Profecia da anunciação
Dizia-se que o maior feito da pirata foi roubar descaradamente o carregamento de ouro dos navios francos. Afinal, quem ousaria se meter com as embarcações sob a bandeira e a proteção do imperador Guilhem de Craon? Nem mesmo os vikings cometeriam tal desatino. No entanto, Juna cometeu.
Na ocasião, Guilhem guerreava contra os saxões e as facções aliadas - os ávaros e os hérulos. Estava determinado a expandir seu território para o leste europeu. Assim, não deu a devida atenção ao que acontecia em seu próprio litoral.
Quando retornou vitorioso de suas campanhas, foi informado do roubo. Houve certa hesitação em explicar que uma mulher de nome Juna foi a responsável por tamanho estrago. Seus comandantes navais consideravam uma humilhação muito grande. Mas, quando ele finalmente foi cientificado do problema, não teve a mesma reação que seus subordinados.
A questão para ele - ser mulher ou homem - era irrelevante. O fato era que seu presente para o Vaticano havia sido roubado. Não poderia permitir que os inimigos acreditassem que a armada franca não era tão temível ou invencível como parecia. Saber que não era o único governante a sofrer perdas com o avanço da rainha dos piratas (como foi chamada por alguns), não lhe servia de consolo; mas o desdobramento do problema da pirataria iria angariar aliados para resolvê-lo.
Entre os que se interessavam em destruir alguns tipos de pirataria, estava a Igreja Católica. Não todos, pois ela possuía alguns mercenários piratas a seu serviço, quando precisava... Era uma questão de honra para Guilhem desbaratar a pirataria, mas não porque ele fosse devoto à Igreja; no seu entender, o que tinha com ela era um acordo. Intimamente, Guilhem acreditava na liberdade de crenças. Infelizmente, ninguém permanece no poder muito tempo, se não dançar conforme a música.
A Igreja se interessava mais pelo fato de o cinturão sem lei ser composto de de cristãos e pagãos coexistindo em harmonia, do que no fato de serem criminosos. Nem todos povos haviam sido convertidos ao cristianismo e o papa contava com o imperador para manter o poder católico. Guilhem era a promessa de conquista - como instrumento e estandarte da Igreja - a fim de submeter as culturas politeístas ao domínio cristão.
Havia mais coisa em jogo, do que apenas o roubo do ouro. Era a supremacia dos devotos sobre os bárbaros. Segundo esta ótica, os piratas precisavam ser punidos de maneira exemplar, para que os bandidos do cinturão sem lei soubessem que eles não podiam desafiar o Estado, sem arcar com as consequências.
Para Guilhem era só a ousadia de roubar o ouro, mesmo. Ele precisa inibir qualquer um que tentasse fazer o mesmo no futuro... E, claro, recuperar o ouro.
Mas como diria o papa: - Vamos tornar esta situação um motivo para elaborar uma expedição militar[1]...
Levando-se em conta o contexto religioso vigente e a posição do rei, este prontamente enviou a armada ao encalço do navio de Juna, o Loba do Mar. Craon mandou aperfeiçoar as embarcações francas para que sua tecnologia ficasse à altura das piratas. Ele também escalou os melhores homens para treinar as tripulações a fim de que conhecessem as artimanhas do mar.
A ideia era que a armada também intimidasse os reinos vizinhos, ou países-vassalos. A captura dos piratas poderia se tornar o primeiro grande feito desta jovem instituição, a Marinha do Império Franco - menina dos olhos de Guilhem de Craon.
Para os homens do rei, as ordens eram claras. Não havia margem para o fracasso. Ele queria de volta o ouro roubado e a captura da pirata responsável pelo feito, bem como de todos que a ajudaram. Seriam executados em praça pública.
A forca ou a guilhotina acabaria sendo o destino final da famosa pirata e de seus subordinados?
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[1] - Antes das cruzadas oficiais que viriam nos séculos seguintes. Em termos simplistas, os motivos religiosos e os patrióticos, usados para declarar uma guerra, geralmente encobriam os econômicos, e eram usados com frequência como justificativa para engajar os soldados - como foi o caso de Filipe II e Alexandre, o grande, cerca de mil e duzentos anos antes, declarando guerra ao Império Persa, para vingar uma invasão à Atenas cerca de cento e tantos anos antes do nascimento de ambos. Naquela época, Atenas era meio que a "cidade escolhida dos deuses" para liderar as outras cidades e, ao mesmo tempo, era um símbolo de democracia. Mas, note, nem todos os atenienses queriam aquela guerra. N. da A.
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