Capítulo 18 (não revisado)
Ricardo chegou ao hospital onde a Lena foi internada e sentou-se em uma poltrona, meditando. Morria de preocupação pela Mariana, mas não podia deixar sozinha a amiga a quem devia a vida e a saúde psíquica. Uma hora depois, a porta abriu-se silenciosamente e ele ergueu-se de pistola na mão, mas eram apenas Jorge Ferreira e o pai.
– Desculpem, é que ainda estou um tanto quanto tenso e preocupado – sussurrou.
– Tudo bem, filho – disse Otávio. O que o médico falou?
– Fora de perigo, tio – respondeu Ricardo. – A cirurgia foi um sucesso e não houve órgãos afetados. Ele teve uma sorte danada.
Os três ficaram de vigília em silêncio. Quando amanhã já ia alta, Ricardo levantou-se e aproximou-se dela. Os outros olharam para ele, estranhando.
– Vai acordar – avisou. – O coração mudou de ritmo e a respiração alterou-se.
– Você consegue ouvir o coração? – perguntou Jorge, espantadíssimo. – Caramba, que ouvidos! Você é cruzamento de gente com cachorro, por acaso?
A piada não surtiu efeito pois estavam todos apreensivos. Mal terminou de falar, Lena abriu os olhos. A primeira coisa que viu foi Ricardo e sorriu para ele. O chefe e o filho levantaram-se e apareceram no seu campo de visão.
– Oi, gente. – A voz estava fraca, mas firme. – Acho que me descuidei. O tenente está bem? Ele foi atingido antes de mim, mas não parou. Sei que me salvou, pois quase caí do terraço.
– Ele está bem, Lena, e você está fora de perigo. Os PMs estão todos mortos.
– E sua Jade, meu querido, onde está?
– Não os conseguimos encontrar. – O sorriso do Ricardo desapareceu na hora.
– Vá buscá-la, meu gato. – Olhou para Jorge. – Estarei bem e tem aqui um cavalheiro que preciso de conhecer melhor.
– Obrigado, Lena. – Deu-lhe um beijo na testa. – Amo você, cuide-se.
Estendeu a mão para Jorge e continuou:
– Vemo-nos depois. Cuide dessa princesa que vale o peso em diamantes.
– Tenho uma forte ideia, amigo, mas cuidado com aquela espada. Você ainda corta o seu bilau fora por acidente ao manipulá-la daquele jeito louco.
– Chefe, vou para a inteligência – afirmou Ricardo, rindo do novo amigo.
– Espere um pouco lá fora que vou com você, pois estou sem carro. Oi Lena, obrigado por tudo o que fez...
― ☼ ―
Ao sair, Ricardo encontrou o capitão Santana com uma linda mulher e uma criança de pouco mais de três anos. Na mão, carregava um buquê de flores.
– Oi, delegado, esta é a minha esposa Daniela e o meu pequeno.
– Olá – apertou a mão do capitão e deu um beijo na esposa. Abaixou-se para o pequenino, que o olhava curioso. – Oi, você é muito bonito. Como se chama?
– André Santana.
– Que legal, André, o meu segundo nome também é André. Sabia que o seu pai é um grande herói? Ele salvou uma amiga minha que está ali, muito doente.
– O meu pai é o máximo!
– Claro que é. Eu tenho um filho do seu tamanho e, quando tudo acabar, vou convidar vocês para irem comer um gostoso churrasco lá na minha casa. Daí você vai ter um amigo para brincar. Tem até uma piscina bacana para nadar, o que acha?
– Vai ser legal, tio.
– Toca aqui.
– Meu pai diz que você também é um grande herói, que pegou muitos bandidos.
– Nós dois pegamos, mas foi ele que salvou a minha amiga. Ele é o maior herói.
– Gosto do senhor – disse o pequeno, rindo. – É muito bacana e não é como gente grande que fica chata.
Ricardo sorriu e abraçou a criança. Levantou-se e falou com Santana.
– Como vai o ombro, capitão?
– Dói um pouco, mas logo estarei treinando aqueles movimentos.
– O meu convite está de pé e estou disposto a lhe ensinar Ninjútsu, desde que não abuse desse conhecimento. Vou para a inteligência recolher dados. Depois, vou para casa. Preciso achar a Jade e o tempo é curto.
– McGiver, estarei lá quando a folga terminar. Acharemos sua noiva e seu filho. Não se preocupe.
– Esse é o McGiver que você tanto falava? – perguntou a esposa, observando-o enquanto se afastava. – Ele é um belo homem, mas não parece fazer milagres.
– Ele desvia de balas, amor. Lembra aqueles bandidos que apareceram na TV sendo mortos por um homem só? Era ele.
– Caraca, o senador corrupto?! – perguntou, incrédula. – Meu Deus, mas é um cara tão pacato. E, pelo jeito, adora as crianças.
– Ele é isso mesmo, amor. Amigo, pacato, humilde, íntegro e absolutamente mortal. Há sim, e bilionário.
– E é da polícia federal?
– Incrível, né? – comentou, piscando o olho e sorrindo. – Devia ser do BOPE, claro, mas ninguém é perfeito.
A esposa deu uma risada, sacudindo a cabeça. Entraram no quarto da Lena enquanto o chefe saía.
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– Então, filho, alguma ideia?
– Poucas, chefe. Ele, provavelmente, saiu do Rio. A sua ordem de fechar os aeroportos não deve ter chegado a tempo.
– Checamos todas as câmeras de segurança do Galeão e Santos Dumont, Nada!
– Mas não olharam Jacarepaguá, que é o campo de pouso mais próximo da minha casa.
– Merda! – praguejou Ferreira. – Não me ocorreu. Vamos descobrir isso.
Chegaram ao prédio da federal e foram direto para o setor deles. A gritaria foi grande e todos queriam abraçar o amigo que era dado como morto. Gomes estava lá, tímido, retraído. Ricardo foi até ele e estendeu a mão.
– Como vai sua filha, Gomes? – sorriu para o colega. – Não precisa de ficar assim. Já esqueci tudo e o chefe também. Afinal, você estava sob coação e ninguém o vai censurar. Nem ficou com a ficha suja.
– Obrigado, McGiver.
– Preciso da sua ajuda, Gomes.
– Qualquer coisa, amigo. Devo-lhe o salvamento da minha filha. É só pedir que eu farei com o maior prazer.
– Marcelo sequestrou a minha noiva e o meu filho. Ele disse que ia se esconder em um lugar que ninguém saberia encontrar.
– O que posso fazer?
– Sua especialidade é localizar imóveis e proprietários. Tente achar uma relação de imóveis no nome dele e da Mariana.
– Farei isso agora mesmo. – Seu semblante ficou alegre, uma forma de se redimir e agradecer o salvamento da filhinha.
– Você acha seguro, filho? – perguntou Ferreira, quando estavam a sós na sala.
– Olhe para ele, chefe, está cheio de remorsos. Fez aquilo sob coação! Dê-lhe uma chance.
– Filho, quando eu me aposentar, você sai assumir o meu lugar. Vá-se preparando.
– Chefe, nem cogite isso agora. Quando isto acabar, quero seis meses de férias com a minha mulher. Nem pense em se aposentar tão cedo.
– Não penso, só quero que medite a respeito e o salário é muito melhor.
– Grande merda, quem vai gostar é o hospital do câncer infantil. É pra lá que vai o meu salário.
– Esqueci de novo. – Ele deu uma risada. – Isso é muito nobre, filho.
– Chefe, perdi a vontade de rir. Marcelo não vai sair ileso disto. Vou achar onde ele está e, quando isso acontecer, prepare-se.
– Não o impeço, filho, mas faça como tem feito: legítima defesa e, de preferência, deixe-o vivo. Meu filho também quer divertir-se um pouco. Além disso, pense no necrotério. Por sua culpa, tem defunto saindo pelo ladrão.
– Ok. – Ricardo saiu sorrindo e contatou o aeroporto de Jacarepaguá. Seis helicópteros saíram naquele horário. Dois foram para Angra, outros dois, eram de turismo e os dois últimos eram um da televisão e um de uma emissora de rádio. Foi à mesa do Gomes e pediu-lhe:
– Gomes, tente concentrar a sua pesquisa em Angra. É quase certo que ele está lá. Isso deve facilitar, já que se trata de uma cidade muito menor que o Rio.
– Deixe com a gente, McGiver. Sandra já conseguiu arrancar os extratos dos cartões de crédito dele e vamos cruzar locais fora do Rio e de brasília.
– Obrigado. --Ricardo Sorriu. – Vou para casa investigar em paralelo. Qualquer coisa, contate-me por qualquer meio a qualquer hora. – Ricardo despediu-se dos colegas e foi para casa.
― ☼ ―
Uma equipe de especialistas da federal media, fotografava tudo e recolhia as cápsulas para a balística. Outra retirava os corpos e limpava onde a perícia já fora feita.
Enquanto isso, dez soldados do BOPE faziam cerco à casa. Ricardo achou desnecessário mas, pelo menos, afasta a sensação de solidão. Mandou chamar dois dos seus funcionários e a governanta. Os agentes da limpeza já haviam tirado os corpos e limpo o chão quando estes chegam, poupando-os de uma imagem chocante.
– Disseram na TV que o menino estava ferido!
– Era para ganhar tempo, por causa da Jade e do meu filho.
– Ele é seu filho, pequeno? – A governanta era uma senhora de uns cinquenta anos, bonachona e perdida por crianças. – Quando descobriu?
– Quando o vi pela primeira vez. – Mostrou-lhe uma foto no telefone. – Ela já recuperou a memória e voltou para cá, mas vieram aqui e sequestraram-na. Tivemos de matar muita gente para não sermos mortos. Olhe, faça uma gostosa refeição para todo o mundo. E faça bastante que, pelo tamanho daqueles soldados do BOPE, devem comer bem.
– Logo o senhor, que tem um metro e noventa e quatro, vai dizer isso!
– Estava com saudades de você, Tata. – Ela trabalhava para a família desde que ele era bebê e adorava o Ricardo. Abraçou o patrão e chorou. Ele beijou-a na testa. – Que é isso, Tata, já passou. Agora estou aqui e bem. Olhe, vou descer. Preciso de encontrar a minha Jade antes que ele lhe faça algum mal. Está muito violento. Quando o almoço estiver pronto, sirva na sala de jantar que eu chamo os cavalheiros. E precisamos de preparar um dos quartos para o menino. O melhor é o que era meu já que é o maior da casa. Você manda o pessoal fazer isso?
– Sim, meu pequeno – disse como quando estavam em particular. – Deixe que a Tata cuida de tudo.
– Primeiro tenho dois metros e agora sou o seu pequeno? – A simpática senhora deu um sorriso e saiu dizendo:
– Ora, eu carreguei você no colo. Será o meu pequeno enquanto eu estiver viva.
– Tata. – Ela parou e virou-se. – Obrigado por se importar comigo. Você sabe que é uma segunda mãe para mim, uma que eu amo muito.
A governanta não respondeu. Apenas sorriu com lágrimas nos olhos e seguiu o seu caminho enquanto ele foi para os computadores. Procurava levantar a árvore genealógica do Marcelo. A casa para onde ele foi, certamente estava no nome de alguém que não era o dele. A tarefa era complicada porque implicava em invadir sistemas de cartórios e pesquisar sobrenomes na internet, entre outras coisas. Decidiu levantar até à quarta geração. Ao meio dia, é chamado.
– Venham almoçar que saco vazio não para em pé – disse, chamando os policiais.
– Iremos por turnos, delegado.
– Qual é, a casa é segura. Vocês viram o que eu fiz àqueles caras. Acham sinceramente que corro perigo imediato? Vamos, venham. O alarme silencioso está ligado.
Os dez policiais entraram e sentam-se na mesa.
– A sua casa é muito bonita, delegado.
– Eu gosto muito dela. Era do meu pai.
– Por que escolheu ser federal?
– Porque descobri que podia fazer algo pelo Brasil – explicou, conversando animadamente com eles.
Após o almoço, votou para os computadores e já estava escurecendo quando a Tatiana apareceu no escritório levando o capitão Santana.
– Senhor, este cavalheiro disse que é esperado.
– Tata, o que faz aqui? – perguntou preocupado. – Eu disse para irem embora cedo. Há risco para a vida!
– Com tantos policiais aí? – resmungou ela. – Duvido muito. E quem vai cuidar do menino? Está emagrecendo a olhos vistos! Não saio daqui e acabou-se.
– Está bem. – Ricardo sorriu. – Que seria de mim sem você, minha Tata. Arrume um quarto para o Santana que ele vai ficar aqui.
Ricardo trabalhava com afinco e a sua preocupação aumentava exponencialmente. Santana acompanhava, mas nada entendia. No terceiro dia, Gomes ligou.
– "McGiver, levantei todos os bens dele e dos pais. Não há nada em Angra" – disse. – Mas os extratos da Sandra mostram seguidamente despesas em Angra, muitas vezes na mesma razão social. Ele ia periodicamente para lá.
– Eu lembro dele falar que gostava de ir a uma casa em Angra. Chegou a me convidar para ir lá, mas eu estava solteiro e ele com Camila, então não quis atrapalhar. Deve ser de algum parente. Estou levantando a árvore genealógica dele, experimente os nomes que vou mandar para o seu e-mail.
– "Ok, tenha fé que vamos achá-la, você não merece passar por isso novamente."
– Obrigado, Gomes, você é muito bacana. – Apesar disso, a sua preocupação crescia ao extremo. A cada minuto perdido, o risco aumentava muito. Aproveitaram para noticiar que o estado de saúde dele ainda era delicado. Mais uma noite inteira passou-se e nada. Ricardo quase não dormia, grudado ao computador.
Por mais de uma vez, o Santana precisou de o forçar a ir para a cama, pois ele dormitava à frente do teclado. A tensão era enorme, tanto na sua casa, quanto nos escritórios da inteligência. Durante o dia, o quinto, Ricardo está exasperado pois não esperava tamanha demora. Acreditava que a ia salvar rapidamente. Aproximadamente às nove da noite, o telefone tocou.
– "McGiver, achei uma casa em Angra." – A voz do Gomes estava irreconhecível de pura exaustão. – "Tome o endereço."
– Obrigado, Gomes, estou indo para lá. Deixe que alerto o chefe e descanse, você parece exausto. Mais uma vez, obrigado, devo-lhe uma.
– "Não, eu é que lhe devia mais de uma." – Gomes desligou o telefone e adormeceu ali mesmo em cima da mesa.
– Chefe – disse o delegado – Gomes achou uma casa, tome o endereço. Eu vou para lá. Mande um helicóptero e uma equipe, mas deixe-os longe para não assustarem a lebre pois eu quero salvar a Jade e meu filho primeiro. Não desejo correr riscos.
– "Ok. Que bom que ele conseguiu pois não sai de cima dos terminais há quatro dias. Acho que se queria redimir com você."
– Quer vir, Santana? – perguntou, vestindo a roupa ninja e uma calça e camisa normais por cima. Após pegando na espada.
– Mas claro que eu vou – respondeu o Santana que escolheu um punhal, um fuzil e uma pistola. – Não vai levar mais nenhuma arma?
– Não preciso. – A caminho da garagem, o delegado parou e começou a falar japonês, para grande espanto do Santana e dos demais colegas do BOPE que estavam ali de guarda.
– Não devia esconder-se, mestre. Precisa de descanso. Sei onde ela está, quer vir conosco?
Os policiais do BOPE tomam um tremendo susto quando um homem de preto surgiu do nada. Ergueram as armas, mas Ricardo interveio.
– Calma, gente, que é amigo. Além do mais, vocês estariam mortos antes mesmo de terminarem de erguer as armas.
– Vamos – disse Ishiro, caminhando para a garagem. – Precisamos de os salvar.
Entraram no Mustang e Ricardo pisou fundo, pois eram cento e sessenta quilômetros de estrada. O potente motor V8 rugia chamando a atenção de todos por onde passava. Na Avenida das Américas, ligou o giroscópio da polícia e as sirenes, seguindo de um jeito que Santana já se sentia esborrachado na próxima curva. O excelente treino que recebeu, aliado à capacidade de concentração e de ouvir o instinto, fez com que ele conseguisse reagir um pouco antes dos eventos, como se fosse capaz de prever o futuro. Desenvolveu uma velocidade vertiginosa, sabendo que o carro podia bem mais, mas que seria irracional em uma via tão movimentada. Quando entraram na Linha Amarela foi a mesma coisa e disparou enlouquecido. Os engarrafamentos a essa hora eram muito menores. Trinta minutos depois de sair de casa, entrou na autoestrada para Angra e, livre do movimento, o carro desenvolveu velocidades absurdas. Santana agarrou-se com tanta força, que as mãos estavam brancas. Olhou o velocímetro, que marca cento e setenta, não acreditando nos olhos. Calculou rapidamente e concluiu que estavam a mais de duzentos e setenta quilômetros por hora.
A estrada à sua frente parecia que encolhia, como se tivesse um terço da largura, mas Ricardo só reduzia nas curvas pois conhecia relativamente bem aquele caminho e sabia onde eram os pontos críticos.
– Relaxe, capitão, que está seguro – disse o delegado tranquilizando-o. – Chegaremos em quarenta e cinco minutos, talvez um pouco menos.
– Você vai é nos matar!
– Jamais, meu amigo, não antes de a salvar.
Ishiro, no banco de trás, está calado como se meditasse.
― ☼ ―
Marcelo entrou no quarto da Jade e da criança, que dormia. Ele cheirava fortemente a bebida e estava nu. Na mão, tinha um revólver calibre trinta e oito.
– Acabou o seu período, dispa-se.
– Não.
Pousou a arma em uma cômoda afastada da Mariana e avançou até ela agarrando-a à força e rasgando-lhe o vestido, a única roupa que tinha. A coitada gritou e reagiu lutando desesperadamente, arranhando-o todo.
O pequeno acordou e fugiu assustado para um canto do quarto, tremendo muito e chorando, mas foi ignorado.
Marcelo deu uma forte bofetada na Mariana o que a faz ficar tonta. Aproveitou para arrancar a lingerie dela. Mexendo as mãos e debatendo-se sem parar, ela dificultava a tarefa ao máximo.
Estavam ambos na cama de joelhos, pois a garota não se deixava deitar, sabendo que, se isso acontecesse, não mais conseguiria livrar-se dele. Sentiu o sangue no lábio cortado e a raiva dava-lhe forças que ela não sabia ter.
― ☼ ―
Na rua, um Mustang vermelho estacionou a cinquenta metros da casa e três homens prepararam-se.
– Ouço gritos e é a voz da Mariana. – Ricardo saltou do carro e arrancou as roupas normais. Tinha tanta pressa que tirou a camisa rebentando os botões. Pôs a espada a tiracolo e a touca. – Vocês cuidam das sentinelas que vou escalar a parede e pego-o por cima, até mais.
Não esperou por eles e correu, subindo o muro por um ponto escuro.
Ishiro a Santana seguiram lado a lado, movendo-se rapidamente e em silêncio. Pularam o muro em outro ponto. Era uma casa grande, muito bela. No pátio, havia dez policiais armados que faziam a ronda displicentemente pois não acreditavam que houvesse algum perigo. Ishiro faz sinal para Santana ir para a esquerda, pois queriam pegá-los em silêncio. Um shuriken voou e um policial caiu com a garganta cortada, sem poder dar o alarme. Uma sombra enorme passou ao lado de outro. A mão do Santana, forte como uma tenaz, tapou sua boca e a outra rasgou-lhe a garganta com o punhal, faltando oito. Ricardo foi para os fundos e procurou a janela onde saíam os gritos, vendo que era no segundo andar. Um rosnado forte fez-se ouvir ao seu lado e viu um enorme rottweiler avançando a cerca de cinco metros. Não desejava matar o cão, mas não tinha muita escolha. Desviou-se do ataque e, no último instante, desferiu um murro na cabeça do animal com toda a força que tinha. O bicho caiu em silêncio e ele desejou que estivesse vivo, pois o pobre cão não tinha culpa de ser o que era já que foi treinado para isso. Sem perder mais tempo, saltou para a parede e começa a escalar rapidamente, uma vez que havia vários pontos de apoio.
Santana já eliminou quatro e fez sinal para o japonês que ia entrar na casa. Ishiro concordou, avisando que ficaria de prontidão no pátio. Tranquilamente, ele eliminou os dois últimos guardas e escondeu-se em uma posição estratégica para ver se não havia chance de aparecerem outros.
― ☼ ―
– Não adianta, você é minha e prefiro matá-la a ter de a deixar longe de mim. – Mariana estava quase sem forças e ele prestes a ter êxito no seu intento. Quando ia penetrá-la, ouviu um barulho.
– Pst. – Marcelo olhou para o lado e viu um homem de preto com touca também preta. Não sabia quem é, mas reconheceu a espada.
Antes que pudesse reagir, Ricardo pegou na Mariana com uma mão e retirou-a da frente do inimigo. Rápido, desceu a espada sobre ele. Com um grito de dor, Marcelo olhou o seu pênis cortado fora e o sangue jorrando aos borbulhões. Tão veloz quanto fez isso o delegado, limpou a espada no lençol e pôs de volta na bainha. Com cuidado, pegou na Mariana ao colo e pô-la ao lado do filho, arrancando um lençol limpo e cobrindo-lhe o corpo. Tirou a máscara e olhou para Marcelo.
– Eu disse que te esquartejava se tocasses na minha mulher, seu merda. Mas, sem a tua preciosa pica, quero ver fazeres isso novamente, tchê. – O rosto estava rubro de cólera e os seus olhos duros como granito. – Agora, vou dar-te do teu próprio remédio.
Sem dó nem piedade, avança sobre o ex-deputado e começou a espancá-lo brutalmente. Completamente descontrolado, enfiava um soco atrás do outro e Marcelo só conseguia recuar, muito atordoado. Quando está fora do alcance dos braços do adversário, um forte chute acertou-o, fazendo com que colidisse com a parede e voltasse na direção do Ricardo, que o agarrou pelo pescoço com uma mão e batia sem parar com a outra. A sova era atroz e André, apesar de estar descontrolado, batia para não matar querendo rebentá-lo todo antes do fim.
Uma porta abre-se e Santana entrou. Ele não precisou mais do que um par de segundos para entender o que se passava ali e que o seu amigo ia matar o alvo se não tentasse impedir.
Tentou parar o delegado, agarrando-o por trás. Apesar da espantosa força que possuía, Ricardo nem tomava ciência, continuando a surrar o ex-amigo de forma implacável e mortal.
– Pare, delegado, não faça isso pelo amor de Deus. – Santana era impotente perante a força do Ricardo, que estava cego de fúria. Espancava Marcelo como jamais bateu em alguém e nem ouviu o capitão que, numa última tentativa, berrou a plenos pulmões. – Ele vai morrer e terá escapado da justiça; é isso que você quer?
Finalmente o delegado caiu na razão e parou instantaneamente. O rosto continuava rubro, mas acalmou-se e virou o olhar para Santana. Mais por instinto que outra coisa qualquer, pegou na espada e desferiu um golpe de lado ao mesmo tempo que Mariana dava um grito. De olhos esbugalhados, o capitão do BOPE viu Marcelo com ar surpreso, recuando com ambas as mãos decepadas. Olhou para baixo e viu-as no chão, ainda agarradas a um revólver. Ele tinha aproveitado a pequena distração para pegar a arma e tentar matar Mariana. Devagar, caiu desmaiado no chão.
– Droga – disse Santana. – Temos de o manter vivo, ajude-me.
Orientado pelo capitão, ambos pegaram o lençol sujo da cama e rasgaram algumas tiras. Amarraram os pulsos do Marcelo para estancarem a hemorragia. Depois, Santana fez o mesmo com o que sobrou do pênis.
Desceu as escadas e busca um saco plástico grande que encheu de gelo, mas Ricardo corre para a mulher e o filho esquecendo tudo o resto.
– Amor. Estás bem?
– Estou, você chegou na hora exata.
– Papai! – O pequeno atirou-se ao colo do Ricardo. – É você mesmo?
– Sim, meu filho, vim salvar vocês, como prometi. – A criança abraçou o pai, rindo à toa. – Desculpe a demora, filho, mas ele se escondeu de tal forma que foi realmente difícil achar vocês.
Santana entrou com o saco.
– Para que é isso? – perguntou o delegado.
– Pôr as mãos, pois dá para reimplantar. Jamais será a mesma coisa, mas dá.
– Deixe a arma do jeito que está que é uma prova.
– Tem razão, delegado, onde está o pênis?
– Não sei, mas não vai mais precisar disso para onde vai. – Ricardo ligou para o chefe, que estava no helicóptero. – Venha rápido, chefe. Desça no terraço que há espaço. Ele precisa de ir para um hospital.
– "O que você fez, filho?"
– Eu entrei pela janela quando ele estava prestes a penetrar na minha mulher à forca de pancada. Pode chamar de insanidade temporária, mas vale defesa da honra ou proteção do cidadão. O desgraçado estava fazendo isso na frente do meu filho, chefe, e agora precisará de fazer xixi sentado o resto da vida.
– "Olhe, deixe-o bem algemado e não faça nenhuma besteira."
– Infelizmente não será possível algemá-lo, chefe, desculpe. É que ele pegou um trinta e oito com ambas as mãos e ia atirar na Jade aproveitando uma distração minha por causa do Santana. Só pude fazer uma coisa: usei a espada e decepei-lhe as mãos. Elas estão num saco de gelo, agarradas à arma. Creio que serve de prova, mas venham rápido. Quero este filho da puta vivo e com as mãos de volta. Bem, não achamos o pênis, mas não fiz questão de o encontrar, embora Santana tenha procurado. Deve ter voado longe.
Desligou e abraçou novamente a mulher.
– Desculpe a demora, amor, mas esse diabo não deixou rastros e foi muito difícil. Ele machucou você?
– Você chegou na hora exata, André. Eu fingi que estava menstruada. Ele esperou até passar, mas hoje é o quinto dia e veio com tudo. Rasgou a única roupa que tenho. – Ela apalpou-o com cuidado. – Onde foi que feriram você?
– Não fui ferido, amor, foi um engodo, mas o Santana levou um tiro no ombro e a Lena está internada, porém fora de perigo. Espere aqui, vou ver se há roupas nesta casa.
– Quarto por quarto, Ricardo procurou por algo, até que encontrou algumas roupas. Viu uma blusa de moletom e uma bermuda que deveriam servir nela. Entregou-lhe as roupas e ela trocou-se no sanitário. Quando retornou, ficou agarrada ao noivo e ao filho. Nesse momento, ouviram o rotor do helicóptero.
O chefe chegou com dois ajudantes. Fotografaram tudo no quarto, especialmente as mãos, puseram Marcelo no helicóptero e um dos ajudantes foi junto até ao hospital mais próximo com capacidade de reimplantar as mãos. A terceira parte não foi encontrada. Além disso, ele tinha diversas fraturas e praticamente todos os dentes rebentados, pois a sova que recebeu foi homérica. Ricardinho dorme no colo do pai, abraçado ao seu pescoço quando foram para o pátio. Dentro da casa, Santana tinha morto cinco seguranças e no pátio, além dos dez iniciais, apareceram mais três que Ishiro prontamente neutralizou.
– Meu Deus, McGiver, e o necrotério?
– Acho que acabou, chefe, foram só uns poucos. – Quatro camionetes da federal encostaram. Em uma delas vinha um médico legista que examinou Mariana e atestou as agressões. Santana voltou com os federais. Abraçado à noiva, Ricardo foi para o carro.
– Vamos para a nossa casa, Jade. – Ishiro aproximou-se e inclinou-se para eles. – Estou feliz que esteja a salvo, senhora.
– Venha, mestre, vamos.
– Só se for a menos de duzentos, senão, prefiro ir caminhando.
– O senhor estava com medo, mestre?
– Tanto que nem conseguia falar. – O japonês fingiu-se de sério mas riu. – Embora admita que foi divertido.
– Vamos? – Ricardo deu uma gostosa risada. – O senhor importa-se de levar o bebê no colo? Queria de ter minha Jade ao meu lado.
– Mas vou adorar. Você é como um filho para mim; logo, ele é um neto – disse o japonês com a voz sempre suave. Entraram no carro e retornaram para o Rio, mas sem correrem tanto. Deixaram Ishiro na casa dele e seguiram para a deles. Quando saíram do carro com o bebê ao colo e a noiva ao lado, os soldados bateram palmas e assobiam. Tata apareceu na soleira e correu para eles. A primeira coisa que fez foi abraçar a Mariana.
– Dona Jade! – disse, feliz. – Que bom vê-la novamente!
– Oi, Tata – respondeu. – Também senti sua falta.
– Este é o vosso filho? Que lindo! Ela pegou-o ao colo. O bebê abriu os olhos e vê a senhora. – É a sua cara, pequeno.
– Quem é você?
– Eu sou Tata, cuido da casa do seu papai e arrumei um quarto lindo para você dormir, o seu quarto.
– Eu tô com sono. O meu pai salvou a gente. Você é legal.
– Ele só tem três anos? Parece ter cinco!
– É muito precoce e puxou ao pai – disse Jade, sorrindo.
– Vamos para o seu quarto. Eu cuido de você pois o seu papai e a sua mamãe precisam descansar.
– Descanse, delegado, faz dias que o senhor não dorme, confie na gente. E o capitão? Espero que esteja tudo bem com ele.
– Voltou com a federal. Deve estar fazendo um relatório e indo para casa. Obrigado amigos. Eu não durmo direito há cinco dias.
Abraçados um ao outro, os dois foram para o quarto. Tomaram um bom banho para limparem o corpo e o espírito e foram deitar. Estavam de tal forma exaustos que adormeceram no ato.
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