ladrão! - Renatinho gritava lá de trás.

Quando os meninos perceberam que estávamos perto largaram nossas coisas e correram mais rápido. Assim que cheguei perto peguei nossas bolsas e tentei recuperar o fôlego. Ouço a risada alta dela e olho pra trás, Lud estava com as mãos apoiadas no joelho enquanto Renato estava chegando perto de nós, quase morrendo.

- Tá rindo do que? Eles quase roubaram a gente!

Ela continuava rindo sem parar. Lud levanta e coloca a mão na barriga, Renatinho finalmente consegue chegar perto e se joga no chão.

- Des... Desculpa. - Ela tenta recuperar o fôlego. - Eu nunca tinha visto isso.

Renato tava com a cara vermelha, seu peito subia fortemente.

- Eu... Tô muito... Velho...

- Você tá é gordo, isso sim!

Pego minhas coisas e volto pro lugar aonde estávamos. Sento na toalha e começo a remexer nas bolsas pra ver se estava tudo ali. Lud não demora a se aproximar.

- Eles pegaram alguma coisa?

- Não sei! - Meu tom sai mais grosso do que poderia imaginar.

- Ei. - Ela segura uma das minhas mãos me fazendo encara-la. Lud tinha um olhar preocupado. - Me desculpa. Eu só queria que você fosse comigo.

Suspiro me dando por vencida. Não queria ficar mal com ela por causa daquele imprevisto.

- Tá tudo bem. - Foi a única coisa que consegui dizer.

Ela soltou minha mão eu fiquei um pouco chateada com a quebra do contato. Renatinho finalmente nos alcança e se senta ao nosso lado.

- Amanhã... Eu vou voltar pra academia!

Lud e eu rimos e ele se deita. Esse cara era uma figura.























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e essa interação das duas hein?

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