Capítulo 01
RHAENYRA estava dando a luz novamente.
O som abafado da respiração pesada de Rhaenyra ecoava pelos aposentos. O ar estava denso, iluminado apenas pelas tochas nas paredes. As parteiras murmuravam instruções enquanto a princesa apertava os lençóis com força, lutando contra a dor.
— Está quase lá, princesa. Mais um empurrão! — incentivou uma das parteiras.
Rhaenyra soltou um grito profundo, sua testa coberta de suor, até que o choro estridente de um bebê preencheu a sala.
— É um menino! Saudável e forte — anunciou outra parteira, entregando o bebê cuidadosamente à mãe.
Rhaenyra segurou o bebê nos braços, exausta, mas um sorriso suave surgiu em seus lábios. Antes que pudesse aproveitar o momento, a porta foi aberta bruscamente por uma serva.
— A Rainha pediu para ver o bebê... imediatamente.
Rhaenyra ergueu o olhar, franzindo a testa.
— Agora? Ela pode vir até aqui — respondeu, a voz ainda fraca.
A serva hesitou.
— Ela insiste, princesa.
Nesse momento, Laenor entrou apressado, ajeitando a capa com um sorriso jovial.
— Um menino? Eu perdi o nascimento?
— Por pouco — respondeu Rhaenyra, sem esconder a irritação.
Laenor se aproximou para pegar o bebê, mas Rhaenyra o segurou firmemente.
— Eu o levarei.
— Rhaenyra, você acabou de dar à luz! — protestou ele.
— Se a Rainha está de pé, eu também estarei — declarou Rhaenyra com determinação, ignorando as parteiras que tentavam convencê-la do contrário — Eu quero encontrar com meus filhos mais tarde, por favor, suspendam as tarefas deles.
— A mamãe teve um menino! — Luke disse após entrar no quarto e vendo os dois irmãos mais velhos.
— Que droga! Queria uma irmã — Daenyra resmungou vendo que os dois irmãos estavam visivelmente felizes por terem mais um para o grupo.
— Já temos você sendo chata, não iríamos aguentar mais uma — protestou Jace.
— Eu não sou chata! — rebateu a menina — Vocês que não me compreendem.
— Crianças — Rhaenyra entrou no cômodo, repreendendo o filho enquanto carregava o recém nascido — Não briguem, por favor.
Ela se sentou com dificuldade, ainda dolorida do parto e sorriu de forma maternal vendo os filhos se aproximarem.
— É um menino? Ele pode montar um dragão? — perguntou Jace, os olhos brilhando de curiosidade.
— Ainda não, mas um dia será seu direito — respondeu Rhaenyra, sorrindo.
Luke inclinou a cabeça, observando o bebê.
— Ele é tão pequeno... Eu posso segurá-lo?
— Não seja bobo, Luke! — interrompeu Daenyra. — Você mal sabe segurar um ovo de dragão, quanto mais um bebê!
Rhaenyra riu, entregando o bebê à Daenyra primeiro. A princesa sabia que sua menina era responsável mesmo com tão pouca idade, por isso, deu uma preferência naquele momento. A menina segurou o irmão com cuidado, os cabelos castanhos escorridos emoldurando seu rosto.
— Ele tem o nariz de mãe. E os olhos... ainda vão mudar? — perguntou, analisando o bebê com um olhar crítico, já mostrando maturidade além da idade.
— Talvez sim, talvez não — respondeu Rhaenyra. — Ele será único, como todos vocês.
Nesse momento, Harwin Strong entrou no quarto. Jace e Luke correram até ele, agarrando suas pernas com empolgação.
— Harwin! Venha ver nosso irmão! — gritou Luke.
Harwin olhou para o bebê nos braços de Daenyra, o orgulho brilhando em seu rosto.
— Ele será um grande cavaleiro... como vocês todos.
Daenyra ergueu o queixo, desafiadora.
— Eu também serei. E um dia terei meu próprio dragão.
Oh sim, a menina não havia um dragão como os irmãos, seu ovo não chocou e isso lhe desapontava em alguns momentos, mas ela ainda tinha esperança de ter um dragão.
E quando o momento chegasse, ninguém iria conseguir segurá-la.
Harwin riu, colocando uma mão gentil no ombro dela.
— Não tenho dúvidas, jovem senhora.
O sorriso de Daenyra fez com que Rhaenyra sorrisse e olhasse para Harwin, ambos trocando um olhar singelo e cheio de segredos naquele momento enquanto focavam na menina.
A pequena família ficou no quarto por algum tempo antes de todos voltarem às suas obrigações, e as crianças até iriam protestar por não estar por mais tempo com seu irmão mais novo se não fosse um motivo: treinamento.
Isso fez com que os passos rápidos de Daenyra ecoassem pelos corredores de pedra enquanto ela liderava seus irmãos até o pátio.
Atrás dela, Jace tentava acompanhar, e Luke, com pernas mais curtas, praticamente corria para não ficar para trás. Harwin Strong os seguia de perto, um olhar protetor no rosto, mas também com um leve sorriso ao observar as crianças.
— Daenyra, espera! Você sempre tem que ir na frente? — reclamou Jace, ofegante.
— Claro que sim, Jace. Alguém precisa mostrar o caminho — respondeu Daenyra, sem nem olhar para trás, seu tom carregado de autoconfiança — E eu sou a mais velha!
— Lá vem ela com esse assunto — Jace resmungou baixinho.
— EU OUVI! — rebateu a menina sem olhar para trás, desviando dos funcionários do castelo.
Luke tropeçou levemente em uma pedra solta no corredor, mas Harwin o segurou antes que ele caísse.
— Cuidado, jovem senhor. Não queremos que chegue ao treinamento já machucado, não é? — disse Harwin com um tom brincalhão.
— Estou bem! — respondeu Luke, corando enquanto endireitava a postura. — Só tropecei porque eles estão andando rápido demais.
Daenyra parou abruptamente e virou-se para os irmãos, cruzando os braços.
— Talvez você tropece porque não presta atenção onde pisa, Luke. Um verdadeiro cavaleiro deve estar sempre atento.
— Você não é cavaleira ainda! — retrucou Luke, com uma careta — E só treina com a gente porque a mamãe, Harwin e o papai Laenor foram leais.
— Ainda, mas logo serei. Vou ser a primeira mulher a vencer no torneio da Fortaleza Vermelha — declarou Daenyra, levantando o queixo com orgulho.
— Você tem que aprender a lutar primeiro — murmurou Jace, rindo para si mesmo.
Daenyra estreitou os olhos para ele.
— E quem foi que acertou a espada de madeira na sua cabeça na última vez, hein?
Harwin tossiu para esconder uma risada enquanto Jace ficava vermelho.
— Tudo bem, vocês dois — disse Harwin, intervindo. — Vamos focar no que importa: todos vão treinar duro hoje. Nenhum torneio é ganho apenas com palavras.
Os irmãos seguiram adiante, mas Luke começou a caminhar mais devagar, puxando Harwin pelo braço.
— Você acha que eu consigo lutar bem hoje? — perguntou Luke em voz baixa, olhando para o chão.
Harwin parou e ajoelhou-se para ficar na altura do menino.
— Você é mais forte do que pensa, Luke. O importante é sempre se levantar, mesmo que tropece. Entendido?
Luke abriu um pequeno sorriso e assentiu antes de correr para alcançar os irmãos. Quando o grupo finalmente alcançou o pátio de treinamento, os sons de espadas de madeira e o choque de escudos ecoavam pelo ar. Os outros dois príncipes já estavam treinando sob a supervisão de Sr Criston Cole, que lançou um olhar gelado para Harwin assim que o viu.
Daenyra foi a primeira a atravessar os portões, os olhos brilhando de excitação.
— Vamos, vamos! Quero começar logo! — disse ela, pegando uma espada de madeira de um dos suportes.
— Você deveria aquecer antes, Daenyra — disse Jace, tentando parecer mais responsável.
— Aqueça você, se quiser. Eu já estou pronta! — respondeu ela, girando a espada com habilidade surpreendente para alguém da sua idade.
Luke olhou nervoso para Sr Criston, que se aproximava.
— Ele vai ser meu treinador? Ele parece... bravo.
— Ele está sempre bravo — respondeu Jace, revirando os olhos.
Harwin se inclinou para sussurrar as três crianças: — Apenas foquem no que aprenderam. Não se preocupe com o rosto de Sr Criston... Ele parece bravo porque está tentando esconder o quanto gosta de treinar vocês.
Luke soltou uma risadinha e segurou sua espada com mais firmeza. Daenyra assentiu determinada e já estava avançando para o centro do pátio, chamando a atenção de Sr Criston.
— Pronta para me ensinar alguma coisa nova hoje, cavaleiro? — provocou Daenyra, com um sorriso desafiador.
Ser Criston arqueou uma sobrancelha, mas manteve o tom profissional. A audácia da menina lembrava de uma certa princesa, e isso o deixava irritado mesmo que não gostasse de admitir.
— Vamos ver se você aprendeu alguma coisa desde a última vez.
Enquanto isso, Jace puxou Harwin para o lado.
— Você vai assistir, não vai? — perguntou ele, em tom esperançoso.
Harwin colocou a mão no ombro de Jace.
— Sempre. Agora mostrem a todos o que os filhos de Rhaenyra Targaryen podem fazer.
O sorriso de Harwin foi breve, mas cheio de orgulho, enquanto observava as crianças tomarem seus lugares no pátio, cada uma demonstrando sua personalidade: Daenyra com confiança inabalável, Jace tentando equilibrar responsabilidade e competitividade, e Luke se esforçando para superar suas inseguranças. Do outro lado do pátio, Aegon e Aemond Targaryen também estavam presentes, ambos sob a supervisão de Sr Criston.
Aegon, com uma confiança desleixada, estava sentado em um barril, girando uma espada de madeira em sua mão como se fosse um brinquedo.
— Parece que os bastardos decidiram treinar hoje — murmurou Aegon, alto o suficiente para ser ouvido.
Jace parou no meio de um golpe contra Daenyra e virou-se para ele, os olhos estreitando.
— O que você disse?
Aegon deu um sorriso preguiçoso e desceu do barril, caminhando lentamente até eles.
— Nada demais. Só achei interessante como vocês todos se esforçam tanto. Como se isso fosse... fazer diferença.
Daenyra deu um passo à frente, erguendo a espada de madeira com firmeza.
— E você? O que faz além de falar? Parece que quem não se esforça é você.
Aegon arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa pela resposta recebida da sobrinha.
— Ah, a pequena guerreira fala. Diga-me, Daenyra, pretende mesmo lutar? Ou vai simplesmente comandar dragões de longe, como uma dama deveria? Espera... você não tem dragão!
Luke avançou ao lado de Daenyra, o rosto vermelho de raiva.
— Ela luta melhor que você, Aegon! E vai ter o melhor dragão de todos!
Aegon riu, o som ecoando pelo pátio.
— É mesmo? Então por que não mostramos isso? Você e eu, aqui e agora.
— Ei! — interrompeu Aemond, que até então estava em silêncio, segurando uma espada com mais seriedade. — Não perca tempo com eles, Aegon.
Aegon olhou para o irmão mais novo, uma expressão de desdém.
— Não seja tão chato, Aemond. Talvez você pudesse aprender algo com eles... já que ainda não tem um dragão.
Aemond ficou vermelho, mas não respondeu, apertando o cabo de sua espada sabendo que o irmão tinha ido treinar bêbado de novo, e Aegon bêbado falava asneiras.
Jace, percebendo a tensão, sorriu de lado.
— Pelo menos Aemond tenta. Não fica sentado o dia inteiro como você.
Aegon deu alguns passos para mais perto, ficando cara a cara com o menino. Harwin, que havia permanecido em silêncio, decidiu intervir antes que o sangue dos jovens príncipes fervesse e se transformasse em uma confusão.
— Vamos, crianças. O treino não é para palavras afiadas, mas para espadas. — Ele fez uma pausa, lançando um olhar direto a Aegon. — Por que você não mostra suas habilidades em vez de falar tanto?
Aegon sorriu, claramente gostando da atenção.
— Se você insiste, Sr Harwin. Quem quer ser o primeiro?
Daenyra deu um passo à frente, levantando a espada de madeira.
— Eu.
Aegon riu, mas havia um leve tom de respeito em sua voz.
— Você é corajosa, eu admito. Vamos ver se essa coragem se sustenta.
Os dois se posicionaram no centro do pátio, enquanto as outras crianças formavam um círculo ao redor. Jace e Luke ficaram ao lado de Aemond, que observava em silêncio, mas com interesse.
A luta começou. Daenyra atacou com rapidez e determinação, forçando Aegon a recuar. Ele era mais forte, mas claramente subestimou a irmã de Jace, que usava sua velocidade e técnica para frustrá-lo.
— Nada mal, princesa — disse Aegon, entre os dentes, enquanto bloqueava um golpe particularmente forte. — Talvez você tenha nascido para isso, afinal.
— Mais do que você! — respondeu Daenyra, girando para desferir outro golpe.
A plateia de crianças aplaudiu, com Luke gritando animado: — Isso, Daenyra! Mostre a ele!
Aegon, percebendo que estava sendo superado, usou sua força para empurrá-la para trás, fazendo-a perder o equilíbrio por um momento. Mas antes que pudesse aproveitar a vantagem, Harwin interveio.
— Chega. Isso é suficiente por hoje.
Aegon abaixou a espada, dando de ombros.
— Foi divertido. Você tem talento, Daenyra. Talvez algum dia consiga me vencer de verdade.
Daenyra ergueu o queixo, limpando o suor da testa.
— Algum dia? Eu já consegui.
Aegon apenas riu e se afastou, voltando para o barril onde estava antes.
Jace colocou a mão no ombro de Daenyra.
— Você foi incrível.
Luke correu até ela, com os olhos brilhando.
— Foi a melhor luta que eu já vi!
Enquanto isso, Aemond ficou parado, observando Daenyra em silêncio. Sua expressão era difícil de ler, mas havia uma mistura de admiração e ressentimento.
Harwin os chamou de volta ao treino, encerrando a cena com os irmãos retornando às suas atividades.
No entanto, a tensão no pátio era palpável — as sementes de rivalidade e conflito entre as futuras gerações da casa Targaryen continuavam a crescer.
Notas da autora: Hey pessoal, como estão?
Primeiro capítulo oficial e já temos as dinâmicas dos nossos principes (e princesa) no treinamento, e sim, nossa Daenyra sabe lutar com espadas e tudo mais, mas ainda não tem um dragão.
Me digam o que estão achando, quero saber de tudo!
Até o próximo!
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