A Verdade
5 de Março
Rio de Janeiro, 8:02 AM
Ludmilla POV
Uma semana havia havia se passado desde que Brunna foi embora. Ela não deu mais as caras no trabalho, não respondia minhas mensagens, não atendia minhas ligações, nem nas redes sociais ela entrava mais. Aquilo já estava começando a me deixar agoniada.
Larissa, Renatinho e eu ficamos a esperando naquele dia até que decidimos ir a sua procura. Fui em todos os lugares possíveis com Renato enquanto Lari ficava em casa, caso Brunna aparecesse, mas nem sinal dela. Cheguei até ir na casa de seus pais, mas de acordo com Mia, ela não aparecia lá desde o natal. Voltei pra casa desolada. Eu queria ter tido a oportunidade de me explicar, contar a história toda pra ela, dessa vez sem esconder nada, mas Brunna a essa altura já me odiava, e com razão.
Depois do terceiro dia, simplesmente desisti de encontrá-la. Brunna deixou bem claro que não queria ser incomodada e não seria eu, quem iria contra sua decisão. Até que Larissa chegou em casa depois da faculdade ontem e me contou que se encontrou com Brunna por acaso. Ela disse que minha namorada estava arrasada comigo, que já não confiava mais em mim e que nem sabia se queria me ver ou não. Doeu ouvir tudo aquilo, mas eu já imaginava.
Brunna estava na casa dos pais e não pretendia voltar tão cedo. Ela havia pedido demissão em uma ligação com nosso chefe e estava decidida a ficar o mais longe possível de mim.
Depois de ouvir tudo aquilo eu não consegui mais ficar bem. O sono que já não estava dando muito o ar de sua graça decidiu ir embora de vez e eu fui obrigada a ficar na companhia da culpa e solidão. Eu olhava para as coisas de Brunna dentro daquele quarto e tudo só fazia piorar. Seu cheiro parecia estar ainda mais forte, como se ela estivesse presente ali. Não me atrevi a tocar em absolutamente nada, tinha medo de que quando ela voltasse isso pudesse ser motivo pra outra briga e essa era a última coisa que eu queria com ela.
Depois de um semana sem dormir e sem comer praticamente nada, afundada em um poço de tristeza, eu decidi mudar essa situação. Nunca gostei muito do papel de coitada. A verdade é que, eu sei que errei, errei muito feio, mas eu merecia uma segunda chance. Eu merecia pelo menos um momento pra poder me explicar. Eu não havia mentido, não havia a enganado nem a fiz de amante como ela imaginava. Eu estava com Brunna por quem ela é e tudo o que ela me fazia sentir, e era isso o que eu precisava dizer.
Mesmo sendo escorraçada e mandada embora. Mesmo que ela tentasse me matar, ela não seria a única, e sinceramente, valia a pena correr o risco dessa vez. Eu não iria me permitir perder a mulher que amo.
Passo pela sala me despedindo de Renato, que por incrível que pareça acordou cedo hoje e saí trancando o portão. O Uber já me esperava. Com muito custo consegui convencer Larissa a me passar o endereço dos pais de Brunna, já que eu havia me esquecido, e mesmo contrariada, ela resolveu me apoiar.
Depois que contei toda minha história pra ela, Lari teve uma longa conversa com Renatinho e logo depois comigo, ela finalmente havia me entendido e nosso laço ficou um pouco mais forte. E por mais que ela estivesse dividida entre me ajudar e respeitar a decisão de Brunna, sua vontade de nos ver juntas novamente era tão grande quanto a minha.
Entro no carro fechando a porta e assim que o motorista começa a andar, inspiro fundo todo o ar que meus pulmões conseguiam absorver.
Eu iria ter meu amor de volta, custe o que custar.
[...]
5:17 PM
Brunna POV
Eu estava extremamente cansada. Passei o dia todo entregando currículos no centro da cidade atrás de um emprego novo. Meus pais nunca me obrigaram a ajudar com as despesas da casa, mas depois de provar o gostinho da independência, eu não queria me sentir um peso pra eles.
Puxo a corda e o ônibus pára logo em seguida. Desço daquela lata de sardinha e ando mais alguns quilômetros atravessando a rua. Quando vou chegando perto de casa vejo ela ali, sentada na calçada. Meu sangue ferveu na hora. Qual parte do "não quero te ver" aquela idiota não entendeu?
Continuei caminhando e tentando ignorar sua presença, o que era praticamente impossível já que ela estava na frente do portão. Assim que me viu Ludmilla se levantou e abriu um sorriso lindo. Tentei não demonstrar o quanto aquele sorriso me deixou mole e continuei caminhando até ficar de frente pra ela.
- Oi Bru. - Aquele sorriso idiota continuava estampado em seu rosto.
- Pra você é Brunna. Tá fazendo o que aqui?
- Eu vim conversar com você.
- Não tenho nada pra falar contigo.
Desviei o olhar e passei por ela quase levando seu ombro junto mas ela segurou meu braço me virando pra si novamente.
- Você não precisa falar nada, só me escuta.
- Não.
- Amor, por favor...
- QUANTAS VEZES... - Olho ao redor e percebo que algumas pessoas já nos encaravam. Respiro fundo e volto a encara-la demonstrando todo meu ódio. - Eu já disse que não quero falar com você. Por favor, vai embora.
- Não! Você vai me ouvir, Brunna.
- O que te faz pensar que pode falar comigo desse jeito?! Cê tá louca? Eu não vou fazer nada.
- Vai sim!
- Ah é? Posso saber por que?
- Porque eu mereço ao menos uma segunda chance.
- Eu já te dei uma segunda chance, você teve a oportunidade de contar a verdade e preferiu esconder a parte mais importante da história.
- Brunna, não é nada do que você pensou.
- Eu não quero saber! Eu não tô nem aí pro que aconteceu ou não, Ludmilla. Eu só quero que você vá embora.
- Não! - Ela altera o tom e mais pessoas aparecem. Alguns vizinhos abriram os portões pra saber o que se passava. - Eu não saio daqui enquanto você não me ouvir. Fiquei esperando desde as 9 da manhã e posso continuar esperando quanto tempo for preciso, nem que eu tenha que voltar aqui todos os dias e fazer plantão.
- Você não seria capaz.
Ela da um passo ficando ainda mais próxima a ponto de nossas respirações se misturarem e me encarou com os olhos semi cerrados.
- Diz que duvida!
Eu pensei em gritar. Pensei em lhe bater, em brigar, pensei em fazer um escândalo no meio da rua e lhe expulsar a chutes, mas eu sabia que ludmilla era tão teimosa quanto eu e que não iria desistir. Sabia que mesmo a expulsando, ela voltaria no outro dia, e no outro e no outro. Era melhor não revidar.
- Você tem meia hora.
Falei lhe dando as costas e abrindo o portão. Dei passagem e assim que ela passou, encarei as pessoas que ainda nos observavam atentas.
- Vão caçar o que fazer, bando de fofoqueiros. - Gritei e bati o portão com toda força.
Entrei em casa e Ludmilla veio logo atrás de mim. Joguei a mochila em um canto qualquer e sentei no sofá dando espaço pra ela se sentar também. Assim que o fez, cruzei as pernas e a encarei.
- Pode começar.
Ela respira fundo e me encara de volta.
- A alguns anos atrás eu conheci um cara chamado Rômulo. Ele fez faculdade comigo e sempre fez parte do meu grupo de amigos, ou pelo menos tentava. Eu nunca dei muita bola pra ele porque nós não tínhamos tanta proximidade assim. Depois que me formei acabei perdendo um pouco o contato que tinha com ele e segui minha vida. Depois disso, acabei conhecendo uma mulher, Bianca.
- Sua esposa.
Ela torce a boca em reprovação ao escutar aquela palavra.
- Sim. Bianca também era da faculdade mas eu nunca havia visto ela lá. Por coincidência, estávamos numa galeria de arte em uma exposição de Rômulo e ele nos aproximou. Começamos a sair mas eu nunca quis algo sério com ela porque estava ocupada demais assumindo a empresa da família. Depois de muita insistência dele o namoro acabou engatando, eu fui empurrando com a barriga até que me vi obrigada a pedi-la em casamento porque estávamos tempo demais juntas pra simplesmente terminar.
- Oh, que pena de você.
Ludmilla travou o maxilar e respirou fundo mais uma vez.
- Depois do noivado o Rômulo sumiu, simplesmente desapareceu, eu não liguei muito porque não me importava muito com ele. Um mês antes do casamento acontecer eu cheguei em casa e peguei Bianca na cama me traindo com ele.
- E quis dar o troco fazendo o mesmo comigo?
- Posso terminar de falar?
Estreito os olhos e faço um sinal com a mão para ela prosseguir.
- Depois de vê-los juntos, acabei ouvindo uma conversa dos dois aonde Rômulo falava algo em relação a um plano pra tentar me matar. Eu saí de lá e corri até Daiane. Contei tudo e ela me ajudou a descobrir o que eles estavam tramando. Minha família e Dai nunca gostaram de Bianca e sempre me incentivaram a deixá-la mas eu não conseguia porque achava errado. Enfim, acabei descobrindo que Rômulo queria me matar logo depois do casamento. Tudo o que tinha seria passado pra Bianca e eles se casariam logo em seguida, ele assumiria a empresa e eu não estaria aqui pra atrapalhar suas vidas. Depois do casamento, logo na lua de mel, Bianca e eu fomos pra uma casa na praia que ela havia escolhido, assim que entrei na lancha pra dar um volta, ela explodiu, não sobrou um pedaço sequer e eu só não fui junto porque Daiane já sabia e foi me buscar no meio do mar. Ela comprou minha passagem pro Brasil e arrumou um lugar pra mim poder ficar. Foi quando cheguei aqui e fui pra Érica, mas não deu certo ficar lá, saí, encontrei você e bom, o resto você já sabe.
Eu estava perplexa. Aquela história era realmente muito boa, digna de roteiro de filme de ação. Apesar de não querer acreditar muito, Lud parecia estar sendo extremamente sincera.
- Acabou?
Ela franze o cenho, provavelmente por causa da minha frieza.
- Sim...
- Ok. Agora que já me contou sua história, já pode ir embora.
Me levanto do sofá e vou até a porta, abro e espero ela sair. Lud permanecia no mesmo lugar e me observava confusa e incrédula.
Ela se levanta e vai até a porta, mas pára virada pra mim
- Você não vai dizer nada?
- Sobre o que?
- Sobre tudo o que acabei de dizer.
- Você quer que eu diga o quê, Ludmilla? Oh meu deus, que bela história de superação você tem, foi enganada e chifrada pela esposa e um ex colega de faculdade e precisou fugir pra sobreviver. Você acha mesmo que eu vou acreditar nisso?
- Brunna, essa é a verdade!
- Não importa! Nada disso me importa mais, Ludmilla! Você escondeu tudo a primeira vez, mentiu na segunda e espera que eu acredite nesse enredo de filme de ação de quinta categoria?
- Mas eu não tô mentindo!
- Foda-se! - Ela se afasta e trinca o maxilar. - Você pisou na bola feio comigo. Eu te dei todas as chances pra ser sincera, você teve tempo e todas as oportunidades do mundo mas preferiu mentir e esconder.
- Pro seu bem!
- Ah, me poupe! Vai embora daqui!
- Se eu te contasse a verdade poderia te colocar em risco!
- Você não pensou nisso quando contou pro Renatinho!
Sua feição se desfez e ela relaxou os ombros.
- É diferente.
- Ah, jura? Por que?
- Porque pra minha família eu tô morta, Brunna! Pra minha mãe, meus irmãos, meu amigos, todos que já me conheceram uma vez, eu estou morta pra todos eles! Você sabe o que é isso? Sabe o que é ter consciência de que sua mãe tá numa depressão fudida quase se matando junto porque não aguenta sofrer a perda da filha? Sabe o que é ter seus irmãos tendo que juntar os pedaços pra poder seguir a vida? Sabe o que é estar viva mas não poder contar nem aparecer pra ninguém que você realmente ama? Você sabe o que é isso?
Cada palavra que saiu de sua boca me atingiu profundamente. Eu não havia pensando em sua família, na verdade, não pensei em nada do que ela ou até eu mesma disse.
- Não... - Meu tom fica mais ameno, menos agressivo.
- Pois é, eu sei. E quando eu estava mal por conta de tudo isso, o Renato apareceu e eu me abri pra ele porque precisava de um ombro amigo. Eu precisava de alguém pra desabafar porque aquilo estava me matando a cada dia mais.
- Por que não me procurou?
- Porque você tava ocupada com o Erick! - Suas palavras sairam com raiva. Somente agora percebi que Lud chorava a algum tempo. - Você tava ocupada demais com sua vida e eu não queria te dar mais problemas.
Respiro fundo fechando os olhos e soltando a maçaneta da porta. Aquilo tudo parecia um pesadelo sem fim.
- Mesmo assim, ludmilla. Você teve chances pra me dizer a verdade, teve oportunidades...
- Brunna, eu não queria ter que me lembrar de toda essa merda a cada vez que falasse com você! - Ela suspira e segura minha mão. - Quando as coisas entre nós começaram a acontecer eu comecei a enxergar um futuro de novo. Eu comecei a ter novas vontades, desejos e sentimentos que a muito tempo não tinha. Você me fez sentir tantas coisas novas e boas que eu não queria estragar isso. Não queria me lembrar de tudo o que me aconteceu a cada vez que te olhasse ou que ouvisse sua voz porque tudo isso ainda me dói, tudo ainda é uma cicatriz que não se fechou mas você me serviu de cura! Você era a única coisa que me fez esquecer os problemas e os momentos ruins. Você é o meu parâmetro de paz Brunna! Você é minha sorte!
Ela segurava minha mão entre as suas segurando forte contra seu peito enquanto algumas lágrimas grossas e pesadas rolavam por seu rosto. Eu não estava muito diferente, chorava igual.
Eu sentia tanto sua falta, sentia tanta saudade. Lud ficou duas semanas viajando e quando voltou mal ficamos juntas. Mais uma semana havia de passado e eu não tive notícia nenhuma dela. Eu estava morrendo de saudade de seu toque, seu beijo, seu cheiro. Saudade dela, por inteiro e até um pouco mais.
- Lud, eu... Não sei se posso confiar em você.
- Por favor! - Ela deixa um soluço escapar e corre uma das mãos por meu braço estendido. - Por favor, acredita em mim! Eu não tenho porque inventar isso!
- Eu não consigo!
- Tenta, Brunna! Por favor! - Seu choro começou a ficar cada vez mais forte. - Eu não posso ficar sem você! Eu não posso te perder, Brunna. Você não! Por favor!
Aquelas palavras me doíam. Eu queria poder jogar todo meu orgulho pro alto e voltar pra seus braços mas minha confiança estava terrivelmente destruída. Eu não sabia o que fazer pra recuperá-la
- Lud, vai embora por favor! - Eu sussurrava enquanto desviava o olhar.
- Não! Não me manda embora! Me ouve!
- Eu ouvi e agora preciso pensar. Mas não vou conseguir fazer isso com você aqui.
- Brunna...
- Vai embora! Por favor, vai embora!
Ela chorava cada vez mais e eu também. Nossas vozes mal eram ouvidas, já seus soluções pareciam cada vez mais forte e constantes e eram extremante altos.
- Acredita em mim!
- Eu quero muito. Mas não sei se devo.
- Eu vou te provar que sim.
Ela solta minha mão e da meia volta. Lud sai pela porta secando as lágrimas e eu vou atrás. Ela abre o portão e se vira pra mim novamente.
Não tive tempo ao menos de respirar quando Ludmilla segurou meu rosto e me beijou. Travei no começo, não soube o que fazer, se correspondia ou se não fazia nada. Acabei optando pela primeira opção e o beijo se fez calma porém urgente. Havia muta coisa naquele beijo, saudade, tristeza, sinceridade e um pedido surdo de confiança. Eu queria muito atender a esse pedido.
Lud me solta desfazendo o beijo e me encara. Seus olhos estavam negros e inchados e extremamente vermelhos.
Ficamos ali nos encarando por alguns instantes. Queríamos poder falar algo, mas as palavras nos fugiram da mente.
- Eu sei que é difícil, no seu lugar eu também não iria acreditar. Mas você me fez crer no amor de novo, você me mostrou um mundo inteiro que eu não conhecia. Eu não quero perder isso.
- Eu já disse que vou pensar.
Ela suspira vencida e abre o portão. Encaro seu corpo sumindo e o portão se fechando novamente. Entro na sala me jogando no sofá e me permitindo chorar de novo. Eu queria acreditar nela, queria voltar e ficar junto dela como estávamos antes de toda essa merda, mas pra isso acontecer, eu precisava me libertar de toda aquela mágoa.
[...]
Alguns dias depois...
A noite apenas começava e eu já tinha terminado meu turno no trabalho. Consegui arrumar um bico temporário em uma loja de roupas.
Hoje eu iria voltar a minha antiga casa afim de pegar o resto de minhas coisas. Larissa havia me levado algumas roupas já que eu iria somente passar alguns dias, mas decidi voltar pra casa dos meus pais de vez e precisava das minhas coisas lá.
Assim que cheguei tudo parecia incrivelmente quieto. Lari estava na faculdade e Renato provavelmente no bar da mãe fazendo qualquer coisa. Assim que entrei na sala meu coração se apertou.
Eu sentia falta da minha casa, das minhas coisas, dos meus amigos e principalmente, sentia falta de Ludmilla.
Subo as escadas aproveitando cada segundo já que aquela seria a última vez que faria aquilo. Me preparo antes de entrar no quarto mas assim que abro a porta, percebo que ela não estava ali.
Começo a arrumar minhas coisas imediatamente. Pego as peças de roupas que ainda estavam ali e vou colocando dentro da mala junto com outras coisas. Abro a gaveta do móvel que ficava ao lado da cama e pego alguns livros. Assim que os tiro de lá, vejo aquele objeto, bobo, porém extremamente significativo.
O anel de graveto de Lud havia feito quando me pediu em namoro continuava inteiro, intacto. Sem ao menos me pedir permissão minha mente começa a me lembrar de tudo o que havia acontecido naquele dia.
Lud conhecendo meus pais, ela e minha mãe conversando como se fossem amigas de anos, toda minha família reunida e fazendo questão que ela participasse de tudo e por fim, nosso momento na sacada do meu quarto. Nossa breve conversa e seu pedido. Eu realmente amava Ludmilla, mais do que já amei alguém, mas minha mágoa era tão grande quanto aquele amor.
Depois de tudo o que ela havia me contado eu pensei muito sobre tudo. Se realmente fosse verdade, o que parecia ser, ela tinha todos os motivos pra tentar esquecer toda aquela confusão. Quando a conheci, Ludmilla parecia ser uma pessoa extremamente séria. Isso foi o que mais me chamou atenção nela.
Eu entendia seu receio em me contar tudo aquilo mas ainda assim, não deixava de me sentir magoada.
Guardo o "anel" com cuidado na mala e continuo pegando mais algumas coisas até que a porta se abre e ela aparece.
- Brunna. - Ela diz com um sorriso enorme que desaparece assim que vê a mala em cima da cama. - O que tá fazendo?
Respiro fundo e volto a colocar minhas roupas ali.
- Tô me mudando.
- O quê? Por que?
- Porque eu vou voltar pra casa dos meus pais.
Eu não a encarava, não conseguia. Mas pude ver ela se aproximando.
- Brunna, por favor, não faz isso!
- Lud, não começa, por favor.
- Não! - Ela fecha minha mala e eu a encaro.
Que audácia.
- Por favor, não deixa tudo pior do que já está.
- Não sou eu quem está piorando as coisas.
- Quem então? Eu?
- Você tá fazendo as malas, pra ir embora!
- E?
- Você não pensou em nada do que eu te disse?
- Pensei, Ludmilla. - Abro a mala e volto a organiza-la. - Eu pensei muito, em tudo.
- E então?
- E então que não dá! - Volto a encara-la. - Não é tão fácil assim recuperar a confiança, sabe?!
- Sei sim. Eu sei bem disso.
- Ah é, e por quê?
- Porque eu acreditei que a mulher que estava me casando me amava até que a vi forjando minha morte! - Engulo em seco. - Acredite, Brunna. Eu sei bem o que é ser traída, enganada e ter sua confiança jogada no lixo, sei o quanto é difícil voltar a acreditar em algo depois de ter sido decepcionada, mas eu consegui.
- Mesmo? Por que?
- Porque você me ensinou isso.
Meu coração erra algumas batidas quando ouvi aquilo.
- Como assim?
- Brunna. - Ela se aproxima mais. - Eu cheguei aqui completamente magoada, com o ego ferido e confiança zero. Eu não acreditava nem no meu reflexo no espelho, mas quando te conheci isso mudou! Você me fez acreditar novamente na bondade do ser humano, me fez enxergar que ainda existe algo bom no mundo.
- Chega, Ludmilla.
- Você me fez acreditar no amor!
Permaneço imóvel. Não era como se eu quisesse parecer uma estátua, mas não conseguia raciocinar direito depois de ouvir aquilo.
- O que?
- Eu nunca acreditei muito em amor. Talvez porque nunca tivesse sentido. Eu amo minha família, meus amigos, mas nunca senti algo parecido com isso em um relacionamento, o máximo que eu tinha era carinho. Mas com você é diferente, Brunna.
- Para com isso. - Volto a mexer na mala, eu estava nervosa.
- Não! Você me fez enxergar coisas que eu nem sabia que existiam. Você me fez sentir coisas que nunca pensei que seria capaz.
- Chega!
- Brunna.
- Não!
- Eu te amo!
De repente tudo se tornou um silêncio denso. Eu estava trêmula, meu coração acelerado batia tão forte que podia ouvir em meus ouvidos. Eu não conseguia olhar pra ela.
Várias vezes me peguei imaginando como seria ouvir aquelas palavras saindo de sua boca mas nenhuma delas foi nesse contexto. Eu não queria assim, não agora. Não queria pensar que ela estava falando aquilo por conveniência. Deus, eu só queria que tudo isso fosse um pesadelo.
- Bru, por favor.
- Para de falar!
Finalmente consigo olhar em seus olhos. Ludmilla parecia extremamente indefesa, o que confesso, era engraçado. Ela, que sempre teve uma pose de imponência, agora estava praticamente encolhida.
- Você prometeu me dizer a verdade, sempre. Não importa o quão feia ou desagradável fosse.
- Eu sei, mas...
- Não! Não tem mas quando se trata da verdade, Ludmilla!
Fecho minha mala e a tiro de cima da cama. Quando dou o primeiro passo ela vai em direção a porta e a fecha, trancando logo em seguida e tirando a chave.
- O que pensa que tá fazendo?
- Você não vai sair daqui.
Respiro fundo tentando manter a calma.
- Ludmilla, me dá essa chave.
- Não! - Ela joga a chave dentro do short. - Se você quiser vai ter que pegar.
Eu não podia acreditar naquilo.
- Você só pode estar de brincadeira.
Ela da de ombros e cruza os braços.
- Ludmilla, me dá essa chave!
- Vem pegar.
- Nossa, muito adulto!
Ela permanece do mesmo jeito e eu me sento na cama tentando controlar minha vontade de voar em seu pescoço.
- Eu não acredito que você tá fazendo isso.
- Eu que não acredito, Brunna! Por que você não consegue me perdoar?
- Porque você estragou tudo! - Grito deixando toda a mágoa que ainda restava sair. - Você me enganou, sua escrota! Você mentiu, escondeu coisas não deveria! Você cagou com tudo, caralho!
Ela me observava com os olhos arregalados e eu tinha certeza que já estava vermelha de raiva.
- E o que mais? - Seu tom era calmo porém desafiador.
- O que mais? - Me levanto e começo a numerar. - Você me prometeu a verdade mentindo, me fez acreditar que era diferente quando não era, você me fez te amar quando a única coisa que merecia de mim era um pé na bunda! Você viajou sem me dizer quase nada e quando voltou, mentiu de novo quando perguntei o que tinha acontecido! Você é uma idiota, mentirosa, safada, cínica! Eu te odeio, Ludmilla!
Quando finalmente terminei pra respirar, notei que ela estava muito mais próxima do que deveria. Eu estava tão preocupada em dizer tudo que nem vi que Ludmilla caminhava até mim com um sorriso ridículo na cara.
Ela segurou delicadamente em meus braços me aproximando mais de si e eu não sei o que meu corpo tinha, mas não consegui negar.
- Tá rindo do quê, sua idiota?
- Você me odeia, Bru?
- Sim! Com todas as minhas forças!
Seu sorriso se alarga ainda mais e eu não conseguia entender, será que ela estava louca?
- E eu te amo!
- Você! - Solto um grito irritado e começo a socar seus braços, Ludmilla gargalhava alto o que me deixava com mais raiva ainda. - Você é uma ridícula! Uma sonsa! Idiota!
A cada soco, uma gargalhada ainda mais alta. Eu já estava ficando cansada e ela parecia nem se abalar. Quando me dei conta, já havia parado de bater e estava rindo junto.
- Para de rir, Ludmilla! É sério! - Nem eu conseguia me manter séria naquele momento.
- Brunna. - Ela segura em minha cintura e cola nossos corpos. Fecho os olhos ao sentir aquela aproximação. - Você não vê?
- Não tô vendo nada!
- Brunna, você não me odeia. - Abro os olhos lentamente e encaro aquela idiota maravilhosa. - Você me ama. E eu também amo você.
- Cala boca...
Ela ri de novo. Aquela gargalhada gostosa preenche o quarto.
- A gente se ama, Bru! - Lud me abraça mais ainda e me levanta do chão.
Me entrego àquele abraço. Ela tinha razão, eu não conseguia odiar aquela idiota com cara de amor de amor da minha vida. Lud me coloca no chão de novo e me beija. Deus, como eu sentia falta daquele beijo.
Ela fazia um carinho leve em minha nuca enquanto me puxava mais contra seu corpo. Depois de alguns minutos o beijo cessa, ela cola sua testa na minha e ficamos alguns instantes de olhos fechados apenas aproveitando o momento.
- Lud. - Digo depois de alguns segundos. - Eu preciso ir embora.
- Não, amor. Você não precisa. - Ela me encara sorrindo. - Me perdoa por ter escondido uma coisa tão séria dessas. Eu sei que não deveria ter mentido e acreditei que seria melhor assim, mas eu já entendi que não. Eu errei Bru, mas eu já aprendi. Por favor, ficar comigo, não vai embora.
Por mais que uma parte de mim gritava pra me soltar e ir embora sem nem olhar pra trás, a outra parte não conseguia se mexer. Eu não queria sair dali, não queria ficar sem ela. Não dava.
- Você sabe o quanto vai ter que penar pra me conquistar de novo?
Ela sorri.
- Já fiz isso uma vez, posso fazer quantas mais forem necessárias.
- Você é ridícula.
- Eu sei Brunna, e você me ama mesmo assim.
O que mais eu poderia dizer? Ela estava certa. Eu amo essa idiota.
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