Capítulo 14 (não revisado)
Sábado.
Ricardo acordou cedo e foi meditar na piscina. Ele não devia ter parado de fazer isso, já que era a única forma de ter serenidade no meio de tanta violência e crueldade.
Às nove horas o interfone tocou e seu coração chegou a bater mais forte, com a saudade que sentia dela. Apertou o botão que abria a porta e eles encostaram no pátio de estacionamento, onde já os esperava. Ao lado do seu carro, Marcelo viu um Honda.
O casal saiu, seguido da criança, e Ricardo aproximou-se deles para os cumprimentar, sem tirar os olhos da sua Jade, que estava bela como sempre, mas com os olhos tristes que, ao vê-lo, brilham de alegria enquanto o menino correu, subindo-lhe ao colo.
– Tio Ric, que casa bacana! – Beijou o verdadeiro pai, que lhe sorriu carinhosamente.
Mariana notou como ele tinha paixão pelas crianças e, novamente, sentiu pena de não ser esse o pai do seu filho. André olhava-a e os seus olhos cinzentos, mágicos para ela, transmitiam tudo o que gostaria de ouvir. Ao virar o rosto para Marcelo, a garota viu os olhos mudarem para um tom duro, gélido. O marido não notou, mas ela viu isso tão claramente que chegou a se assustar.
Pôs o pequeno no chão e apertou a mão do Marcelo. Depois, deu um beijo na Jade.
– Oi, Jade – disse baixinho, só para os seus ouvidos – que bom que veio.
– A sua casa é linda, Ricardo – respondeu, para disfarçar. Sentia as pernas tremendo só de ter recebido aquele beijo inocente. E a casa... Deus do céu, era a casa com que sonhara! Ao se lembrar disso, veio a outra parte do sonho. Ele dizia: "Amo você, Jade." E era o rosto do Ricardo, o seu André! Aquela casa, à medida que ia entrando, deixava de ser estranha e descobriu que a conhecia muito bem.
– E daí Marcelo, venham, vamos para baixo. Ainda não preparei nada, mas como é cedo e o dia está ótimo, podemos aproveitar a piscina.
– Isso, isso, isso, tio Ric – subiu de novo ao colo do pai, após ter descido quando ele beijou a mãe.
– Você tem visitas, Ricardo? – perguntou o amigo.
– Sim, uma amiga, antiga colega da faculdade que encontrei há alguns dias. Está-me ajudando na investigação que faço. Venham, ela está no escritório, trabalhando com o computador e em breve junta-se a nós. Jade, dê-me a sacola que carrego para você.
Entregou a sacola com as roupas da criança e as mudas deles para a piscina, mas sentiu uma pontada de ciúmes.
– "Uma mulher na casa dele depois do que aconteceu!" – Pensou. Porém, também viu como era gentil, ao contrário do marido que a deixou carregar tudo. Ricardo e Lena tinham combinado muito bem como se encontrariam. Ele desejava transformar o encontro em algo mais impactante, queria deixar Marcelo desorientado.
– Uau – disse o pequeno –, que piscina grande, tio Ric!
– Vocês podem trocar-se ali – apontou um banheiro ao lado do galpão.
Ela entrou com o filho, vendo tudo muito limpo e arrumado. Pôs a sunguinha no pequeno e vestiu o biquíni, olhando-se no espelho. Sabia que causava muita impressão aos homens, mas naquele desejava gerar o máximo de impacto, porém achava que estava demasiado magra. A beleza do seu rosto nunca sumiu, mas a magia do seu corpo foi bem comprometida com o sofrimento por que tem passado. Ainda assim, era de uma perfeição espetacular. Ao sair, o pequenino correu para a beira da piscina e Ricardo agarrou o petiz rapidamente.
– Calma aí, pequeno, que a piscina aqui é muito funda.
– Eu sei nadar, tio Ric.
– Mesmo assim, meu amor, vamos esperar até alguém entrar junto com vo... – Mariana apareceu ao seu lado e, ao olhar para ela, viu logo as marcas do sofrimento mas também sentiu a saudade mortal que tinha dela.
– Tudo bem, Ricardo – disse. – Pode deixar que ele nada como um peixe. Faz natação há mais de um ano.
O pequeno atirou-se à piscina e o Marcelo foi-se trocar enquanto a Jade também entrava na água.
– Você não vem, Ricardo?
Ele tira o casaco do quimono e a calça. Por baixo, vestia uma sunga e foi a vez da Mariana quase parar de respirar ao ver o corpo maravilhoso daquele homem. Entrou na água e, ao passar por ela, faz-lhe um carinho delicado nas suas costas. O pequenino realmente nadava muito bem e queria brincar, tomando a atenção dos pais.
Marcelo entrou na água e a esposa, inconscientemente, comparou os dois. O marido tinha um belo corpo, mas nada que se comparasse ao Ricardo. Este não participava das brincadeiras, apenas observava. Por cerca de meia hora brincaram na água, até que Ricardo saiu. Jade seguiu-o e Marcelo também, sentando-se em espreguiçadeiras para se secarem. Algum tempo depois, cansado de ficar sozinho, o pequeno saiu da água.
― ☼ ―
Lena trocou de roupa e preparou-se para ir à piscina. Chegando à varanda, viu uma coisa que a deixou de queixo caído. Ao lado do Ricardo, como um cachorrinho, uma criança brincava. Mas ela descobriu logo que o pequeno era a cara dele, mesmo daquela distância.
– "Só pode ser filho dele! Meu Deus. Como será que essa mulher não nota?" – Pensou. Lena apareceu e Marcelo viu uma mulher de um corpo magnífico, estonteante, cabelos negros, lisos, cintura fina e seios fartos chegando de biquíni. Ela sorriu e Mariana ficou muito apreensiva. O pequeno, ao olhar para ela, escancarou a boca. Aproximou-se e disse com toda a inocência de uma criança de três anos:
– Nossa, você tem uns peitões enormes!
– RICARDO. – O berro do Marcelo foi tão alto que assustou a criança que correu imediatamente para o colo do pai verdadeiro. Este protegeu o pequeno com o braço, pondo a mão sobre a sua nuca.
– Calma, Marcelo, é apenas uma criança, tchê – disse apaziguador, mas os seus olhos mandaram outra mensagem que desta vez o deputado entendeu e ficou com medo. – Lena, Mariana, Marcelo e o Ricardinho.
– Oi, Lena – disse Mariana educadamente, mas muito enciumada – desculpe pelo meu filho.
– Oi, Lena. – Marcelo olhou para ela e comeu a mulher com os olhos, pois achava-a linda e gostosa demais. Ficou irritado com o filho porque justamente pensou a mesma coisa, apenas acrescentara a palavra deliciosos, no pensamento.
– Olá, não precisam pedir desculpas. Oi, Ricardinho. – Ela sorri e abaixou-se para ele que saiu do colo do pai e aproximou-se, curioso. – Tudo bem?
– Oi, você é namorada do tio Ric?
– Não, meu anjo, sou apenas amiga dele. Estou ajudando com um trabalho. – Ela beijou o pequeno.
– Você é muito bonita!
– Obrigada, meu lindo.
– Mas minha mãe é mais – ele sorriu, inocente.
– Claro que sua mãe é mais bonita, meu querido, muito mais.
– Gostei de você – disse o pequeno, abraçando a Lena.
Marcelo não tira os olhos dela. – "Que corpo!" – pensava, esquecendo-se que a sua esposa não devia nada a ele, antes pelo contrário.
– Então, Lena, você é amiga do A... Ricardo?
– Fomos colegas na universidade e encontramo-nos recentemente. Venho ajudando Ricardo a solucionar uns problemas.
– É mesmo? – pergunta Marcelo. – O que faz?
– Sou matemática.
– Ela é humilde, Marcelo – interrompeu Ricardo. – Lena é doutora em matemática, especializada em matemática computacional e criptologia, um verdadeiro gênio na área, considerada a maior sumidade do Brasil em criptologia.
– É mesmo? – Um lampejo de medo percorreu os olhos do Marcelo e Ricardo não perdia nada, assim como a amiga. – Então presumo que deve estar ajudando Ric a quebrar algumas chaves.
– Como sabe!?
– Eu conhecia o trabalho dele na inteligência.
– É verdade, ele capturou uns e-mails de alguns políticos, mas a chave é terrível. Temo que não seja possível sem um supercomputador. – O olhar do Marcelo aquietou-se um pouco. – "Peguei você, filho da puta" – pensou a garota.
– Espero que consigam.
– Conseguiremos, tudo é uma questão de tempo. Já arranjei um tempo no Centro Nacional de Supercomputação, com um colega da UFRGS. Claro que vai demorar muito, mas conseguiremos.
– Acham que demora muito? – Voltou a ter o olhar de medo.
– Infelizmente, semanas ou até meses. – Lena viu novamente a tranquilidade e conclui que não havia a menor dúvida que participava ativamente de tudo e que agora precisava de ter cuidado para não ser assassinada. – A chave é realmente terrível.
– Tio Ric. O senhor disse para mim que ia mostrar o seu outro carrão. Posso ver?
– Claro. Quer vir junto, Mariana?
Ela levantou-se e acompanhou os dois Ricardos.
– "Era assim que deviam estar desde sempre" – pensou Lena, olhando o par com a criança segurando a mão do pai.
– Fale do seu trabalho, Lena, estou curioso – pediu Marcelo, comendo-a com os olhos...
Ao virarem a esquina, Jade pegou na mão do seu amor.
– Ela é bonita, André.
– É sim, e é uma amiga muito especial. – Falavam baixo para o pequeno não ouvir.
– Você dorme com ela!
– Você dorme com o seu marido, Jade.
– Desculpe.
Ele apertou um pouco a mão dela e puxa-a para si.
– Não nego que já dormi com ela, Jade, e acho que ela salvou a minha vida, mas isso foi só no início. Sinceramente acredito que não teria sobrevivido esta semana sem ela. É, na verdade, minha colega na polícia federal, mas não diga nada ao Marcelo.
– Ela ama você!
– E eu a amo muito, mas não do jeito que ela quer. Nós damo-nos bem. Quando se recuperar, saberá dela.
– Eu amo você.
– Eu também, mais que qualquer outra coisa no mundo. – Ele abriu a garagem e o pequeno entrou correndo. Ela aproveitou para se encostar a ele e beijá-lo nos lábios.
– Há algum tempo que não durmo com ele. Saiba disso.
– Tudo bem, Jade, você é tão vítima quanto eu – beijou-a de volta e entram na garagem.
O pequeno estava maravilhado, olhando os carros que havia ali. Eram seis, cada um mais lindo que o outro. Tinha até uma limousine, mas a Ferrari chama a atenção de cara. Ricardo pegou o pequeno no colo e pô-lo dentro do veículo, que estava sem a capota.
– Que tal?
– Uau, tio, que baita carrão!
– Quer ligar o motor, meu filho?
– Claro.
– Espere. – Foi a um canto da garagem e pegou as chaves que estavam penduradas. – Olhe, a chave entra aqui. Primeiro, vemos se está em ponto morto. Agora, gire a chave para lá.
O garoto obedeceu e o motor deu um ronco, despertando para a vida.
– Aperte aquele pedal ali – pediu, apontando o acelerador. O pequeno escorregou para baixo e pôs o pé no pedal. O rugido do motor foi assustador, fazendo-o soltar logo, subindo para o banco com os olhos brilhando, enquanto Jade os olhava. Ricardo desligou o carro.
– Gostou?
– É lindo, tio. Posso dirigir um dia, como dirigi aquele ali?
– Claro, amor. Vamos voltar? – Os três voltaram. O garoto ia à frente, alegre, e os dois deixam-se ficar para trás.
– Sinto que conheço esta casa, cada palmo dela, André. Ela é um sonho. Sei que seria capaz de ir para qualquer lugar aqui dentro. Como pode ser? – Ele, rapidamente, passou o braço na sua cintura e beijou-a nos lábios.
– Lembre-se, Jade, é imperativo que volte a lembrar. – O dois deram-se um último beijo escondido e dobraram a esquina.
Marcelo e Lena estavam na beira da piscina com as pernas na água conversando, quando ela riu e ele correspondeu. Mariana observava e comentou:
– Ele está de olho nela.
– Vai quebrar os dentes pois ela dorme ao lado de uma nove milímetros. Só não entendo por que não se contenta com você.
– Porque eu não gosto de fazer amor com ele, não me dá prazer. Tentei no início. Agora, evito-o sempre e uso as amantes como desculpa. Ela dá prazer para você, André?
– Ela deu-me muito mais do que isso, Jade. Deu-me amor quando eu mais precisei, quando estava desesperado e sem rumo. Por mais de três anos achei que você estava morta, meu amor. Ela sabe tudo sobre você e sabe que a amo, Jade, e ajuda-me. Nós dormimos juntos muitas vezes, mas isso nem sempre significa que fizemos amor. Afinal, muitas vezes eu pensei em você na sua casa com o seu marido, divertindo-se... já falei demais.
– Fale, André.
– Esqueça. Isso é tortura para ambos. Mas quero que recupere a sua memória. Ela já está vindo, amor. Só posso dizer uma coisa, Jade, a minha vida não tem o menor sentido sem você por perto. Lembre-se disso.
Aproximaram-se da piscina. O pequeno Ricardo brincava com a Lena, que também adorava crianças. O pai estava furioso pela interrupção, mas mantinha-se calmo.
– Demoraram! – acusou, com a cara amarrada.
– Mostrava umas coisas para Mariana, Marcelo, desculpe. Ela gosta de plantas e olhava o jardim.
– Ok. – Marcelo sorriu. Apesar de desconfiar do Ricardo, sabia que ele era íntegro ao extremo. Só não sabia que o amigo descobriu tudo e isso anulava qualquer restrição moral que ele tinha.
– Vou acender o fogo – comentou Ricardo. Lena levantou-se, e acompanhou-o.
– Quer ajuda? – passou os braços no pescoço dele e deu-lhe um leve beijo nos lábios, sorrindo maliciosa. No ouvido, disse. – O seu filho é a coisa mais linda deste mundo, beijo foi só pra provocar e esse cara não presta mesmo. – Largou-o e foi ao banheiro.
Ele serviu as bebidas e tomou uma cerveja. Enquanto o fogo não baixava, conversam coisas banais e os olhos da Mariana e dele não se separavam.
Ela ficou furiosa ao ver Lena beijá-lo e estava louca de ciúmes, mas sabia que não tinha esse direito sendo casada com outro. Quando a bela morena procurou conversar, pensou em evitá-la mas descobriu-se envolvida com a moça, pois ela era muito simpática e agradável. Sem nem mesmo desejar, Mariana começou a gostar dela.
A sós, Marcelo procurou Ricardo.
– Cara, de onde você desenterrou esse monumento? Ela é muito gostosa!
André inicialmente ficou quieto e fechou o punho com tanta força que até doeu, mas controlou-se a tempo.
– Espanta-me isso, tchê. A menos que eu esteja precisando de óculos, a tua mulher bate disparado, tu não achas? – Perguntou com uma falsa calma e um olhar perigoso, mas que Marcelo parecia ou não queria notar.
– Até ganha, cara, mas aqueles peitos... nossa senhora! – respondeu.
– Escuta, Marcelo, com o devido respeito já me levaste a Mariana. Agora desejas essa, cara? Podemos trocar, se quiseres, não me importo nada!
– Desculpe, amigo, não quis ser grosseiro. Achei que não era nada.
– Pode não ser, mas ela é muito especial para mim. E eu tenho que continuar a viver, não é? – perguntou ainda esforçando-se para não o matar ali mesmo.
– Tem razão, desculpe a grosseria. Ricardinho parece gostar dela.
– Ela é muito bacana, Marcelo – disse Ricardo bem no momento em que o pequeno chegou perto deles.
– Tio Ric – pediu, puxando o seu braço. – Quando vamos poder correr de autorama de novo?
– Quando der, anjo – respondeu. Lembrou-se de algo e continuou. – Acho que tenho um presente bacana para você, quer vir comigo?
– Claro, tio.
– Marcelo, pode dar uma olhada na carne de vez em quando?
– Óbvio, vai fundo.
Pegou a mão do filho e foi para dentro de casa. Lena, muito sacana, comentou para os dois ouvirem.
– É incrível como Ricardinho parece tanto com o Ricardo, Mariana, se eu não soubesse que é vosso filho, juraria que eles são pai e filho. – Marcelo engasgou-se com o comentário, mas Jade, que não para de observar o ex-noivo, nem ouviu. Lena virou-se para o deputado e perguntou na maior das inocências. – Está tudo bem com você?
Ricardo e o filho desceram as escadas para o subsolo. Antes do escritório, havia um pequeno quarto onde guardava coisas antigas.
– Vamos ver se eu acho, deve estar aqui. – Entrou no quarto e procurou um pouco até encontrar um grande baú de madeira.
– Achei. – Só nesse momento notou o silêncio, pois o garoto não estava ali. Procurou a criança e viu a porta do escritório aberta, entrando e encontrando o pequeno a olhar as fotos na parede.
– "Droga. Pedi para a Lena manter a porta fechada" – pensou chateado. – "Agora o garoto vai dar com a língua nos dentes, pois é muito pequeno para guardar um segredo." – Você não devia ter entrado aqui, pequeno.
– Tio Ric, essa é a minha mãe, mas ela está muito mais bonita e contente! E tem você também. Naquela ali o senhor está beijando ela! Como pode?
– Filho. – Ricardo abaixou-se e abraçou a criança. – Sua mãe teve um grave acidente e não lembra de muitas coisas.
– Eu sei, tio. Antes de eu nascer, ela não lembra nada.
– Olhe – pegou o pequeno ao colo, preferindo a verdade já que qualquer mentira podia ser apanhada. – Eu e ela eramos namorados antes da sua mãe se casar com o seu pai, mas ela não lembra e, se souber, vai sofrer muito. Então você não pode dizer nada para ela. Que tal fazermos deste o nosso segredo, meu pequeno?
– Sim, tio Ric. Eu não conto nada, juro – disse a criança, solene e selando aquela informação para sempre.
– Venha, amor – afirmou, sorrindo. – Tenho aqui o seu presente.
Fecha a porta do escritório, leva o garoto para o quarto de arrumações e pegou no baú.
– Uau, que grande! O que é isso?
– Lá em cima eu mostro. – Com o pequeno em um braço e o baú no outro, voltou para o galpão. Pousou a caixa no chão e abriu para o garoto, cujos olhos arregalam-se.
– Um trenzinho elétrico! – exclamou. – Não, um baita trenzão!
– Era meu quando tinha um pouco mais que a sua idade – disse Ricardo. – Ele é tão grande que não caberá no seu quarto, mas agora é seu.
O pequeno atirou-se ao pescoço do pai e beijou-o feliz, apertando-o com força.
– Obrigado, tio. Adorei. – Lena só observava. Quando a carne ficou pronta, Ricardo serviu e o pequeno come com alegria, feliz.
– Coma mais, Mariana, você está muito magra, precisa de se alimentar melhor.
Ela sorriu e comeu mais, também contente de o ver ao seu lado. Ricardo tomou mais uma cerveja, a sexta ou sétima e, na opinião da Lena, estava bebendo mais do que devia. Controlava-se, mas ela notou que ele já passou da conta. Os seus olhos fechavam-se em tristeza.
O resto do dia foi tranquilo e quem não soubesse, acharia que dois casais curtiam um belo sábado. Pelas dezesseis horas, Marcelo decidiu ir embora, especialmente porque notou que a esposa olhava muito para o amigo. Ao pegar a caixa com o trem, cambaleou com o peso.
– Deixe que levo, Marcelo, é bastante pesada por causa dos transformadores e da bateria. Alás, talvez você precise de comprar uma nova. – Pegou nela como uma se fosse uma pluma e levou para a bagageira do carro. Jade abraçou o seu amado e disse bem baixinho.
– Amo você, André – depois, abraçou Lena e disse sem pensar, também muito baixo. – Cuide dele, que sofre demais. Confio em você.
– Não devia – foi a resposta dela.
– Devia sim. Faça o que for preciso, mas não o deixe sofrer. Estou começando a lembrar de muitas coisas, só que não sei onde você se encaixa mas sei que devo confiar em si.
Marcelo abraçou Lena e dá um puxão para sentir os seios contra o corpo.
– Se repetir isso, mato você – foi a sua resposta no ouvido dele dada com um sorriso angelical. Zangada, pôs a mão em volta da cintura do Ricardo.
Quando saíram da vista, Lena levou o seu gato de volta para a piscina em silêncio, notando que ele não estava para muita conversa nem muito sóbrio.
Sentaram-se, ela numa espreguiçadeira a tomar sol e ele no galpão. Lena, aproveitando que estavam apenas ambos, ergueu=se e tirou a parte de cima para se bronzear com o sol mas fraco e voltou a recostar-se. Poucos segundos depois, disse:
– Que tal foi o nosso jogo?
– Bem – disse Ricardo, levantando e pegando mais uma lata de cerveja. – Ele tá atolado na merda até à raiz dos cabelos.
– Olha só, amor – disse ela ao ouvir a leta sendo aberta. – Você já bebeu demais, quem sabe dá uma paradinha.
– Foda-se – respondeu. – Pelo menos espanto meus fantasmas.
Lena ficou empertigada, pois Ricardo não era dado a palavrões e acabou de dizer dois em sequência, sinal de que não estava bem.
– Ricardo, você não tá legal – disse. – Venha aqui e deite-se do meu lado e relaxe um pouco.
– Relaxar um pouco? – Ricardo riu. – É mais fácil eu relaxar enchendo a cara, guria. Tu tás quase do jeito que Deus te fez e queres que eu relaxe deitando ao teu lado. Se eu fizer isso, vou fazer uma grande besteira porque tá difícil segurar.
– Então venha fazer uma grande besteira que tô mais que afim disso, amor.
– Pare com isso, Madalena – disse, voltando a beber.
Lena sentiu o sangue ferver por um segundo e se fosse qualquer outro tê-lo-ia rebentado, mas com ele a raiva dissipou-se tão rápido quanto veio. Levantou-se, séria, e aproximou-se dele quase até praticamente colar o próprio corpo no amigo.
– Eu já não disse que não gosto que me chame assim? – perguntou, séria.
Ricardo olhou para ela jamais foi capaz de dizer ou explicar o que aconteceu. Quando o seio dele tocou seu peito, ativou um gatilho. Ele lançou a lata de cerveja para o chão e agarrou-a com força, puxando-a para sia, beijando-a e acariciando-a de forma meio selvagem. Praticamente atirou-a para cima de uma das mesas e arrancou rudemente a sua última peça de roupa, possuindo-a ali mesmo, descontrolado. Lena apertou-o contra si, querendo mais. Quando ambos atingiram o auge, deixaram-se cair sobre a mesa, ofegantes, e ela deu-se conta que ficaram muito mais tempo do que imaginara inicialmente, pois já estava escuro. Pegou a mão do Ricardo e puxou-o carinhosamente.
– Venha, amor, vamos deitar que está noite.
― ☼ ―
Com o balanço da rua não muito perfeita e o roncar constante do motor, o pequeno Ricardo adormeceu no colo da mãe, feliz pelo dia que teve. Ele simplesmente adorava o homem que não sabia ser o verdadeiro pai. Já a mãe, sonhava com o seu amor verdadeiro, calada e encostada no banco, de olhos fechados. Quando saíram, notou que ele não estava bem e preocupava-se demais. Apesar disso, também ficou levemente embalada com andar do veículo e quase adormeceu.
Marcelo, ao contrário, estava bem desperto e pensava em um plano sórdido para levar a morena deliciosa que o Ricardo apresentou para a cama. Ele ficou excitado só de olhar ara a sua sensualidade e, apesar de a esposa lhe ser muito superior, desejava ardentemente uma noite com a matemática. Ele decidiu que na semana seguinte ia mandar investigar essa garota para conseguir arrancá-la do amigo.
Quando chegaram, ele quase não aguentou o peso do baú e chamou o porteiro para ajudar, enquanto Mariana levava o bebê para a sua caminha. Como também estava cansada, aproveitou para se deitar um pouco, embora ainda fosse cedo. Marcelo largou o baú no quarto da criança e deu uma gorjeta para o porteiro. Foi ao banheiro e viu a esposa deitada de lado, apreciando o seu traseiro bem feito e delineado pela cintura muito fina. Decidido a dar uma bimbada nela, arrumou-se, trancou o quarto e foi para a cama. Agarrou-lhe os seios e depois desceu a mão para a sua púbis, mas foi interrompido.
– Não, Marcelo, você não está pensando em mim e sim na amiga do Ricardo – disse ela. – Você não me engana.
– Tá maluca, Mari?
– Você mudou, Marcelo. Quando eu saí daquele hospital você era doce e gentil. Agora é possessivo e agressivo. Eu estou cansada, demasiado cansada.
– Deixe de bobagem, mulher. – Sentiu que se deu mal e ficou bem irritado, quase berrando.
– Tá vendo? Agressivo – retrucou ela. Virou o rosto para o marido e acrescentou, muito séria. – Eu quero divórcio, Marcelo, não sou objeto de exibição pública que você mostra e come quando quer, além de comer todas as outras. Eu quero ser amada, bem tratada, quero ter prazer, quero ser feliz. Você só me faz infeliz!
– É difícil ter prazer quando você não dá, não acha? – perguntou, um tanto irritado e sem esconder isso. – Quando foi que você procurou ter algum prazer, Mariana?
– Não dou porque você não me desperta desejo, Marcelo. Eu quero divórcio. Quero que saia daqui e me esqueça, antes que você comece e virar corno. Para mim, chega.
Furioso, ele disse:
– Jamais terá o divórcio – deu-lhe uma pancada no rosto, fazendo-a desmaiar. Depois, ao vê-la assim, aproveitou-se dela até saciar o seu desejo.
― ☼ ―
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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