Dois
" Você já se convenceu de que não é você, são eles.
Você é única, e ninguém entende.
Mas estas lágrimas de bebê chorona ficam voltando ".
••
Meu celular desperta sobre o bidê ao lado da minha cama, o som de Alive da cantora Sia rompe o silêncio do quarto e me puxa para longe do mundo de sonhos em que eu me encontrava há alguns minutos atrás.
— Desliga a droga desse celular, vadiazinha... — Gritou Cassandra. Por ela estar gritando tão alto, com certeza ela já devia estar deitada em seu quarto. O que era bom para mim, pois facilitaria a minha saída.
Peguei o meu celular, desativei o despertador e verifiquei as horas só para ter certeza de que eu não estava atrasada. Esta noite eu seria babá da filha de uma amiga da mãe de Samantha, — Minha única e melhor amiga.
Abri a gaveta do meu bidê e tirei de dentro dele meus fones de ouvido.
Após pôr os fones, pus minha playlist para tocar em modo aleatório.
Fiquei deitada em minha cama fitando o teto escuro sobre mim, enquanto ouvia Mrs.Potato head da cantora Melanie Martinez, e aguardava o tempo passar.
Me perdi em pensamentos justamente na parte em que a Melanie diz que: "Ninguém irá te amar se você não for atraente".
Será que isso realmente é verdade? Que um rostinho bonito conquista amores?
Mas e esses amores que são conquistados através de rostinhos bonitos, eles são sinceros e verdadeiros?
Se você tiver um rostinho bonito, você irá conquistar o amor verdadeiro? E isso acontecerá mesmo que a sua alma seja podre?
A música é pausada automaticamente, o que faz com que eu saia de meus devaneios. O meu celular começa a vibrar logo em seguida, o que indica que está quase na hora que eu marquei com Samantha para que ela viesse me buscar para me levar até a casa da amiga de sua mãe.
Após desativar novamente o despertador do meu celular, a música Mrs.Potato Head volta a tocar. Pauso ela novamente, deixando de ouvir a única coisa que me fez companhia durante os últimos minutos que se passaram.
Me levanto da cama e sigo até o banheiro do meu quarto.
Começo a me despir e, após me livrar completamente de minhas roupas. Fico encarando o meu reflexo nu em frente ao espelho do banheiro.
Olhos castanhos claros, cabelos tão negros quanto a noite que cobria as ruas do lado de fora, e tão longos que já tocavam em minha cintura.
Meus olhos castanhos claros me encaravam do outro lado do espelho como se soubessem algo que eu não sabia, sobre mim mesma.
Meus cabelos escuros chegavam a minha cintura, deixando a vista o quão brilhoso era. Talvez seja isso, o brilho do meu cabelo ofuscando o que sobrou de mim, pode ser esse o segredo que os meus olhos guardavam sobre mim.
Minha boca em uma linha reta, formando uma careta ao me ver completamente nua.
Me desprendo dos meus devaneios e entro no box para um relaxante banho.
Ligo o chuveiro e relaxo o meu corpo enquanto sinto a água morna molhar o mesmo.
Fecho os meus olhos e me permito chorar enquanto sinto as gotas mornas d'água que vinham do chuveiro, escorrerem por meu corpo. — Traçando um caminho incolor sobre o mesmo e indo de encontro ao ralo do banheiro, levando consigo todos os sentimentos negativos que me cercaram durante o dia.
Ainda de olhos fechados, eu pude rever nitidamente em minha mente, a cena de quando Victor me ergueu e me prendeu com seu corpo contra a parede.
Se eu me concentrasse o bastante, eu podia rever os seus olhos azuis — como se tal imagem estivesse tatuada por debaixo de minhas pálpebras —, me olhando com desprezo enquanto ele dizia aquelas palavras que afundaram em meu peito; como um objeto pesado afunda em águas profundas.
— Se toca garota! — Eu ainda podia ouvir sua voz rouca, deixando transparecer o tanto de desprezo que ele sentia por mim junto com cada palavra que saia por sua boca. — Eu nunca gostaria de alguém como você.
Dou um longo suspiro e desligo o chuveiro. Não permito a mim mesma ficar me auto-torturando.
Uma fraca neblina de vapor cobria o banheiro, carregando consigo um cheiro de rosas que vinha do aromatizador.
Inspiro fundo e depois solto o ar que eu nem havia percebido que estava prendendo. E como é de costume, eu havia voltado do zero ao meu próprio herói.
Saio do banheiro e volto para o meu quarto. Sinto uma brisa fria bater contra o meu rosto, na medida em que eu me afasto do banheiro que estava aquecido graças ao vapor que vinha da água quente do chuveiro.
Vou até o meu guarda-roupa e abro as portas do mesmo, pegando de dentro uma camiseta de mangas compridas, uma calça jeans e um casaco.
Após me vestir pego o meu celular e torno a ver as horas no mesmo. Faltam poucos minutos para o horário que marquei com Samantha, em breve ela estaria chegando.
Desço as escadas nas pontas dos pés e sigo até a porta de entrada, abrindo a mesma e saindo logo em seguida. Sendo engolida pela escuridão que cobria as ruas daquela noite.
Fecho os meus braços entorno de mim mesma, embora a noite estivesse quente, eu sentia frio.
A rua estava escura demais, não havia ninguém nesse horário. Geralmente as pessoas deste bairro dormem cedo. Logo vejo um farol brilhar no final da rua, com uma luz incrivelmente distante. Vou até a ponta da calçada e aguardo, pois sei que é minha melhor amiga.
Ela para o seu carro na minha frente e balbucia algo como um "entra logo, você está atrasada".
Eu me prontifiquei a entrar logo. Mal fechei a porta e Samantha já havia acelerado o carro.
Fiquei sentada em silêncio no banco do carona, fitando o céu escuro pela janela do carro.
A lua que pairava sobre o céu, era quase como um daqueles brinquedos que brilha no escuro e ficam pendurados sobre os berços dos bebês; emitindo luz em meio a escuridão.
Logo meus devaneios foram rompidos pelo doce (?) voz de Samantha.
— Você está linda hein! Simples, mas bonita. — Sua voz soa como alguém sorrindo ao falar.
Eu não pude a ver, ela estava olhando pela janela enquanto esperava o sinal ficar verde.
Dei uma risada sem graça, em agradecimento. Afinal, Samantha sempre criticava minha forma de me vestir.
A cada vez que saíamos ela falava:
''Usa essa blusa com decote, ela valoriza os seus seios''
''Você já pensou em botar esse short? Ele é mais curto, mostra mais as suas coxas''
Um silêncio desconfortável instalou-se entre nós duas...
Samanta e eu nunca ficávamos sem assunto. Nós só ficávamos caladas quando algo acontecia, era de se notar que algo incomodava Sam.
— Sam, está tudo bem?
Perguntei analisando sua reação, afinal, se alguma coisa estava acontecendo com ela, eu precisava saber o que era. Pois somos melhores amigas. Duas metades de uma só alma.
Sua reação foi fria. Como se não quisesse tocar no assunto. Seus dedos se fecharam mais ainda no volante deixando os nós dos dedos brancos.
Mas depois de uma rápida bufada ela comentou com a voz calma.
— Tá, sim, está tudo bem. Estou meia quieta pois ainda é ruim de falar com o aparelho. Parecem facas cortando minha boca a todo momento.
Logo depois deu um sorriso deixando amostra seu aparelho azul.
— Ah... — soltei rapidamente o ar que eu nem havia percebido que estava prendendo, agora, aliviada.
Voltei minha atenção para a janela do carro, tornando a observar o céu estrelado sobre mim.
Uma fraca chuva de verão havia se iniciado há alguns minutos atrás, molhando as ruas e trazendo consigo aquele cheiro familiar de grama molhada.
••
Só percebi que Samantha já havia estacionado o carro quando ela emitiu um som estranho ao limpar a garganta. Desviei os meus olhos da chuva de verão que molhava as ruas, e os levei de encontro aos de Samantha. Seus olhos cor de mel meio esverdeados me observavam com tamanha intensidade que era quase como se ela pudesse ver a minha alma.
— Agora é a minha vez de perguntar. — Ela começou a falar. Sua mão direita já havia ido de encontro à minha esquerda e ambas estavam entrelaçadas. — Julieta, está tudo bem?
Meu subconsciente gritou que não, mas eu o ignorei. Aquela pergunta já não me fazia soar frio, não mais...
— Esta sim... — Disse, agradecendo mentalmente por minha voz não ter falhado. — Sabe, parece que o mundo tem crescido de cabeça para baixo. — A ruiva dos cabelos curtos me interrompe. Sua mão aperta a minha, devolvo o gesto fazendo o mesmo com a sua mão.
— Bom, talvez nós devêssemos nos mudarmos para a China, só pra ver se tudo se endireita. — Brincou Samantha dando ênfase no "Nós".
Sorrio para ela, mas ela está imóvel. Um silêncio havia se formado entre nós duas. Seu olhar está perdido entre os meus olhos e os meus lábios. Sua boca formando uma linha torta — quase como um meio sorriso que fracassou ao se formar, — ao notar que eu havia percebido o seu olhar.
— Eu preciso te contar uma coisa. — Samantha disse ao separar nossas mãos. Sua voz soou tão fraca quanto um sussurro.
— É importante? Você não pode me contar depois? — Perguntei enquanto verificava as horas em meu Smartphone.
— Bom, é importante, mas tudo bem. Eu conto para você depois. — Ela disse. Seu olhar havia sido direcionado para suas mãos que agora estavam entrelaçadas sobre seu colo.
— Eu preciso ir. — Disse e abri a porta do carro, descendo logo em seguida após me despedir de Samantha com um sorriso.
— Julieta! — Chamou-me Samantha.
Me abaixei do lado de fora do carro e perguntei-lhe enquanto a encarava do outro lado da janela:
— O que foi?
— Bom, eu acho que você não sabe onde O... — Sua voz falhou. — Digo, a amiga da minha mãe mora. — Disse por fim, depois de se autocorrigir.
Sorri sem jeito, após correr meu olhar sobre todas as casas daquela rua e constatar que ela estava certa.
— É, eu não sei.
— É ali. — Ela disse, apontando para uma enorme casa branca que ficava do outro lado da rua. Sorri em agradecimento.
— Obrigado Sam, você sabe que isso significa muito para mim, pois... — Ela me interrompe.
— Pois trabalhando você conseguirá juntar dinheiro para se mudar e deixar de ser dependente de Cassandra. — Concluiu ela.
— Você me conhece.
— Eu acho isso errado, você querer se mudar e deixar aquela bruxa ficar com a sua casa e com toda a sua herança.
— Eu não me importo. Não sou movida a base de dinheiro.
— Não vamos discutir sobre isso, tudo bem que é a sua herança, mas eu não acho certo que aquela mulher fique com tudo o que é seu por direito. Eu não aceito. E também não aceito o fato de você querer se mudar dessa cidade.
— Você não precisa aceitar, apenas respeitar. — Disse. — E eu já consegui juntar bastante dinheiro trabalhando como babá, não irei precisar da minha herança. Juntei o bastante para me manter por um bom tempo depois que eu me mudar desta cidade. E também, depois que eu me mudar, eu não quero nada que possa me fazer lembrar do meu passado.
— Julieta, você é a minha melhor amiga desde os meus seis anos. Eu nunca vou aceitar você ir morar longe. — Sua voz falhou. — Seria horrível ter que me separar de você, você mora tão perto. Não sou capaz de aceitar. — Seu olhar encontrou o meu, desta vez triste, porém sincero.
Ficamos alguns segundos nos olhando, como se tivéssemos dando apoio uma para outra apenas com um olhar.
— Samantha, para de drama, você pode ir me visitar. Pode até ir morar comigo se quiser. — Dou o meu melhor sorriso para ela, que retribui do mesmo modo. — Agora eu tenho que ir...
Aceno rápido com a mão e me viro em direção a casa onde eu irei trabalhar.
— Ok, vai lá. Não se esquece de tirar os sapatos ao entrar. Eles são bem cuidadosos quanto a isso. — falou alto do carro.
Virei e sorri para ela, e lá fui eu, dando mais um passo em direção a minha liberdade e independência.
••
Me aproximei da enorme casa de cor branca.
Fiquei maravilhada ao ver o enorme e florido jardim que tinha logo na entrada.
Timidamente, bati na porta da casa.
Após alguns segundos, escuto passos. havia alguém se aproximando da porta onde eu estava.
A porta se abre lentamente, e quando eu olho para ver quem a abriu, meu coração dispara descontroladamente.
Continua...
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N/a
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