Prólogo (Não revisado)
"Mantenha os seus amigos próximos,
e os seus inimigos mais ainda."
A Arte da Guerra - Sun Tsu.
Ricardo não pensava em nada, simplesmente dirigia pelas ruas da Barra da Tijuca. Ele estava completamente ao acaso, aproveitando o Sol do fim de tarde daquele sábado. Apesar de nada escapar do seu olhar observador, pouco lhe importava o que acontecia.
Esteve ausente do Rio de Janeiro por mais de dois anos, mas nem isso lhe trazia alegria no retorno à sua cidade natal. Não chegava a estar apático para a vida, contudo nada lhe despertava qualquer interesse. Naquele momento, virar para a direita ou esquerda era totalmente irrelevante. Parou no sinal e alguns banhistas atravessaram a avenida das Américas, pois apesar do fim do dia de inverno, estava bastante quente e ensolarado. Uma garota bonita passou bem à frente do seu carro e olhou-o direto nos olhos. Sorriu e continuou andando.
Nesse momento, o jovem mudou de ideia e virou para a esquerda de forma a pegar a ponte Lúcio Costa. Um carro freou e buzinou, fazendo a garota olhar para trás e alegrar-se por ver o belo Mustang vermelho rodar na sua direção, enquanto Ricardo fazia sinal com a mão para o carro de trás, pedindo desculpas.
A alegria da moça durou pouco, quando o veículo passou por ela acelerando, em vez de parar. Ricardo passou a ponte e entrou na avenida Lúcio Costa andando mais um pouco. O trânsito estava lento, pois era um dia excepcional e tinha tanto movimento quanto um dia de verão.
Milagrosamente deparou-se com uma vaga e estacionou o carro, descendo dele.
Parado à frente do Mustang, de pé, observava a praia, caminhando em direção ao Recreio dos Bandeirantes. Seu metro e noventa e quatro mais os cabelos bem loiros chamavam a atenção, fazendo com que muitos ambulantes pensassem que era estrangeiro e tentassem vender todo o tipo de quitutes, muitos deles de origem duvidosa e preços exorbitantes. Ele vestia uma camiseta verde escura, um tanto justa e que moldavam uma musculatura fenomenal, bermudas creme e um par de sandálias. Os olhos não eram visíveis, pois usava óculos escuros. Atravessou a rua para o calçadão e andou mais um pouco até parar num quiosque de beira de praia. Dali, parou para olhar um edifício a cerca de cem metros dali, talvez um pouco mais. Ao fim de poucos segundos, aproximou-se do quiosque e pediu uma água de coco. Notou que o atendente não era o seu velho conhecido e teve uma certa pena. Com a fruta na mão e bebendo pelo canudinho, caminhou devagar até perto da água. Permaneceu parado e em silêncio por cinco minutos até que tirou os óculos E disse:
– Oi, minha doce Jade. – Pendurou os óculos na gola da camiseta e continuou, após um gole. – Não sei falar com os mortos, porque até hoje apenas falava com os meus pais, mas agora também passarei a falar consigo. Foi neste barzinho que nos conhecemos e é mais do que justo que seja aqui que eu venha finalmente prestar as minhas homenagens após estes anos perdidos. Tudo o que eu mais desejava era estar ao seu lado, mas o destino não quis assim. Eu te prometo, meu amor que vou pegar esses assassinos e matá-los um por um. Quando não sobrar mais nenhum, darei um jeito de me juntar a você pela eternidade para contemplar novamente seus lindos olhos cor de jade. Agora, tudo o que eu desejo é pegá-los e matá-los no maior dos sofrimentos. Espero que você não me julgue por isso, pois você sabe muito bem que não aprovo violência, mas, neste caso, será uma grande exceção...
Ricardo continuou falando com a noiva durante bem quinze minutos. Quando se preparava para ir embora, disse, em meio a uma lágrima solitária.
– Sinto sua falta, Jade, mas agora é uma questão de tempo. Adeus, meu amor.
Deu um suspiro profundo e virou-se, descartando o coco na lixeira. Novamente no calçadão parou para olhar o prédio daquela que foi a sua noiva. Na janela do quinto andar havia uma rede de proteção para crianças. Obviamente ele imaginava que quase três anos depois o apartamento dela devia ter sido vendido. Da garagem, um carro preto apareceu e entrou na rua na direção oposta à sua. Tudo o que notou era a cadeirinha de bebê presa no banco de trás e pensou novamente na sua noiva e nos planos deles de terem um filho.
Apesar de não sentir fome, ele sabia que precisava de se alimentar e optou por um restaurante japonês que havia no Barra Shopping.
No carro pegou a rua e seguiu o eterno ritual de anda e para que tinha naqueles horários. Não havendo alternativa, fechou a janela e ligou o ar-condicionado, aumentando o volume do rádio. O percurso, apesar de relativamente curto, demorou quase uma hora e o shopping estava bem cheio, mas era tão grande que não se notava.
Foi direto para a praça de alimentação, escolhendo o restaurante japonês que ficava no segundo piso. Conseguiu um bom lugar sem dificuldades e fez o seu pedido, comendo sem prazer. Ele sempre gostou de comida oriental, e durante os últimos anos ao lado do Ishiro habituou-se ainda mais a comê-la, mas não tinha prazer nisso. Após tomar um café expresso, saiu a passear pelo shopping, pois não tinha a menor intenção de ir para a solidão da sua casa.
Andou ao acaso, notando que havia muita gente por ali, embora o shopping parecesse vazio, e pensava se ia passar na casa do Ishiro ou ia para a sua. Achou melhor não incomodar o seu mestre e amigo e fez a volta para pagar o estacionamento e ir embora.
Nesse momento, Ricardo ouviu uma voz conhecida. Era longínqua, muito baixa, mas ele conhecia aquela voz.
Mudou de rumo e foi atrás do dono dela quando virou uma esquina e deparou-se com algo que até tonto o deixou. Muito abalado, agarrou a parede e começou a respirar rápido.
Sem se conter, praticamente correu os poucos metros que o separavam da última pessoa que imaginou ser possível encontrar.
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