Capítulo 11 (não revisado)
Quinta-feira.
Logo de manhã o telefone celular do Ricardo tocou e o delegado pôs no viva voz ao reconhecer o número do Marcelo.
– Alô?
– "Ric? Tudo bem, cara? Vi o noticiário agora de manhã. Você andou ocupado pois reconheci seu carro. Aqui em Brasília, o pessoal está todo em polvorosa. Um senador de metralhadora na mão disparando em um helicóptero foi demais! Isso deu uma repercussão dos diabos e a federal fechou o gabinete dele. Ninguém entra. A coisa tá feia e o presidente enlouquecido."
– Bem, a filmagem prova claramente que sou a vítima e o meu rosto não aparece.
– "Ei, cara, eu vi pela imagem da televisão um belo par de pernas do seu lado. Conheço a dama?"
– Não. É uma antiga colega da faculdade.
– "É isso aí, cara, vai fundo. Amanhã vou para o Rio, pois hoje preciso de fazer umas coisas aqui e a federal está interrogando todo o mundo, especialmente os do partido dele que, infelizmente, é o meu. Sábado encontramo-nos. Um abraço, cara. Espero que pegue todos."
– Adeus. Desculpe o jeito que falei com você na última vez ao telefone e valeu pelo aviso. – Quando desligou, perguntou a sim mesmo. – Será que está ou não envolvido?
– É mais que óbvio que está – interrompeu Lena, já irritada com essa mania dele defender o amigo. – Só você que não quer ver.
– Engano seu, anjo. – Ricardo ficou com o olhar duro. – Eu estou desejando que não seja ele porque, se foi, nem Deus vai salvá-lo da pior das torturas que eu puder imaginar pois terá sido ele o causador do que aconteceu à Jade.
A ameaça foi de tal forma assustadora que a colega chegou a se arrepiar por um segundo. Logo após, pôs a mão no ombro dele e disse:
– Então vá-se preparando, porque foi ele. – Apertou o seu ombro com mais força e continuou. – Só procure fezer direito para não ser você o condenado.
– Não se preocupe quanto a isso – respondeu Ricardo.
– Termine o café e vamos ver os computadores – pediu a Lena.
Na sala, o delegado aproveitou para olhar a agenda do senador. Muitos dos nomes eram em código, mas reconheceu alguns. Abriu um terminal em uma das SUNs e invadiu as operadoras de telefonia, conseguindo obter uma lista de nomes.
– Estas devem ser amantes ou prostitutas e este é um numero antigo do Marcelo, secreto. Devia ser o que ele usava quando se infiltrou na quadrilha. Temos mais quatrocentos nomes para procurar, mas vamos começar pelos nossos suspeitos. Que sujeito bem burro! Eu teria usado um pré-pago, até os traficantes fazem isso! – Ricardo deu uma pequena risada. – Na certa é a certeza da impunidade, ou era...
Após uma hora de pesquisas, chegaram a três possíveis nomes e números, quando, no mesmo momento, o supercomputador o terminou e mostrou a chave, que era de seis Kb.
– Olhe, a chave. – Ela deu uma risada. – Que máquina maravilhosa, queria uma assim.
– Compro um para você, Lena, quando tudo isto acabar.
– Jura? – A delegada saltou no seu colo. – Eu te adoro, McGiver.
Após a garota dar-lhe uns beijos, tirou-a gentilmente de cima e pediu para continuarem.
– Vamos aplicar as chaves nos e-mails.
– Vai demorar pra cacete!
– Não, Lena, basta escrever a chave neste programa – disse, ativando-o. – Ele vai descriptografar todos os e-mails e gravar uma cópia aberta em outra pasta.
– E depois?
– Depois verificamos alguns deles.
– Ok, gato, quanto tempo para abrir cento e sessenta Gigabytes de e-mails?
– Uns dez minutos. Estão em clustering. Todas as SUNs operam ao mesmo tempo.
– E para lermos tudo?
– Vamos abrir os últimos dez ou vinte. Selecionamos palavras-chave e jogamos neste outro programa, que vai vasculhar as mensagens todas, como um spider do Google.
– Caramba, isso pouparia algum tempo precioso na inteligência! – disse ela, com um leve tom de censura. – Não acha?
– Acho – respondeu divertido. – Foi r isso que o fiz, mas fui baleado antes de testar em campo, ou seja: agora.
Abrem o primeiro e-mail, casualmente do senador morto, uma lista de pagamentos.
– Lena, chame o chefe e mande-o vir o mais rápido possível.
– Ok. – Ela pega o telefone e liga, informando a seguir. – Está vindo de helicóptero e chega em dez ou quinze minutos.
No segundo e-mail, de um dos deputados, encontram menções a uma loja: Mariana Modas.
– Santo Deus! Estão usando a empresa da Jade para lavagem de dinheiro. Por isso as mortes, como desconfiei. – Olha o material sem acreditar no que vê. Logo depois, depara-se com uma relação de pessoas corruptas, constantes da folha deles. Juízes, deputados, policiais e outros, inclusive traficantes do complexo do alemão e outras favelas igualmente terríveis.
– Está convencido agora? – Lena cutucou o amigo.
Sem se abalar, ele levantou os olhos para ela, sério, e disse:
– Ainda não – explicou. – Ele disse que pediu a um deputado para ajudar com isso. Por favor, Madalena, não força a barra.
– Eu já disse mil vezes que não gosto de Madalena – retrucou, furiosa.
– Então guarde as suas ideias para a hora certa e pare de me aborrecer. – Ele não disse mais nada e começou a digitar as palavras-chave. O sistema iniciou a pesquisa e a tela preta piscava uma simples mensagem: "Aguarde, buscando..."
Pouco depois, começam a aparecer as respostas ao mesmo tempo em que um helicóptero desceu no terraço da casa. Otávio saiu e o piloto foi orientado a aguardar no aparelho. Lena, que o foi receber, acompanhou-o ao escritório.
– Então, Lena, alguma novidade?
– Verá por si mesmo, chefe. – Entraram no escritório e ele notou o olhar sério do subalterno, que não tirava os olhos das telas.
Quando notou os resultados, ficou eufórico, dizendo:
– Conseguiram – sorriu abertamente. – Eu sabia que vocês dois são imbatíveis. Vamos compilar os dados e arrumar uma ordem de busca e apreensão do ministério público.
– Negativo, chefe, quero desmantelar a turma toda. Deixe-me pegar estes assassinos primeiro. Eles acabaram com a minha vida e a de pessoas que eu amava. Depois poderemos fazer os documentos virem a público. Há muitas lacunas a serem preenchidas, como, por exemplo, o papel do Guimarães nisto tudo.
– Como assim?
– Ele de alguma forma tem algum envolvimento que liga a minha noiva ao caso, mas até agora nada possuo para o incriminar.
– Seu cachorro – quase gritou Lena. – Eu aqui gastando a saliva para convencer você que ele é uma fruta podre e você defendendo o desgraçado e agora escuto isso?!
– Até agora, Madalena – disse Ricardo, enfatizando o seu nome completo –, ele nada tem que prove o contrário. Isso não quer dizer que o ache um santo.
– Se você me chamar Madalena novamente, atiro no seu pé, seu diabo.
– Querem fazer o favor de parar com essa criancice? – interrompeu, Ferreira. – Isto aqui é sério. Há outros casos além da Mariana, McGiver?
– Sim – respondeu o subordinado – há bastante gente assassinada ou morta misteriosamente e a loja da Mariana é usada para alguma falcatrua. Eu quero forçar uma confissão dos culpados, de todos eles.
– Ok, McGiver, a bola é sua mas pegue leve que o necrotério não tem mais espaço e a civil tá reclamando.
– Melhor arrumarem, senhor, que isto está longe de acabar.
Pegou no celular e ligou para um número. Enquanto aguardava, disse:
– Peguei o celular do senador e já achamos os números dos demais. O cara era tão besta que deixou tudo no aparelho... Alô? Bom dia, desejo falar com o deputado Antônio França.
– "Como sabe o meu número?" – perguntou uma voz grossa.
– Tenho o seu número e outros três – respondeu Ricardo, enigmático. – Um deles matei ontem. Possuo documentos que podem acabar com você e sua gangue.
– "Ah, o delegado nervosinho que pensa que é Deus" – disse ele com uma risada. – "O que quer em troca para nos esquecer de vez?"
– Quero uma reunião, aqui no Rio, em lugar reservado. Eu, você, o deputado Lessa e o deputado Martins. Tem de ser hoje e, conforme o caso, poderemos negociar.
– "Nós estamos no Rio. Que tal no campo de futebol que tem no Recreio, perto da casa do senador Marques que você matou ontem? Às nove da noite."
– Perfeito – disse o delegado –, mas venham sozinhos, do contrário vamos ter um banho de sangue. Apenas o horário deverá ser às quatorze horas. É pegar ou largar, senão levo tudo para a mídia. Tenho compromissos depois disso.
– "Combinado, estaremos lá."
Ricardo desliga.
– Eles não vão armar uma emboscada – disse o chefe. – Não precisa ser um gênio para ver isso.
– Óbvio. Vou matá-los todos. São os que faltam na minha lista.
– Ricardo, tome cuidado que você não é o super-homem.
– Claro que não sou, chefe, mas sou muito rápido. Devo ser o The Flash. – Ele sorriu ligeiramente.
– É bom ver você sorrir, filho.
– Tio, se soubesse a dor que sinto, ia entender. Não os mato por vingança, pois não me leva a nada e o mestre Ishiro ensinou-me isso. Mato-os para eliminar o mal pela raiz. A minha única exceção será o cacique dos bandidos. Esse, realmente, vai-me dar muito prazer.
– Nunca vi o Ishiro ensinar o grau máximo a um ocidental.
– Ele é um pai para mim, tal como você. Só não entendo como o conhece e sabe japonês.
– Também sou um ninja, McGiver. Quando estava em Porto Alegre, conheci-o porque trabalhava para o seu pai e eramos todos amigos. Ele ensinava você e pedi que me ensinasse, mas jamais cheguei ao seu grau. Sou muito bom com a espada, embora nem chegue dou pra saída com você e também sou incapaz de me desviar de tiros.
– Entendo. Bem, chefe, os dados estão lançados. – Ricardo pegou o telefone e ligou de novo. – Oi, senhor Antunes, quer outra exclusiva? Preciso da sua ajuda... Ok, em duas horas no estacionamento do Extra vinte e quatro horas da Barra, pode ser?... combinado. Preciso de equipamento de espionagem completo: câmeras e microfones secretos... obrigado pela ajuda... não se vai arrepender. Vamos pegar um peixe muito graúdo, na verdade, três tubarões.
– Você vai envolver a TV? – perguntou Ferreira, incrédulo e preocupado.
– Vou porque eles vão tentar matar-me e preciso de provas de legítima defesa. Além disso, vou fazê-los falar e quero que tudo fique gravado em vídeo. O cara é bacana e cumpriu com as minhas condições ontem. Só permitirei que seja televisionado depois que vocês liberarem a público. Bem, vou tomar um banho e vestir um bom terno que o dia vai ser um estrago dos infernos.
– Vou voltar para o escritório. Lena – Ferreira notou que a garota tinha novamente o brilho da alegria de viver no olhar –, não me deixe este maluco fazer besteira. Às quatorze horas, subirei para um helicóptero e irei em direção ao Recreio. Vamos devagar para não aparecer na hora errada e, se necessário, chamem pelo telefone. Estaremos voando alto para não chamar a atenção. Espero o chamado e não me arrumem mais cadáveres, pelo amor de Deus. O necrotério está cheio!
– Ok, chefe. – Ela sorriu docemente. – Agora, só me explique como eu vou segurar o McGiver se nem você pode?
– Mas ele dá ouvidos para si, Lena, cuidem-se e não o deixe fazer besteiras, pelo amor de Deus.
– Tentarei, chefe, mas não se iluda. Ele faz o que quer, sempre fez e nem mesmo o senhor o freou.
― ☼ ―
Na hora combinada, o homem da TV e um repórter encontraram-se com o delegado no estacionamento do supermercado Extra, como marcado. Chegam com um furgão e eram apenas dois, o câmera e o repórter, os mesmos do helicóptero. Ricardo entrou na Van e conversou com eles, explicando a situação e mostrando o perigo da missão. O câmera respondeu com uma pergunta, rindo muito:
– Você desvia de tiros, que mais o pode atingir?
– Há um limite para a minha capacidade. Eram só vinte e poucos homens; mas, se vierem cem, não deverei ser capaz. Trouxeram o equipamento?
– Sim.
– Então preparem-me, por favor. – Os profissionais fizeram um trabalho meticuloso, pondo as escutas e a câmera secreta no seu paletó.
– Céus, você carrega um arsenal! – comentou o repórter, ao ver as seis pistolas e vários pentes de balas debaixo do casaco.
– Desta vez será necessário.
– Pronto, vamos testar. Nos vamos entrar dentro do carro para monitorar e você dá um passeio pelo estacionamento. O alcance é dois quil6ometros, mas imagino que você não vai precisar de tudo isso. – Entraram no furgão camuflado. Quando Ricardo retornou, o câmera disse:
– As imagens estão perfeitas.
– Ótimo, vamos fazer o reconhecimento e depois almoçar.
Os dois veículos seguiram pelo trânsito relativamente calmo, coisa anormal, até ao local indicado no Recreio. Encontram facilmente o campo de futebol, pois era no fim da rua. Ricardo achava engraçado que, tendo ido várias vezes até àquela rua onde mora o mestre Ishiro, nunca notou que ela terminava cem metros depois, em um campo de futebol. Conversava com a equipe da TV, enquanto observavam o lugar.
– Este local é tão perfeito para uma emboscada que estou certo que realmente planejam algo. Onde pretendem esconder-se?
– Ali é um ótimo lugar – apontaram um estacionamento em ângulo agudo. – Com a teleobjetiva, podemos varrer todo o campo e estamos relativamente seguros de tiros diretos.
– Excelente. Eu vou-me posicionar aqui, quase perpendicular para vocês mas em ângulo de forma a poderem ver os rostos deles. É o lugar onde obtenho mais segurança e se atirarem em mim não correrão o risco de receberem balas perdidas. Muito bem, vamos almoçar. É por minha conta.
Quando saíram para o almoço, o celular tocou e ele começou a conversar em japonês. Falou por um tempo e escutou atentamente. Respondeu algumas coisas e, depois, despediu-se, continuando a conduzir calmamente.
– Você é sempre assim tão calmo, sabendo que em breve pode ser morto?
– O nervosismo só atrapalharia meus planos – calou-se novamente e os repórteres respeitaram-lhe o desejo.
― ☼ ―
Ishiro regava as suas plantas quando viu o carro do Ricardo passar pela sua casa logo seguido por um furgão de vidros polarizados. Achou estranho e tentou descobrir o que estaria a acontecer, aproximando-se do portão e observando o carro. Este não parou na casa do sequestrador e sim no fim da rua. Aguardou escondido, observando tudo em silêncio. Quando o furgão estacionou em um local de fácil visibilidade, este começou a ter uma boa ideia do que iria ocorrer. O seu pupilo e mais dois homens entraram no carro do Ricardo e afastaram-se. Entrou em casa e ligou.
– Filho, o que está havendo?
– "Marquei um encontro com três deputados corruptos da quadrilha aí perto da sua casa, mestre e de certeza que tentarão matar-me. Então, envolvi a TV."
– Precisa de ajuda?
– "Possivelmente, se forem muitos."
– Conte comigo, usarei armas de fogo. – Ricardo respondeu mais algumas perguntas de cunho estratégico e desligou
O almoço era tranquilo e a comida, apesar de simples, boa e bem feita. À uma e quinze, retornaram. Estacionou o carro ao lado do furgão e foi para o campo. Os dois repórteres entram na van e começam a ligar os equipamentos, tudo correndo às mil maravilhas. Por cerca de vinte e cinco minutos, Ricardo ficou imóvel, de pé e com um envelope grosso em uma das mãos. Dois carros encostaram pelo lado que este calculou e os deputados desceram dos veículos, caminhando até ele. Os três homens eram bastante díspares: um era alto, mas gordo como um raio; o outro, baixinho, atlético e notava-se que gostava de cuidar do corpo; o terceiro tinha estatura mediana e era barrigudo.
– Boa tarde, senhores.
– Que documentos são esses de que fala? – perguntou o primeiro deputado, indo direto ao assunto sem sequer cumprimentar. André viu pela voz que não era o tal França, logo só podia ser Lessa ou Martins. Ele precisava saber quem era esse Martins.
– Você é Martins? – perguntou à queima-roupa.
– Sou, e daí? – respondeu, seco. – Agora diga logo que documentos são esses. Não nos faça perder tempo.
– Nada demais – Ricardo encolheu os ombros, minimizando a importância do material que possuía – extratos bancários, a relação de corruptos comprados, contabilidade, lavagem de dinheiro, esse tipo de coisa. A lista é realmente grande e vocês andaram ocupados, muito ocupados mesmo.
– Muito bem, o que deseja? – perguntou o barrigudo, que o delegado concluiu ser Lessa, uma vez que não se tratava da voz do França.
– O que vocês acham que eu poderia desejar?
– Todos os homens têm um preço, delegado – vociferou França, cruzando os braços. – Qual é o seu? Do contrário, não nos teria procurado, não concorda?
Dois ônibus encostaram, descendo umas noventa pessoas. Alguns, estavam de uniforme, sinal de que iam jogar. Eles fizeram sinal para o grupo e Ricardo, gentilmente, recuou para fora do campo, seguido pelos três políticos que, contudo, mantinham uma distância aproximada de dez metros do delegado, o que o levou a concluir que, definitivamente, havia segundas intenções. Seu olhos treinados há muito que tinham visto Ishiro em cima de uma árvore, aguardando silenciosamente, tão quieto quanto uma estátua.
– Que preço eu poderia ter? – questionou, sorrindo. – Vocês são os responsáveis pela destruição da minha vida. Perdi a minha noiva, fiquei em coma por meses e sofri horrores. O meu preço bem poderia ser a vossa morte. A sorte de vocês é que, como policial, não posso sair matando, somente em defesa da vida.
– Não somos os responsáveis por isso, mas temos uma parte no caso, se quer saber – confessou, o barrigudo. – Mas poderíamos chegar a um acordo, que tal cem milhões de Reais?
– Tá gozando comigo, Martins? – perguntou, Ricardo.
– Duzentos?
– Não me faça rir, meu caro, eu não preciso de dinheiro. Tenho mais do que posso gastar e muito mais do que vocês sonham ser possível. Já ouviram falar nas indústrias Godói? São minhas, sou o sócio majoritário!
– Sua noiva, que tal?
– Isso não é mercadoria de troca. – Ricardo ficou sério e muito zangado, olhando-os ameaçador. – É um ser humano que eu amo acima de tudo o que há no mundo. Pelo bem da vossa saúde, não repitam isso. Vocês também provocaram o sofrimento dela. Na verdade, eu não tenho preço.
– Todos têm um preço, que tal entregarmos o seu amiguinho, o Guimarães? Afinal ele é, diretamente, o causador de tudo. Vai para a cadeia e a sua noiva fica livre.
– Primeiro, o senador Falcão deixou claro que o senhor é o chefe; segundo, você comporta-se como o chefe; terceiro, vou-lhe avisando que não hesitarei em matar para proteger Mariana e o senhor está passando dos limites, deputado.
– Eu era o chefe, sim, mas não sou o responsável direto pelo que lhe aconteceu – disse Martins, professoral. – Você deveria prestar mais atenção ao seu amigo Guimarães, pois ele é o único e exclusivo culpado.
– Sei – disse Ricardo, suspirando. – E daí ele tornou-se o chefe da gangue pois vocês o teriam transformado num monstro e agora temem-no, como um Frankeinstein moderno. Pelo que noto, ele parece ter assumido o controle da situação e vocês adorariam ficar livres dele. Mas daí não me estariam fazendo um favor e sim a vocês.
– Tem razão, ele tornou-se um problema para nós; mas, mesmo assim, é o pivô de todo o mal que lhe aconteceu. Dessa forma, você sairia ganhando.
– O que eu acho, na verdade, é que ele é um calo dos grandes nos vossos pés e vocês desejam que eu me livre dele para que saia do vosso caminho e vocês retornem calmamente à vossa vida de crimes.
– Pense bem, delegado, pois eu lhe garanto que, diretamente, nada temos a ver com a desgraça que lhe aconteceu. Os dois lados saem ganhando e não se esqueça da sua noiva. Podemos até dar um jeito na criança do Marcelo.
– Repita isso e meto uma bala na sua testa antes mesmo que pisque os olhos – berrou, furioso. – Quer matar um bebê?
– Acha que me matando resolve as coisas. Eu sou um deputado federal, tenho imunidade.
– O senhor não passa de um criminoso barato e só vim aqui para ver a cara de vocês, para saber como é um assassino frio e calculista. Este material será entregue para a mídia e para a polícia federal, pois a mim vocês não compram. Eu tenho tudo o que poderia corromper um homem: fortuna e poder, mas tenho algo mais, tenho integridade. Vim aqui apenas com o desejo de ter a certeza que são realmente os culpados e vocês acabaram de confirmar isso tentando me comprar. Podem juntar à vossa lista de crimes a tentativa de corromper um delegado federal e tem mais, estou com grampos até ao pescoço. Foi tudo gravado e vocês se foderam lindo. Adeus, meus senhores.
Ricardo faz menção de virar as costas e sair.
– Matem-no – gritou o deputado Martins, nitidamente o líder da quadrilha.
Os que jogavam futebol e os que assistiam sacaram de armas e começam a atirar. Eram muitos, mas Ricardo conseguiu iludi-los metendo-se entre eles e os políticos. Enquanto dava um salto meio desesperado, pegava duas nove milímetros e já rolava pelo chão para escapar a novos tiros. Ergueu as mãos e atirou, jogando-se novamente para o lado e saltando, ocultando-se parcialmente entre um dos deputados e atirando sem parar.
Mais de trinta homens caíram em poucos segundos só na primeira investida e ele não parava de se mover, jogando as pistolas vazias no chão e pegando mais duas, recomeçando os disparos.
Do nada, um homem de preto apareceu com duas armas nas mãos e os bandidos viram-se num jogo cruzado, dando algum alívio para o delegado enquanto eram massacrados sem dó nem piedade e sem chance de fuga. Tão rápido quanto veio, o homem mascarado desapareceu assim que descarregou as duas armas, matando uma quantidade razoável de criminosos. Após dois minutos voltou a reinar o silêncio e só havia quatro pessoas de pé, três delas completamente abaladas. Ricardo olha para os políticos e sacudiu a cabeça.
– Vocês são muito bestas mesmo – disse. – Acham que eu viria aqui se não os pudesse enfrentar?
Pôs uma das armas no coldre, a que sabia estar sem balas. Com a mão livre, abaixou-se displicentemente para pegar as quatro pistolas descarregadas. Ao agarrar a primeira, atirou-se para o lado com um rolamento e uma bala passou rente ao seu corpo. Levantou-se rapidamente e saltou para outro lado, escapando do segundo projétil que passou raspando. Mais um salto lateral e a terceira bala perdeu-se no nada enquanto ele ergueu a arma que tinha na mão e deu três disparos. Os políticos, com as pistolas nas mãos, caíram lenta e mortalmente feridos, com lesões dolorosas e irreversíveis.
– Como veem, posso matar vocês. Basta agir em legítima defesa. Esta ação foi toda filmada e tenho as provas necessárias, sem falar que vocês se incriminaram. Agora só falta descobrir o envolvimento do Marcelo e último deputado. Obrigado pela ajuda.
Com o telefone na mão, ele ligou para o chefe e pediu que viesse.
– "Estou a dois minutos daí" – disse Otávio. Quando olhou pela janela, continuou. – "Minha nossa, McGiver."
O helicóptero pousou. O chefe da inteligência saiu e olhou em volta com os braços esticados, dizendo enquanto apontava:
– Porra, McGiver, qual foi a parte que você não entendeu quando eu disse que o necrotério está abarrotado?
– Sinto muito, chefe, eles atiraram primeiro, mas eram os últimos. Acho que agora, só sobra um ou dois.
Quando viram que era o pessoal da federal, os homens da emissora saíram da van a aproximaram-se.
– Assustador – afirmou um – tome, aqui está a gravação completa, conforme combinado.
– Obrigado – Ricardo pegou o DVD. – O meu chefe vai confirmar com vocês o que pode ser liberado agora, ok?
Uma equipe grande da federal chegou e, pouco tempo depois, apareceu a polícia que foi chamada por moradores. Quando virama que se tratava de assunto federal, retiraram-se.
Ricardo despediu-se, foi para o carro e jogou as armas no porta-malas. Depois, toma rumo para a barra. Ao passar pelo quiosque, não resistiu e parou. Um suco de laranja e uma meditação em frente ao mar era tudo o que precisava para se livrar da violência por que passou.
― ☼ ―
Clustering – Método de conectar diversos computadores para resolver um problema. Este é dividido em pedaços e cada computador resolve a sua parte. Um tipo de processamento distribuído.
Personagem dos quadrinhos que é super-rápido.
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