Capítulo 8 (não revisado)


Segunda-feira.

Um dia depois de ter visto o filho, Ricardo decidiu iniciar as suas investigações. A primeira suspeita que tinha era de um informante na inteligência, alguém que se vendeu para os corruptos que investigava, tal como Marcelo tinha avisado ao telefone. Por isso, todos os que estavam naquele prédio, quando saiu, eram suspeitos pois dissera em alto e bom som que ia tirar o resto do dia de folga, ou seja, era de conhecimento geral que ele estaria fora.

Nisso, apenas descartou duas pessoas: o chefe e a Lena. O chefe porque conhecia desde criança e era amigo dos pais, gostando tanto do Ricardo que o chamava de filho sempre que estavam a sós e lembrava-se do pai ter dito mais de uma vez que jamais vira homem tão íntegro. Já a Lena, era porque sabia que ela o amava muito. Era certo que até poderia desejar uma vingança, talvez, mas nunca lhe ocorreu tal hipótese devido ao seu comportamento. Lena era a sua parceira e companheira mais fiel que podia ter e sabia disso muito bem.

Precisava de informações deles e desejava contar-lhes que estava vivo, mas não os queria expôr. Lembrou-se do pen drive com os dados que pretendia quebrar com o auxílio do supercomputador e rezava para que a máquina ainda funcionasse. Entrou na sala de vidro e ligou a refrigeração, esperando pacientemente que o ambiente estivesse suficientemente gelada para então ligar o equipamento. Ao virar o interruptor, constatou aliviado que a máquina fenomenal ainda operava e estava inicializando.

Em uma estação de trabalho, selecionou o programa desejado e alimentou-o com os e-mails criptografados. O supercomputador, capaz de fazer centenas de bilhões de cálculos por segundo, começou a trabalhar, mas Ricardo sabia que isso ia levar horas ou até dias. Pegou um notebook de um pequeno armário ao lado da sua mesa de trabalho e, no seu carro preferido, foi sem qualquer pressa para a praia, estacionando perto do quiosque que tanto representava para si. Com uma cerveja na mão, dirigiu-se para o mar e falou com os pais por alguns minutos, sentando-se em seguida em uma mesa e ligando o computador. Fazia apenas anotações e procurou uma linha de raciocínio e de suspeitos. Em uma planilha, escrevia na coluna da esquerda os suspeitos que poderiam tê-lo apontado como alvo. Começou com a relação de todos os colegas e o segurança da casa, que era novo. Os empregados eram muito antigos e de confiança absoluta, pois a maior parte deles conhecia Ricardo desde bebê e chegaram a acompanhar a família quando esta foi para Porto Alegre por doze anos. Depois, acrescentou os quatro políticos que investigava por último e o Marcelo. Ele tinha ajudado muito o seu trabalho, mas também tinha apresentado um comportamento muito estranho. Na outra coluna, aqueles que poderiam desejar matar a Jade ou ter motivos para isso. Pensou nas funcionárias da loja, mas sabia que a noiva era adorada por todas e muito amiga da gerente. Deixou os nomes, mas catalogou como de baixa probabilidade. O único nome possível seria o Marcelo.

– "Mas e o motivo? Amor não é suficiente para matar, ou seria?" – refletia intensamente. – "Afinal, casou-se com ela!"

Retirou o seu nome da lista, descartando-o da condição de principal suspeito. Após, passou a relacionar, na sua opinião, os graus de probabilidade de cada um dos presentes na lista. Mal terminou isso, um par de mãos cobriu os seus olhos. Já sabia da presença dela há algum tempo; mas, gentilmente, fingiu que estava surpreso.

– Oi, Jade – disse, sentindo o coração acelerar com seu toque e mais ainda depois do beijo no rosto. O que desejava era tomá-la nos braços e apertá-la contra si, mas conteve-se, embora muito a custo. – Passeando novamente?

– Fui deixar o pequeno na creche e sempre passeio um pouco depois disso. Ele parece gostar muito de você, e o mais engraçado é que vocês são bastante parecidos. Você tem filhos?

– Fui privado desse prazer, Jade – respondeu com os olhos tristes.

– Sei, Marcelo disse que mataram a sua noiva no atentado. A vida de policial deve ser muito perigosa.

– Só quando se é traído, Jade, e na hora que eu descobrir quem foi o traidor nem Deus terá piedade dele. – "Que grande filho da puta" – pensou, zangado. – "Até isso ele inventou! Tudo bem que fosse apaixonado por ela, mas esse desgraçado não precisava de tantas mentiras. Ele terá de ser investigado, mesmo não sendo parte da rede criminosa..."

– Gosto muito quando me chama de Jade. Ninguém mais me chama assim. – Ela tinha os olhos brilhantes. – É agradável, esse nome.

– A sua mãe chamava você assim.

– Como sabe? – perguntou surpresa. – Marcelo nunca me disse isso!

– Esqueceu que já nos conhecíamos? Seu nome é Mariana Silva, gaúcha, mas veio morar no Rio aos dois anos. Quando tinha dezesseis, os seus pais morreram em um acidente de trânsito e você foi viver com sua tia-avó que morreu há aproximadamente cinco anos. Aos dezessete, ingressou em administração de empresas e formou-se antes dos vinte e um. Possui uma pequena rede de lojas de moda, cujo nome é Mariana Modas e a matriz fica no Shopping Tijuca. Você descobriu a paixão pela moda ainda na faculdade.

– Puxa vida, como nem o Marcelo falou tanto sobre mim?

– Deve perguntar isso para o seu marido. – Ele fecha a cara.

– Vocês eram muito amigos, não é verdade?

– Éramos como irmãos. Infelizmente ele mudou demais e estou revendo muitas coisas na minha vida, Jade. Desculpe se falo assim. Sei que é o seu marido, mas sou sempre franco. Perdoe-me.

– Eu sei, não precisa pedir perdão. – Por uns segundos, fechou o semblante. Depois, olhou para ele e suspirou, continuando. – Ele mudou tanto que às vezes penso em pedir o divórcio. O problema de não ter memória, André, é que ficamos sem saber muitas coisas, especialmente se elas são verdadeiras. A mim, nunca me pareceu que ele fosse o meu tipo de homem. Na verdade, só me casei com Marcelo porque achava que ia acabar me lembrando e por causa do nosso filho. Este casamento só me faz infeliz!

– Jade, você tem de pensar na sua vida e no seu filho. Tome as suas decisões baseadas no que é melhor para ambos. O sofrimento não é saudável, mas eu não a vou incentivar a se divorciar. Em breve, lembrar-se-á do passado. Tenho a certeza disso, que poderá ser a melhor coisa para você.

– Como sabe, André?

– Porque, neste momento e agora há pouco, você não me chamou de Ricardo, e ontem também.

– É verdade, desculpe. Não sei por que disse isso.

– Não tem problema, o meu nome é Ricardo André, mas quase ninguém me chama de André. Acho que você era a única pessoa que me chamava assim, Jade. Logo, está começando a lembrar.

– O meu filho é Ricardo André!

– Isso é realmente interessante. – Afirmou o delegado, exultante.

– O que o trouxe aqui?

– Este quiosque é muito especial para mim – explicou. – Conheci a minha noiva aqui.

– Sinto muito por vocês – disse, compadecida.

– Talvez um dia as coisas arranjem-se.

Conversaram bastante, sem se darem conta do tempo. Ela, fascinada com a presença daquele homem, sentia uma vontade imensa de ficar ao seu lado, de ser parte da vida dele, da mesma forma que Ricardo, mas ele sabia que não devia e precisava de se conter. Assim, apenas contentavam-se em conversar, em estar próximos um do outro e, quando notaram, Mariana precisava de ir buscar a criança na creche. Ele acompanhou-a, pois estar ao seu lado e do filho era o que mais desejava. Quando o garoto o viu correu para o colo do verdadeiro pai.

– Tio Ric – abraçou-o e Ricerdo sorriu. – Que bom que veio me ver.

– Que tal um sorvete antes de ir para casa?

– Podemos, mamãe?

– Claro, vamos todos – respondeu Mariana, satisfeita por ficar ali mais um pouco.

O pequenino escolheu um banana split, para alegria do Ricardo ao ver que o garoto ia demorar a comer aquela monstruosidade. Depois do sorvete, acompanhou Mariana e o filho até à portaria, despedindo-se deles e voltando para o carro.

Ao abrir a porta, pressentiu o perigo. Largou o notebook no banco de trás e, discretamente, pegou a espada que estava ao lado do assento do motorista e escutou pistolas serem engatilhados atrás dele. Virou-se lentamente com a arma branca na mão, ainda embainhada.

– Olha aí, mano, perdeu. O patrão mandou todo mundo ficar longe dessa mulher e isso inclui você.

Quatro homens ameaçadores apontavam as armas. Sem se intimidar Ricardo, afastou-se do carro para não correr o risco deste ser furado, pois amava demais o Mustang, que pertenceu ao pai e é um clássico.

– É mesmo, e o que pretendem fazer se eu não obedecer? – deu uma risada sarcástica. – Usar esses paus de fogo? Sabem, por acaso, quem eu sou?

– Não interessa quem é. Perdeu, mermão, tá sacando?

Outro acrescenta:

– Se chegar perto dela de novo, matamos você.

– Bah, cara, ninguém me ameaça muito menos nos meus direitos. – Ricardo pegou o telefone e discou um número.

– Desliga essa porra agora – gritou um deles. – Ou vamos atirar.

– Podem atirar... alô... – virou as costas e começou a caminhar devagar para se posicionar. Os seus sentidos estavam em total alerta, pois acreditava que os bandidos iam cumprir a promessa. Na sua linha de raciocínio, essa atitude do Marcelo, acabou de o colocar como suspeito número um da situação atual.

― ☼ ―

Mariana, cuja maternidade só a tornou mais bonita, foi à varanda tentar ver Ricardo uma última vez. Inclinou-se na balaustrada, forçando a rede de proteção para fora, e procurou localizá-lo.

Apavorada, viu Ricardo andando tranquilo com o telefone numa mão a algo parecido com um bastão na outra, mas o que a assustou mesmo eram os homens armados que o ameaçavam pelas costas e ele ia aparentemente despreocupado. Sem aviso prévio, atiraram e a pobre Mariana quase teve uma síncope ao ver Ricardo atirando-se para o lado, mas, ao contrário do que pensou inicialmente ele não caiu atingido pela bala e apenas o telefone voou para o chão. Ele moveu-se tão rápido avançando sobre os assassinos que os quatro erravam. Foi nesse momento que viu que ele tinha uma espada na mão e avançava brandindo-a furiosamente enquanto desviava dos tiros. Quando ficou ao alcance deles, decepou-lhes as mãos. Aos berros, os criminosos ficaram no chão contorcendo-se com os tocos esguichando sangue. Com muito cuidado, limpou a espada na camisa de um deles e pôs de volta na bainha para pegar no telefone e dizer algo. Após, fez uma segunda ligação e foi para o carro enquanto alguns transeuntes aproximavam-se para olhar os criminosos caídos. Abismada, Jade nem acreditava no que viu, pois ele era um fenômeno! Impressionada, olhava o carro vermelho saindo tranquilamente e indo embora.

― ☼ ―

Lena estava prestes a ir embora. Já tinha passado do horário e não havia quase ninguém na divisão dela. Sentia-se muito deprimida e pensava seriamente em pedir demissão do cargo. Ela nunca mais foi a mesma pessoa que era antes da morte do Ricardo, sempre alegre e bem-disposta.

Embora o chefe insistisse que ele só estaria morto depois de aparecer o corpo, já tinha perdido as esperanças há muito tempo. Em casa, à noite, chorava sozinha lembrando-se do homem que sempre amou tão profundamente. O seu departamento jamais abandonou as pesquisas para o localizar, embora sem ter atingido sucesso até ao momento. Naquela segunda-feira, estava sem vontade de ir para casa e sentia o peso da solidão com muita intensidade. Quando ia apagar a luz, o telefone tocou e decidiu atender, uma desculpa para ainda não sair para a solidão do seu recanto.

– Inteligência, Lena. – Ela ouviu um "alô" e depois o barulho do telefone cair, tiros e gritos, muitos gritos de dor e pedidos de socorro. Após, alguém pegou novamente o aparelho e disse:

– "Quero informar que quatro bandidos a soldo de um deputado federal, na Avenida Lúcio Costa e em frente ao quiosque do posto seis, dispararam armas contra um homem inocente. Infelizmente as mãos deles caíram misteriosamente. Parece que é uma nova epidemia e dizem que não tem cura. A morte é lenta, por hemorragia intensa. É melhor mandar uma ambulância ou morrem logo, pois seriam uma ótima fonte de informações."

Enquanto ouvia isso, a delegada começou a tremer muito pois aquela voz, aquela voz... ela jamais se esqueceria dela. Só podia ser ele. Era a voz dele!

– Ricardo, é você, meu amor?

Mas ele desligara. Por alguns segundos ficou ouvindo o sinal de ocupado do telefone. De soco, acionou a equipe e correu para a sala do chefe, que ainda estava lá.

– Chefe, ainda bem que está aí. Acabei de receber um telefonema denunciando uma tentativa de homicídio. São criminosos a soldo de um deputado federal.

– Isso é trabalho para a civil, mais precisamente a homicídios.

– Chefe, a ligação veio direto para a minha mesa. Não é qualquer um que sabe aquele número. E a voz... – ela ficou emocionada e chorou, tremendo bastante.

– Calma, Lena. A voz é de quem? – Indagou, olhando a bela garota que tanto mudou. O corpo, outrora bronzeado, estava pálido quase cor de leite, e os olhos cheios de olheiras, marcas da preocupação e tristeza, mas nem assim perdia a beleza.

– Do Ricardo, chefe. – Ele quase não entendeu pois estava agoniada, com dificuldade em falar corretamente. Lena sentia um nó na garganta que deixava sua voz chorosa, aguda e baixa. – Tenho a certeza, chefe, ele está vivo.

Ela começou a soluçar, descontrolada, e o superior levantou-se. Deu a volta à mesa e abraçou a moça.

– Calma, Lena, se foi mesmo ele e ligou para si, é para você saber que está vivo e provavelmente precisa de ficar escondido. Afinal, sofreu um atentado terrível. Se for realmente o McGiver, irá nos contatar em breve. Isso é sinal que confia em si e talvez desconfie que a inteligência esteja comprometida, da mesma forma que eu.

― ☼ ―

– Marcelo, é o Ricardo. Sugiro que penses duas vezes antes de mandares quatro marginais atirarem em mim, tchê.

– "Como assim, Ricardo, o que raio está havendo?"

– Eu vim para a praia relaxar. Bem sabes que o meu lugar preferido é o quiosque perto da vossa casa. Mariana apareceu, conversamos um pouco e aproveitei para ver o meu filho na saída da creche, trazendo-os para um sorvete. Quando me despedi deles e vim para o meu carro, quatro gorilas mandaram eu me afastar dela, senão iam atirar. Eu mandei-os à merda e eles atiraram.

– "Eu coloquei seguranças para protegê-la mas jamais imaginei que fossem atirar em alguém, Ricardo! Meu Deus do céu, que coisa mais maluca, cara. Sinto muito, mas nunca pensei que fossem fazer isso. As ordens deles eram proteger a Mari e não saírem atirando por aí."

– Bem, acho melhor contratares outros seguranças, pois estes perderam a mão para a coisa. Afinal, detesto que me ameacem, então agora eles tão levando um lero com o Criador. Cara, toma cuidado que isso é a maior chave de cadeia. Até mais, vejo vocês no sábado.

― ☼ ―

Uma viatura da federal estava por perto e eles chegaram antes da polícia civil. Havia bastante gente ali e dois dos homens caídos já estavam mortos pela hemorragia. Um dos agentes tentou salvar os outros, mas era tarde demais. Encontraram as mãos exatamente onde foram cortadas, quatro delas sem armas e quatro ainda presas às pistolas.

– Algum dos senhores sabe dizer o que aconteceu? – perguntaram para as pessoas.

– Eu vi tudo, senhor, mas não vai acreditar em mim.

– Conte, por favor – pediu o agente.

– Tinha um cara em um carrão vermelho, acho que era um Mustang... – Contou tudo ao agente, que o ouviu de olhos arregalados.

– Você disse que ele desviou dos tiros? Que é isso! Nem McGiver fazia tal coisa quando estava vivo!

– Ele desviou, policial – afirmou outro homem –, eu também vi.

O agente federal pegou uma lanterna e notou que o chão estava cheio de cápsulas deflagradas.

– "Quatro homens atiram em um sujeito quase à queima roupa e erram? Isso é muito esquisito!" – pensou.

Após tomar os depoimentos das testemunhas e fotografar tudo, viu a polícia civil chegar. Aproximou-se deles e conversaram um pouco, depois o agente chamou a equipe e retirou-se, deixando a civil cuidar do caso. Sabia que o chefe não ia gostar nada do relatório, mas eram os fatos.

― ☼ ―

Terça-feira.

De manhã bem cedo, o chefe da inteligência leu o relatório da denúncia e começou a achar que estava todo mundo doido quando o telefone tocou.

– Inteligência, Ferreira.

– "Oi, chefe, sou eu, Ricardo." – Ele empertigou-se, suspirou e encostou-se na cadeira.

– Como sei que isso não é um engodo? – perguntou, finalmente.

– "Chefe, chamo-me Ricardo André Godói, conhecido como McGiver e sou pentacampeão de Karatê da corporação. O senhor é amigo dos meus falecidos pais e ajudou-me a entrar aí. O seu nome é Otávio Ferreira e, até aos meus quinze anos, chamava o senhor de tio Távinho. Depois que entrei na corporação passei a chamá-lo de chefe." – As mãos do Ferreira começam a tremer e a boca abria, sem sair som algum. Ricardo continuou. – "O senhor vai tanto com a minha cara que me chama de filho quando estamos a sós. Serve? Posso acrescentar que você pensou que fui eu que matei os mandantes dos assassinos dos meus pais."

– É você mesmo? Está realmente vivo, ou eu estou sonhando?

– Fui salvo por um milagre, mas fiquei muito tempo em coma.

– Preciso de o ver, filho.

– Venha até à minha casa. Suspeito de infiltração aí.

– Estou indo agora.

Uma hora depois, ambos estavam frente a frente, na varanda da casa. Ao vê-lo e com lágrimas nos olhos, abraçou Ricardo, que retribuiu com satisfação pois tinha muito carinho pelo chefe, a quem devia muito.

– És mesmo tu, filho?

– Sou sim, tio.

– O que houve?

– Fomos atacados de forma tão surpreendente que eu não consegui nos salvar.

– Eu vi o vídeo. E depois?

– Fui salvo pelo mesmo homem que matou os mandantes do assassinato dos meus pais. Ele fazia tocaia no lugar onde iam me descartar. Resgatou-me e levou-me para um hospital. Fiquei em coma por três meses. Ele fez de tudo para me esconder. Quando voltei a mim, soube da morte dela e perdi a vontade de viver.

– Mas ela...

– Agora sei, só que os jornais noticiaram errado. Então o meu salvador convenceu-me a ter um objetivo na vida. Caçar e matar esses assassinos. E, é isso que comecei a fazer ontem.

– Filho. Quem é ele?

– O senhor o conhece muito bem: Ishiro Satori.

Com um assobio longo, sentou-se na cadeira.

– O ninja!

– Então sabia que ele é ninja?

– Somente eu, o seu pai e mais uma pessoa. Você foi ver a Mariana, não é? – questionou o chefe, assombrado com as notícias.

Ricardo contou tudo sobre o reencontro e Otávio arregalou os olhos.

– Você realmente desviou das balas?

– Atire em mim, tio.

– Por acaso bebeu, filho? – perguntou. Ricardo, que esperava essa conversa, estendeu-lhe uma arma.

Paint Ball. Pode atirar. – Ele ergueu a arma e atirou. Descarregou o pente, mas falhou miseravelmente.

– Então as testemunhas disseram a verdade. Você também se tornou um ninja!

– Sim – confirmou Ricardo. – Mestre Ishiro salvou-me e deu-me um objetivo na vida. Mas, agora que eu sei que ela está viva, tenho dois objetivos: vou matar todos eles e reconquistar a minha mulher. A minha vida sem ela é um saco vazio. Os criminosos de ontem trabalhavam para o Marcelo, mas não sei ainda como enquadrá-lo.

– Já sabemos disso. Marcelo vem sendo investigado desde a sua "morte" mas, sem sucesso algum – disse Otávio. – Eu mandei investigá-lo assim que ele casou. Aparentemente, continua limpo e apenas aproveitou-se da situação.

– Tio, prepare-se pois nem quero saber. Vou promover um banho de sangue nesta cidade e isso que aconteceu ontem foi só o começo. Pode ter certeza que ninguém vai morrer bonitinho e irão desejar a morte antes desta chegar. Outra coisa: há alguém na inteligência que coopera. Quando fui emboscado e atingido, alguém deve ter dito porque sabiam que eu tinha tirado o dia de folga. Vou-lhe mostrar um segredo que só a Mariana conhecia, venha.

Levou o chefe para o subsolo. Em uma sala, que mais parecia um cofre forte gigantesco, Otávio viu uma série de equipamentos que punham os que a inteligência tinha no chinelo. As estações de trabalho ultrapoderosas eram bastantes. Uma pequena sala com paredes de vidro, guardava o maior segredo daquele lugar.

– Onde diabo você conseguiu arrumar um Cray? – perguntou Ferreira, incrédulo.

– Comprei há uns anos. Custou-me alguns milhões de dólares, mas valeu a pena.

– Às vezes esqueço que você é bilionário.

– Tio, no dia do atentado trouxe uns dados para colocar nele, mas fazia tanto tempo que eu não tinha um descanso com a Jade que decidi realmente transformar aquela tarde em folga. Deixei para o dia seguinte. Infelizmente, aconteceu o que já sabe. Este computador está rodando há mais de um dia. Em breve, terei respostas, mas são dados de dois anos atrás.

– Do que precisa, meu filho?

– Quero ser reintegrado em segredo para legitimar os meus atos e quero todos os dados recolhidos nesse período para jogar aqui. Os nossos equipamentos da inteligência são incapazes, impotentes. A pessoa que elaborou a criptografia sabia os nossos métodos e limites. E quero que coloque estas pessoas na lista de suspeitos e os monitore.

– Mas isto é quase todo o mundo da inteligência! – afirmou.

– São todas as pessoas que estavam lá e sabiam para onde eu ia quando saí e fui baleado. Só não tem o seu nome e o da Lena. Em vocês, confio cegamente. Quem quer que seja o mandante, pretendo pegar por último pois o que ele me fez deverá ser retribuído à altura. Amanhã, vou começar a rastrear o passado de todo mundo, até do Marcelo, desde que saí do mapa.

– Filho, você nunca deixou de ser integrante nosso. Eu não permiti que fosse declarado morto, até aparecer o seu cadáver. Está como desaparecido em ação. Seu salário continua sendo religiosamente depositado.

– Bem sabe que o meu salário é um mero apêndice e trabalho por amor. Além do mais, o meu pagamento é transferido automaticamente para o hospital do câncer infantil. Preciso de lhe pedir mais um favor.

– Fale.

– Tome – entregou-lhe um saco plástico com um fio de cabelo muito loiro e, depois, tirou um fio do próprio cabelo pondo-o em outro. – Mande fazer um DNA sigiloso, com laudo oficial.

– O que é isso?

– É só para confirmar o que já tenho a certeza. Que o filho da Mariana é meu, mas quero ter o papel para o momento em que precisar. Quando ela recuperar a memória, vou acabar com essa palhaçada e ele vai pagar caro pelo que fez. Isso chama-se justiça poética.

– Seu filho? – Ricardo mostrou uma foto do celular. – Mas é a sua cara, McGiver! Minha nossa, isso não vai prestar!

– Exato. Vai-me ajudar?

– Com certeza, Ricardo. Acho que vou deixar vazar que você está vivo. Assim, aperto o cerco. Acontece que eu desconfio há tempo que há infiltração e grampeei todo o departamento. Vai ser fácil. – Pegou as amostras para o DNA. – Mandarei a Lena aqui trazer um HD externo com todos os dados. Ela será a minha melhor arma para vazar a informação sem que desconfiem.

– Peço que não a coloque em perigo. Apesar de amar a Mariana, adoro a Lena. Tenho verdadeira paixão por ela, mas de outra forma. O senhor entende, né?

– Sim, meu querido, mas não preciso de a usar. Vou pedir a ela que traga as coisas que precisa e o seu comportamento vai traí-la.

– Por quê?

– Porque ela nunca mais riu ou brincou com alguém. Não reage às provocações amigáveis quando aparece com aquelas roupas. E céus, como é gostosa!

– Sei. Passamos um mês saindo, mas não era o que eu queria.

– Pois eu acho que o que você precisava agora era de uma boa trepada com ela, como uma terapia.

– Isso seria usá-la, tio.

– Acho que ela é que o ia usar, filho, e muito bem. Quando eu me separei, pouco antes de você entrar para a inteligência, nós tivemos um encontro, então não venha me dizer que ela é santa. Deus do céu, quase me matou! Daí você apareceu e ignorou completamente qualquer outro homem. Mas prepare-se: Lena sofreu demais com a sua ausência e nem parece a mesma garota.

– Faço ideia. Ela é realmente muito quente.

– Filho – estendeu um pacote – tome a sua carteira e o distintivo. Recuperamos com a polícia.

– Obrigado, tio, devo-lhe uma.

– Não me deve nada, Ricardo. Vê-lo vivo e com saúde é tudo o que sonhei estes três anos e meio. – Olhou para a parede, sobre a mesa, e continuou. – Não acha que essas fotos só o vão fazer ficar pior?

Nela, havia inúmeras fotos dele e da Mariana, algumas com eles se beijando. Uma, inclusive, é a que a Camila tirou dele pondo o anel de noivado no dedo da prometida. Num canto afastado e colocado recentemente, estava o recorte do jornal.

– Não, isso é o que me dá força para ir em frente.

– Certo, filho. Lena será instruída a vir aqui durante a tarde e verei como as escutas reagem.

– Obrigado, tio. Quero resolver tudo muito rápido. Sem Jade, a minha vida não tem sentido.

― ☼ ―


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