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Minha manhã tinha tudo para ser o mais pacífica e idealizada possível após os ocorridos do dia anterior. Taehyung e Jungkook transformaram o meu dia, não que isso fosse uma novidade na minha vida, mas aquela tarde em específico havia me deixado com um ótimo humor que acabou durando até a manhã seguinte, surgindo um efeito quase instantâneo que pode ser percebido com clareza logo cedo, quando dei bom dia até para as flores da minha mãe que cercavam a casa ao sair para a escola.

Porém tudo isso mudou (ainda não havia me decidido se para melhor ou pior) quando, ao abrir o armário assim que cheguei no ambiente escolar, um pequeno retalho de papel ganhava destaque em meio aos livros coloridos.

Durante mais de cinco minutos, tudo que minha visão alcançava era o pedaço de papel que, agora, segurava entre meus dedos, repleta de receio e curiosidade.

Desde que praticamente coloquei um dedo na cara de Jimin e o acusei de ser o autor das cartas eu não havia recebido nada, nem mesmo um rabisco, texto ou desenho... e aquilo não havia me incomodado de verdade. Estava tão nebulada por todos os sentimentos causados ao meu coração partido que nem havia notado que a frequência das cartas haviam sido diminuídas a zero. Na realidade, a vergonha que havia passado havia sido tanta que até estava preferindo desta maneira.

Porém, ao ter o papel em contato com minha palma após esse longo período, meu pensamento havia mudado. Toda a ansiedade e receio que tive desde a primeira carta me atingiram como uma bala, como se estivesse revivendo o momento e isso fez com que todas as ideias ruins fossem embora, deixando espaço apenas para as coisas boas. Por breves segundos considerei a ideia de que o bilhete poderia ser de outra pessoa, e não do admirador, mas a escrita perfeitamente centralizada retratando as palavras "para você" carregavam uma caligrafia que poderia reconhecer até de olhos fechados, entregando assim o autor da mesma.

Achei que o mais sensato seria me afastar de meu armário antes de abrir o papel, evitando assim possíveis olhares curiosos e atenção desnecessária que eu não desejaria, por isso, não demorou muito para que logo toda a minha atenção fosse levada do papel dobrado para uma parte mais reservada da escola naquele horário em específico, o ginásio. Durante os primeiros horários das segundas feiras o professor não tinha nenhuma aula marcada, já que ele tinha a tarefa de contabilizar todos os materiais utilizados nas aulas para ter certeza de que tudo permanecia lá, então ele permanecia na dispensa até aproximadamente o final do segundo horário. 

Ao adentrar o ambiente que aparentava estar vazio e com a luminosidade reduzida devido a sua não utilização, me sentei na arquibancada mais próxima da porta, não me importando de deixar os poucos cadernos que carregava irem de encontro ao chão ao abrir desastrosamente o papel, alcançando uma velocidade inacreditável ao realizar o ato devido a curiosidade que me movia.

Logo a folha limpa havia dobrado de tamanho, exibindo poucas letras em seu centro.

"Sempre tive em mente que o tempo poderia fazer tudo passar, mas pude confirmar que isso é uma grande mentira, já que todo esse tempo que estive distante, meu encanto por você só aumentou, pequena Sohyun..

-J ( e não é de Jimin ;) )"

Meu coração se apertou e todo o ar presente em meus pulmões pareceram ser expulsados a força, como se eu fosse um pequeno balão esmagado.

Era ele, mesmo que tivesse toda a certeza sem nem mesmo abrir o papel, ter a confirmação havia me deixado fora dos trilhos. Fiquei tanto tempo sem vivenciar as sensações que aquela carta tão simples poderia trazer que parecia que tudo que sentia havia sido triplicado.

Porém, com toda a emoção e euforia, também veio as dúvidas e incertezas.

Meu admirador sabia do ocorrido com Park, podendo ser até mesmo um dos motivos pelo qual ele se afastou e eu não sabia a verdadeira opinião dele sobre isso... mas o que realmente importa neste momento é que ele está de volta e, novamente, estou presa na estaca zero, já que havia me cegado de amores por Jimin e aquilo apenas serviu como um tecido que ocultava parte da verdade absoluta. O que provavelmente fez com que vários detalhes óbvios fossem passados despercebidos. 

Não demorei para levar a palma ao encontro com minha testa antes de proferir as seguintes palavras.

— Como pude ser tão ingênua? – elas ecoaram, certamente não pela primeira vez, pelo ambiente.

— Você não deveria se culpar tanto – uma voz desconhecida acompanhou a minha, ecoando por todo o espaço livre do ginásio.

O que funcionou como uma espécie de alavanca para que logo todo o meu corpo se focasse em encontrar a origem daquela voz, já que, aparentemente, acreditava estar sozinha.

— Aqui em baixo Sohyun..

— Como você sabe meu nome!? – questionei alto, em um tom surpreso, ao procurar o garoto de onde acreditava que a voz havia surgido, logo me deparando com uma sombra mal iluminada vinda da parte de trás das arquibancadas.

Ele realmente não queria ser encontrado.

— Eu sei de muitas coisas – ele respondeu de prontidão enquanto sua sombra permanecia imóvel, provavelmente o garoto não tinha planos de deixar seu esconderijo – algumas eu até preferia não saber.. – não era possível enxergar sua feição com clareza, mas a careta vinda do garoto foi certeira.

— Qual o seu nome? – perguntei incerta de que se deveria continuar a conversa ou se deveria apenas correr para longe já que mo das contas, não fazia a minima ideia de quem era a pessoa em questão e toda a situação em que ela se encontrava era no minimo curiosa.

Após alguns segundos no silêncio absoluto, quando o garoto parecia ponderar o que responder, pensei em até retirar a pergunta e me afastar o mais rápido possível, porém aquilo não foi preciso.

— Jeno – a resposta do garoto me pegou de surpresa, já que esperava um pouco mais de mistério antes de responder – você não deve me conhecer, eu sou alguns anos mais novo e aliás, não ache que sou estranho só porque eu sei de muita coisa estou aqui escondido no escuro – a silhueta do garoto exibiu um sorriso encantador.

— Para eu não achar isso você tem que me contar o motivo de estar aí – me aproximei um pouco do garoto misterioso como pude, entre os vãos da arquibancada, levemente desconfiada.

O recém nomeado como Jeno apenas suspirou, como se rendesse.

— Ok, você me pegou – o garoto avançou alguns passos, finalmente deixando a escuridão para trás e me permitindo ver seu rosto sem nenhum empecilho, revelando então uma feição que eu nunca iria esperar na vida. O sorriso dócil acompanhado de um eye smile encantador completava o visual impecável de Jeno.

— Wow! – transformei a minha surpresa em palavras, realmente pega de surpresa.

— Não era isso que você esperava né? – neguei, ainda estupefata – eu te juro que não sou nenhum hacker, stalker nem nada assim... Estava apenas esperando o meu namorado – ele deu de ombros como se aquilo não fosse grande coisa e eu permaneci calada, tentando evitar os pensamentos sobre o que os dois pombinhos apaixonados iriam fazer ali.

— S-seu namorado? – questionei ainda confusa e meio alheia a tudo aquilo.

— Aham, aliás, ele não apareceu.. – a feição do garoto se entristeceu por alguns segundos antes de retornar ao seu sorriso habitual – acho que eu vou ter que ir atrás dele – o mais novo deu de ombros novamente.

— Boa sorte com a sua busca – tentei retribuir o sorriso ao garoto, porém tudo aquilo se assemelhou a nada menos do que uma careta, fazendo Jeno rir.

— Obrigado – ele se curvou rapidamente antes de iniciar uma rápida corrida até a saída do recinto, deixando por completo o seu esconderijo para atrás – ah! E boa sorte com seu admirador secreto!

Logo a minha careta desapareceu após as palavras proferidas.

— Como você sabe disso!? – tive que aumentar o tom devido a distância do mesmo.

— Eu sei de muitas coisas! – e o ranger da porta funcionou como um aviso de que Jeno não se encontrava mais a meu alcance.

Após alguns segundos no silêncio total, a única coisa que rondava meus pensamentos era que Jeno é um garoto estranho, e legal, mas não deixava de ser muito estranho.

Ele aparentava saber de alguma coisa, a forma como ele simplesmente soltou a informação relacionada ao meu admirador não pareceu ser sem querer. Era quase como se ele quisesse que eu perguntasse mais sobre o assunto...

— Recebi mais uma Tae – proferi antes de qualquer outra coisa, literalmente jogando a informação para meu melhor amigo, em um sussurro.

A primeira reação do garoto foi de se assustar da forma mais discreta possível, já que estávamos no meio da aula de história, única aula que dividimos, logo o olhar do garoto vagou por toda a sala antes mesmo de proferir qualquer resposta que fosse... quase como se procurasse alguém entre as carteiras cheias.

— Sério? – ele parecia estar mais surpreso que eu, assenti enquanto analisava cada expressão do mais velho.

— Tae, você tem alguma coisa pra me contar? – sussurrei enquanto seguia o caminho que o garoto havia feito com os olhos anteriormente por toda a sala, não me focando a ninguém em específico.

Kim, que antes tinha um semblante surpreso, agora parecia que tinha visto um animal morto indicando que não esperava aquela pergunta.

— Não! – ele riu falsamente ao exclamar em um tom alto o suficiente para que o professor o chamasse a atenção com uma cara fechada.

— Você mente pior que eu.. – sussurrei minha última resposta antes de voltar a atenção à aula. Já ciente de que seria impossível manter aquela conversa durante aquele horário.

O olhar feio que o professor tinha sobre nós logo passou assim que o mais velho percebeu o nosso silêncio, fazendo com que ele voltasse a sua aula nada interessante relacionada aos conflitos da Coréia, que fez com que mais da metade da turma cochilasse.

Assim que o sinal indicando o final das aulas praticamente agitou toda a escola. Assisti os alunos desesperados por um descanso correrem até suas casas enquanto eu mesma fazia parte daquela multidão que praticamente gritava por um recesso, já não aguentando mais a rotina cheia de trabalhos e despertadores tocando nas horas erradas.

Felizmente as festas de fim de ano estão se aproximando cada vez mais e, com isso, teremos duas semanas inteiras para usarmos da forma que bem entendermos. Com direito a acordar depois do almoço, ou até mesmo não dormir. Tudo aquilo me animava, não só pela festa que Taehyung estava organizando que também estava próxima, mas pelos incontáveis dias seguidos que teria para simplesmente deitar em minha cama e não fazer nada. Só de recordar desse fato, um sorriso instantâneo preencheu meus lábios enquanto seguia o meu caminho para casa.

O percurso foi incrivelmente rápido, já que tive a companhia de meus pensamentos animados a cada passo que avançava durante grande parte do caminho. Logo o gramado tão conhecido já havia preenchido minha vista e, com isso, busquei rapidamente a chave em meu bolso da mochila.

Ao adentrar a casa, notei que ela se encontrava estranhamente escura e quieta.

— Namjoon?! Cheguei! – disse em um tom alto para que o garoto fosse capaz de escutar de qualquer canto do recinto.

A única resposta que obtive foi o silêncio.

Suspirei ao notar que estava sozinha, o Kim mais velho estava cada vez mais sumido no período da tarde. O segredo que Nam carregava sobre o que costumava fazer durante as suas sumidas não parecia ser muito surpreendente ou algo assim, mas era um tópico que me deixava instigada, já que ele se empenhava tanto para escondê-lo.

Minha primeira reação, após largar a mochila no chão, foi recolher o celular com um leve receio e discar o número de Namjoon. Algo no meu subconsciente tentava me convencer de que não era da minha conta o que ele estava fazendo e nem muito menos com quem, mas os pensamentos de que era apenas uma preocupação vinda de sua irmã ganharam a discussão e logo coloquei a chamada no viva voz enquanto seguia lentamente até a cozinha ao procurar algo para comer.

O telefone chamou durante longos minutos, tempo suficiente para que eu colocasse um pouco de sopa de legumes em uma tigela e seguisse até meu quarto e não obtive resposta alguma.

A ligação se encerrou com a mensagem de que estava sendo encaminhado para a caixa postal... Suspeito.

Tentei ignorar aquele fato ao dar de ombros, mesmo que no fundo a minha vontade fosse de ligar até que ele atendesse e se fosse o caso até mesmo olhar a sua localização no snapchat para encontrá-lo. Okay... agora eu estou parecendo o meu irmão comigo.

Balancei a cabeça como forma de me livrar daquelas ideias e pareceu funcionar, já que logo me acomodava em minha cadeira acolchoada bem a frente de meu computador e vaguei nas abas abertas a procura de algo para fazer como distração.

Cinco sites fechados foram o suficiente para que eu percebesse que não iria encontrar nada que me interessasse por ali, tudo parecia tão superficial e nada prendia a minha atenção.

E foi aí que a realidade me atingiu, aquele tédio e desinteresse era devido ao sentimento solitário em todo aquele silêncio presente na casa que me abraçava como uma jaqueta felpuda.

Suspirei logo após uma longa colherada de sopa, finalmente me conformando com meu estado solitário. Comecei a ponderar outras ideias sobre o que deveria fazer e foi no meio da indecisão sobre desenhar ou assistir televisão que um barulho de notificação conquistou toda a minha atenção, como se ela fosse resolver o meu pequeno problema.

Taehyung havia me enviado uma mensagem. É, parece que essa notificação realmente é a solução de meus problemas.

Cliquei no pequeno retângulo rapidamente e logo o chat do Skype iluminou minha tela como uma lanterna. Kim havia enviado apenas uma mensagem simples perguntando se eu estava online, esse é o momento que o questionamento se aquela pergunta seria realmente necessária, já que o aplicativo o informava isso, mas eu sou a mestre de esquecer o computador ligado com todas as abas abertas, o que já resultou em inúmeras mensagens de Tae para me chamar, enquanto na realidade eu estava no banho.

Porém o garoto não necessitou da minha confirmação de que estava online, apenas ao perceber que havia visualizado a mensagem, não demorou muito mais do que poucos segundos para que a tela se iluminasse em um requesto para que eu atendesse a sua vídeo chamada.

Foi só pressionar o botão verde para que a cena exclusiva dos dois amigos inseparáveis brigando por o que parecia ser um ventilador portátil.  

— Jungkook, deixa de ser criança e larga isso! – logo a voz de meu melhor amigo foi proferida pela saída de som de meu computador – você nem tava com calor!

— Fala isso pro suor saindo da minha testa! – ele disse ao tentar virar o pequeno eletrônico para seu lado.

— Vocês parecem ter cinco anos de idade – finalmente os garotos pareceram notar toda a minha atenção voltada a eles, o que resultou em um possível desastre, já que a dupla inseparável resolveu soltar o ventilador ao mesmo tempo, provavelmente para camuflarem de forma falha a briga, resultando em um baque forte do objeto em contato com o chão.

— Oi meu amor! – a forma terrível que o Kim tentou desviar a briga com sua feição de falsa inocência só fez com que uma carranca vinda de Jeon fosse direcionada para si com ainda mais intensidade exalando ciúmes.  

Não sei se foi a minha feição ou o pigarro vindo de Jungkook que fez o garoto perceber o que havia feito, mas logo ele já estava com ambas as mãos sobre a boca enquanto engasgava com sua própria saliva.

— Oi Taetae meu amor! – brinquei, tentando ao máximo ocultar o meu riso ao ter a atenção inteiramente voltada à Kook, vendo o garoto murchar como uma flor mal regada ao não perceber que era uma brincadeira, enquanto o som de Taehyung se engasgando parecia ter se intensificado. 

Não demorou muito para que a barreira que me mantia sem rir fosse ao chão, logo fazendo a minha gargalhada ecoar pelo cômodo.

— Kookie – o olhar cabisbaixo logo se focou em o que eu tinha a dizer – você também é meu amor – proferi a frase sem nenhum pingo de brincadeira, deixando a franqueza dominar inteiramente a sentença.

O sorriso de Jeon iluminou minha tela, fazendo toda aquele jogo valer a pena e resultando em nada mais do que meus batimentos mais acelerados do que carro de formula um. 

— Casal..! – o tom de Taehyung surgiu como uma repreensão – por aqui também não! Se já não bastasse pessoalmente!

— Soso.. você também é meu amor – se já não bastasse o sorriso de Kook para tirar a minha atenção das repreensões de meu melhor amigo, sua confissão foi como uma barreira entre Taehyung e a camera.

O sorriso que surgiu em meus lábios foi como um incentivo para que Kim gemesse em protesto antes de deixar a cadeira onde estava, partindo para uma parte do quarto onde não era possível vê-lo.  

— Desisto!! Eu vou embora para a minha casa onde esses absurdos não me atingem!

E foi em um riso que Kook mirou a atenção ao amigo pela primeira vez em alguns minutos.

— Tae.. – a confusão no rosto de Jeon era explicita – mas você tá em casa.. 

★ 

HEYO!!

Então galera me perdoa por esse capitulo mais parado que tudo, mas ele é necessário!! rs

Muita gente (alô todo mundo, até eu) xingou a Sohyun por ser tão trouxa (e meio cega também, vamos combinar) e eu não julgo vocês por isso, era a minha intenção que no inicio da fic ela fosse assim justamente para mostrar como o amor as vezes pode cegar alguém e tals... Agora vocês vão ver outro lado dela!!! E eu demorei muito pra esclarecer isso, mas depois até mesmo do confesso dela nesse capitulo achei que tinha que comentar sobre isso hihi

Eu não sei o que falar mais por aqui, mas eu to adorando os comentários e as nossas interações, continuem que isso melhora meus dias num nível... ai eu amo vocês, é isso.

 byebye!


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