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O quarto mal iluminado permitia que uma fração de meu rosto fosse escondida, assim como a feição do garoto que estava logo a minha frente, há exato meio passo de distância. Permitindo que minha visão fosse inteiramente captada pelo olhar intenso logo a minha frente que me deixava mais imersa a cada segundo que se estendia naquele cômodo silencioso.

O toque suave em meu rosto partido do garoto despertava sentimentos que eu nunca esperaria sentir algum dia. A forma como meu estômago se envolvia todo me recordava perfeitamente de um suco de caixinha no fim, mesmo que fosse apenas visualmente, já que a sensação que tinha dominando todo o meu corpo era de estar provando meu biscoito favorito, de andar de bicicleta pela cidade e até mesmo de desenhar sem ser incomodada, todas ao mesmo tempo.

O passo receoso do garoto em minha direção só fez com que tudo aquilo se intensificasse ainda mais, se é que isso é realmente possível, permitindo que todos aqueles sentimentos se triplicassem. Enquanto meu corpo entrava em festa, com pequenas comemorações a cada avanço vindo da parte do moreno, Jeon não parecia estar muito distinto, já que a sua respiração, que antes exalava tranquilidade, agora estava intensa e coberta de nervosismo, sendo isso perceptível a qualquer um que entrasse no quarto.

A mão, que anteriormente se encontrava livre, de Jungkook tocou levemente o interior de meu braço, trazendo uma exaltação de minha parte, que logo tratei de me recompor ao sentir o toque superficial se aprofundar a medida que os segundos se arrastavam ao nosso favor. Logo ele pressionou levemente os dedos próximo ao meu cotovelo, me puxando bruscamente em sua direção, já que eu estava tão imersa naquele momento que até mesmo movimentar os meus pés parecia ser uma tarefa impossível.

Meu gemido surpreso denunciou que não esperava de forma alguma o que estava acontecendo. E foi apenas quando meu corpo foi levado rapidamente para o mais perto possível de Jeon Jungkook que, pela primeira vez, o garoto esboçou algo que não fosse seu olhar intenso e sua respiração desregular, sorrindo verdadeiramente ao permitir que a iluminação precária do ambiente refletisse seus dentes brancos e meio grandinhos, que tanto me encantavam.

Agora eu podia sentir como nunca o toque de todo o seu corpo em contato com o meu, a forma como seus braços deslizavam cuidadosamente sobre os meus, como o seu olhar parecia ter se tornado ainda mais intenso devido a proximidade, o jeito que meu corpo parecia tão confortável em meio a mistura de nossas blusas, que trabalhavam como uma barreira fina entre nossos corpos... Me sentia literalmente em outro mundo.

— Você tem certeza disso Soso? – ele sussurrou próximo e baixo o suficiente para que apenas eu fosse capaz de escutar o seu questionamento, mesmo que na realidade não estivéssemos cercados por nada além da iluminação precária e de móveis velhos.

Nenhuma resposta clara foi dita por minha parte de início, permitindo que o silêncio retornasse novamente ao ambiente, porém a ausência de ruídos não contava com o tom constrangedor, já que logo, com a certeza em mente, levei os meus braços lentamente até o pescoço de Kook, pressionando-o com certa força, o que fez com que o garoto se abaixasse até ficar na altura exata de meu rosto, permitindo ainda mais o nosso contato e proximidade.

O meu sorriso, diferente do vindo de Jeon, era camuflado pela escuridão e pelos lábios do garoto, que tocavam levemente os meus, em um contato tão sutil quanto uma flor.

— Igual nunca tive em toda a minha vida.

Com a mesma rapidez que o mais alto se dirigiu em minha direção para aprofundar o beijo – mesmo que já estivesse incrivelmente perto, ao me erguer em seus braços em meio a um abraço desajeitado para que ficasse na altura de exata de seu rosto e nos permitir mais liberdade para aprofundar o toque sutil de nosso beijo – os meus olhos se abriram.

Que porra foi essa?

Ergui minha cabeça da forma mais rápida que pude, ainda tentando associar tudo o que havia acontecido, visivelmente confusa. As minhas lembranças sobre os ocorridos antes de dormir se mesclavam com os ocorridos do sonho, não permitindo que eu conseguisse pensar direito.

Estava em meu quarto, com todas as luzes da casa apagadas tendo como única fonte de iluminação a tela de descanso de meu notebook lotada de bolhas de sabão coloridinhas, indicando a tela de descanso. A superfície gelada, e nada confortável, logo abaixo de mim denunciava que estava deitada no chão.

Ainda com toda a confusão devido ao sonho e a situação em que me encontrava, tentei me erguer para que pudesse, ao menos, sentar-me em uma superfície confortável. Ao tentar ficar de pé, logo diversas folhas fizeram que minha palma deslizasse pelo chão liso e aquilo funcionou como uma espécie de interruptor, logo possibilitando que eu me recordasse de todos os acontecimentos até o atual momento sem que o sonho se intervisse.

Estava na vídeo chamada com Jeon e Kim antes que a crise-pós-vela, como ele próprio havia nomeado fez com que ele, sem mais nem menos, desligasse a ligação em poucos minutos, me fazendo rir verdadeiramente pelos atos de Kim. As vezes eu achava que não merecia o melhor amigo que eu tinha de tão bom que ele era pra mim.

Após finalizar a sopa que tomava e me contentar novamente com a solidão presente na casa, resolvi adiantar algum dever da escola, apenas para me ocupar, já que nunca em sã consciência iria fazer um dever antes do prazo. Ao me dirigir a mochila claramente bagunçada, tudo que pude captar em meio a aquela confusão de trabalhos amassados e cadernos cobertos de desenhos, foi o pequeno papel dobrado que ganhou destaque novamente.

Com toda a atenção voltada ao meu admirador e a curiosidade em desvendá-lo falando mais alto que tudo, não demorou muito para que logo o meu quarto não tão arrumado assim entrasse em total caos a medida que a caixa onde guardava todos os meus desenhos antigos e todas as cartinhas recebidas ao longo dos anos  fosse esvaziada. Transformando o chão do meu quarto em um mar de folhas espalhadas, algumas coloridas e outras nem tanto.

As cartas de meu admirador ficavam na parte inferior da caixa, camufladas por todos os desenhos e artes inimagináveis que tinham o papel de ocultar para todos que tentassem verificar o conteúdo da caixa. Por isso tive que remover todo o conteúdo presente no cubo de papelão colorido para que pudesse recolher todos os papéis, sem deixar nenhum perdido no processo.

Cerca de quinze cartinhas ocupavam a minha volta no chão, deixando que a missão de tentar vizualizar o chão se tornasse praticamente impossível, contando que o piso estava completamente coberto por diversas folhas brancas e outras rosas e vermelhas, todas tinham as suas distinções, mas sempre contavam com o mesmo cuidado e capricho do início até o final das cartas. Meu admirador é mesmo um anjinho.

Me senti uma verdadeira detetive ao separar uma parte de meu caderno inteiramente para analisar as pistas que eu tinha através das cartas e o resto da minha tarde se estendeu em apenas analisar tudo o que aqueles papéis tinham a me oferecer e mesmo assim o tempo não parecia estar ao meu favor já que só tinha conseguido analisar cerca de sete cartas. Fazendo meu coração se aquecer como uma cafeteira no processo, já que todos os textos, desenhos... literalmente tudo transmitia um sentimento tão verdadeiro e maravilhoso. As vezes eu realmente me questionava se o meu admirador me confundia com outra garota ao enviar as cartas, todos os elogios e todo aquele sentimento tão verdadeiro que me é relatado durante longos anos... É só difícil de acreditar que eu era o alvo de todo esse amor.

E foi no meio dos pensamentos inacreditados e das anotações da pseudo-detetive-Kim/eu, que meu sono acomulado de noites mal dormidas me atingiu como uma bala, fazendo com que eu adormecesse em meio a papelada, sem nem ao menos me importar com o meu conforto por ter como foco apenas o que eu havia denominado como breve cochilo.

Se o fato de que eu havia dormido no chão já não fosse o suficiente para acreditar em toda aquela coisa das noites mal dormidas, o sonho que me acompanhou neste cochilo foi a confirmação necessária, já que geralmente eu preciso de dormir bem para conseguir sonhar.

E se já não bastasse toda a confusão que nublava minha última semana sobre a forma estranha que meu corpo reagia a Jeon Jungkook, minha cabeça teve que ser cruel ao ponto de me presentear com um sonho desses. Era a primeira vez que sonhava algo do tipo com um conhecido.. o mais próximo que havia chegado disso foi quando Yumi me apresentou um boygroup que estava viciada e eu acabei criando uma paixão platônica por um dos membros, o que resultou em um sonho onde o mesmo me levava para sair logo após o show.

Não que eu esteja reclamando, mas o andar do sonho havia me desnorteado em níveis que eu não sou capaz de explicar, a forma como lá tudo acontecia com tamanha facilidade e de como a Sohyun do sonho parecia ter nem que seja 1% a mais de coragem que eu era algo que me incomodava de verdade.

Como que uma versão minha criada pela minha cabeça em meio as nebulosidades do sono poderia ser melhor que a original? Que droga!

Porém o que me confortava em meio a tudo aquilo era que parecia que a versão de Kook que fora criada também era uma mais corajosa, já que nunca conseguiria imaginar o garoto tão impulsivo e nebulado pelo desejo como os seus olhos o entregavam estar durante o sonho.

Ok, meu coração pareceu pular alguns batimentos enquanto me recordava da feição de Jeon durante grande parte do sonho.

Definitivamente... Ele está pulando alguns batimentos.

Que droga! Até no sonho esse menino mexe comigo!

Bufei indignada ao me levantar em meio a aquela escuridão com o intuito de ligar as luzes do quarto, indignada com a situação em que me encontrava.

Maldito seja Jeon Jungkook e os seus olhos redondinhos que me tiravam o rumo. Aquele garoto tinha o poder de aquecer meu coração sem precisar fazer esforço nenhum e isso me tirava do sério.

Segui até a porta de meu quarto proferindo resmungos baixos, eles ecoavam pelo corredor devido ao silêncio da casa enquanto eu tinha a missão quase impossível de achar o interruptor das luzes no completo breu. O que me deixou ainda mais irritada, já que aquele quarto era meu a mais de dez anos e eu não conseguia simplesmente achar o interruptor que fica no mesmo lugar desde então só por causa da ausência de luz.

— Eu desisto! – estapeei a parede com certa irritação, frustrada.

E eu nem tive tempo para voltar a minha cama em meio ao breu, já que em questão de segundos o corredor paralelo ao meu quarto se iluminou. O meu grito foi tão alto que logo a pessoa que adentrava o corredor me acompanhou, gritando ainda mais alto que eu.

— Kim Sohyun! – a repreensão logo veio em palavras e eu sabia que tinha feito merda.

— Mãe? – o duplo questionamento saiu de meus lábios em questão de segundos, a dúvida me consumia já que 1) não era para ela chegar em casa nesse horário (mesmo que na realidade eu não sabia que horas são) 2) eu esperava até a incarnação do espírito santo, mas não esperava que fosse ela chegando – você me assustou!

— Você também me assustou! Estamos quites – ela ainda falava com certo espanto na voz, com ambas as mãos direcionadas ao peito – Pra que esse escândalo todo menina?!

— Desculpa.. – assim como ela eu ainda me recuperava do susto.

— Tudo bem – ela proferiu um riso baixo – só você mesmo pra me assustar assim..

Eu sorri fraco para a mais velha, me aproximando para que pudesse a cumprimentar direito, me afundando em um abraço cálido.

— O que você está fazendo aqui essa hora? O papai nem chegou.. – geralmente meu pai chega por volta das sete, já a minha mãe nunca tem um horário fixo para voltar agora que ela foi promovida, mas a mais velha sempre volta tarde da noite – eles me liberaram mais cedo e eu resolvi vir o mais rápido possível para fazer uma janta maravilhosa pra vocês – sorri em meio ao abraço, já que durante a semana eram poucas as vezes que eu comia algo feito na hora e não requentado ou que tenha vindo de um potinho da geladeira.

— Meu estômago até roncou – ri.

— Então vai tomar um banho e tirar essa roupa porque eu vou precisar da sua ajuda – ela se afastou do abraço e fez um carinho breve em meus fios embaraçados.

— Mãe.. – uma ideia logo me veio em mente – posso chamar o Taehyung? – aquela seria uma forma perfeita de me desculpar por ter causado uma crise-pós-vela no garoto.

— Claro filha! O aniversário dele está quase aí e eu nem tive a chance de conversar com ele! Quero perguntar sobre tudo! 

Eu sorrio em agradecimento

— Vou ligar para ele – adentro meu quarto escuro novamente a procura de meu celular e me surpreendo, negativamente, com como fui capaz de encontrar o aparelho telefônico no semi-breu do quarto, mas não fui capaz de achar o interruptor.

Que fica na parede.

Sempre no mesmo lugar.

Logo já discava o número tão conhecido enquanto deixava às pressas o quarto escuro, a procura de um cômodo iluminado. Meus pés me levaram até a sala de estar, onde me acomodei no sofá ao lado da porta de entrada.

“Eu não quero papo com você” foi a primeira coisa que o garoto disse ao atender o telefone, o que me fez segurar um riso com toda a dificuldade.

“Tae.. me perdoa pelo acontecido” mordia os lábios fortemente para que nenhum ruído que se assemelhasse a uma risada deixasse meus lábios “Na verdade eu tô ligando pra me redimir”

“Eu não quero nada que venha de você” eu sei que ele não está bravo de verdade, isso deixa toda a situação mais engraçada “Não precisa nem perder o seu tempo”

Consigo imaginar perfeitamente o garoto jogado em sua cama com a cabeça para fora, revirando os olhos e ocultando um sorriso.

“Tudo bem. Minha mãe chegou mais cedo do trabalho e vai fazer uma janta aqui, eu pensei em te chamar, já que você gosta tanto da comida dela, mas pelo visto é perda de tempo” fingi desistência, mas eu já sabia exatamente qual seria a sua resposta.

“Perai..” os segundos em silêncio que que se prolongaram na linha me fez rir, já que eu sabia perfeitamente o que viria a seguir, porém tampei o microfone para ele não escutasse “Chego aí em vinte minutos, mas não considere isso como desculpas aceitas, eu só tô indo pela comida”

Agora sim eu deixei que ele escutasse a minha risada “Não demora em?! Tô te esperando”

“Ok sua chantagista, só vou trocar de roupa”

Antes que pudesse finalizar a ligação, escutei a campainha tocando e com a curiosidade me rodeando, segui até a porta.

“Tae eu tenho que desligar, te espero aqui, ok?”

“Ok.. espero que você esteja ciente que tem que guardar aquele pratão fundo pra mim, né?”

“Você é um bobo” ri e ele me acompanhou “se você demorar vai comer com um prato de sobremesa”.

Antes mesmo de finalizar a chamada, já rodava a chave sobre a fechadura, que não demorou muito para que destrancasse a porta, logo me permitindo ver quem havia tocado a campainha.

E, novamente, eu esperava que fosse até a incarnação do espírito santo, mas não esperava que quem estivesse do outro lado da porta fosse Jeon Jungkook.

“Tae, agora eu realmente preciso ir, tchau” desliguei a ligação as pressas.

Parecia que eu tinha acabado de olhar nos olhos da Medusa, estava petrificada no lugar e tudo que rondava a minha cabeça era o sonho que tinha acabado de me desnortear por inteira. Porém a Medusa no caso tinha olhos castanhos arredondados, e ao invés de cobras nos cabelos, ela tinha mechas em tom de castanho claro que estavam molhadas, levemente presas a testa, e.. é tão errado assim me sentir completamente atraída por ela?

Oi rs

Entãokkk como vocês estão?

Eu ia sair de fininho aqui depois desse capítulo, mAS EU TENHO COISAS PRA FALAR!

ANTES DE TUDO 60K!#!$(#!@(@!#(

Eu escrevendo esse capítulo pensando que a alguns dias atrás eu tava fazendo o especial de 5k e agora já tá com +60k aMO VOCÊS DEMAIS!!!!$!!#

Choradeira a parte, alguém aqui já leu o desafio que eu fiz uns dias atrás? (tá no meu perfil) rs só quem leu sabe o que aguarda vocês (btw, eu devo excluir ele hoje de noite e lá tem um spoiler em, eu avisei)

E pra finalizar gENTE EU POSTEI MEU PORTIFÓLIO!!!##($! Muitos de vocês não devem saber o que é um portfólio mas é tipo um livro dedicado às edições que eu faço, quem tiver interesse em ver e apoiar, tá no meu perfil também 💓💓💓

O que vocês acharam desse capítulo?

Não se esqueçam de votar e comentar, não sejam leitoras fantasmas! ⭐❤️

É isso gente!! Desculpa por essa bíbliakkkk

Byebye!

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