A VIAGEM

🌻 🌻 🌻

    Eu confesso que nunca pensei muito como seria o dia que alguém falasse comigo, ou como seria ver aquele círculo mágico invisível se esvair, ou fazer amigos em um Colégio novo. Mas começar por um dos garotos mais popular de minha classe me convidando para um baile de boas-vindas me pareceu ser uma boa maneira de iniciar. Isso se ninguém fosse nos atrapalhar.

     Naquele exato momento o sinal tocou indicando que era hora de todos partir. E ele?... o Caio? ... Ele ainda estava diante de mim, ousou se aproximar um pouco mais, já que eu não retibui ao esperado aperto de mãos. E agora ele estava me encarando fixamente, sem dúvida esperando por qualquer resposta de minha parte. Eu quase entreluzi um sorriso pra ele, de certo modo aquela situação me alegrou um pouco, mas eu não sei sorrir. Há algum tempo eu desaprendi como é demonstrar emoções.

Aos poucos os alunos foram se levantando e saindo da sala de aula.

    - Caio, isso é uma péssima piada. - Falou a Aline se aproximando dele, para quem não sabe, ela é aquela mesma garota que no primeiro dia de aula se destacava mais que as outras no grupinho de três.  Após terminar de falar o que queria ela me lançou um olhar de desprezo absoluto.
                                                             

      - Não é nenhuma piada, Aline! - Respondeu ele, porém tarde demais pois eu já havia me levantado, ignorando sua resposta para a Aline, e seu olhar firme em minha direção.
 

     Agora eu seguia apressadamente sem pensar, eu estava quase que correndo pelo corredor do Colégio rumo a rua.  No meu íntimo eu repetia que não me importava tal fato.

   - Não me importo. Não me importo. - Eu repetia até eu mesma crê.

- Não acredito. Convidou ao baile aquela esquisita toda desengonçada. E pensar que eu recusei ótimos convites acreditando que você iria comigo. - Aline empurrou Caio. Eu ainda consegui ouvir e ver de relance aquele gesto da aline.

     - Esquenta não Caio, eu não tenho par e se você quiser posso muito bem acompanhar você. - Falou Sara se encostando nele.

     - Nada disso, sei bem que ele prefere a mim. - afirmou uma outra garota das muitas que cobiçavam o Caio.

    - Eu não venho a esse baile. - Caio finalmente pronunciou algo.

     - E você Sara, esqueça o Caio porque concordou de ir ao baile comigo. - Falou o que me pareceu ser a voz do Ruan.

    O que aconteceu depois daí eu não sei. Pra minha felicidade eu já não os ouvia mais por causa da distância.

    Minha casa não ficava muito longe do Colégio, uns quinze minutos de caminhada e eu chegava. Segui sentindo aquelas lembranças do ocorrido no Colégio me sufocar, não por causa do convite, eu não aceitaria mesmo, eu não curto bailes, muito menos de boas-vindas em algum lugar, e eu ainda estava de viagem marcada com minha mãe para a cidade de Gravatá.

    No meio do caminho diminuir a velocidade dos meus passos, sabia que ninguém viria atrás de mim, agora eu sentia que meu peito apertava, era como se alguma coisa me perfurasse, pressionei forte a caneta que trazia na mão, odiava sentir isso, odiava sentir essa sensação de estar de fora, isso muito me aborrecia. Mas eu era forte e não chorava. Nunca derramei uma única lágrima por causa disso. Assim como eu não sei sorrir, eu também não sei chorar. Acho que a última vez que chorei foi no funeral de meu pai. E o mais importante que sempre repito pra mim, eu não me importo.

    - Júlia! Que bom que chegou, nós estávamos só te esperando. - Minha mãe logo me direcionou a um dos acentos do carro do Sr. André. As minhas coisas já estavam todas colocadas no mesmo.

    - Seu almoço. - Falou ela ao me entregar uma pequena caixinha com comida italiana comprada uma lanchonete aqui próxima de casa e uma garrafa com água mineral.

    - Vai comendo no caminho que já perdemos muito tempo aqui parados te esperando. - Fez questão de me fazer saber minha mãe.

     - Boa tarde Júlia. - O Sr. André segurava no volante quando me lançou um olhar pelo retrovisor do carro, ele tinha um sorriso indecifrável nos lábios, contudo era  amigável  seu rosto quando falou comigo. Eu nem preciso dizer que agir com mal educação e não respondi ao cumprimento.

    Seguimos viagem, eu não toquei na comida, estava sem fome e me senti satisfeita com apenas alguns goles de água. Pela janela do carro eu observava a estrada que se seguia rumo a Gravatá. Ela tinha uma vegetação um pouco castigada pelo sol, mas ainda era bela em sua naturalidade. Pensando bem, fazia tempo que eu não respirava ar puro.

    - Veja Júlia, atravessando aquele túnel ali estaremos em Gravatá. - apontou minha mãe que parecia bem conhecedora do lugar.

    Gravatá era mesmo uma cidade muito atraente, tanto pelo seu estilo alpino nas casas e condomínios, como por suas áreas montanhosas e clima ameno que provavelmente é influenciado pelo seu planalto de Borboremas. Eu fiquei fascinada por sua beleza. Mas teve uma coisa que me chamou muito mais atenção, foi a estátua de um Cristo Redentor no alto de um Monte. Me inclinei na janela do carro para observar melhor. Ela estava tão longe.

     - Vejo que você tem bom gosto Júlia. - Falou o Sr. André notando que eu finalmente reagi a algo.

    - É um Cristo Redentor? - Perguntei.

    - Não, não,  é a famosa Capela do Cristo Rei. - Corrigiu ele. - Foi inaugurada pela prefeitura da cidade em 01 de Janeiro de 1900. - Ainda me informou o Sr. André.

    Ele ainda esperou que eu falasse mais alguma coisa ou esboçasse alguma outra reação. Como não fiz, apenas continuei apreciando o lugar, ele concluiu todo o restante de seu conhecimento.

     - A estátua fica no Alto do Cruzeiro, um dos pontos turísticos da Cidade mais visado por ter uma vista panorâmica excelente lá de cima. Aproximadamente 600 metros de altitude. Um bom lugar para os amantes do ecoturismo, é ideal também para quem gosta de adrenalina como trilhas e rapel.

    Eu ouvia atentamente tudo que o Sr. André falava, eu também projetei que não ia embora dali sem conhecer aquele lugar. Me pareceu que o Sr. André deduziu esses meus pensamentos.

    - Sabe Júlia, se ouve muito dizer que lá você  pode realizar desejos. Basta você ter fé e conversar com Deus. - De novo ele me lançou aquele olhar indecifrável. Não só ele , a  minha mãe também me olhou dessa vez, e eu confesso que não entendi bem nada do que eles queria que eu entendesse.

    Não espera, não mesmo, eles não acham que logo eu que não sou deste círculo populacional vou acreditar neste papo de falar sozinha. Ou de fé. Ou Deus.
    Seguimos mais uns poucos quilômetros e finalmente chegamos na casa onde ficaríamos.

    - O lugar não está muito diferente que da última vez que estive aqui. - Falou minha mãe quando entramos na residência que passaríamos esses dias.

    - Verdade Juliana, as arrumações ainda são as mesmas, eles gostam de manter a tradição de família. Ainda temos quem traga as encomendas caso você for precisar de qualquer coisa, basta uma ligação para o comércio do seu Pedro e ele manda entregar o que for preciso. O número fica na geladeira - mostrou o Sr. André.

    - É uma bela residência e um belo lugar, não é Júlia? - Perguntou ele.

    - Onde vou ficar? - Ignorei o blá, blá, blá do Sr. André e de Dona Juliana, seguindo a procura do lugar que me foi indicado por eles.

    -  Me desculpe pela Júlia, ela só vive isolada ultimamente, você aceita um café André? - Ofereceu minha mãe.

    - Aceito sim, obrigado Juliana.

    -  Por favor puxe uma cadeira e sente-se para  esperar que eu o faça. - Ouço minha mãe falando.

    - Vou pedir que mandem entregar pão quente, leite fresco e nutella. Adolescentes amam nutella. A Júlia também deve gostar. - Fala ele em bom som para que eu ouça.

    - Nutella é bom, realmente adolescentes amam Nutella. - mamãe ri.

    - Eu vivo muito preocupada com a Júlia, confesso que não sei mais o que fazer, ultimamente não consigo distingui suas reações. - minha mãe respira fundo. - Ela nem mesmo demonstra ter expressão. E depois da perca do pai só piorou.

    - Eu acho que esses dias aqui vai ser muito bom pra ela, deixe-a passear um pouco pela cidade, ver a natureza, quem sabe ela não conhece alguém de Sua idade. -  Ele fala na tentativa de animar minha mãe.

    - Sim, por isso achei ótima a proposta de cuidar da limpeza da residência dos Santana. A Júlia precisa respirar um pouco de ar puro, conhecer novos lugares, fazer amigos.

    Eu finalmente encontrei o quarto que foi reservado pra mim e logo me acomodei numa cadeira bastante confortável, o ar neste lugar era mesmo bom, a residência era arejada por causa das grandes janelas e a vista neste lugar era magnífica.  De uma das janelas que haviam no quarto avistei o Alto do Cruzeiro e descidi que pela manhã faria uma caminhada até aquele lugar. Me espreguicei. Ainda ouvia as vozes de minha mãe com o Sr. André.


    Tudo estaria muito bom até agora, se eu não estivesse ouvindo a contra gosto minha mãe falando de mim.
Chegou um outro alguém, acredito que é o entregador que veio trazer o pedido de pão, leite e nutella feito pelo Sr. André e agora todos tomavam um café na cozinha. Porém o assunto da conversa deles ainda era sobre minha pessoa, coloquei meus fones, eu não queria é nem precisava ouvir nada daquilo.

                        🌻 🌻 🌻

    Continua no próximo capítulo.
Espero que vocês gostem. 😉💕

                     Beijinhos 💕 Glaucilene_

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