Cinco

— Você pode matá-la, eu ajudo a sumir com o corpo.

Vegas estancou no meio da volta que dava no estúdio, se virando para analisar, incrédulo, o tom suave usado pelo irmão junto à postura relaxada enquanto mexia no celular. Talvez ele tenha colocado fé demais nas ideias dos gêmeos. Até havia saído uma hora antes do horário de almoço, só para ter essa conversa com os irmãos; entretanto, o pensamento de mais cedo que o enchera de esperanças se diluía como café solúvel em contato com água.

— Uauuu, aquele gostoso vai estar na capa da Mint de novo.

Nakunta vibrou em uma dancinha esquisita, antes de paralisar com as mãos no ar ao perceber a confusão estampada no rosto do mais velho. Suspirando, travou o celular e o depositou sobre o tampo do piano antes de cruzar os braços na frente do corpo e encarar o mais velho com uma expressão que denunciava a seriedade da sua proposta.

— É uma solução...

Vegas suspirou exaurido, antes de negar com a cabeça e seguir até o sofá no canto, se jogando nele de maneira desleixada. Ele estava prestes a surtar e seu irmão parecia ansioso para contribuir para isso.

— Nana, eu quero livrar o Pete dessa merda e de preferência sem o risco de ir preso.

— Isso não estava na equação. — Nakunta deu de ombros, voltando a pegar o celular enquanto dizia: — Tudo o que você pediu foram ideias práticas. Pra quê mais praticidade do que sumir com a velha para sempre?

— Ele tem razão.

A incredulidade tomou conta do rosto de Vegas novamente, e sua boca se entreabriu involuntariamente. Ok, ele esperava ouvir esse tipo de barbaridade vindo de Nakunta; todavia, ouvir Macau concordar o levava a ter a certeza de que procurar os gêmeos não fora sua melhor opção. E daí que ele mesmo pensou nessa possibilidade? Ele não era imune ao desejo de sumir com a mulher, porém isso soava como o desespero falando, e ele era racional. Embora não merecesse, Pete ainda mantinha uma linha de respeito com a matriarca, e se Vegas cometesse tal atrocidade, era a relação deles que iria afundar.

— Macau! Por favor, não me faça acreditar na deseducação; não posso aceitar que o Nakunta esteja te corrompendo a esse nível.

O alfa falou, tentando apagar da sua mente a ideia tentadora, porém insana, do irmão.

— Eiii, pra sua informação, eu sou muito bem educado.

Nakunta retrucou em falsa indignação. Uma tentativa bem-sucedida de aliviar a tensão do mais velho, que sorriu enquanto meneava a cabeça em concordância.

— Claro que é. — Macau falou, revirando os olhos e indo se sentar ao lado do alfa mais velho, segurando sua mão em conforto brando. — Mas sério, Vee, concordo com a ideia de sumir com a velha... — Vegas arregalou os olhos, não querendo acreditar em tais palavras, mas então o beta sorriu e afagou sua mão. — Mas não como o cabeção aqui tá falando, de uma maneira mais óbvia.

— Óbvia? Queimei meus neurônios o dia todo e não achei nada, então não é nada óbvio para mim.

E se jogando para trás no sofá, ele suspirou, sentindo uma pontada fina atingir sua nuca.

— É porque vocês dois estão vendo a coisa pelo buraco de um cilindro a dois metros de distância. Para mim, é bem óbvio o que você deve fazer, sem risco de cometer um crime.

— Então ou eu sou muito míope ou muito burro, porque ainda não consigo entender.

Enquanto dizia, o alfa se ajeitou no sofá, sua postura denotando total atenção ao que o caçula diria.

— Deve ser um problema no gene alfa dessa família — replicou o beta, a ponta de um sorriso surgindo em seus lábios.

— Eu sou um pouco burro, mas me senti ofendidíssimo agora.

Nakunta fez uma careta irritada para o caçula e fechou o semblante, cruzando os braços com brusquidão, o bico tão maior quanto sua indignação. Macau dispensou o drama do alfa com um gesto de mão, revirando os olhos pela segunda vez e, logo depois, intercalando seu olhar entre os irmãos.

— Não é óbvio, gente?

— NÃO! — os alfas responderam em uníssono, e o beta suspirou antes de continuar seu raciocínio.

— O Vegas quer livrar o Pete de um casamento forçado. A mãe do Pete não vai dar o braço a torcer porque é uma escrota. A solução é simples: Vegas tem que casar com o Pete.

Nakunta soltou uma risada estridente e se jogou para trás no banquinho do piano, quase indo parar no chão no processo. O som tinlante preencheu o espaço acústico por bons segundos, até ele se recompor e, passando a mão pelo peito, comentar ainda entre risos.

— E o problema era só no gene alfa, hein?

Vegas estava totalmente petrificado, a palavra "casamento" rodopiando em loop na sua mente. Sem perceber, a imagem de um Pete entrando na igreja trajando um terno branco enquanto segurava um buquê em forma de cascata ganhou forma em seus pensamentos, e ele teve que balançar a cabeça algumas vezes até ter a imagem desfeita como poeira. Encarou os gêmeos, especialmente Macau, e sua testa se franziu em confusão. Não fazia ideia de onde o irmão tirou que aquilo seria uma solução plausível, mas agora sentia sua última gota de esperanças ruir.

— Onde você achou que isso seria uma boa ideia? Por Buda, nós somos amigos e o fator principal é justamente o Pete não querer casar. Eu tô tentando livrar ele disso e não colocá-lo em outra furada.

Ele não estava enraivecido, frustrado sim, mas seu tom não deixou de soar um pouco desesperado.

— Ainda bem que você sabe que seria uma furada ele casar com você. Pete não merece esse castigo todo.

Nakunta brincou, mas, dessa vez, o mais velho não deu indícios de que relaxaria. O suspiro profundo ecoando pela saleta foi a sinalização do ato.

— Nana, se você não vai ajudar, não atrapalha — o beta comandou, sério, e, pela primeira vez, seu gêmeo endireitou a postura, prestando atenção ao que era discutido. — O problema é justamente esse, Vegas: você tá se limitando ao fator casamento. Ok, sei que é errado mentir, mas também sei que você faria qualquer coisa pra ajudar o Pete, e tudo que estou sugerindo é que se use as medidas desesperadas de vocês. Você mencionou que o problema é o Pete ser obrigado a casar e ter que abdicar dos próprios sonhos em prol da “família”.

Os olhos de Nakunta brilhavam conforme a compreensão chegava aos seus sentidos. Quando Macau concluiu seu raciocínio, ele saltou do banco onde estava sentado e verbalizou, com um grande sorriso no rosto:

— E se for você o marido, ele não vai precisar desistir de nada! Nossa, me senti um gênio agora.

E novamente ele fez sua dancinha esquisita enquanto Macau observava as expressões do alfa mais velho, tentando permanecer sério.

— Não sei não. Não gosto dessa ideia. Nenhum de nós tem esse desejo de casar e... somos amigos, porra, isso seria meio estranho.

— Qual é, Vee? Vocês estão sempre juntos, se apoiam mutuamente e têm esse lance da confiança inabalável. Acredito que a convivência seria bem pacífica.

Vegas observou o exato momento em que os gêmeos trocaram um olhar característico deles. Um que o alfa nunca conseguia interpretar.

— Sem contar que, se ele casar com outro alfa, o cara possivelmente vai te obrigar a ficar longe do Pee.

A voz de Nakunta soou estremecida, e Vegas trincou a mandíbula em descontentamento.

— Ele morreria antes disso — vociferou entre dentes, um aperto angustiante serpenteando em seu peito.

— E você ia preso, então pode resumir o plano em matar a velha — concluiu Nakunta, voltando a sentar no banco próximo ao piano. — Ou... — continuou, seu olhar ganhando um ar divertido quando encarou o irmão. — Eu posso casar com o Pee — e sorriu com todos os dentes à mostra.

Vegas meio grunhiu, meio rosnou, seu olhar tão severamente cortante que o mais novo se apressou em erguer as mãos em rendição, o sorriso convencido nunca deixando seus lábios.

— Não está mais aqui quem falou... — e, resmungando, voltou a mexer no celular. — Não sei por que não posso ser eu a casar com ele; também sou alfa, porra.

— É tudo mais fácil para vocês. — Macau começou a falar, ganhando a atenção imediata dos irmãos. — Vocês possuem liberdade, dentro e fora de casa, podem escolher com quem casar e se vão casar. O que vocês usam, onde vão, com quem vão, pouco importa. Se existe um alfa, ele sempre vai ser o centro de tudo, e o todo é julgado com base nisso. Mas e nós? Onde ficam nossas escolhas? — o beta suspirou, um ruído melancólico e profundo. — Eu tenho vocês, uma família que me apoia independentemente das minhas escolhas, mas o Pete não tem ninguém além de você, Vee. Lógico que a mamãe e o papai, assim como a gente, gostam dele e o têm como da família, mas é sobre ele se sentir seguro. Então, se você puder oferecer essa segurança a ele, faça. Eu ficaria feliz se um dia encontrasse alguém que me proporcionasse liberdade.

Foi automático; os dois alfas se jogaram em uma confusão de braços ao redor do beta, um carinho apertado e reconfortante. Vegas sabia o quanto Macau odiava aquelas comparações ridículas, mas ter o beta se abrindo tão verdadeiramente lhe causou certo incômodo, como se ele estivesse fazendo apenas o mínimo esse tempo todo. Ouvir aquele desabafo foi como abrir uma cortina que dava para ver as sombras, mas nunca distinguir quem realmente era, e isso doeu.

Quando seu garotinho havia crescido tanto?

Eles permaneceram abraçados em silêncio. Nakunta, protetoramente, liberava uma onda de seus feromônios, e Vegas guardeava os dois. Em algum momento, Macau se desvencilhou daquela bolha e navegou em assuntos menos profundos, mas muito significativos para si. O mais velho, entendendo como sua maneira de assumir que estava bem e não queria aquele peso de pena o rondando. Após ser atualizado sobre os últimos acontecimentos da faculdade, que Nakunta só frequentava por conta do irmão, e em como eles escolheram os lanches mais caros, levando Vegas a um pré-colapso, os três são chamados por Stepan para o almoço.

Antes que Vegas conseguisse chegar à mesa, seu celular vibra, o lembrete de mais cedo piscando na tela. Sem perder tempo, envia uma mensagem ao amigo, que responde com um emoji de coração e uma foto dele sorrindo e piscando ao lado de um prato bem abastecido. O alfa sorri com a cena, uma camada fina de alívio substituindo aquele incômodo pesado de mais cedo. Guardou o celular no bolso, bem a tempo de notar sua mãe se aproximando com um sorriso largo no rosto.

— Finalmente, meu bebê apareceu.

E, enérgica como era, puxou o alfa para um abraço apertado, cheirando-o como sempre fazia. Darika Theerapanyakul, uma ômega de cinquenta anos cheia de vitalidade, que não mede esforços para ver sua família feliz e unida, é o grande pilar de todos ali. Seus olhos marrons transbordando em paz e amorosidade. Ninguém poderia culpá-la por querer seus filhos sempre por perto, menos ainda por considerá-los seus eternos bebês.

— Mamãe. — Vegas se deixou ser beijado e cheirado, amava o cuidado da mãe e, por vezes, se sentia mal por não visitá-la com a mesma frequência de antes. — Senti sua falta.

— O mundo deve estar entrando em colapso. Há quanto tempo você não vem visitar sua velha? Pensei que teria de fazer o rito de passagem dessa vez. — A mulher brincou, seus olhos contemplando o primogênito em admiração. — Tamanha foi minha surpresa quando Stepan me disse que você não só vinha almoçar, como já estava em casa há quase uma hora.

Vegas riu do drama da mãe, constatando que Nakunta realmente havia herdado o dom dela. Então, abraçou a mais velha e depositou um beijo doce em seu rosto. Não queria explicar para a mãe os motivos de sua ida mais cedo; falar para os gêmeos já havia sido mais do que ele normalmente contava, ninguém mais precisava saber de um problema que nem era dele.

— Onde está o papai? — A mãe bateu em seu peito, levemente irritada, e Vegas voltou a sorrir.

— Agora vou ser trocada pelo pai. — E, se afastando, encarou os gêmeos que pareciam entretidos na própria bolha. — Eles cresceram tão rápido, igualzinho a você. — disse a última parte, encarando o alfa com admiração. — Mas pra mim continuarão sendo meus bebês.

Vegas sentiu uma pressão no peito ao entender o sentido do que Macau falara no estúdio. Ele tinha tudo: liberdade; a realização de um sonho; prestígio; bons amigos; uma família incrível, enquanto Pete não podia contar com quase nada disso.

— Obrigado. — Sua mãe o encarou confusa, então teve suas mãos acomodadas entre as do alfa, e esse a fitou com um brilho no olhar. — Obrigado por ser minha mãe.

Talvez a ideia de dar a liberdade a Pete não soasse tão maluca assim.

O cheiro adocicado de chocolate causava uma sensação reconfortante no ômega que se deliciava com o bombom de uva, enquanto revisava as alterações solicitadas por seu contratante para o designer que estava desenvolvendo e do qual passou boa parte do dia trabalhando: a modernização de uma embalagem de cosméticos pertencente a uma marca que fora renomada no passado e estava tentando se implantar novamente no mercado.

Já era quase fim de tarde e considerava ter tido um dia produtivo. Entre tantas tarefas, cuidou de si mesmo como o amigo pediu: alimentou-se, hidratou-se e fez pausas para apreciar algum vídeo aleatório de gatinhos no YouTube.

Estava com o humor melhor, provavelmente por conta do doce ou pela maneira carinhosa com que o amigo cuidava dele, como quando enviou uma mensagem no horário de almoço só para confirmar que ele estava se alimentando. Vegas tinha essas ações que, por vezes, pareciam exageradas, mas que, no fundo, Pete achava incríveis.

A colher parou no meio do caminho quando seu celular vibrou sobre a mesa, e o sorriso exibido no rosto ao lembrar do amigo se desfez ao ler o nome do pai piscando na tela. Suas ligações eram raras, quase inexistentes, então Pete pensou que certamente sua mãe havia enchido tanto o saco dele ao ponto de fazê-lo tomar aquela atitude. E, se fosse assim, o que ele não tinha esperanças que fosse diferente, seu humor deveria estar terrível. Pensou em recusar; no entanto, o resultado seria ainda mais desastroso. Por isso, suspirou fundo, devolveu a colher para o prato e atendeu o celular no último segundo.

— Alô. — foi tudo o que disse antes da enxurrada venenosa do outro lado da linha o atingir.

— Como você ousa desafiar sua mãe, moleque atrevido? Por acaso acha que porque ganha alguns trocados consegue sobreviver sem essa família? Não esqueça quem pagou essa merda de curso IDIOTA. Se você tem alguma educação foi por MINHA causa. Você é um moleque muito mal agradecido, um fracote que acha que está servindo pra algum propósito, mas não se iluda tanto, você não passa de um ômega burro que acha que um dia vai ocupar um lugar de destaque na sociedade. Um sonhador, imbecil.

Pete sentia toda a sua paz indo embora e o tremor em suas mãos crescendo gradativamente. O doce que antes o tranquilizava subia azedo, fazendo um bolo em sua garganta. Era sempre assim quando o pai o ligava; essa era sua maneira de demonstrar que lembrava da sua existência: o humilhando. Óbvio que ele nunca agiu assim perante a sociedade, porque a imagem da família perfeita deveria ser mantida, não importando a que custo. Pete sabia que era o saco de pancadas particular do pai, muitas vezes de forma literal, mas fazia um tempo que havia cansado de brincar de família perfeita. Estava farto de toda aquela merda, porém ainda não conseguia se desvincular completamente, não quando Mani ainda era tão doce e ingênua.

Sabia que o pai continuava o insultando; contudo, sua mente havia bloqueado, vagando em ondas de decepção. Tudo o que sempre sonhou foi uma família unida e amorosa, não perfeita, porque era ciente de que não existia esse grau de perfeição, mas feliz e acolhedora. Ter nascido no meio de uma que o julgava por qualquer atitude se tornou um dos principais motivos pelos quais não queria casar. Os insultos eram sempre os mesmos; era quase como se o progenitor tivesse um discurso escrito do qual ia só reproduzindo. Nada novo sob o sol.

— Olha aqui, seu moleque… — Pete voltou a si quando ouviu o barulho de algo se quebrando do outro lado da linha. — Não quero saber que merda você tem na cabeça e não ligo pro que você faz desde que não ferre com a nossa reputação, então se sua mãe diz que você vai casar com o alfa que ela escolheu, você VAI. Estamos entendidos?

— O senhor acha que é tão simples assim? Eu não vou casar com quem vocês querem, eu nem quero casar pra início de conversa e, se um dia eu casar, vai ser com alguém que eu queira e garanto ao senhor que a denominação dele ou posição social pouco vai importar.

O designer estava com tanta raiva que seu corpo inteiro tremia e sua respiração parecia querer fugir; as mãos formigavam e seu coração se encontrava tão acelerado que o pulsar vibrava frenético. Seu corpo estava pedindo socorro.

— É o que veremos. Sua mãe também pensava como você, mas veja como ela se tornou uma mulher digna de respeito hoje.

— Se ser assim, infeliz e amargurada, é ser alguém digno de respeito, prefiro morrer como estou.

— Estou te avisando, Pete, não teste minha paciência.

E, sem que o ômega pudesse dar uma resposta, a ligação foi encerrada. O Saegthan perdeu completamente o foco do que fazia, sua sobremesa ficando esquecida sobre a escrivaninha e novamente aquela sensação de frustração o dominou.

Ele ficou inerte, submerso em pensamentos, esses desconexos demais para ele conseguir entender, só retornando a si em um sobresalto quando a campainha tocou, a percepção de que chorava o fazendo correr até o banheiro para lavar o rosto antes de seguir até a porta. Quando a abriu, o sorriso do alfa que se encontrava do outro lado foi se desfazendo ao analisar suas feições.

— Não diz que sua mãe veio aqui de novo? — Vegas questiona, entrando no apartamento e levando uma das mãos para limpar uma lágrima solitária que o ômega não conseguiu controlar.

Pete negou com a cabeça, então abraçou o alfa pela cintura e apoiou a cabeça em seu ombro. O seu lugar de conforto. Vegas suspira profundamente e aperta o amigo em um abraço protetor, uma das mãos fazendo carinho em seus fios.

— Meu pai me ligou. — Pete menciona, a voz baixa e um pouco trêmula. — Minha mãe certamente encheu a cabeça dele o dia todo e ele resolveu ligar, com a merda daquele autoritarismo, achando que alguns gritos ou a continuada humilhação me fariam mudar de ideia.

— Odeio seus pais. — o alfa bufou, apertando o corpo de Pete ainda mais contra si. — Eles são dois preconceituosos de merda que usam de justificativas não justificáveis pra explicarem seus atos. Dois covardes. É isso que eles são.

O ômega ficou em silêncio, apenas sentindo a calmaria que o abraço do alfa lhe proporcionava. Seus sentidos pareciam sempre se estabilizar quando o amigo estava por perto, exatamente como acontecia. Suas mãos tremiam bem menos, o nó na garganta parecia se suavizar; era como se seu socorro se personificasse no alfa.

— Mas não vamos pensar nisso. — o ômega se ateve à voz do alfa, então ergueu a cabeça e se afastou minimamente para o observar. Vegas o encarava com um brilho incisivo nos olhos. — Eu disse que passaria pra gente fazer alguma coisa juntos, então… que tal um passeio na praia? Faz um tempo que não vamos.

— Mas até chegarmos lá, iremos ter perdido o pôr do sol. — o Saegthan pontuou, seu semblante denunciando sua decepção.

— Podemos apenas sentar e apreciar a vista noturna. O que você me diz?

Pete sorriu. Eles costumavam ir à praia durante o dia, mas talvez fosse uma boa ideia caminhar sobre a areia na calmaria do anoitecer.

Ele se soltou do abraço de Vegas e seguiu até o quarto com uma empolgação repentina. Nunca entendeu a capacidade do alfa em transmutar suas emoções, mas ficava feliz de tê-lo ao seu lado em momentos assim.

Parou no meio do quarto quando notou o alfa o seguindo. Em uma análise rápida, percebeu o cansaço em seu rosto, bem como o ar pensativo. Observou-o subir as mangas do moletom vinho que usava e se sentar na ponta da cama, seus olhos indo na direção do prato sobre a escrivaninha com o doce que havia ficado esquecido. O ômega sabia que o amigo estava controlando seus feromônios, mas, se fosse honesto, não era tão difícil saber como ele se sentia. Os ombros tensos denunciavam sua raiva, seus suspiros longos, a frustração e seu olhar atento, sua preocupação.

Pete não desejava que Vegas se sentisse responsável por ele ter tido a má sorte de nascer na família que nasceu; entretanto, se sentia imensamente sortudo por tê-lo e nada nunca seria o suficiente para agradecê-lo.

— Escuta aqui… — Pete falou, recebendo a atenção do alfa. — Não cheira meu travesseiro, ouviu?

O ômega brincou, sabendo que essa era uma mania do alfa. Quando não estava o cheirando, amava se deitar na cama do ômega e cheirar seu travesseiro.

— Você não tem provas de que fiz algum dia. — e, o encarando com ar inocente, piscou.

Rindo, o ômega escolheu o que vestir e seguiu para o banheiro. Quando retornou, bons minutos depois, encontrou o alfa da maneira que imaginou: dormindo com o rosto enterrado em seu travesseiro.

Sorriu com a cena e, deixando a toalha com a qual enxugava os cabelos na cadeira, pegou o celular sobre a escrivaninha e abriu a câmera para tirar uma foto do alfa, achando fofo como ele parecia um neném quando estava dormindo, seu bico evidenciando aquele ar de inocência que ele afirmava não ter, o cabelo cobrindo seu rosto, aumentando sua fofura.

Tirou algumas fotos para escolher uma depois e, num rompante, pulou sobre o amigo que, para sua surpresa, o pegou e começou a lhe fazer cócegas.

— Para, Veve! — o ômega suplica quando Vegas inverte a posição e fica por cima de seu corpo, a mão posicionada em sua cintura em movimentos que o ômega considerava agoniantes.

— Parei, parei. — Vegas disse entre risos, a mão permanecendo na cintura do ômega. — Se divertiu tirando as fotos?

— Você estava acordado, seu sacana — o ômega acusou, ainda tentando recuperar o fôlego. — Mas ficaram sim, você é um modelo nato e agora eu tenho provas de que você cheira meu travesseiro.

— Claro que sou…

— Tudo o que você ouviu foi isso, seu convencido?

— Ouvi tudo, mas não posso refutar o fato de que você agora possui uma foto do meu ato e, só pra você saber, só ajo assim porque você aceita esse meu lado.

E, beijando o rosto do ômega, Vegas sai de cima dele e estende a mão para ajudá-lo a se levantar. Quando o faz, ajuda-o a arrumar os fios ainda umidos e bagunçados antes de fazer o mesmo consigo.

— Pronto ou ainda vai fazer algo? — o alfa pergunta, sorrindo carinhosamente para o amigo.

— Só ajeitar algumas coisas aqui e estarei pronto. — o ômega diz, seu olhar indo na direção da escrivaninha e da cama.

— Vou estar na sala.

Pete anuiu e, enquanto Vegas saía do quarto, arrumou a cama, os papéis sobre a escrivaninha, pegou a toalha para colocar no suporte e o prato com o resto da sobremesa para colocar na pia, notando que Vegas havia lavado a louça e arrumado a cozinha. Agora, estava na sala digitando algo no celular enquanto o aguardava.

— Vamos? — Pete chamou, parado próximo à porta.

Vegas encarou o ômega por alguns segundos antes de travar o celular e se levantar, guardando o aparelho no bolso da calça e seguindo o Saegthan para fora do apartamento.

E, enquanto se dirigiam à praia, Pete mentalizava que seria uma noite tranquila, enquanto Vegas se encontrava meio submerso em pensamentos.

Até breve!!!

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