Capítulo 9

Quando chegaram ao quarto Micaela se dirigiu rapidamente para o banheiro para tomar uma ducha, enquanto Nicolas tirava o paletó e a camisa. Quando ela saiu do banho ele não esperou que ela se deitasse, foi logo dizendo:

— Podemos conversar?

— Vai continuar de onde paramos? – Perguntou ela ríspida.

— Não! Pelo amor de Deus! Eu só quero resolver isso. Não quero ir dormir brigado com você, eu.... Eu não gosto disso.

Ela suspirou, se sentou na cama e encarou Nicolas que estava à sua frente.

— Eu quero pedir perdão. – Começou ele – Eu sei que te tratei mal hoje e não deveria ter agido daquela forma. O dia foi.... Bem estressante e eu acabei descontando tudo em você. Sei que tanto Santis quanto Conrado são cretinos e que tudo o que fez foi se defender, então.... Me perdoa.... Não sei mais o que devo dizer.

— Tudo bem, eu.... Eu também não deveria ter feito aquilo. – Respondeu ela brandamente – Eu errei também, me desculpa. Perdi o controle, deveria apenas ter ignorado.

— Acho que nós dois passamos do limite hoje.

Nicolas se sentou ao lado de Micaela e tomou a mão dela na sua.

— Eu tenho tentado. – Continuou ela – Tenho tentado de verdade, mas.... Mas às vezes acho que não é o suficiente.... As pessoas não gostam de mim, Nicolas.

— Não é isso. É que seu jeito acaba desconcertando qualquer um. Você é simples, Micaela e eles não estão acostumados com isso, vivem sendo.... Extravagantes.

— E eu não entendo porquê me julgam por gostar da simplicidade! – Respondeu ela olhando diretamente nos olhos castanhos de Nicolas – Eu sei que eu cresci em um ambiente cheio de luxo e conforto, mas foi nas coisas simples que eu me encontrei, o simples me cativa, e parece que eles não entendem isso, ou não querem.... – Micaela suspirou cansada e voltou a dizer – A questão é.... Faz quatro anos que estou tentando.... "Me ajustar", estou tentando ser melhor, não ser tão estúpida como geralmente sou, mas.... Isso não funciona. Estou tão cansada de tentar! E eu faço isso por você, Nicolas.

— Por mim?

— Sim. Eu sei que você precisa estabelecer boas relações e convivência com as pessoas, e como eu estou no meio disso....

— Micaela, eu não quero que mude. Sei que hoje falei aquilo, mas.... Não quero que mude – Respondeu Nicolas apertando mais a mão dela – Eu não pedi que mudasse, e.... Amor, se soubesse o quanto me dói te ver assim! Não seja aquilo que você não é. Há muitas pessoas sim que te admiram e gostam de você, só que elas acabam sendo repreendidas por aquelas com mais "poder". Olha para mim. – Pediu ele quando ela abaixou a cabeça – Você é uma rainha, e tem que ser como sempre foi. Ninguém pode ditar as regras por você. Eu te amo do jeito que é. Entendeu?

Ela balançou a cabeça em concordância e o abraçou forte.

— Como é bom te sentir assim! – Disse ele – Me perdoa, por favor.

— Eu perdoo.... Se pedir em italiano – Respondeu ela se desvencilhando dele e lhe dando um sorriso travesso.

Nicolas sorriu de volta e respondeu:

Perdonami, per favore.

— É claro que sim. Me perdoa também.

— Eu perdoo.

Nicolas colou os lábios aos de Micaela e lhe dava beijos rápidos enquanto acariciava seus cabelos.

Dormiram colados um ao outro como se nada pudesse os separar. A reconciliação tirou um peso das costas de Nicolas, ele jamais se permitiu ir dormir brigado com Micaela, sempre resolvera suas diferenças pouco tempo depois que brigavam. E Micaela não era diferente, nunca gostara de ficar muito tempo sem falar com o marido.

Na manhã seguinte ela acordou antes dele, novamente, virou-se de frente para Nicolas e ficou o observando dormir, a respiração era pesada e dava para ver os olhos se mexerem por baixo das pálpebras. Não sabe ao certo por quanto tempo ficou ali na mesma posição, mas ficou feliz ao vê-lo abrir os olhos lentamente e suspirar preguiçosamente.

— Bom dia, papai! – Disse ela com um sorriso no rosto – Feliz aniversário!

Ele sorriu de volta e depois arregalou os olhos, finalmente caindo em entendimento.

— Hoje é meu aniversário! – Constatou com a voz rouca.

— É sim! Parabéns!

Ela lhe deu um beijo rápido que ele correspondeu.

— Obrigado. – Respondeu ele se espreguiçando.

Quando Micaela tentou se levantar, porém, Nicolas a puxou para si abraçando-a por trás e dizendo:

— Hoje vai ficar comigo.

— É isso que o velhinho quer?

— Eu não sou tão velho!

— Não! Eu só estava brincando.

Ficaram alguns segundos em silêncio, quando Micaela resolveu quebra-lo:

— Já parou para pensar em tudo o que passamos?

— Sim. Estou pensando agora mesmo. Não dá para acreditar em tudo o que vivemos. Às vezes acho que não poderia acontecer mais coisas do que já aconteceu.

— Eu não duvido. Sempre podemos aprender mais.

— Sim, mas não quero aprender da mesma forma que aprendi entes.

Micaela riu e se virou para Nicolas.

— Tem toda razão.... Temos que levantar, não podemos passar o dia todo na cama.

— Ah, mas hoje é meu dia!

— Por isso mesmo. Temos que aproveitar.

Micaela sentiu o bebê se revirando em seu ventre e logo pegou a mão de Nicolas e levou até a barriga, dizendo:

— Ele concorda comigo.

Nicolas sorriu e se arrastou um pouco para baixo na cama até ficar perto da barriga de Micaela.

— Você é cúmplice da sua mãe em tudo, não é mesmo, rapazinho? Tudo bem, vamos levantar!

Eles tomaram um banho e escovaram os dentes para depois descer para o café. Chegando à sala de café, avistaram uma mesa farta com tudo o que tinham direito a comer. Pães, bolos, sucos, iogurtes, torradas, geleias....

Nicolas abriu um largo sorriso enquanto Susana vinha em sua direção e o abraçava dizendo:

— Parabéns, meu filho! Que Deus o abençoe sempre.

— Obrigado, mãe. Amém.

— Eu te amo muito.

— Também te amo.

— Tomei a liberdade de chamar todos os empregados para o café conosco. Sei que não se importa.

— A senhora não poderia ter ideia melhor. Vai ser um prazer ter todos comigo.

Logo todos ocuparam a mesa, a princípio um pouco acanhados por estarem na mesma mesa que um rei e duas rainhas, mas Nicolas, Micaela e Susana não se importavam com isso. Ali sim, entre aquelas pessoas eles encontraram uma amizade verdadeira.

Depois de tomarem o café, Nicolas e Micaela foram dar uma volta pelo campo da casa e acabaram chegando ao lago. Nicolas olhou para Micaela com um sorriso travesso e logo começou a tirar as roupas e se atirou no lago. Quando emergiu começou a tremer e disse:

— Está gelada.

Micaela apenas riu e respondeu:

— Eu imaginei.

— Por que não entra?

Micaela ponderou por alguns instantes. Nicolas a ensinara a nadar depois de ela quase morrera afogada um dia antes de seu casamento. Não era uma nadadora tão boa quanto ele, mas sabia o suficiente para não se afogar.

Sendo assim ela logo tirou a roupa e entrou também, a água nem estava tão fria assim, Nicolas como sempre exagerara.

Além disso, a brisa quente dava uma sensação prazerosa, era sempre assim no meio do ano.

Ficaram na beirada do lago, jogando água um no outro e brincando como se fossem duas crianças.

Logo Nicolas chegou mais perto de Micaela e segurou sua cintura, olhando no fundo de seus olhos. Ele parecia perdido na beleza daqueles anéis azuis.

— Minha nossa, como você é linda! – Disse ele.

— Você também não fica atrás, senhor Lambertini. – Respondeu ela com um sorriso – Sua mãe nos mataria se nos achasse aqui.

— Provavelmente.

Nicolas mal terminou de falar e beijou Micaela a trazendo para junto de si.

— Vocês não têm vergonha de fazer isso ao ar livre? – Soou a voz de Gregory que acabara de chegar e ainda estava com a mochila nas costas.

Micaela se assustou e se escondeu atrás de Nicolas, afinal estava apenas de roupas íntimas.

— O que está fazendo aqui, nanico? - Perguntou Nicolas se voltando para o irmão.

— Para começo de conversa – Respondeu Greg jogando a mochila no chão – eu não sou nanico, já tenho oito anos. E, além disso, o acampamento acabou mais cedo.

— Primeiro, você é nanico sim, vai ter que comer muito ainda para me alcançar. E segundo, que pena que sua diversão acabou cedo. Estava tudo tão tranquilo por aqui!

— Nicolas, não fale assim com o menino! Eu concordo que ele não seja nanico, na verdade é até grande para a idade.

— Micaela, não apoia. Sabe que ele chantageia todo mundo quando dão apoio.

— Greg, pode se virar? Preciso colocar meu vestido.

Gregory deu as costas para os dois. Enquanto Micaela saia da água e se vestia, ele disse com um fingido tom de mágoa:

— Tudo bem, Micaela, não precisa me defender. É isso o que ganho por querer passar o aniversário do meu irmão com ele.

— Pobrezinho, olha o que fez, Nicolas.

— Micaela, você é a única que cai na dele.

— Micaela é a única que me entende, essa é a verdade. Posso me virar?

— Pode.

Ele se virou e encarou Nicolas que ainda estava na água.

— Gregory, você é um tremendo puxa saco da Micaela, por isso ela te defende.

— Não é verdade.

— Está se aproveitando da gravidez dela.

— Se continuar me difamando assim, irmão, tarei que pular em cima de você.

— Olha só! O nanico aprendeu uma palavra nova. – Respondeu Nicolas para provocar o irmão – Me diz, você sabe o que significa difamar?

Gregory cruzou os braços e respondeu:

— Você abusa da minha bondade, majestade.

— Que bondade, alteza? Você é a maior peste! – Nicolas jogou água no irmão e completou – Melhor entrar e tomar um banho, deve estar fedendo por se embrenhar pelo mato.

Micaela que até então apenas observava como os dois eram parecidos, logo passou o braço pelos ombros de Gregory e disse:

— Vamos, Greg, eu também vou entrar.

Logo ele pegou a mochila e começou a andar em direção à casa junto com Micaela, resmungando:

— Só porque é rei acha que pode mandar em tudo.

Bastou um ruído de Nicolas, porém, para que Gregory jogasse a mochila no chão e voltasse correndo saltando em cima do irmão, atirando água para todo lado.

— Ficou maluco, Gregory? – Perguntou Nicolas batendo no ouvido que entrara água.

Gregory emergiu e respondeu:

— Não, só quis me divertir. Agora vamos fazer bala de canhão.

— O quê? Nem pensar, não tenho mais idade para isso.

— Falou o ancião.

— Gregory, não. Você já está muito grande.

— Há poucos minutos me chamou de nanico. Ou escutei errado?

— Já disse que não.

Nicolas lhe deu as costas e sem esperar Gregory saltou nele, passando os braços ao redor do seu pescoço.

Micaela ria dos irmãos brincando na água. Nicolas finalmente entrara na brincadeira e estava jogando água no irmão. No entanto Susana chegou e não gostou nem um pouco da cena.

— Por Deus! Parecem que vocês nunca crescem! – Bradou ela.

Os dois pararam no mesmo instante e olharam para a mãe com a mesma expressão travessa.

Era nesses momentos que eles se pareciam ainda mais, e dava para notar que Gregory poderia se parecer muito mais com Nicolas quando fosse adulto.

Era impressionante a semelhança entre eles. Os cabelos negros cheios e lisos, e os olhos de um castanho penetrante.

— Só estávamos brincando, mãe. – Alegou Nicolas.

— Brincando? Ora, Nicolas, sabe que não gosto disso. Esse lago é fundo. Tenho medo de se machucarem.

— Mãe, eu já tenho vinte e sete anos.

— E eu oito! – Se intrometeu Gregory que já se sentia um adulto.

— Não importa. Não gosto desse tipo de brincadeira. E você, Gregory, já para o banho.

— Ah, droga! – Disse o menino já saindo.

Nicolas também se cansara e acabou saindo junto com o irmão.

Voltaram para a casa e o resto do domingo passou junto da família jogando conversa fora e assistindo alguns filmes. Ele nunca entenderia o gosto peculiar de Micaela para filmes com zumbis, tiros ou espiões. Se tivessem sangue, era melhor ainda.

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