Capítulo 3

Em certo momento ele viu que Micaela se remexia impaciente e resolveu perguntar:

— O que está sentindo? Quer se sentar?

— Não. É que eu quero fazer.... Preciso ir ao banheiro.

— E por que não vai?

— Tem gente lá.

— Espere a pessoa sair.

— Ela está vomitando, Nicolas, não sei nem quando vai sair de lá. Mas o que o Lucas tinha na cabeça disponibilizando apenas um banheiro?

— Acho que ele não estava muito bem. – Constatou Nicolas vendo que o amigo já não estava muito sóbrio – Vou perguntar onde tem outro.

Saiu ao encontro de Lucas no meio das pessoas e alguns segundos depois estava de volta dizendo:

— Ele disse que tem um lá em cima, pode usar ele.

— Ainda bem. – Respondeu Micaela aliviada.

Subiram as escadas e se depararam com um grande corredor cheio de portas.

— Onde é? – Perguntou ela.

— Eu não faço a menor ideia. – Respondeu Nicolas encarando o corredor.

— Como você não conhece a casa do próprio amigo?

— Eu não conheço essa. O pai dele perdeu um pouco de dinheiro e eles tiveram que mudar para essa casa menor.

— Menor? Nicolas, essa casa é maior do que a nossa.

Quando ele apenas deu de ombros ela continuou:

— Eu nem quero imaginar o tamanho que era a outra casa.

— Você não queria ir no banheiro?

— Quero.

— Então procura na direita que eu procuro na esquerda.

Eles começaram a procurar abrindo cada porta do corredor e encontrando somente quartos, Micaela estava começando a ficar desesperada, a cada minuto sua vontade só aumentava e nada de achar o banheiro.

Abriu uma porta e se deparou com um rapaz e duas moças deitados na cama, e fazendo.... Coisas nada agradáveis.

Ela arregalou os olhos e logo começou a se desculpar.

— Me desculpem.... E-eu só estava procurando o banheiro.

Nicolas apareceu atrás dela e disse fechando a porta:

— Mil perdões.

Micaela se voltou para ele e perguntou:

— Como conseguem?

— Não me pergunte isso.

— Você fazia esse tipo de coisa?

— E eu tenho cara de quem tem disposição para isso?

Ela analisou bem o marido, cada traço do rosto, cada músculo bem esculpido e o porte físico grande.

— Tem. – Respondeu ela por fim.

Ele abriu a boca para se defender, mas desistiu e continuou a procurar, achando a porta certa.

— É essa aqui. – Disse.

Micaela não pensou duas vezes e adentrou rapidamente no banheiro, enquanto Nicolas a esperava do lado de fora encostado na parede.

Minutos depois ele a ouviu dizer:

— Essa não!

— Micaela, está tudo bem? – Perguntou Nicolas abrindo a porta e entrando.

Ela encarava a pia com uma expressão perplexa, se virou para ele e seu rosto mostrava que havia aprontado algo.

— Eu fiz merda. – Respondeu ela.

— O que fez?

— Eu fui arrumar o brinco.... E aí ele caiu no ralo da pia.

— Ah, é só isso? Eu achei que tinha acontecido alguma coisa.

— Mas aconteceu! Esse era o brinco da sua tataravó ou bisavó, sei lá.

— Isso não tem importância, ele só está na família há quatro gerações.

— Minha nossa! Talvez nós possamos tirar isso aqui e recuperá-lo. – Disse ela se abaixando e tentando tirar o sifão.

— Micaela, pelo amor de Deus! – Respondeu Nicolas a levantando – Deixa aí.

— Mas....

— Você vai mesmo querer mexer no encanamento dos outros no meio da festa?

— Não.

— Então deixa.

— Eu só faço merda.

— Não faz, não. – Ele segurou o rosto dela entre as mãos e com voz carinhosa disse – Não precisa se preocupar. É só um brinco.

— Será que sua mãe não vai se importar?

— Claro que não. Ninguém usava aquele brinco.

— Então está bem.

Eles saíram e retomaram o caminho da festa.

— Quanto valia aquele brinco, Nicolas?

— Ah! Não muito. Na época que foi comprado deveria ser bem pouco, mas acho que hoje deve estar avaliado em vinte mil.

— Vinte mil?! Quer dizer que eu acabei de jogar vinte mil pelo ralo?

— Basicamente. Sortudo quem achar.

— Se é que vão achar!

Voltaram para o salão e logo Micaela se afastou de Nicolas para conversar com Alicia, uma moça que acabara de ter seu bebê, e provavelmente Micaela pediria dicas.

A ruiva era a única com a qual Micaela se dava bem. Para a maioria das mulheres do círculo social que conviviam, ela era muito direta e falava o que estava pensando. Em outras palavras, a achavam pouco civilizada, e sem postura para uma rainha. No entanto, Nicolas não se importava com o que falavam, gostava da sua Micaela daquela maneira, não queria que ela mudasse em momento algum, e pensava que era só questão de tempo até as pessoas se acostumarem com ela, só teriam que deixa-la mostrar o quão diferente e maravilhosa ela era. E esse era o desafio.... Quase quatro anos já havia se passado e nada de ela e nem as pessoas se adaptarem, e apesar de Micaela ignorar praticamente todos os comentários a seu respeito, Nicolas sabia que no fundo ela se chateava, mas mesmo assim se esforçava para ser melhor. Até o momento já fizera um bom progresso, sua língua não andava tão solta.... A não ser que a pessoa merecesse um "esporro" como ela mesma dizia. E por isso ele fazia de tudo para deixa-la o mais confortável possível. E agora, a observando de longe, via que poderiam muito bem lidar com aquilo.

Foi tirado de seus devaneios quando Lucas o chamou.

— Ei! O que é isso que está bebendo?

— É suco.... Acho que de laranja.

— Pelo amor de Deus, Nicolas! Bebe direito, cara!

— Eu não bebo, Lucas.

— Você não bebe? – Perguntou o outro rindo – Tá bom, conta outra.

— Faz muito tempo que não coloco álcool na boca. Eu vou ser pai, sabia?

— E daí? Quem está gravida é sua mulher, não você!

— O que está havendo? – Perguntou Inácio se aproximando.

— O Nicolas não quer beber. – Explicou Lucas.

— E o Lucas já está fora de si. – Se defendeu Nicolas.

— Fala aí, Inácio. Vai fazer mal o Nicolas beber uma coisinha só?

— Eu acho que uma ou outra não fará mal.

— Viu! Até o médico está falando que pode!

— Tudo bem, Lucas, você venceu. Pede qualquer coisa aí.

Dando-se por satisfeito Lucas acenou para um garçom, e antes que ele chegasse, Inácio saiu para conversar com um outro amigo e acabou não vendo o que Lucas deu para Nicolas.

— Agora sim. – Disse ele pegando o copo de suco e trocando pela bebida – Beba e seja feliz meu, amigo.

— Devo desconfiar do conteúdo dessa bebida? – Perguntou Nicolas erguendo o copo e encarando a bebida.

— De maneira alguma. Vai te fazer muito bem. Anda, vira isso logo.

Meio receoso ele virou um pouco do líquido na boca, experimentando aquele sabor, por fim fez uma expressão de aprovação e disse:

— É muito boa.

— Eu disse. Se divirta, garotão. Eu tenho umas coisinhas para revolver.

Lucas saiu agitado para o outro lado do salão e Nicolas sabia muito bem quais eram as "coisinhas", aos trinta anos de idade Lucas não tinha arranjado namorada e muito menos esposa. Era um playboy bilionário que só queria curtir a vida e Nicolas se perguntava até quando o amigo seria assim.

Pouco tempo depois ele estava de novo com Nicolas e dessa vez Henry, seu outro amigo, estava junto a conversa fluía bem e Nicolas começava a sentir um pouco de calor. Talvez tantas pessoas no mesmo lugar fosse o motivo.

Inácio se juntou ao grupo e perguntou:

— O que está bebendo, Nicolas?

— Na verdade eu não sei o que é isso, não. – Respondeu ele encarando o copo novamente – Qual o nome dessa bebida, Lucas?

— Daiquiri da paixão.

— O quê?! – Bradou Henry.

— Você está maluco? – Questionou Inácio – Esqueceu que ele está com uma mulher grávida em casa?

— Ih, cara! Me esqueci totalmente.

Inácio rapidamente tomou a bebida da mão de Nicolas e os três o encaravam com perplexidade, o único que parecia não ter entendido nada era ele.

— O que foi? – Perguntou.

— Quantas dessa tomou?

— Sei lá, Inácio.... Umas.... Cinco talvez. Não é tão forte.

— Santo Deus!

— Você está muito ferrado. – Disse Henry balançando a cabeça.

— Por quê? – Perguntou Nicolas confuso.

— Basicamente.... – Começou Lucas – Se a Micaela não quiser nada com você.... Você se ferrou.

— Eu não estou entendendo vocês três.

— Isso é afrodisíaco. – Disparou Inácio.

— Está maluco, Lucas? – Disse Nicolas irritado – Eu realmente estou perdido.

— Só se ela não quiser nada.

— Ela não vai querer nada.

— E como pode ter certeza?

— Eu conheço minha esposa, depois dessa festa ela vai querer tomar um banho e dormir. Ainda mais agora... Estou ferrado.

— Desculpa, cara. Nem lembrei.

— No estado que está já era de se esperar!

Lucas não teve tempo de responder, pois Micaela se aproximou e disse:

— Nicolas, podemos ir embora? Estou um pouco cansada.

Nicolas arregalou os olhos e respirou fundo, não tinha escapatória. Ficou alguns segundos mudo, depois resolveu falar:

— Ah.... Claro! Podemos.

— Muito obrigada por tudo, Lucas. A festa estava maravilhosa. E novamente, meus parabéns e muitas felicidades. – Disse Micaela os cumprimentando e já segurando a mão de Nicolas.

— Eu que agradeço sua presença. Me sinto muito honrado. E desejo um bom parto para você, caso não nos vejamos mais.

— Obrigada.

Nicolas também se despediu dos amigos e depois se deixou ser guiado por Micaela pelo meio das pessoas, chegando na porta ele olhou para trás e vendo seus amigos o olhando, gesticulou com a boca a palavra "socorro", juntamente com uma expressão de piedade.

Os amigos riram, mas não puderam fazer nada por ele.


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