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19/04/2024

Point of view: Lohan Manobal
Seul - Coreia do Sul
Sexta-feira

07:20 AM

Esta semana está sendo maravilhosa para mim. Hoje, o Taehyung cancelou o compromisso ao qual eu havia dito que não iria mais, ou seja, ir para a boate nova.

Sinto que estou vivendo um verdadeiro sonho, apesar de não ser real. Parece que faço parte da família de Jennie e que todos me amam como se eu fosse o marido dela. O Jinwoo me trata como se eu fosse seu pai ou padrasto, e embora ele "não" tenha um pai, não quero ocupar esse lugar.

Assim que cheguei no escritório, caminhei até a sala da Jennie, pronto para lhe dar bom dia e entregar um expresso que comprei no caminho. Eu espero que este ainda seja o preferido dela.

Ao me aproximar da porta, uma voz masculina grave ecoou, inicialmente desconhecida. A palavra 'amor' pronunciada revelou que era o namorado dela. Uma dor profunda me atingiu, acabando com meu sorriso em meros segundos. Enquanto os escutava rir e compartilhar felicidade, não ousei perturbar o momento.

Pensei que ambos haviam terminado, já que ela não falou dele por uma semana e ele não veio visitá-la.

Permaneci ali, oculto pela sombra da porta, enquanto meu coração pulsava com uma melodia triste. Cada riso deles era uma nota aguda de uma canção que eu não queria ouvir.

— Ah, meu amor, você sabe que eu te amo, né? —a paixão em sua voz era bem palpável.

— Sai, seu safado — ela riu, mas meus olhos lacrimejaram ao ouvir tudo meio abafado, pois eu permanecia atrás da porta.

— Por que não respondeu quando eu disse que te amo? — sua voz embargada, demonstrou seu drama extremo. — Eu te amo, Jennie.

— Legal.

— Eu te amo, Jennie.

— Meu Deus, que macho chato. Ela não é obrigada a te amar também, porra — murmurei, sem paciência.

— Também.

— Por que você sempre fala 'também'? Falta três palavrinhas, meu amor.

— Não faltam. Se não vai aceitar só isso, pode ir embora.

— É claro que eu aceito, amor. Vem cá, me dá um beijo, princesa — após sua fala, um estalo foi escutado, e isso foi o suficiente para que eu sentisse um aperto no coração.

Finalmente, reunindo o pouco de coragem que restava, dei meia volta, afastando-me silenciosamente. Cada passo era acompanhado por um eco de saudade e desilusão, enquanto eu deixava para trás a ilusão de pertencer a esse cenário de amor que nunca seria meu.

***

Três batidas ecoaram, e eu prontamente concedi permissão para que minha secretária entrasse. Ocultei minha tristeza e a recebi com um sorriso, notando que ela fazia o mesmo. Não desejava estragar o clima que tanto demorou para ser restaurado.

— Sua agenda está vazia hoje, Lo — ela se sentou no sofá, mexendo no tablet. — Quer sair pra almoçar? Eu, você e o Jinwoo, o que acha?

— Ah, pode ser. Mas, você não acha que vão achar que somos uma família se eu for buscar ele com você?

— Sobre isso, preciso te falar algo muito importante — franzi o cenho e apoiei meu queixo em minhas mãos. — Antes de você ir embora da Coreia, nós... — sua fala foi interrompida por três batidas.

A mulher bufou e fechou os olhos com força, demonstrando seu ódio profundo. Levantei-me e fui até a porta; assim que a abri, deparei-me com o corpo do namorado da Jennie.

— Precisa de algo?

— Jennie está aí?

— O que você quer? Eu tô trabalhando, Kai — ela entrou na minha frente, encarando o rapaz nos olhos.

— Não íamos buscar o Jinwoo como todos os dias? Hoje eu não vou ter que trabalhar no horário de almoço. Ele vai ficar feliz em me ver com você depois de uma semana longe um do outro.

— Eu vou buscar ele com o Lohan.

— Não — ambos olharam para mim. — Eu não quero atrapalhar, podem ir juntos.

— E se formos os três? — ele sugeriu.

— Não! — eu e Jennie falamos em uma só voz, nervosos com a situação que ficaria.

— Ok, então...

— Pode ir, senhorita Kim. Tenha um ótimo almoço!

***

19/04/2024

Point of view: Narrador
Seul - Coreia do Sul
Sexta-feira

01:20 PM

— Alô, Lohan? Onde você tá? Por que ainda não chegou na empresa? — Jennie perguntou, após ligar para o seu chefe.

— Você disse que a minha agenda estava vazia hoje. Pode tirar folga no resto do dia, senhorita Kim.

— Lohan, onde você tá? Tá em casa? Passei lá para deixar o Jinwoo com o Tae e você não estava. E você também não me pediu para agendar em nenhum restaurante.

— Não se preocupe comigo, pode ficar tranquila que eu estou em boas mãos, JenJen.

Logo após sua fala, Lohan encerrou a ligação, desligando o celular e guardando-o no bolso. Um suspiro profundo escapou de seus lábios, com uma mistura de pensamentos rondando sua mente. Com passos firmes, ele dirigiu-se a um bar nas proximidades, pronto para descontar seus sentimentos na bebida.

— Namorado, filho... — ele murmurou. — Tem mais alguma coisa que você esconde de mim, Jennie Kim? Tem mais algo que você queira me falar?

Assim que Lohan entrou no bar, ele foi rapidamente pedir uma garrafa de Soju, pronto para ficar bêbado e não se importar com nada.

Se fosse para resumi-lo em uma só palavra, seria: "angústia".

— Mãe, pai, tenho algo pra contar pra vocês. Sei que esse não é o momento e nem o lugar, mas eu não suporto mais fingir ser quem eu não sou — Lohan escutava a conversa da família que estava atrás dele.

— Pode falar, minha filha.

— Filho... — a pessoa corrigiu seu pai, e isso fez o coração do Lohan palpitar, trazendo recordações tristes.

O rapaz começou a brincar com sua taça de vinho, escutando aquele barulho agoniante que faz quando arrasta o vidro na mesa, encarando o movimento da rua, enquanto lutava contra o choro e angústia que consumia seu coração e acabava com sua vontade de viver.

***

27/03/2015

Point of view: Lohan Manobal
Seul - Coreia do Sul
Quarta-feira

05:00 PM

— Lisa, vamos comprar seu presente. Quer ir em qual loja? A Zara tem uns vestidos lindos — minha mãe falou.

— O que acha de irmos comprar um tênis? Estou precisando de um, o meu rasgou. Faz tempo que não compro um novo.

— Mas seu pai te deu dinheiro pra comprar um vestido de presente de aniversário, minha filha.

Suspirei e assenti em seguida, contendo as lágrimas que insistiam em descer pelo meu rosto.

Ela, dela, filha, princesa... Por que eu nasci assim? Por que eu nasci diferente? Por que eu sou assim? Às vezes, eu acordo pensando em como seria se eu tivesse nascido homem, mas nunca penso o que aconteceria se eu virasse um homem. Vivemos em uma sociedade completamente rígida e preconceituosa, talvez eu perca minha vida se transicionar em um país como esse.

— Ah, conversei com seu pai e marcamos sua cirurgia. Assim que você completar dezoito anos, você vai ir pra Tailândia tirar essa merda entre suas pernas.

Não respondi, apenas balancei a cabeça, assentindo.

***

— Mãe, pai — ambos me olharam —, podemos conversar?

— Claro, filha. O que foi? — ele perguntou, sentando ao meu lado no sofá junto com minha mãe.

— Eu... Eu não me sinto confortável...

— Calma, daqui a três anos você tira esse pênis, ok? Em breve você terá seu corpo dos sonhos.

— Não é com isso, pai... é com os meus — olhei para os meus dedos, que tiravam as peles mortas uns dos outros, ajudando-me a conter minha ansiedade — peitos.

— Como assim? São pequenos demais? Podemos pagar pra colocar silicone e...

— Com meus pronomes, com meu nome — interrompi minha mãe, ignorando sua fala. — Eu não me sinto confortável comigo mesmo.

— Mesmo?

— Sim, pai, eu falei no masculino, porque é assim que eu me sinto confortável. Eu me sinto confortável sendo tratado como um garoto, do mesmo jeito que vocês tratam o Chin.

— Lalisa, retire o que disse agora — minha mãe falou.

— Está insinuando que quer ser um garoto? — meu pai perguntou, se levantando e ficando em minha frente.

Assenti, olhando para ele com meus olhos lacrimejando, enquanto os dele exibiam raiva e nojo, junto com uma expressão séria que me assustava desde criança.

— Fala em voz alta, Lalisa Manobal!

— Eu me identifico como um garoto, pai. É tão difícil entender? Só basta aceitar e tudo ficará... — minha fala foi interrompida com um tapa estralado na minha cara.

— VAI PRO SEU QUARTO AGORA! — levantei-me lentamente, e após o ato, senti uma ardência nas minhas costas, percebendo que meu pai havia me batido com um cinto. — ANDA, LALISA! VÁ PENSAR SOBRE ESSA BABOSEIRA QUE FALOU. MAIS RÁPIDO, GAROTA.

Corri para dentro do meu quarto e fechei a porta com força, colocando alguns móveis na frente dela, pois sabia que meu pai entraria e me bateria por conta da batida forte na porta.

— AAAAAAHHHHH! — gritei alto e com a voz rouca, sentindo minhas forças acabarem aos poucos. Escorei-me na parede e me agachei lentamente, abraçando meus joelhos e me permitindo a liberdade de chorar.

Com um pouco de esforço, alcancei a gaveta do meu guarda-roupa e peguei um esqueiro. O encarei por vários e vários segundos, enquanto escutava os gritos do meu pai se misturarem com os meus soluços repentinos.

Acendi o esqueiro e levantei minha blusa, o levando lentamente para perto da minha cintura, observando minha mão tremendo sem parar, enquanto eu tentava tranquilizar minha dor emocional, causando-me a dor física. Fechei os olhos com força quando tive o contato quente do fogo com minha pele, tombando minha cabeça e sentindo a ardência forte no local.

A dor de nascer no corpo errado e não receber o apoio dos pais é uma ferida que nunca cicatriza. Aquela violência física foi como uma facada em minha alma, apanhar simplesmente por ser quem sou. Nunca imaginei que a verdade sobre mim mesmo seria o gatilho de tamanha dor e rejeição.

***

19/04/2024

Point of view: Lohan Manobal
Seul - Coreia do Sul
Sexta-feira

03:36 PM

— Moço, você está bem? Precisa de ajuda? — o bartender perguntou, e só então percebi que havia lágrimas descendo do meu rosto, molhando a mesa com algumas que caíam sem rumo e tinham um final no objeto de plástico.

— Eu tô bem. Traga mais uma garrafa.

— Mas, senhor, esta já é a décima. Não acha que bebeu demais?

— Quem tá comprando sou eu ou você? — ele ficou em silêncio. — ENTÃO TRAZ A MERDA DA GARRAFA! — gritei, recebendo a atenção de todos os clientes.

O rapaz se curvou e saiu, indo pegar mais uma de muitas outras garrafas.

***

19/04/2024

Point of view: Narrador
Seul - Coreia do Sul
Sexta-feira

04:28 PM

Após algumas horas do desaparecimento de Lohan, Jennie decidiu dirigir-se à casa de seu irmão, em busca do rapaz que, até aquele momento, não havia dado notícias nem atendido o celular.

— Mamãe! — Jinwoo foi correndo até a mulher, assim que seu tio abriu a porta. — Chegou cedo hoje. Cadê o tio Lo?

— Ele não tá aqui? — ela perguntou, pegando seu filho no colo. Taehyung negou, fechando a porta após Jennie entrar. — Eu liguei pra ele e ele disse pra eu tirar folga o resto do dia.

— Ué!? Ele não deve estar bem. Mas onde esse desgraçado se meteu? Se bem que ele já é adulto, né. Um adulto que sabe se cuidar.

Jinwoo foi para sala após sua mãe o colocar no chão, já os mais velhos se direcionaram até a cozinha.

— Mas e se ele resolver fazer alguma coisa? E se ele estiver mal, Taehyung? Precisamos ir atrás dele agora.

— Jennie, presta atenção em mim, o Lohan aprendeu a se virar e a lidar com os próprios problemas sozinho. Se ele sumiu do mapa, significa que precisa de um tempo pra ele.

— Eu me preocupo com ele.

— Você não precisa ficar tão preocupada. Ele tem vinte e poucos anos nas costas, lembra? Daqui a pouco ele aparece com alguma coisa nova.

— Mas...

— Se está tão insegura, fique aqui e espere por ele. Garanto que nada vai acontecer.

— Ele tá sem carro, não tá? — Taehyung assentiu, começando a ficar pensativo. — Eu vou tentar me acalmar, mas não garanto nada. Não me leve a mal, mas você não conhece o Lohan como eu.

— Errado. Você conhece o Lohan de três anos atrás, não o Lohan de agora. Se você fosse passar a quantidade de tempo que você passava antes, veria o quão maduro e responsável ele está.

— Ele mudou tanto assim?

— Sim, Jennie. O Lohan mudou, tanto na personalidade quanto no jeito de pensar e ser. Quem sabe algum dia você possa enxergar essa mudança. Ou você acha que o Lohan de alguns anos atrás aceitaria bem o fato de que você está namorando?

— É, você tem razão.

***

19/04/2024

Point of view: Lohan Manobal
Seul - Coreia do Sul
Sexta-feira

07:23 PM

— Jennie, se você soubesse o quanto eu sofri sem você, sua vagabunda — murmurei, enquanto caminhava embriagado por um beco com uma garrafa de Soju na mão, sem entender direito para onde estava indo.

— Você é tão idiota, Lalisa — a voz do meu pai ecoou pelo meu ouvido, fazendo meus olhos molharem com lágrimas. — Achou mesmo que alguém iria querer ficar com você? Ah, qual é? Você é uma aberração, uma mulher que nasceu com um pau — ele riu. — Isso é tão patético.

Após sua fala, virei-me brutalmente para trás e tentei dar um soco nele com a garrafa de Soju, porém ele desviou e eu acabei perdendo o equilíbrio e caindo no chão, fazendo a garrafa quebrar e cortar a minha mão.

Meu irmão estava junto com ele, e pelo o que eu me lembro de antigamente, eu apanhava muito, agora eu acho que não vai ser diferente.

Senti meu corpo ser levantado e virado para o velho em minha frente, logo recebendo um soco no meu rosto. Aquela dor foi nula comparada a dor de ver uma das pessoas que eu mais amei, me tratando como um lixo e me maltratando. Eu já não tinha mais reação de nada, só conseguia chorar enquanto sentia a dor de ter vários socos e chutes atingindo o meu corpo, encarando os olhos do homem que um dia já foi a minha inspiração.

— Se você é um homem, aguenta isso? — ele chutou meu pênis duas vezes seguidas, e por um ato repentino, Chin quebrou uma garrafa na minha cabeça. — Eu vou te matar, Lalisa. O mundo não merece alguém como você.

— Nós vamos, papai. Uma mulher como ela nunca será um homem de verdade e nem merece viver conosco nessa sociedade.

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